quarta-feira, 31 de outubro de 2007

O elogio do insulto

Ontem, assisti a várias reportagens televisivas sobre a Assembleia-Geral do Benfica que decorreu no dia 29 de Outubro.
As imagens eram elucidativas.
Mas os sons de fundo conseguiam superar a agitação das imagens.
Insultos, impropérios, ameaças, vitupérios, ultrajes, humilhações, enxovalhos.
Uma vergonha!
Já sabemos do que gasta uma certa fauna que anda pelo mundo do futebol.
E já experimentámos o léxico que esta malta pratica nos estádios.
Mas a complacência com que os senhores jornalistas trataram estes comportamentos nas reportagens sobre a AG do Benfica deixou-me escandalizado.
Até parecia que as vítimas eram os coitadinhos das claques e os vilões os corpos sociais do Benfica.
Para cúmulo, ao mesmo tempo que os bandalhos que distribuíram insultos, permanecíam no anonimato, o Presidente do Benfica ainda teve que dar a cara e justificar-se.
“Então o senhor não se demite?”
“Soubemos que ficou muito incomodado e colocou a possibilidade de se demitir?”
“E porque é que teve que convocar uma nova reunião dos órgãos sociais?”
É demais!
Como é que neste País há pessoas que se passeiam a insultar, difamar e ultrajar os outros e nada lhes acontece?
Como é que o Benfica ainda admite gente desta entre os seus sócios? O que espera para os expulsar? O que espera para os processar?
Por onde param os valores da boa educação?

Nota: Para que não haja suspeições sobre os meus interesses futebolísticos, informo que sou adepto do Sporting e que não troco o meu sofá por uma ida a qualquer estádio.

Quem não tem dinheiro não tem vícios!

Nem mesmo de propósito, hoje que é Dia Mundial da Poupança recebi esta "carta" (para uma melhor leitura clicar em cima da imagem) que não resisto em partilhar aqui no 4R. Não fosse o estado de saúde a que chegou a nossa depauperada "poupança" e as "espertezas" montadas para ir enganando tudo e todos, a carta até poderia ter uma certa graça! Infelizmente a situação não é para graças, mas antes motivo de grande preocupação.
É caso para dizer: Quem não tem dinheiro não tem vícios! Devia ser assim, mas a máxima "Quem não tem cão caça com gato" parece estar a ganhar adeptos!

Dia Mundial da Poupança...endividamento a todo o vapor!

Celebra-se hoje o Dia Mundial da Poupança.
Para uma parcela significativa da população portuguesa, esta celebração tem um sentido quase misterioso/perverso:
- Que é isso da poupança, não é uma coisa de velhos?
- Para quê poupar, se há tanta coisa boa para comprar?
- Como poupar se os rendimentos líquidos não são suficientes para a satisfação das necessidades correntes e se para a aquisição de bens duradouros e de habitação temos uma infinidade de ofertas de crédito?
- Qual o interesse de poupar se os Bancos pagam taxas de juro nos depósitos que, líquidas de impostos, não cobrem ou quase não cobrem a inflação?

Todas estas interrogações são justificadas numa época em que os incentivos ao consumo e ao endividamento esmagam quaisquer sugestões ou recomendações em defesa da poupança.
Temo insistir numa tecla já gasta, mas era fundamental que, aquando da estrutural mudança de regime económico ocorrida com a adesão à zona Euro, em 1999, tivesse sido promovida em Portugal uma campanha a sério, chamando a atenção para os enormes riscos do endividamento fácil.
Com efeito, uma das consequências mais marcantes dessa mudança foi uma grande descida das taxas de juro que tornou o endividamento muito mais apetecível e mais fácil.
Recordo-me bem das fortíssimas recomendações que o Banco de Espanha emitiu na altura, especialmente dirigidas ao sistema bancário mas que serviram também como advertência para o público em geral, sobre os riscos do excesso de crédito que a entrada no Euro poderia induzir...
Em Portugal, não só o BdeP ficou mudo e quedo como todo o discurso oficial foi estruturado numa epopeia de folclore europeísta e “Eurista”: chegamos ao Euro, somos os maiores, os nossos problemas acabaram.
O Estado deu o exemplo, gastando até mais não poder, ficcionando um défice em 2001 que depois de provou ser mais de duas vezes o valor oficialmente declarado!
Foi o desastre que se viu e se continua a observar!
Os números hoje divulgados pela DECO (do crescimento) do número das famílias sobre-endividadas, que recorrem a seus préstimos é bem ilustrativo da paranóia de gastar a crédito que entre nós se instalou e que o aumento das taxas de juro põe agora a nu.
Mudando de registo: a propósito deste Dia Mundial da Poupança, a Secretária de Estado da Defesa do Consumidor – título curioso, diria Mota Amaral – faz esta notável recomendação, com a qual termino o POST para não repetir o desabafo do Pinho Cardão:
“Necessidade de os portugueses desenvolverem hábitos de gestão e de poupança e de hierarquizarem as suas necessidades, para NÃO PERDEREM A CABEÇA”!!!

terça-feira, 30 de outubro de 2007

La Cocarde Tricolore

Três dias após a Tomada da Bastilha, o rei Luís XVI acedeu ao pedido de Jean Sylvain Bailly, maire de Paris, para se dirigir à cidade a fim de saudar o novo município. Precedido de Lafayette, proponente da combinação das três cores, vermelho e azul enquadrando o branco monárquico, aceitou a fita tricolor como símbolo dos franceses a pedido de Bailly. Colocou-a ao redor do chapéu passando a constituir o emblema nacional da França, com todos os significados subsequentes.
Na comédia francesa, La Cocarde Tricolore, dos irmãos Cogniard, a personagem Chauvin interpreta um papel de patriotismo exagerado. Daqui a designação de chauvinismo para descrever a crença de que “as propriedades do país a que se pertence são as melhores sob qualquer aspecto a raiar a mitomania”.
Hoje em dia o conceito de chauvinismo não se aplica apenas à pretensa superioridade de um povo sobre outro. Assentando em falsas premissas utiliza argumentos sentimentais em vez da razão porque é muito mais fácil convencer com os primeiros.
Se olharmos ao nosso redor poderemos constatar inúmeras pessoas e grupos que se arvoram de uma pretensa superioridade intelectual, cultural, social, política ou moral.
Evidentemente que muitos revelam capacidades intelectuais e culturais superiores aos demais, fruto de vários factores e circunstâncias. São fonte de alguma auto-satisfação? Sem sombra de dúvida! Mas para se sentirem completos têm que as colocar ao serviço da comunidade revelando humildade e consciência cívica. Chauvinismo intelectual? Não!
Outros, com base numa pretensa herança genética, denotam uma superioridade não justificável, porque a nobreza de carácter não se mede pela qualidade dos genes, mas sim pela qualidade dos princípios adquiridos base da verdadeira nobreza social. Chauvinismo social? Não!
Há os que professam de forma patológica a superioridade da sua ideologia política, como se houvesse alguma capaz de representar a verdade e a pureza absolutas. Incapazes de aceitar as boas ideias que possam provir de todos os quadrantes acabam por prejudicar a sociedade. Não ao chauvinismo político!
Também há os que pretensamente se consideram superiores em termos morais, julgando, apreciando, denunciando, caluniando, sempre em nome de algo ou de princípios em que sentimentos preconceituosos se sobrepõem à razão e à realidade do factos. Incapazes de discernirem correctamente destroem almas que tão ansiosamente pretendem salvar.
As lágrimas vertidas durante as longas noites são testemunhas da dor da alma que arrefece perante o brilho do sol. A perfídia mata. Chauvinismo moral? Nunca!

P. Q. P.!...

O estatuto de aluno concede-lhe o direito de não reprovar por faltas. Se faltar, o problema não é dele. A escola é que terá que resolver o problema.
Tendo singrado na vida e atingido o fim da escolaridade sem saber ler nem escrever e mesmo sem ter posto os pés nas aulas, o estatuto de cidadão concede-lhe o direito de ter um emprego. Se faltar ao emprego como faltava às aulas, o problema não é dele. O patrão é que terá que resolver o problema.
Se, por um impensável absurdo, for despedido, o problema não é dele. O estatuto de desempregado concede-lhe o direito de ter um subsídio de desemprego e o problema é do Estado.
Se, na vigência do subsídio, faltar às entrevistas ou recusar novo emprego, o problema não é dele. As suas habilitações arduamente conquistadas concedem-lhe o direito de escolher emprego compatível e o problema é do Instituto do Emprego, obrigado a arranjar-lhe ocupação, para não aumentar as listas de desempregados.
Se, por um novo improvável absurdo, ficar fora do esquema, o problema não é dele, que o estatuto de cidadão com todos os direitos concede-lhe o direito ao rendimento social de inserção.
Que constituirá uma renda perpétua, pois o cidadão tem direito à existência!...
Renda paga pelos portugueses e não, como devia ser, pelos autores desta celerada lei, fautora da indisciplina, do laxismo, do não te rales, da irresponsabilidade mais absoluta, fomentadora da exclusão social!...
Por uma vez, tenho direito à indignação, com todas as letras: Puta que os pariu!...

Limparam a minha rua!

Nem queria acreditar.
Vieram e limparam a rua onde vivo.
Traziam mangueiras, vassouras, pás.
Fartaram-se de trabalhar.
A minha rua ficou um “brinco”.
Tiraram os “presentes” dos cães.
Apanharam os sacos de plástico e os bocados de papel que rodopiavam pelo ar cada vez que o vento era mais forte.
Levaram o lixo dos canteiros.
Acabaram com a montureira que estava junto do carro que está para lá abandonado há vários meses.
Retiraram aqueles electrodomésticos e os restos de um móvel que estavam num dos recantos da rua.
Lavaram a rua.
Quero dar os meus parabéns ao Sr. Presidente da Câmara Municipal de Lisboa.
As visitas dos serviços municipais de limpeza ao bairro das Olaias são tão raras, tão raras, que merecem uma comemoração.
Agora, a minha esperança é que esteja para breve a plantação das árvores que pedi vai para 7 anos.
O meu receio, é que os serviços de limpeza só regressem daqui a uns anos…
... enfim, não se pode querer tudo.

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

A avaliação das políticas públicas

Assisti a uma palestra muito interessante, proferida pelo Prof. Blanco de Morais e organizada pelo Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica, sobre o tema da avaliação prévia do impacto das políticas públicas, da sua evolução e importância crescente.
De facto, numa época em que tudo se mede e tudo se quantifica, é essencial que se crie o hábito salutar de avaliar previamente o previsível efeito das leis que são apresentadas como determinantes para a evolução da sociedade, numa espécie de compromisso político com os seus objectivos e com os instrumentos escolhidos para os prosseguir.
O crivo primeiro, para simplificar um tema muito complexo e que tem larguissimos debates doutrinários nos vários países, é o que resultará de duas perguntas muito simples: - Temos necessidade desta lei? Temos meios para suportar os seus encargos e consequências?
Esta análise de custo benefício pode assumir graus muito sofisticados, podendo até correr-se o risco de se considerar que haverá uma espécie de “tecnicidade” da política, uma vez que haverá razões de ordem política que não se compadecem com tantas métricas. Mas, entre o 8 e o 80, não seria mau levar a sério este exercício nas leis ditas estruturantes, que causam grande impacto na vida das pessoas ou envolvam grandes custos.
Uma das razões de algum descrédito na governação (em geral, não estou a particularizar) resulta da instabilidade legislativa, de se mudarem leis como quem despe uma camisa, sem uma justificação aos destinatários que achavam que era para levar a sério, ou de se produzirem leis umas atrás das outras sem que se avalie mais do que o impacto que terão no dia em que são dadas à estampa. Daí à confusão normativa, à burocracia ou à desobediência à espera de melhores dias, pode ir um passo, que nem sequer terá relação com a qualidade que cada lei possa ter mas apenas com o deficiente grau da percepção da sua importância, ou a rejeição dos seus custos a curto e médio prazo.
Parece um assunto muito distante, próprio dos gabinetes, mas não é.

domingo, 28 de outubro de 2007

A mistificação do défice!...

“...Depois, corrige-se o valor do PIB, e a 16 de Outubro o défice passa de 3,3% para 3%. Porquê tudo isto? Ninguém sabe…”
Prof. Campos e Cunha, num artigo do Público de 26 do corrente mês

Tenho vindo a defender, e nomeadamente num dos meus últimos textos no 4R, Os contentinhos do PIB e o aumento da despesa, que não haverá uma verdadeira consolidação orçamental enquanto a despesa não diminuir, se não em termos nominais, pelo menos em termos reais. Ao contrário, a tese vigente e oficial é a de que a medida da consolidação é a descida do défice face ao PIB.
Em 16 de Outubro, o Governo afirmou, com enorme regozijo, a baixa do défice para 3% do PIB. Ora, nesse momento, o valor do PIB, um todo complexo de variáveis cuja evolução não se conhece em plenitude, é mera realidade virtual. Como tal, basta, como bastou, uma nova pequena estimativa em alta do PIB do ano em curso para o défice se ajustar automaticamente ao objectivo pretendido. No caso português, 3% de défice, em 2007!...
Como também dizia, nestas circunstâncias nem se torna necessário cortar muito na despesa para se atingirem os objectivos. Ajusta-se o PIB que, no final de contas, o ajustamento só pode ser validado anos depois!...
Mais depressa do que pensava vejo confirmada esta minha opinião, agora pelo Prof. Campos e Cunha: “...Depois, corrige-se o valor do PIB e a 16 de Outubro o défice passa de 3,3% para 3%. Porquê tudo isto? Ninguém sabe…”
Ai sabe, sabe!...
Vou tendo, pois, companhia!...

FDL - 1977/1982

Comemorámos ontem, eu a minha mulher, o 25º aniversário do termo da nossa licenciatura em Direito.
Estranha a sensação de rever 25 anos depois aqueles com quem privámos diariamente nesses tempos do pós-25 de Abril numa escola muito activa como era a Faculdade de Direito de Lisboa de então. Estranha, não tanto porque não foi fácil reconhecer alguns pelas barrigas a mais e o cabelo a menos (as colegas, em geral, estão muito melhor conservadas!). Mas porque, à medida que nos íamos reconhecendo, nos vinham à memória imagens e estórias desse tempo intensamente vivido.
Existiram, certamente, momentos de sofrimento, de grande stress. Mas ali só recordámos os bons momentos que partilhámos naqueles cinco anos.
Cinco anos que ontem se provou terem marcado o resto das nossas vidas...

A misteriosa magia dos 3%!...

"...Fica, no entanto, este resultado (défice de 3%) envolto em mistério, como tudo o que é mágico. O INE põe cá fora três versões do Relatório dos défices excessivos no espaço de poucas semanas. E o INE viu-se obrigado, na última versão, a reafirmar aquilo que apenas os entendidos sabem: as contas do ano corrente- ou seja, 2007- são da exclusiva responsabilidade do Ministério das Finanças..."!...
Luís Campos e Cunha, em artigo de opinião, no Público de 26 de Outubro
Pois é, desculpe-se-nos a vaidade, mas o 4R já não está só na análise às contas de 2007!...

O fim dos chumbos por faltas, ou a vergonha do novo triunfo do “eduquês”

O novo Estatuto do Aluno nos segundo e terceiro ciclos (até ao 9º ano de escolaridade), aprovado no Parlamento com o voto único do PS, acaba com os chumbos por faltas. Assim mesmo: se esta proposta entrar em vigor (e só Belém pode impedir que tal aconteça), passará a ser possível passar de ano sem pôr os pés na escola!...

Foi este o delirante contributo do grupo parlamentar do PS para o projecto-lei que havia sido aprovado em Conselho de Ministros e onde, apesar de tudo, ainda havia algum pudor: os alunos que excediam o limite de faltas injustificadas tinham que realizar uma prova de recuperação (ou mais do que uma, consoante a decisão da escola), em que reprovariam se não conseguissem as classificações necessárias, podendo, com recurso, apelar aos conselhos directivos. Com a “ajuda” do Grupo Parlamentar do PS, a(s) nota(s) da(s) prova(s) de recuperação de nada vale(m), pois os alunos faltosos passarão sempre, tendo os conselhos directivos que preparar planos de recuperação ou atribuir castigos (como determinado número de horas de estudo, por exemplo), para além de informarem os encarregados de educação.

A expressão é forte mas, em minha opinião, é a que melhor caracteriza esta alteração legislativa: vergonhosa. Sem dúvida mascarará as taxas de insucesso e o abandono escolar. Mas reparemos: a escolaridade obrigatória poderá ser completada com sucesso mesmo sem frequência de aulas e com notas negativas. Onde chegarão estes alunos? Estarão eles, com esta medida, melhor preparados para enfrentar os anos seguintes de escolaridade? E para enfrentar com sucesso uma carreira profissional? Creio que a resposta é sempre NÃO.

Onde a exigência já não era muita, ela passará, agora, a ser nula. O rigor é, uma vez mais reduzido – quando devia era ser aumentado. E, portanto, os alunos que forem formados num ambiente que é cada vez mais laxista (logo, desadequado) estarão cada vez menos preparados para enfrentar com sucesso as necessidades do mundo profissional. Porque nem sequer estão habituados a ser rigorosos ou a ser avaliados. E, como todos sabemos, no mundo real, a avaliação profissional ocorre todos os dias. Portanto…

Quando era preciso que se devolvesse a autoridade aos professores e fosse aumentada a exigência para com os alunos, caminha-se escandalosamente no sentido oposto. O “eduquês” volta a triunfar. E a qualificação dos nossos recursos humanos, o factor mais importante para que, a médio e longo prazo possamos ser mais competitivos e ambicionemos a um crescimento económico forte e duradouro, e em que aparecemos sistematicamente nos últimos lugares dos rankings internacionais, vai deteriorar-se ainda mais. Pobre Portugal, para onde estás a ser levado?!...

sábado, 27 de outubro de 2007

"Barrosistas" defenestrados, que se terá passado?

O que terá acontecido para que Santana Lopes tivesse defenestrado, sem contemplações, os três Deputados apelidados de “barrosistas”, que até agora ocupavam a presidência de três importantes Comissões Parlamentares?
O semanário “Sol” hoje publicado, recheado aliás de agudas farpas endereçadas a Santana Lopes – quem sabe se não se trata já de retaliação, neste caso servida a quente – sugere que se teria tratado de “saneamentos políticos”.
No entanto, se bem repararmos, dos substitutos daqueles Deputados na presidência das Comissões, dois - o nosso querido Companheiro de 4R Miguel Frasquilho na Comissão de Obras Públicas e Luís Marques Guedes, ex-lider do Grupo Parlamentar e um dos Deputados mais competentes que conheci na AR, na Comissão de Ética – foram assumidos e destacados apoiantes de Marques Mendes na campanha para as eleições à presidência do PSD.
E aqueles “barrosistas” nem tomaram partido – ou pareceu-me que não tomaram – nessa disputa eleitoral…
Assim, a tese do saneamento político parece pouco convincente, pois se de tal se tratasse dificilmente se compreenderia que aqueles dois destacados “mendistas” fossem contemplados com a presidência de Comissões…
Por outro lado, se estivessemos em presença de verdadeiros saneamentos, estou convicto de que nem Miguel Frasquilho nem Luís Marques Guedes, se bem os conheço, aceitariam substituir os seus colegas na presidência das Comissões que lhes foi retirada.
Assim, a verdadeira razão para a substituição dos “barrosistas” não está clara. Independentemente de questões de mérito relativo que poderão também ter pesado na escolha…não estarão em causa acertos de contas, saldos por liquidar do conturbado final do Governo de Santana Lopes em 2004/2005?
Quem sabe se Santana Lopes teria sido “ajudado” na sua queda por estes “barrosistas”? E se só mais tarde se terá dado conta de tal “ajuda”?
Ou teria sido outra, bem mais profunda e menos desvendável a razão desta defenestração?
Em política (mais ainda na partidária) tudo é possível, foi uma das poucas coisas que aprendi na minha fugaz passagem pela cena política activa…
Um tema curioso de pesquisa para os especialistas das querelas partidárias que, confesso, não é a minha primeira preferência.

Diz-me o que lês, ... - 2


O que Eduardo Marçal Grilo identificou como um sociolecto, têm alguns autores identificado como a expressão de uma ideologia dominante nas políticas educativas. O “eduquês” tem sido o alvo privilegiado de textos de grande aceitação pública como os de Nuno Crato e de Gabriel Mithá Ribeiro que, com especial pertinência e acuidade, têm vindo a denunciar a influência desta autêntica escola de pensamento educativo sobre as políticas, as escolas e as aprendizagens que imperam no nosso sistema educativo.

Depois de publicar “A pedagogia da Avestruz”, Gabriel Mithá Ribeiro volta com nova publicação: “A Lógica dos Burros – O Lado Negro das Políticas Educativas”. Nesta edição o autor reúne alguns dos seus artigos publicados regularmente na imprensa portuguesa, agora sistematizados em cinco capítulos que versam sobre os temas das ciências da educação, da indisciplina nas escolas, dos exames, os conteúdos curriculares e a gestão dos estabelecimentos de ensino.

Na altura em que algumas medidas legislativas revelam a marca emergente de algumas visões românticas do processo educativo, a leitura desta obra faz-nos pensar sobre a verdadeira natureza deste lobby que tão nefasto tem sido para a educação em Portugal nos últimos vinte anos.

Independentemente de concordarmos mais ou menos com as teses do autor, a sua leitura deixa-nos a analogia do “eduquês” com as “bruxas”: mesmo que não se acredite, …

Uma leitura indispensável.

O veneno do dragão!...




Desta vez nem é preciso recorrer ao veneno do dragão e aproveita-se o delicioso frasco do valoroso benfiquista Filipe Nunes Vicente, do Mar Salgado, destilado após o jogo com o Celtic.
"O nosso Léo diz que o Benfica marcou na altura certa. Não, rapaz, não. A altura certa para marcar um golo não é aos 86 minutos. É um bocadito antes, percebes? A malta não anda com paciência para cursos acelerados sobre Sacher-Masoch.
Faz cimento a tese segundo a qual o Cardozo tem de ser bem servido e a equipa tem de aprender a jogar para ele ( até o Luís Freitas Lobo alinha nisto). Não, rapazes, não. Pôr uma equipa a jogar para um tipo que tem o poder de antecipação de uma tartaruga, o jogo de cabeça de uma toupeira e o pé direito que falta a um amputado da Guerra da Secessão, é original e criativo, mas imbecil."
Bom, agora percebi a razão pela qual os jornais da bola, e não só, festejaram com primeiras páginas inteiras a verdadeira proeza que, pelos vistos, um golo de Cardozo constitui!...

São multas senhor!... são multas!!

Parecia uma daquelas habituais notícias da Lusa.
A PSP de Almada e Setúbal tinha feito mais uma operação policial:
"(...) Um condutor sem carta, outro que passou um sinal vermelho e dois com taxa de alcoolemia superior aos valores permitidos, foram algumas infracções detectadas numa acção de fiscalização da PSP em Almada e Setúbal. Numa operação policial acompanhada por mais de uma dezena de jornalistas e pela Governadora Civil, Eurídice Pereira, que ofereceu flores a alguns condutores, foram detectadas centenas de (...)".
Não queria acreditar. Voltei atrás na leitura. Tinha lido mal!?
"(...) e pela Governadora Civil, Eurídice Pereira, que ofereceu flores (...)".
Não, não tinha lido mal!
Já estou a imaginar o desgraçado do automobilista, que por entre uma multa passada pelos agentes da PSP, vê a senhora Governadora Civil enfiar-lhe uma flor...
..." são rosas senhor, são rosas!!"

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Harry Potter é de esquerda

O filósofo francês Jean Claude Milner descobriu que o bruxo Harry Potter, a personagem da obra de J.K. Rowling, é de esquerda. E que todas as sombrias personagens da saga são, afinal, produtos do reacionarismo "tatcheriano" e do "blairiano".
Aposto que muitos vão gozar com o dito senhor (1). Injustamente. Eu próprio já tinha descoberto que outras personagens da mais popular ficção também são desta esquerda. O Rato Mickey. O Pato Donald. Perscutem no significado mais subtil dos cartoons de Walt Disney e vejam se não existe ali uma rebeldia libertária tão característica da esquerda.

Ah! E o Pateta. O Pateta também é de esquerda!
___________
(1) Reacção de gente inculta e ignara após o desaparecimento da disciplina de filosofia do curriculum escolar

Sic transit gloria mundi

A vida às vezes é muito ingrata.
O americano James Watson, 79 anos, vencedor do Prêmio Nobel em Fisiologia e Medicina, em 1962, pela descoberta da estrutura do DNA, que levou à sequenciação do genoma humano, aposentou-se de chanceler de uma das principais instituições de pesquisa dos Estados Unidos, o Laboratório de Cold Spring Harbor, onde trabalhou mais de 40 anos
A sua saída de palco resultou do escândalo que provocaram as suas declarações a um jornal britânico onde, no âmbito de uma entrevista, disse que era pessimista em relação ao futuro de África porque “todas as nossas políticas sociais estão baseadas no facto de que a inteligência deles é a mesma que a nossa -- enquanto todos os testes dizem que isso não é verdade".
Esta lamentável história, e o seu epílogo, lembram-me um texto que li num livro (creio, sem certeza, que foi no “Livro do Riso e do Esquecimento”, de Milan Kundera) a propósito do efeito assassino da exposição da imagem, do modo como hoje é possível fixar, para sempre, um segundo desastrado, e fazê-lo apagar qualquer outro brilho que tenha existido.
Um notável cientista, coberto de glória mas já muito velho, deu uma última conferência. Estando no palco a falar, a incontinência urinária própria da idade atraiçoou-o e uma vergonhosa mancha escura começou a desenhar-se nas calças, a descer pelas pernas abaixo, distraindo a assistência e provocando risos. O fotógrafo não perdoou e, no dia seguinte, todos os jornais traziam o sábio com as calças urinadas. Só se falou disso, e uma vida inteira dedicada à ciência, centenas de livros publicados e milhões de homens que tinham beneficiado do seu trabalho e saber, passou para a posteridade pela mancha nas calças.
A vida, feita por nós todos, é muito ingrata. Sic transit gloria mundi, hoje, como sempre.

A interlocução!...

"...Com Santana Lopes, Sócrates vai ter um interlocutor no Parlamento do seu nível político e intelectual..."
Luís Campos e Cunha, ex-Ministro das Finanças, em artigo de opinião, no Público de hoje

O "quebra-cabeças" da matemática...

Os maus resultados do ensino da matemática no nosso País são um "quebra-cabeças" para alunos, professores e Ministério da Educação; trata-se de um assunto recorrente que constitui, há muito, um problema nacional.
Têm sido apontados vários problemas para este estado de coisas, sem que no entanto já tenham sido tomadas as medidas capazes de, embora gradualmente, alterar o desolador panorama da matemática. Volta e meia surgem notícias do Ministério da Educação que apontam para ganhos "súbitos" nos resultados dos exames desta disciplina, sem que no entanto haja de facto uma inversão da situação.
Sei bem o que é o gosto pela matemática e o horror da matemática. Nos meus tempos de criança e jovem a máquina calculadora era um objecto raro que não intervinha na aprendizagem da matemática. Nunca me fez falta nos tempos em que dei os primeiros passos nesta disciplina, com a sorte de ter tido uma professora que ensinava a matemática de forma divertida, incutindo a todo o momento a lógica na sequência da utilização dos números e do seu resultado. Tomei-lhe o gosto e tornei-me uma boa aluna de matemática. Mais tarde tive a oportunidade de melhor compreender o horror da matemática sentido pelos alunos que, viciados na incompreensão da lógica e utilidade dos números, estavam sempre com a "corda na garganta", nunca dela se tendo livrado até ao final dos estudos universitários.
É hoje reconhecida a importância da matemática para a vida das pessoas em geral. É considerada uma aptidão básica para lidar com a vida. A mente humana parece gostar da lógica e da ordem, mas o seu desenvolvimento está muito dependente do gosto e da utilidade que as crianças descobrem na utilização e combinação dos números. O insucesso da matemática está muito ligado à complexidade que é colocada na apresentação da função dos números. No sucesso da aprendizagem será fundamental o ganho de confiança e de auto-estima na resolução dos problemas. Há, portanto, que descomplicar!
O Ministério da Educação colocou em consulta pública, que entretanto terminou, um documento para Reajustamento do Programa de Matemática do Ensino Básico. Este documento suscitou várias críticas, designadamente da Sociedade Portuguesa de Matemática (SPM), entidade que para espanto meu não foi consultada na elaboração do documento.
De entre as críticas apontadas, retive a questão, justamente, do uso das calculadoras matemáticas. Com efeito, especialistas apontam que o uso da calculadora nos primeiros anos de escolaridade "ameaça a destreza mental e a capacidade de cálculo dos alunos".
Muitos países acabaram por abandonar o uso da calculadora logo na primária porque descobriram que as crianças deixaram de ter a percepção dos números, deixaram de pensar numericamente, deixaram de assimilar o básico – adição, subtracção, multiplicação e divisão.
A SPM "tem defendido que a calculadora pode e deve desempenhar algum papel no ensino, embora apenas muito ocasionalmente nos primeiros anos do Ensino Básico. E tem sublinhado que a calculadora não deve estar à disposição do aluno para seu uso indiscriminado. Ela pode ter um papel quando o professor assim o entender. Mas é importantíssimo sublinhar que enquanto se está a aprender a tabuada e as operações elementares o recurso à calculadora deve ser impedido".
Ora, o documento do Ministério da Educação para o reajustamento do programa da disciplina da matemática estipula que "ao longo de todos os ciclos, os alunos devem usar calculadoras e computadores na realização de cálculos, na representação de informação e na representação de objectivos geométricos". A calculadora matemática continua, pois, assim parece, a desempenhar um papel central na aprendizagem da matemática, apesar dos especialistas alertarem para os efeitos perversos.
Fico sem saber o que leva o Ministério da Educação a persistir nesta via?

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

A educação da balda!...

Já se sabia que o Ministério da Educação sempre se esmerou ao máximo para promover o pior ensino possível. Falo do Ministério e não de alguns Ministros, pessoas de grande mérito e dos quais muito se esperaria, mas que soçobraram, enredados na teia de uma estrutura que não souberam liquidar. Mas o pior é que o Ministério tem agora um aliado na asneira, a própria Assembleia da República, através do partido maioritário, o Partido Socialista.
Uma cultura de responsabilidade e exigência levaria a que um aluno que excedesse injustificadamente determinado número de faltas reprovasse, como, e bem, era dantes, já lá vai muito tempo.
Encurtando razões, e numa nova forma de proteccionismo a quem não quer, nem merece, o Governo propôs agora à Assembleia que os alunos que excedessem o limite de faltas teriam que se sujeitar a um exame, só passando de ano os que tivessem aproveitamento.
Pois o Partido Socialista, na Comissão Parlamentar da Educação, aprovou tal medida, mas com alterações, de forma que, segundo li no DN, “o aluno transitará de ano, quer tenha aproveitamento, quer não”!...
De uma cajadada, equiparam-se faltas justificadas a injustificadas e decreta-se que umas e outras não têm qualquer validade, já que o aluno passa sempre!...
Claro que o aluno vai habituar-se. E cria-se uma clientela permanente para sucessivos programas de novas oportunidades, agora específicos e especialmente desenhados para baldistas e preguiçosos.

Casa assaltada...trancas à porta!

O Ministro das Finanças terá ontem declarado que não é possível os portugueses endividarem-se mais, que chegamos ao limite tolerável de endividamento.
Que me recorde é a primeira vez, nos últimos anos, que um Ministro das Finanças vem fazer uma declaração que prima pelo bom senso e que contém uma advertência clara.
Só Manuela Ferreira Leite - já lá vão 5 anos - falou com idêntica clareza quando advertiu para o risco do défice externo e a espiral de endividamento que isso implicava.
As advertências de Manuela acabariam por cair em “saco roto” quando apareceu o fatídico discurso presidencial do “há mais vida para além do Orçamento” e a preocupação com o desequilíbrio externo e o correlativo endividamento, em especial das Famílias, passou a segundo plano.
É claro que o binómio desequilíbrio externo«-»endividamento prosseguiu a sua marcha imparável, as taxas de juro começaram também a subir desde há cerca de dois anos e agora temos esta preocupação renovada, a redescoberta do excesso de endividamento.
Só que agora o problema é mais complexo porque não vamos conseguir parar o processo de endividamento, este tornou-se auto-sustentado.
Os encargos da dívida ao exterior são de tal modo elevados que a única possibilidade de lhes fazer face é endividar-mo-nos cada vez mais.
Só no mês de Agosto do corrente ano, última informação mensal disponível, os encargos da dívida ao exterior totalizaram € 670 milhões, quase € 22 milhões/dia.
Para este ano prevê-se que os juros da dívida (+outros rendimentos) a pagar ao exterior representem à volta de 4,5% do PIB.
Isto torna obrigatório que o défice externo se mantenha a nível superior a 8% do PIB, tendendo a aumentar nos próximos anos.
Não há, portanto, volta a dar ao crescimento do endividamento, por muito que isso incomode – e acredito que incomode mesmo – o Ministro das Finanças.
Acresce que o aumento de endividamento é uma necessidade para os Bancos, que vêem seus resultados crescer, sem isso os resultados diminuiriam.
Assim, a declaração do Ministro das Finanças, se bem que mereça concordância (a minha, pelo menos), faz-me lembrar o velho provérbio – “Casa assaltada…trancas à porta!”.
Se me perguntarem onde vamos parar,por este caminho, reservo para já a minha resposta...

No reino do faz de conta!...

Prosseguem as “negociações” salariais entre o Governo e os Sindicatos da Função Pública.
Discussões de faz de conta, não prestigiam nem Sindicatos nem Governo, porque os sindicatos não têm qualquer força negocial e o governo não tem qualquer vontade nem possibilidade de sair dos parâmetros que estabeleceu.
Perante os seus filiados, os Sindicatos fazem de conta que reivindicam. E os seus representantes têm mais uns momentos televisivos de glória.
Perante os portugueses, o governo faz de conta que tem uma política orçamental de rigor, e perante o eleitorado da função pública faz de conta que vai de encontro às suas dificuldades.
Para a assinatura final, arranja-se um acordo de sardinha: o governo sobe um ou dois décimos e alguns sindicatos tomam por substanciais alguns ajustamentos marginais em cláusulas sem relevância.
Por questões de princípio, há sindicatos que não assinam, logo desautorizados, no fim do mês, pelos filiados que recebem, sem qualquer protesto, o que o governo decidiu.
No fundo, as “negociações” são uma inutilidade e uma perda completa de tempo. Como quase tudo o que é politicamente correcto!...
Um reino do faz de conta!...

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

É bom que se fale na anorexia


Houve hoje um pequeno documentário sobre anorexia no canal 1, a seguir ao telejornal.
Sei bem como é bom que se fale, que se aprenda com outros, ao menos na medida em que é possível apreender sintomas e reacções semelhantes.
É bom que se fale disso de uma forma simples, se comparem casos, que se sublinhem as dúvidas e mostre o absurdo a que um jovem pode chegar determinada e lentamente, por suas próprias mãos. Só porque sim.
É bom que se mostre, não só pelos próprios, mas também pelos que sofrem com eles, os que os amam e assistem impotentes, revoltados, numa angústia de quem se sente duramente punido sem saber porquê.
É bom que se mostre porque é difícil de acreditar, porque mesmo quando a terrível doença está à frente dos nossos olhos, sentada à mesa connosco, todos os dias, não a vemos, ou recusamos ver porque é tão, mas tão injusta.
A atitude que leva à anorexia é contrária à lógica, à sensatez e à natureza, talvez por isso passe despercebida mesmo ao amor mais atento e dedicado.
É profundamente cruel, porque é uma revolta manhosa, insidiosa, calada mas obstinada. O motivo pode ser um qualquer, e o que quer que seja parece sempre tão fútil ao pé da acção destrutiva de si próprio, que se vai sempre à procura do motivo “verdadeiro”. No desespero de o encontrar, todos são culpados, todos são acusadores, acabam todos a ser vítimas de um algoz por quem daríamos a vida se preciso fosse.
É bom que se fale nisso. Que se diga aos pais que haverá sempre uma culpa qualquer, real ou inventada, não interessa confessar, emendar isso e tudo o resto, atrás de um pretexto vem outro, e outro, numa acusação tenaz, dramática, sempre muda, num labirinto infernal em que se tacteia, gritando, suplicando, exigindo, no desespero de encontrar o caminho.
A anorexia alimenta-se desse desafio, é uma arrogância perante as fraquezas ou os limites da condição humana, físicas ou outras, e os jovens querem medir-se com o que os domina, querem provar que, para se libertar, são capazes de ir tão longe que ninguém imagina. Nem eles. Por isso perdem o controle, por isso deixam-se definhar, sozinhos, isolados, agressivos, numa metamorfose dolorosa que pode ditar a morte, ou o renascimento na forma já adulta, porque o que lhes pesa é a consciência de si próprios, que descobrem no dia em que deixam de ser crianças. Tenham lá que idade tiverem nessa altura.

Ao telefone, dois advogados...

- Então meu caro, como vai isso?
- Tudo bem. Cá andamos. Que mandas?
- Olha, chegaste a ver aquela questão no processo do...
- Espera, mando-te um fax, está bem?
- Sim, mas agora só te queria perguntar se o teu cliente sempre entrou com o requerimen...
- Olha, eu explico tudo no fax! Está lá tudo!
- Muito bem. Vou ver. Está tudo bem contigo? Pareces-me um pouco...
- Não, deixa. É que o meu telefone está com uns barulhos esquisitos. Falamos depois. Almoçamos um dia destes?

NOTA: não se trata de transcrição de escuta telefónica, nem de inconfidência. Mera ficção que só por coincidência se aparentará com a realidade.

Uma boleia em Lisboa!

Fiquei preocupado quando soube que no dia em que tinha uma viagem marcada para Ponta Delgada, onde ia fazer uma conferência, os pilotos da aviação civil iriam estar em greve. Após os necessários contactos, garantiram-me que, em princípio, o voo não seria cancelado.
Sofrendo do "síndroma dos gaiteiros" (vou quase sempre de véspera) abalei em direcção à capital. Estacionei no parque habitual e dirigi-me pela primeira vez ao terminal 2. Olhei para os sinais indicadores e avancei a pé arrastando a pequena mala e o inseparável computador. Não deve ser longe, pensei eu e tempo tinha-o de sobra. Andei por um passeio de calçada portuguesa mal amanhado com a mala aos saltos e comecei a reparar que o raio do novo terminal afinal ficava muito longe. De repente, confrontei-me com uma avenida nova sem passeios. Fiquei estupefacto. Estes "gajos" não se lembraram dos peões! Com todo o cuidado aventurei-me na avenida não sem pensar no risco de levar com uma trombada de algum automóvel. É certo que praticamente não havia grande circulação naquela artéria, mas nunca fiando. Já estava meio arrependido de não ter apanhado a carrinha do aeroporto, quando de repente sou ultrapassado por um veículo de transporte com vidros fumados que acabou por parar alguns metros à frente. Fiquei um pouco perplexo e interroguei-me sobre o que teria acontecido. Não havia nada nem ninguém na via! De qualquer modo, estuguei um pouco o passo, arrastando a mobília, com a ideia de que pudesse ser o tal shuttle do aeroporto e cujo motorista tivesse tido a gentileza em me levar. Mas olhei para o veículo e não li nada que sustentasse tal hipótese. Eis que a porta se abre e o condutor, amavelmente, perguntou-me se não queria entrar, porque o terminal ainda ficava a alguma distância. Entrei, agradecendo a sua cortesia. O curto espaço de tempo da viajem foi suficiente para verificar que se tratava de um profissional encarregado de transportar pequenos grupos de executivos.
Estava muito longe de pensar em apanhar uma boleia destas em plena Lisboa. Tal facto fez-me recordar os tempos da minha juventude em que tinha de calcorrear, às vezes mais do que uma vez, a distância entre a Estação e a Vila. Eram mais de quatro quilómetros pela estrada mas encurtava-a indo por atalhos. O pior era subir a Via Cova, muito íngreme, ao ponto de apetecer ir de gatas. Mais suave era a Calçada Romana mas mais longa. A esperança era apanhar uma boleia na ponte sobre o rio Dão. Naquela altura, havia poucos carros mas quem os tinham eram generosos parando para dar boleias. Sempre que chegava à entrada da ponte, junto da Memória, testemunha da destruição ocorrida durante a Invasão de Massena, desacelerava o passo na expectativa de que alguém conhecido me aliviasse o tormento da subida e punha-me a olhar para o rio.
Conhecia o barulho de muitos motores. Quando ao longe ouvia motores rotativos a denunciar velocidades pouco apropriadas para aquelas curvas muito apertadas pensava: - Será o Sr. Regadas ou o Carlos Adelino? Este último era mais novo e mais louco que o primeiro. Paravam e nem era preciso dizer mais nada. Assim que entrava no carro arrancavam de imediato a alta velocidade desafiando a curva em ângulo recto ao fim da ponte. Tinha que me agarrar a tudo quanto era sítio para não ser projectado para cima do condutor. A taquicardia era uma constante e a aflição de entrar na capela do Senhor da Ponte situada precisamente no vértice daquele ângulo obrigava-me a exclamar: - Valha-me Senhor da Ponte! O que é certo, face às loucuras praticadas na época, é que a capela octogonal nunca sofreu uma beliscadura. Cá para mim o Senhor deveria divertir-se imenso com aqueles loucos que, ao entrarem na curva, derrapavam nas suas "barbas" fazendo uma chiadeira dos diabos ao mesmo tempo que largavam parte dos pneus! Depois veio a barragem. Desmontaram a capela e reedificaram-na à saída da nova ponte. O acesso não é fácil, está isolada, os carros passam ao lado e não tem a sua "curva". Todas as semanas passo por ela e não deixo de sentir uma certa tristeza. O Senhor da Ponte, a quem deixava uma coroa, um escudo, vinte e cinco tostões e até mesmo cinco mil réis (!), tudo dependia do grau de gravidade que eu atribuía aos disparates ou ao tamanho do pedido, deve ter muitas saudades dos tempos em que ouvia o roncar dos malucos das máquinas, ameaçando entrar no seu reduto, e das promessas e pedidos dos mais pequenos...
Um bem-haja ao motorista lisboeta que me deu uma boleia!

Reflexões democráticas

O El Pais do passado dia 13 de Outubro trazia um artigo do sociólogo Ignacio Sotelo, chamado “Albricias, un nuevo partido”que, a propósito do novo partido espanhol, faz algumas reflexões muito oportunas sobre como vão as democracias ocidentais.
Começa por lembrar que a democracia grega, de cuja ascendência tanto os orgulhamos, ficou “proscrita” até finais do séc. XVIII, tendo entretanto sido condenada por grandes pensadores como uma forma degenerada de poder. Depois, a afirmação do sufrágio universal, o governo das maioria, o respeito pelas minorias, e as inegáveis virtualidades da democracia consagradas pela frase histórica de Churcill – o pior dos sistemas, se excluirmos os outros todos – criaram quase um dogma que afasta qualquer discussão séria sobre os graves defeitos que vai acumulando a sua prática, tornando “quase irreconciliáveis dois ideais da democracia, o que a entende como um estádio já adquirido de perfeição, o outro como um processo de contínuo aperfeiçoamento”.
Ora, o poder emana do povo mas não é detido por este, que apenas elege os seus representantes para o exercerem ou seja, legitima-os para esse exercício, ficando apenas com o poder de o transferir para outros representantes de maneira pacífica. Para organizar essa transferência de poder, surgiram os partidos políticos, cujas funções de organizadores eleitorais foram evoluindo para actividades económicas, sociais e culturais, verdadeira intervenção que ultrapassava em muito a representação parlamentar.
Considera o autor que, hoje, os partidos estão quase remetidos à sua função original de máquinas eleitorais mas que, cada vez mais distantes da sociedade em que se inserem, usam essa máquina para fazer eleger aqueles que, de entre os seus membros, destinaram a essa ascensão, sem que se questione muitas vezes a democraticidade desses mesmos processos.
Com o tempo, a “ascensão burocrática partidária” foi-se sobrepondo ao mérito social e à experiência profissional e os partidos ficam encerrados entre os que nele ingressam desde a origem e que por essa via almejam chegar ao poder. Este “oligopólio partidário” tem trazido grande descrédito aos partidos sem que se afirme uma alternativa capaz de ir corrigindo sem rupturas, como poderá acontecer se for aumentando o recrutamento “exterior” para cargos de responsabilidade e se a lei for impondo estruturas normativas e de poder que facilitem essa abertura.
A constituição de novos partidos, ainda que inicialmente possa surgir como uma lufada de ar fresco e gente diferente, não deixará de se traduzir em nova acomodação pela própria pressão dos instalados, a quem terão que fazer concessões para abrir o seu espaço, correndo o risco de ficar tudo na mesma. No entanto, aponta alguns casos de sucesso, ao menos no agendamento de novos temas, como foi o caso dos “verdes” na Alemanha, com o tema ambiental, que foi incorporado pelos outros partidos até estarem todos de novo igualados.
O artigo termina com o aviso de que “é preferível pequenos remendos a esperar que um dia caia o edifício, e tenhamos que começar de novo dos escombros”.
Um aviso para levar a sério, com novos protagonistas ou com profundas mudanças dos actuais. Há dogmas que, em vez de proteger do desgaste da dúvida, encobrem o cepticismo que mina sem remédio…

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Apresentação do livro 4R no Porto

No dia 19 de Novembro!...
Porque não se dirige apenas aos portuenses da Boavista, o Convite pode e deve ser ampliado!...

Pontapé na incubadora

O Dr. Santana Lopes decidiu substituir todos os deputados do PSD que presidiam a Comissões Parlamentares na Assembleia da República.
Está no seu direito.
Mostra que manda!
E até pode ter feito boas escolhas.
Entre elas está um dos meus companheiros deste blog: o Miguel Frasquilho, que foi o único que transitou de uma presidência para outra.
Mas as mudanças efectuadas, o momento escolhido e a forma como ocorreram, mostram mais uma vez que o Dr. Santana Lopes é capaz do melhor e do pior.
Neste caso, consegue de forma objectiva, criar uma má impressão.
E só agora começou...
... pobre incubadora!

Apelo


Alguém por aqui me pode explicar como é que, fora do quadro de um referendo ao Tratado Reformador, se mobiliza o País para o debate dos fundamentos políticos e culturais de uma nova Europa que todos dizem ser indispensável debater?


S.f.f.


Antecipadamente grato.


O 4R em terceira edição!


Depois da apresentação do livro, há seis dias, na FNAC do Colombo, é hoje lançada a 3ª edição do livro 4R.

Os Autores agradecem o excelente acolhimento dispensado à obra, uma selecção de textos publicados no Blog.

É uma oportunidade para muitos, já que, neste momento, nos confrontamos com o dilema de fazer mais edições ou de ficar por esta terceira, tornando o livro uma raridade e privilegiando assim os leitores que já o tenham adquirirido ou possam agora adquiri-lo!...

Engenho ou arte de comunicar?

Não deixa de suscitar alguma perplexidade a entrevista do Procurador Geral da República. E não estou a referir-me ao que se soube (?) através dessa entrevista, estou a pensar que preocupante é que tenham sido ditas essas coisas numa entrevista.
Não querendo admitir que o objectivo era escandalizar ou sequer lançar desconfiança sobre o que se deveria ter como fiável, pergunto-me se não haverá por vezes alguma falta de experiência sobre a “convivência” com os media.
Não, também não estou a dizer que houve armadilhas, ou coisa parecida, pelo contrário. O que eu quero dizer é que, fazendo cada um a sua parte, com inteira lealdade, se assim se pode dizer, cabe ao jornalista perguntar, e tentar obter uma entrevista que traga novidades ou emoção, e cabe ao entrevistado dizer só o que deve ser dito ou seja, aquilo que ele queria e devia transmitir como útil e interessante quando decidiu dar a entrevista.
Ora, há que reconhecer que é geralmente ignorado no nosso país (já não noutros) a “aprendizagem” que é exigida para comunicar com os meios que hoje existem, com a sua agressividade, com a exposição permanente, com as “técnicas” para captar o que se pretende sem que a pessoa perceba logo que está a dizer mais, ou diferente, do que pretendia dizer.
Leva algum tempo até se aprender com a experiência, (se é que chega a aprender-se) por isso acho que já era altura de dar alguma formação neste aspecto a quem, institucionalmente, deve saber enfrentar e trabalhar com a comunicação social. É que não é só uma questão de jeito, ou de frontalidade. É uma questão de profissionalismo, o modo de transmitir informações, de falar com transparência e com honestidade, não pode arriscar ser desastrado no que se quer transmitir, dizer o que não se queria ou dizer da forma errada, causando às vezes mais prejuízo do que se tivesse ficado em silêncio. Por outro lado, a “informação” que se ganha com estes episódios é pouco mais que pretexto para hipocrisias políticas, uns assomos de indignação e no fundo todos estão é a pensar “…mas como é que ele foi dizer aquilo?...”. É mais que tempo de assumir que comunicar, e comunicar como deve ser, com consciência do que se diz e de como se diz, e do efeito que isso dará, é uma técnica que se aprende, e que é essencial para o bom desempenho de um cargo ou, pelo menos, para a ideia que fica dele que é, muitas vezes, o que subsiste…

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Momentos de mudança...

Tenho escrito sobre o tema da pobreza. Sei que é um tema incómodo, triste, pouco atractivo, porventura, cansativo. Mas por isso mesmo, insisto na sua abordagem pela urgência da sua consciencialização e resolução.
Portugal tem 2 milhões de pobres! Uma situação chocante que deveria ser motivo de indignação. Mas não é! A pobreza é tradicionalmente um assunto tabu sobre o qual o poder político e a sociedade em geral não gostam e não querem falar.
Os dados divulgados na semana passada pelo Instituto Nacional de Estatística por ocasião do Dia Internacional de Erradicação da Pobreza confirmam, como não poderia deixar de ser, a situação traçada pelo Eurostat (em Agosto) relativamente à pobreza em Portugal. Com efeito, aproximadamente 1/5 da população residente em Portugal vivia (inquérito realizado em 2005) em risco de pobreza. Ou seja, os adultos abrangidos dispunham de rendimentos médios mensais de 360 €, ou seja, 30 € por dia. Os idosos e os menores de 16 anos registavam as taxas de pobreza relativas mais elevadas, respectivamente 28% e 23%.
Os dados publicados demonstram que as políticas sociais levadas a cabo nos últimos dez anos não têm sido eficazes no combate à pobreza. Têm sido orientadas para reduzir a intensidade da pobreza, isto é, para tornar os mais pobres dos pobres menos pobres. Isto mesmo é demonstrado pelos 15% dos pobres que recorrem ao Rendimento Mínimo Garantido.
Os dados demonstram também que o modelo de crescimento em Portugal gera desigualdades sociais e pobreza. As políticas de repartição primária do rendimento não têm sido capazes de conter as desigualdades.
Para combater o flagelo da pobreza, que nos deve indignar a todos, é necessário que o País encare o seu combate como um desígnio nacional. Neste sentido é necessária uma vontade politica forte e uma grande mobilização de solidariedade, seja pela intervenção cívica seja pelas transferências sociais do rendimento.
Deveríamos estar todos muito preocupados com o rumo que as coisas têm levado. A falta de sensibilidade social é certamente uma explicação para a situação degradante a que se chegou. É tempo de falar mais da pobreza e da exclusão social e de fazer mais pela sua erradicação, não com demagogia, promessas e palavras, mas sim com políticas sérias e uma vontade colectiva comprometida.
Citando o Nobel da Paz Muhammad Yunus: "Se não estamos a ter êxito nalguma coisa é porque ainda não nos dedicámos com afinco a essa missão".

Conflito com autarquia ou com Contribuintes

Com este título editei há cerca de um ano um POST dedicado ao conflito, a que os media deram grande relevo, entre um grupo de “heróicos” ocupantes do teatro Rivoli, no Porto e o Presidente da Câmara da cidade, entidade proprietária do teatro.
O grupo de ocupantes, constituído por membros dum grupo de teatro e por alguns apaniguados, reivindicavam, sob forma potestativa, a continuação do uso e fruição do teatro para aí se dedicarem a exercícios de cultura superior, generosamente suportados pelos Contribuintes – por nós.
A ocupação era uma forma simbólica de afirmar a sua “potestas” sobre o teatro, e a situação só se resolveu com uma intervenção da polícia, por ordem do Presidente da Câmara, que retirou coercivamente os ocupantes do interior do teatro onde se tinham barricado.
Passei este último fim-de-semana no Porto e um grupo de Amigos levou-me ao Rivoli no Sábado à noite para assistir ao music-hall Jesus Cristo Superstar, produzido por La Feria (que não apareceu).
O Rivoli estava lotado e assim tem estado, segundo me foi dito, desde que a peça estreou há vários meses.
Para fim-de-semana os lugares são reservados com alguns dias de antecedência.
As representações são de grande nível, quase todas a cargo de (muito) jovens actores: a interpretação das figuras de Jesus Cristo, Maria Madalena, Judas, Simão e Caifás é assombrosa.
O espectáculo tem grande movimento e fases de forte intensidade existencial que prendem o espectador.
No final, o público, todo o público, de pé, tributou aos actores uma demorada ovação, talvez próxima de 10 minutos.
Quando saía do Rivoli recordei-me do POST de há um ano e do contraste entre esta cultura, verdadeiramente popular, que atrai multidões e não custa dinheiro ao Estado, e aquela que foi ali produzida para plateias quase vazias, comparticipada pelos Contribuintes…
Como se criam estes mitos culturais, esta sofisticação intelectual de uma “cultura teatral” que é feita por e para grupos muito restritos e que os cidadãos são chamados compulsivamente a pagar? Em nome de quê?
Há por esse País fora inúmeros grupos culturais/teatrais, genuinamente populares, que fazem teatro por vezes de qualidade superior e que não custam ao Estado quase nada ou nada mesmo.
Mas há depois os “iluminados”, que conseguem influência junto dos media e do poder político e que têm esse “tique” deplorável de parasitar na orla dos Contribuintes, em nome de uma produção cultural na qual quase ninguém se revê!
Faço votos para que La Feria continue no Rivoli por muitos e bons anos!

Talvez sim...é melhor não...mais lá para diante diremos!

Acabei de ouvir uma declaração do Líder do PSD, na rádio, sobre a posição do partido em relação ao novo aeroporto, dizendo que, com ele á frente do PSD, não haverá nem pró-Ota nem contra-Ota, nem pró-Alcochete nem contra-Alcochete...quando os estudos estivessem concluídos o PSD pronunciar-se-ía!
O que pensará o PSD disto? Sim, o que pensará o partido? As pessoas que militam ou simpatizam com o partido?
Será que o que se passou há uns meses atrás, afinal não se passou?
Será que o próprio Primeiro-Ministro e o Governo não repensaram uma decisão, que já era ponto assente, por intervenção política do PSD ( e não só )?
Será que o grande tema fracturante, presente em tantos e tantos debates, agora já não pertence á agenda do PSD?
Será que o Povo entende?
Será que o Governo não vai lançar esta "farpa" no próximo debate?

Bem...hoje estou com azar...também ouvi um vice-presidente do PSD dizer na TSF que o Ministro da Justiça não tinha nada que ir ao Parlamento ( por iniciativa do PP ) porque o "Ministro da Justiça não tinha nada a ver com uma entrevista dada pelo Sr. Procurador" !

Deve ser por eu estar ligada "às artes farmacêuticas", como diz o meu amigo Pinho Cardão, que não entendo nada de poções mágicas...mas, de facto, as artes farmacêuticas deste século já não se inspiram no "druidinha" do Astérix, já não são ciências ocultas; a política é que parece que se está tornando em arte ilusionista!

Relógio meteorológico

Fiquei hoje a saber que o presidente do PP espanhol, Mariano Rajoy, tem um primo catedrático de Física na Universidade de Sevilha. O professor convidou dez dos mais importantes cientistas mundiais que “foram incapazes de lhe garantir o tempo que fará amanhã em Sevilha”. Rajoy, com base nesta premissa, dissertou sobre as alterações climáticas (num colóquio em Palma de Maiorca do Congresso Nacional da Empresa Familiar) afirmando, se é assim, “como é que podem dizer o que é se vai passar daqui a 300 anos?”! Confessou que não sabe nada sobre o assunto, mas o primo sim. Face a esta pergunta, o que é que vai acontecer daqui a 300 anos, não vou pronunciar-me. Não tenho primos que dominem a matéria, mas sei o que vai acontecer no dia ou dias seguintes em Coimbra (falando em termos meteorológicos). É muito fácil! São tantos os doentes que sofrem de doenças reumáticas que afirmam categoricamente: - Ai senhor doutor que o tempo vai mudar. O raio destas dores estão a apertar-me outra vez...
Conclusão: Mariano Rajoy, o primo e os dez sábios não devem sofrer de doenças reumáticas ou de qualquer traumatismo que lhes tenha “despertado” o “relógio meteorológico”...
O post precedente noticiou o tratamento do “reumático” do relógio da Rua Augusta que vai passar a funcionar. Ainda bem!
Então meu caro Ferreira de Almeida, como é que vai estar o tempo amanhã em Lisboa?

Rejubilemos!

Finalmente uma notícia que vai encher de alegria quem habita, estuda ou trabalha na Capital. O relógio da Rua Augusta volta a tocar!
Depois da instalação dos radares, esta é a segunda medida estruturante da CML para mudar a vida dos lisboetas.
Desconfio que aqui há dedo do Zé Faz Falta...
Um grande bem hajam à Edilidade e a todos os edis!

domingo, 21 de outubro de 2007

Diz-me o que lês, ... - 1


Raramente perco um livro dos poucos autores que me habituei a admirar e com quem tive a honra e o excepcional proveito de partilhar muitas horas de trabalho e reflexão. A amizade de algumas décadas que me une a Vitorino Magalhães Godinho não me inibe de falar da sua admirável capacidade de pensar os problemas da sociedade portuguesa – quantas vezes “incomodamente” – e de reflectir sobre os desafios do nosso tempo de uma forma que já não habitual.

Poucas horas após o anúncio do acordo sobre o novo Tratado Reformador da União Europeia, lancei mão do mais recente ensaio do Mestre, acabadinho de publicar pelas Edições Colibri: A Europa Como Projecto.

Para os que se esgotam na polémica sobre o referendo ao Tratado, trata-se de uma boa oportunidade para rever os referenciais fundadores da ideia de Europa e sobre eles reflectir sobre o presente e o futuro dessa mesma ideia. Aqueles que desejam encontrar fundamentos para a sua opção referendária saem favorecidos – o autor é um acérrimo defensor da consulta popular. Os que, pelo contrário, dispensam essa consulta e propõem a ratificação parlamentar encontrarão também aí um alerta para a necessidade de compatibilizar os “pequenos passos” com as “grandes ambições”.

No fundo continuamos esse esforço de encontrar o balanço e o ritmo mais adequado à transição de uma Europa dos Estados e das Nações para uma Europa dos Cidadãos.

Uma proposta para reflectir, … incomodamente.

Os contentinhos do PIB e o aumento da despesa

No actual estado da economia portuguesa e das finanças públicas, o objectivo da diminuição da despesa pública deveria ser aferido em termos reais. Só se consideraria o objectivo atingido, se o acréscimo da despesa fosse inferior à inflação. E seria mesmo desejável que a diminuição se desse em termos nominais. Como sub-produto, teríamos então a comparação com o PIB.
O Governo tem optado pelo método politicamente correcto, mas desajustado nas circunstâncias actuais, de apresentar simultaneamente como objectivo e como resultado a diminuição do défice em relação ao PIB, daí partindo para o cálculo da contribuição da despesa para a redução do défice.
Trata-se de um “logro”, quer para o governo, se acredita na eficácia da fórmula, quer sobretudo para os portugueses, que sistematicamente acabam enganados e, pior que tudo, obrigados a pagar mais e mais impostos. Porquê? Porque o PIB é uma realidade complexa, para a qual contribuem variáveis que o governo em nada pode controlar. Não controla a evolução dos outros países, e assim as exportações, nem as importações, nem o investimento e o consumo privado, nem a variação de stocks, pelo que as previsões se tornam altamente falíveis. A única coisa que pode fazer é controlar o consumo público, por ser a única variável que é suposto dominar, e onde deveria concentrar todo o seu esforço e atenção. Mas é precisamente aquilo que não faz!...
Assim, o Governo, ao comodamente abdicar de tomar como objectivo diminuir a despesa em termos reais, não faz mais do que eleger, como padrão, um objectivo virtual, o PIB, um todo complexo de variáveis sobre as quais não tem domínio.
A consequência é que, não diminuindo em termos reais, a despesa acaba por criar tal dinâmica de crescimento que, se o PIB estagnar e não obedecer ao previsto, o peso da despesa e do défice, porque estruturalmente nada mudou, voltará a fazer sentir-se com toda a força.
A mero título ilustrativo, com o nível de despesa previsto no Orçamento para 2008 e um crescimento nominal do PIB igual ao deflator utilizado, o défice aproximar-se-ia novamente dos 4%; com o crescimento previsto pelo FMI, teríamos dificuldade em limitar o défice aos 3%.
Aliás, é esta a razão que justifica que, contentinhos que andamos com o controle do défice em termos de PIB, estejamos ciclicamente em dificuldades, na economia e nas finanças, quando o PIB não cresce significativamente.
Porque o essencial, o corte na despesa, fica sempre por fazer!...E, no final de contas, o PIB só é definitivo anos depois!...

Radicais Livres

As conversas de circunstância no decurso de jantares levam-nos, frequentemente, a dissertar sobre os temas mais inesperados. Mas há um que, invariavelmente, não escapa, por razões óbvias, a alimentação. Gosto de meter a minha colherada aproveitando o momento para “provocar” e para desmontar alguns estereótipos. Convém não esquecer que a área da nutrição é muito propicia a disparates de todos os tipos, os próprios do momento mas também sobre o valor e a importância dos alimentos.
Discutiu-se gorduras, quais as mais saudáveis e as menos saudáveis. Analisando bem o fenómeno podemos afirmar que não há superioridade de nenhuma em relação a outras desde que se tenha em conta o momento, a quantidade e a forma como são utilizadas. No fundo, não há alimentos bons e alimentos maus. Faz-se bom ou mau uso dos mesmos. Falámos da fritura com diferentes óleos e os perigos decorrentes da utilização reiterada dos mesmos para a saúde. Alguns produtos formados pela acção do calor são dotados de intensa actividade oxidativa, denominados radicais livres. Estes radicais, produzidos endogenamente mas também veiculados pelos alimentos, pela poluição e estimulados por diversos factores tais como o stress ou exercício intenso, são contrabalançados por mecanismos de protecção interna e por substâncias exógenas denominadas antioxidantes. Os seus efeitos manifestam-se em mais de uma centena de doenças, desde o cancro às doenças cardiovasculares estimulando o envelhecimento ao ponto de uma das principais teorias assentar neste grupo de substâncias. Acontece que cada vez mais se torna difícil ou mesmo impossível neutralizá-las. São as substâncias mais activas que se conhecem, “violentas” em termos fisiológicos! Levantam-se muitas preocupações a vários níveis sobre as formas de prevenir os seus efeitos. Combater a poluição, melhorar a alimentação, diminuir o stress e ministrar antioxidantes são algumas das medidas propostas.
Para terminar, e apenas por mera casualidade, um estudo recente revela que a abstinência sexual é contraproducente em matéria de combate à infertilidade. É do conhecimento geral que os fenómenos associados a este grave problema estão a aumentar apontando-se vários factores, entre os quais se destaca a poluição. A permanência dos espermatozóides durante muito tempo, devido a abstinência (aconselhada frequentemente nestas circunstâncias para aumentar a quantidade), origina acréscimo de anomalias e perda de capacidade dos mesmos. A ejaculação diária, neste caso particular, dos que sofrem de infertilidade, permite que os espermatozóides sejam mais saudáveis e, consequentemente, ficam mais aptos para a fertilização. Qual a explicação? Menos tempo de contacto com os tais radicais livres! Podem escapar-se aos efeitos nefastos dos radicais livres e não irem aonde gostariam, mas vão contentes, mais saudáveis e cheios de “força”. O pior é que os radicais permanecem no interior do organismo a fazer das suas e não há célula que consiga fugir, a não ser os “pequenos cabeçudos”. Quando fogem, claro!

Haja quem!

O Conselho Geral da Ordem dos Advogados exige do Governo uma informação ao País sobre quem, para além dos juizes nos processos e de acordo com a lei, pode fazer ou faz escutas telefónicas (e eu acrescentaria, vigilância realizada por qualquer meio que corresponda a uma violação da privacidade).
Segundo o comunicado da OA «estas respostas são urgentes e exigidas pelo estado democrático de direito, que não se quer ver transformado num estado policial de direito ou, pior ainda, num estado policial sem direito».
Finalmente vejo uma instituição a solicitar responsabilidades. E solicitá-las no tom e na medida certos.
Por seu turno, e ao que relata a imprensa, o actual presidente do PSD não se aflige com o assunto porque entende que o PGR é uma pessoa sensata.
O Sr. Dr. Pinto Monteiro, estou certo disso, é mais, muito mais do que uma pessoa sensata. É alguém que sabe bem o valor que têm as liberdades, conhecimento obtido numa carreira de magistrado que todos apontam como notável. E é o Procurador-Geral da República. Por isso mesmo se impõe que as instituições e os responsáveis não encolham os ombros. Ou não vejam Juno onde paira a nuvem.
É que, como é obvio, não está em causa a pessoa do Senhor Conselheiro Pinto Monteiro...

sábado, 20 de outubro de 2007

Génios e estupidez

Não fiquei minimamente surpreendido com as afirmações do prémio Nobel James Watson acerca da inferioridade intelectual dos negros, porque anteriormente já tinha tomado algumas posições bastante controversas.
É recorrente esta atitude preconcebida e não científica por parte de alguns responsáveis alimentando perigosas correntes ideológicas que não se ensaiam nada – basta dar-lhes o poder – para agir em conformidade. A história recente e não recente está cheia, infelizmente, de vítimas de pseudo supremacias raciais.
Neste caso, a situação reveste-se de particular atenção, porque se trata de um grande cientista, um génio, podemos afirmar sem qualquer rebuço. Convém não esquecer que “génios completos” são mesmo muito raros. Sendo assim, não devemos ficar admirados quando certas individualidades acabam por revelar que a sua “genialidade” é estúpida ou se acompanha de sinais de perfeita idiotice.
Presumo que o genoma de Watson já tenha sido descodificado. Faz todo o sentido para quem descobriu a dupla hélice, base da vida. Sendo assim, recomendaria aos investigadores a pesquisa de algum ou alguns genes que possam explicar esta atitude. Mas o mais certo é não encontrarem nada tendo que atribuir à idade, que se acompanha frequentemente de fenómenos degenerativos nada agradáveis, a perda de tino.
The Bell Curve foi um livro que relançou a polémica sobre a inferioridade dos negros. Li-o. Um capítulo, aparentemente inofensivo, foi suficiente para o levar para a ribalta. O que provocava as diferenças, entre brancos e negros, eram factores de natureza social, económica e cultural.
Quanto à prevalência de genes responsáveis por muitos dos nossos atributos – quem sabe se também da “estupidez” - é uma constante entre todos os povos e etnias. Nada de novo.
Voltando ao caso de Watson. Será que estaremos perante uma “expressão” tardia de alguns genes, de um efeito pleiotrópico da sua genialidade científica, de uma “demenciação” em inicio ou de um racista escondido? Venha o diabo e escolha. Já agora se analisarem bem os genes da sua ancestralidade não fiquem admirados se encontrarem antepassados negros... É o mais certo!
O pior é a falta de juizinho. Uma chatice!

Umas verdades inconvenientes ou inconsequentes?

O Senhor Procurador-Geral da República, Conselheiro Pinto Monteiro, deu uma entrevista a vários títulos espantosa. Em primeiro lugar porque não é habitual entre os mais altos responsáveis do País o estilo frontal e notoriamente isento de reservas que se desprende da conversa com o jornalista. Em segundo lugar, pelo surpreendente teor de algumas das respostas.
Para quem não leu, leia e pasme...

P: Qual a tarefa que se tem revelado mais complicada?
R: O MP é uma estrutura hierarquizada – é assim que está na lei. Mas não é assim na prática: o MP é um poder feudal neste momento. Há o conde, o visconde, a marquesa e o duque!
P:O que pensa da possibilidade de os serviços de informações fazerem escutas?
R: Eu vou dizer uma coisa com toda a clareza, que talvez não devesse dizer: acho que as escutas em Portugal são feitas exageradamente. Eu próprio tenho muitas dúvidas que não tenha telefones sob escuta. Como é que vou lidar com isso? Não sei. Como vou controlar isto? Não sei. Penso que tenho um telemóvel sob escuta. Às vezes faz uns barulhos esquisitos.

O veneno do dragão!...


"...A bola, quando quer, entra; quando não quer, não entra..." disse Camacho, treinador do Benfica, numa entrevista, ontem, ao jornal do clube, A Bola.
Não explicou a razão. Quanto a mim, ela é bem simples. Trata-se, tão simplesmente, do exercício do direito de legítima defesa por parte da bola, ao ser tão maltratada pelos jogadores da agremiação encarnada!...
De qualquer forma, o Benfica evoluiu na análise da causa das coisas. Depois da culpa dos treinadores, da culpa dos árbitros e da culpa do apito virtualmente dourado, agora a responsabilidade é da bola!...

Ora bolas; assim, não há "instituição" que resista!...

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Pensamentos de mudança...

A excelente reflexão do nosso comentador António Viriato no post "O nosso tributo!..." da autoria do Dr. Pinho Cardão (ler), convidou-me a criar aqui um espaço porventura mais visível e aberto, para debatermos o tema, sempre actual e necessário, da intervenção política e deixar aqui um primeiro contributo.
Está hoje espalhada uma grande descrença em relação à classe política e à política em geral, que não se fica a dever apenas a um motivo, mas é antes o somatório de diversas razões. As caras "políticas" repetem-se, é verdade, há fraca renovação, é certo, há episódios protagonizados por políticos com contornos de ética e moral duvidosos e não isentos de suspeição, é uma outra verdade, há incompetência política, também não deixa de ser verdade. São aspectos sobre os quais certamente já todos reflectimos e que se nos afiguram negativos para uma intervenção política saudável e ganhadora.
A desilusão colectiva, perfeitamente legítima, de anos e anos de promessas por concretizar, uma certa revolta silenciosa pela exigência de sacrifícios não compensados, o radicalismo e a ânsia do poder, o mediatismo da política que impede um trabalho de fundo porque os resultados são para ontem e as eleições são já amanhã, as ligações perigosas entre o poder político e o poder económico e tantos outros fenómenos tão ou mais importantes, comprometem a mudança no sentido da renovação das "elites" políticas. Esta realidade que o País vive não é o ambiente natural da competência técnica, da ética e da moral, valores que tendem a procurar "lugares" que os reconheçam e valorizem e que proporcionem possibilidades de realização pessoal partilhada com o benefício colectivo desse desempenho positivo.
Ligado a tudo isto está, como não poderia deixar de ser, o nível (baixo) educacional do País, a condicionar a falta de ambição, exigência e visão. Temos gente muito boa, com excelentes qualidades humanas, éticas e morais, bem preparada para desafios difíceis e com competências técnicas elevadas. Mas é gente que não se identifica com a actual forma de "fazer política" e não encontra na política um espaço atractivo de concretização de "coisas"! Esse espaço também não procura essas pessoas!
Nestas circunstâncias, a intervenção cívica ganha relevo e é apreciada e pode, porventura, constituir uma via séria para contribuir para as mudanças, inclusive da intervenção política... Há quem diga que estamos a mudar para fazer a verdadeira mudança. Será?

Diz-me o que lês, …

Os votos de silêncio fizeram-se para serem quebrados quando e como as circunstâncias assim o exigem. As palavras, tal como os silêncios, são efémeras e raramente resultam das contingências da vida. Quando os silêncios se quebram e as palavras se impõem é a vontade reforçada pelo dever que nos empurra.

Por isso não é um regresso – sinto que nunca deixei de cá estar. Muito menos uma reposição de uma edição esgotada, revista ou aumentada. É um outro livro que se abre sobre a mesa pedindo uma leitura torturadora dos textos que nos transmitem o tumulto dos dias – destes últimos, particularmente.

Vou provocá-los através dos livros que leio, aqueles que por dever de ofício me desafiam ou os outros que confisco quase diariamente a uma biblioteca que não pára de crescer há mais de trinta anos.

Pelos postais que regularmente vos enviar poderei transmitir-vos os contornos desta inquietude permanente que a leitura ora alimenta, ora dissipa, sem nos descansar. Há os que não se calam, há os que não se sentam e há os que não desistem de ler para além da poeira dos … livros.

Até já.

Previsão económica e Aposta não são a mesma coisa

Ouvi ontem uma declaração do novo Chanceler do Tesouro britânico, Alistair Darling, em pleno debate na Câmara dos Comuns, admitindo uma revisão em baixa, de 0,5 pontos, da última previsão de crescimento do PIB do Governo britânico para 2008.
Notei a forma tranquila e sensata dessa declaração: face a uma alteração mais desfavorável do cenário internacional e tendo em conta as novas previsões do FMI, o Governo achava prudente baixar a previsão de crescimento.
Apreciei essa declaração pela forma e também por ter sido produzida numa altura em que as sondagens são pouco favoráveis ao Labour, colocando-o bem abaixo dos Tories de David Cameron.
Chama-se a isto fazer política com seriedade e com sentido de responsabilidade, pensei com os meus “botões”.
E também com os meus “botões” não deixei de reflectir no contraste desta forma de fazer política com o que tem sido a postura dos responsáveis políticos em Portugal.
Em Portugal insiste-se em dizer que a economia vai crescer em 2008 mais do que a zona Euro, contrariando, de forma um tanto enigmática as previsões do FMI que apontam para Portugal uma taxa alguns pontos (0,3) abaixo da zona Euro: 1,8% contra 2,1%.
É claro que já admitiram um ligeiro recuo na previsão, que chegou a ser de 2,4% e agora está em 2,2%.
Mas, mesmo assim, não seria mais sensato e até mais conveniente para o Governo baixar um pouco as expectativas e poder mais tarde apresentar um resultado mais favorável?
Nas condições actuais, o Governo corre o risco, a pouco e pouco, ao longo de 2008, de baixar as suas previsões, sujeitando-se às habituais críticas de que promete muito e cumpre pouco.
Isto parece-me tanto mais razoável quanto é certo que o ritmo de crescimento em 2008, qualquer que ele seja, ficará a dever muito pouco à acção do Governo: se a economia crescer menos do que o "previsto" não será demérito deste Governo, são as circunstâncias externas que o determinam
Ao insistir numa meta porventura irrealizável, o Governo parece querer inculcar que ela depende, muito, da sua vontade, sujeitando-se obviamente a ser avaliado por isso.
É a diferença entre Previsão e Aposta: no Reino Unido faz-se previsão de crescimento; Portugal faz-se aposta no crescimento.
O mais curioso neste contexto é o facto de um dos mais atrevidos apostadores ser o próprio BdeP: como os tempos mudam! Porque será?

O nosso tributo!...



O livro 4R-Quarta República, apresentado há duas noites e um dia, está nas livrarias, agora já em segunda edição.
Tal como na gastronomia, em que os olhos também comem, a capa de um livro constitui um fortíssimo elemento motivador da curiosidade e da consulta e, mais do que isso, pode significar muito do seu conteúdo. Tal acontece com a capa do 4R-Quarta República. Partindo da árvore do pórtico do blog e do nome quarta república, o designer gráfico Rui Lobo compôs uma figura de elevado sentido simbólico e estético.
Num campo aberto, começa a surgir a aurora que anuncia a manhã, tingindo o céu com os primeiros alvores que marcam o fim das trevas e o início de um novo dia, claro e esperançoso. Da árvore, frondosa e altaneira, os ramos mais altos já reflectem a primeira claridade que em breve a todos se espalhará. Árvore forte, que indica raízes sólidas e duráveis. Assim como a mudança necessária neste país.
Francisco José Viegas, no Prefácio do livro, interpretou literariamente o nosso propósito: “…Talvez por isso mesmo, o Quarta República se situa providencialmente no “limite da utopia”, como se lê no seu pórtico, aliás belíssimo, com a imagem de uma árvore que sinaliza essa procura de raiz e de infinito. Lá, onde há raiz e infinito, as mudanças não são abruptas, nem procuram estabelecer um mundo de seres perfeitos e iluminados ou imunes ao afecto, ao prodigioso ou ao que é simplesmente amável no comportamento humano…”
O Rui Lobo, artista de elevado mérito, jovem designer gráfico diplomado na universidade e na prática profissional com atelier em Coimbra, interpretou de forma admirável o simbolismo e o sentido da Quarta República.
O nosso tributo e os nossos parabéns ao Rui Lobo!...

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Desculpem o incómodo mas...

Martelo...
... não se esqueçam que no próximo dia 25 de Novembro, passam 3 anos que se iniciou o julgamento do processo Casa Pia.

Já nas livrarias!...


Constituiu um verdadeiro êxito o lançamento do livro Quarta República, ontem, na FNAC do Colombo. Centenas de pessoas, políticos, deputados, autarcas, personalidades relevantes da sociedade civil e das profissões liberais, da cultura e das artes, jornalistas, reuniram-se ontem para a apresentação do livro, com prefácio de Francisco José Viegas, a cargo de Manuela Ferreira Leite e editado pela Cosmos. Apraz-nos sobretudo termos tido connosco autores de blogs de referência e comentadores do 4R, que fazem o blog connosco, muitos dos quais tivemos a honra de conhecer.
Segundo o Editor, e por informação da FNAC, terá sido o maior sucesso de lançamento de sempre no local, a avaliar pelas presenças e pela imediata aceitação do livro. Durante o acto, em que foram vendidos algumas centenas de exemplares, o stock teve que ser refeito por duas vezes, obrigando o editor a uma segunda edição.
Exercendo as mais variadas profissões, da medicina à arquitectura, da farmácia à economia, e do direito até ao ensino, os autores encontraram no 4R um ponto de encontro, de debate e de troca de ideias. Ponto de encontro que também provou ser o das centenas de pessoas que ontem acorreram ao lançamento do livro.
A todos os presentes muito obrigado. E aos autores dos diversos blogs que publicitaram a iniciativa também o nosso reconhecido agradecimento.
Nota: Para os nossos amigos do norte do país, estamos a agendar uma apresentação no Porto.

Katie Thorpe

Ao ler uma colectânea de datas e efemérides deparei-me que hoje é o Dia Mundial da Menopausa. Não havendo dias que cheguem começam a sobrepor-se várias iniciativas ao ponto de algumas ficarem subjugadas ou relegadas para um plano secundário face a outras. De facto, hoje, também, é Dia do Estivador, do Pintor, da Democratização dos Media, do Médico e de São Lucas!
A menopausa marca um ponto muito interessante na vida da mulher tendo uma interpretação evolutiva no sentido de ponto final. Não há mais crianças! Chega. Mas não é meu objectivo dissertar acerca deste momento, mas sim tentar focar o que está a acontecer com uma criança inglesa que sofre de grave paralisia cerebral.
A mãe de Katie Thorpe, uma adolescente, vem, reiteradamente, solicitar que façam uma histerectomia à sua filha impedindo-a de ser menstruada evitando todos os inconvenientes decorrentes quer para a jovem, que dificilmente compreenderá o que se irá passar, quer para mãe que, carinhosamente, a tem tratado e acompanhado.
O cirurgião contactado para o efeito, e sensível ao pedido da mãe, procurou junto de outros colegas uma opinião sobre o caso tendo-lhe sido recomendado que não seria razoável fazer a intervenção. As alternativas seriam os contraceptivos ou injecções que impedissem o fenómeno, mas a mãe contra-argumenta com eventuais fenómenos secundários. Há quem aponte o pedido de histerectomia como um atentado à dignidade dos deficientes.
Este fenómeno, evitar as complicações decorrentes da “adultização” de alguns deficientes, não é novo. No princípio deste ano, o caso de Ashley, o “Anjo do Travesseiro”, levantou polémica quando os pais solicitaram que fossem efectuadas as terapêuticas necessárias, incluindo a extracção do útero e das mamas, de forma a mantê-la num estado de criança permanente. Um conselho de ética deu o seu aval permitindo que Ashley permaneça “eternamente” com um corpo de menina.
No caso de Katie ainda não foi tomada uma decisão concreta. O debate continua e um artigo publicado no The Independent por Kate Ansell, ela própria vítima de paralisia cerebral, embora não tão grave como a de Katie, é comovente revelando quanto é complicado certas matérias. Kate descreve os seu dramas pessoais com o aparecimento da sua menstruação. Não deixa de compreender os argumentos da mãe de Katie mas considera prematuro o pedido até que o período se inicie. Depois deverá ser revista a situação. De qualquer modo a primeira menstruação de Katie Thorpe irá ser, sem sombra de dúvida, um acontecimento nacional no Reino Unido e fora dele.
Lidar com deficientes profundos não é tarefa fácil, mesmo nada fácil. A convivência diária aliada aos novos conhecimentos explica alguns dos pedidos que começam a surgir.
Os apoios de familiares, de instituições vocacionadas e estatais sempre vão ajudando, mas é um imperativo de consciência e de ética se propiciarmos algum conforto ao próprio e aos pais com as técnicas ao nosso dispor. Não vejo qualquer sinal de eugenismo, em medidas como as que foram adoptadas para a pequena Ashley, por exemplo, mas sim um sinal de respeito pela dignidade dos deficientes. Há crianças que têm direito a não crescer, porque o mundo lhes deve muito, mas mesmo muito e também aos seus pais.
Não basta ser médico dos homens mas também das suas almas. Hoje, Dia do Médico, em homenagem a São Lucas (“médico de homens e de almas”), não resisti a uma pequena reflexão sobre o sofrimento de tantas almas.

Bom momento


Vou contar-vos um segredo. Há dias que trazem esta mágica, a vontade de partilhar alguma coisa que nos sustenta a alma e renova cada dia a vontade de viver.
Há muito tempo atrás, talvez naquelas crises da adolescência em que nos sentimos o ser mais infeliz do mundo, já não sei, tomei a decisão de passar a fixar o que então defini por “bons momentos”. Não se trata de reparar neles, de saber vagamente que existiram, não é isso. Fixá-los implica dar-lhes logo um sentido de permanência, sem precisarem de arestas limadas pela memória porque os queremos assim mesmo, tal e qual os vivemos.
Nem sempre as coisas nos correm de feição, isso é próprio e já sabemos, mas muitas vezes ficamos a lamentar o sucedido bem mais do que era devido. Outras, o golpe é tão fundo que há que buscar arrimo para acreditar que tudo há-de voltar à sua ordem. È nessas alturas que uma reserva de “bons momentos” é preciosa para uma rápida recuperação.
Passá-los em revista, demorar a escolher e por fim tirar um, saboreá-lo, dar-lhe voltas e mais voltas até o apurar no pingo de bálsamo que vai reduzir a nada a sensação de dor. A memória nítida de um bom momento apaga, conforta ou acompanha, no golpe, no desgosto ou na solidão.
Quando o meu pai morreu, há pouco mais de um ano, pensei que nunca mais um “bom momento” deixaria de estar ensombrado, que nunca mais era possível captar os contornos dessa pura felicidade que às vezes se atravessa no caminho e nos surpreende. Mas ele diria que é uma estupidez ficar preso ao que não tem remédio, diria assim mesmo, “acabas por estragar tudo, o que é que adianta?” Teria razão, claro, eu já devia saber isso.
De modo que ontem voltei a encontrar um puro momento, desses que vou guardar como reserva, um dos raros que podem trazer luz quando tudo está sombrio, que devolvem o ânimo e nos fazem acreditar de novo quando a vontade esmorece.
Ontem, na FNAC, os amigos, os leitores, o livro, tudo a confluir até que ele se desenhou, nítido, a pedir que o guardasse assim mesmo, tal e qual o via. O bom momento.