A fachada rosa do Palácio do Vento, em
Jaipur, na Índia, que há uns anos visitei, permite adivinhar um edifício
grandioso. Mas não é assim. Trata-se apenas da fachada de cinco andares
de varandas rendilhadas de um palácio inexistente, mas que acaba por
ser um extraordinário monumento.
As concubinas do marajá de Jaipur andavam desgostosas por estarem
confinadas ao palácio real. Não vendo ninguém a não ser o marajá e os
eunucos, e só conversando entre elas, invadiu-as uma grande monotonia.
Temendo falta de motivação das damas para as suas nem sempre fáceis
tarefas, que a prática do Kama Sutra continha exigências de elevado
nível qualitativo, e procurando preservar a sua qualidade de vida, o
marajá resolveu oferecer-lhes uma varanda de onde pudessem recriar a
vista com os passantes e o movimento da cidade. A fachada constitui um
dos símbolos de Jaipur.
Lembrei-me que, rimando com Palácio do Vento, temos cá o Palácio de
S. Bento, inicialmente um virtuoso convento beneditino e, depois, um não
menos puro Palácio das Cortes, virtude certamente aumentada com o
palacete construído nas adjacências traseiras. No entanto, não estou
totalmente seguro de que a semelhança entre os dois palácios se fique
pela rima e que o Palácio de S. Bento nunca tenha seguido a vocação do
Palácio do Vento, metaforicamente falando, claro está...
Para os leitores interessados, ler mais na edição de hoje do jornal i
2 comentários:
No palácio de Jaipur, olha-se para fora, em São Bento, olha-se para dentro, aquilo está blindado, o parlamentarismo a isso obriga.
Mas também há eunucos e concubinas.
Muito bem visto, caro José Domingos!
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