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terça-feira, 29 de abril de 2008

Preocupações sociais, onde estão?

Num momento em que se somam as dificuldades económicas de muitas famílias, agudizadas pelo desemprego e pelo trabalho precário, é chocante que a segurança social recuse a atribuição do abono de família às famílias que auferem rendimentos de trabalho independente.
A legislação que está em vigor, aprovada em 2003, estabeleceu pela primeira vez um regime de abono de família privilegiando as famílias de menores rendimentos e com maior número de filhos. Na base desta diferenciação estão preocupações sociais fundadas na necessidade de discriminar positivamente as famílias de menores rendimentos, compensando-as financeiramente pelos custos associados à criação dos filhos. As famílias com um rendimento superior a cinco vezes o valor da remuneração mínima mensal não têm direito a abono de família
Trata-se, com efeito, de legislação que tem preocupações eminentemente sociais, com o objectivo de apoiar financeiramente as famílias com mais filhos e baixos rendimentos, conferindo-lhes uma melhoria nas suas condições de vida.
Para se ter uma ideia, o abono de família para crianças com mais de 12 meses varia entre 32,65€ (para os rendimentos mais baixos) e 10,76€ (para os rendimentos mais altos).
As notícias recentemente vindas a público dão conta que muitas dezenas de milhares de famílias (a notícia publicada pelo CM refere meio milhões de famílias) deixaram de receber o abono de família porque a segurança social considera que os rendimentos do trabalho independente são constituídos por “todos os proveitos sem consideração de quaisquer descontos relativos a despesas, custos ou outras deduções”. Mas que sentido faz esta leitura!?
Com esta interpretação aquelas famílias que até agora recebiam abono de família ficam excluídas porque o seu rendimento fica situado no escalão isento.
Ora, havendo cruzamento de dados entre a segurança social e o fisco sobre a situação fiscal dos contribuintes, não se compreende como é que a segurança social não conhece o rendimento auferido (líquido) pelas famílias, seja rendimento de trabalho dependente ou rendimento de trabalho independente.
A segurança social subitamente “acordou” e diz que a lei é para ser cumprida. Entretanto, o Provedor de Justiça já recomendou ao governo que “altere a forma como são apurados os rendimentos dos trabalhadores independentes considerados para efeitos de atribuição do abono de família, no sentido que sejam deduzidos os custos inerentes à sua actividade”. O Provedor de Justiça faz notar a “duvidosa constitucionalidade da aplicação” da lei.
Certo é que esta actuação da segurança social deixa sem apoio financeiro milhares de famílias e afecta as condições de vida de milhares de crianças.
Com esta prática a segurança social pode poupar (segundo o CM) até 50 milhões de euros por mês. Um enriquecimento sem causa, mas que dá muito jeito para compor as contas públicas!

“Contrarianismo”

De vez em quando tropeçamos em novas palavras que nos despertam particular curiosidade. Confesso que nunca tinha ouvido a palavra “contrarianismo”. Não existe na nossa língua, é um anglicismo, mas os brasileiros já começam a utilizá-la. Mas foi precisamente na área da saúde que a apreendi. Afinal, pensei, também sou um “contrarianista”!
É do conhecimento geral a propagação das virtudes miraculosas de certos produtos, contrastando com opiniões menos favoráveis acerca dos mesmos. O café e o chá são estimulantes, tiram o sono, provocam taquicardia, mas acabam por serem apresentados como benéficos, por exemplo, prevenindo a doença de Alzheimer ou as doenças cardiovasculares. Estudos revelam que a obesidade é perigosa para a saúde, mas outros revelam que as pessoas com excesso de peso morrem menos! O consumo de bebidas alcoólicas é perigoso? É, claro. Mas não deixam de ser apresentadas como benéficas em termos de saúde, e não é só o vinho tinto, também a cerveja e muitas outras. O chocolate é mau para a diabetes e engorda? Sim! Mas isso não evita que surja com frequência, e cada vez mais, dados que apontam que é do melhor do que há para proteger as coronárias e não só! As gorduras trans são perigosas? São, ao ponto de certas indústrias já terem sido penalizadas pelo seu uso, mas agora começam a aparecer evidências de que também têm efeitos positivos! Enfim não vale a pena continuar com mais exemplos. Os que acabei de apresentar revelam efeitos opostos. De um modo geral, é bom recordar que na forma habitual de utilização ou de consumo poderão ser poucos saudáveis. Além do mais, muitos aspectos positivos decorrentes da presença de certas substâncias só se manifestam em quantidades relativamente avultadas. Neste caso, os aspectos negativos poderão sobrepor-se aos benéficos.
Os exemplos citados ajudam a suportar o “contrarianismo”. Afinal de contas o que é um “contrarianista”? Alguém que pode ser classificado como um “céptico são”. Não é propriamente um indivíduo sempre do “contra” ou um pessimista. Procura optimizar os recursos ou as informações disponíveis de forma a saber fazer bem e a escolher correctamente contribuindo para uma sociedade melhor. “É uma arte difícil de ser exercitada e mais ainda de ser compreendida”. Seja qual for a área em que nos movemos, devíamos cumprir algumas regras, nomeadamente na área politica. Nesta, certas posições assumidas por algumas pessoas são o oposto do “contrarianismo”.
Algumas regras para se ser um “contrarianista”: questionar as origens e os fundamentos de um processo, tal como fazem os linguistas e os epidemiologistas quando estudam a etimologia das palavras ou as causas das doenças; determinar se o problema em questão corresponde à essência do fenómeno em análise; perguntar as razões do porquê de ter surgido neste momento; examinar e avaliar todas as soluções possíveis; quando for encontrada a solução aplicar-se com empenho critico e, por fim, avaliar todo o processo, praticando um pouco de história virtual, ou seja considerar todos os resultados possíveis inerentes a um determinado processo.
Ser-se céptico não é mal nenhum, mas ser-se céptico e desonesto é um atentado à integridade do próprio e uma violação dos direitos dos outros. No entanto, ser-se “céptico são” é um sinal de maioridade e de credibilidade.
Muitos opositores políticos não são honestos, porque não respeitam as regras de como ser um verdadeiro “contrarianista”...

segunda-feira, 28 de abril de 2008

É como se fossem doentes!...

”… Devido aos benefícios derivados dos cargos públicos e do exercício do poder, alguns homens desejam a ocupação permanente desses cargos. É como se fossem doentes e apenas recuperassem a saúde quando estão em funções…”
Aristóteles, in Política, meditando sobre alguns candidatos às eleições no PSD...

Cuba e as cataratas dos Portugueses

A "moda" vai pegar... de certeza que vai pegar!
Começou na Câmara de Vila Real de Sto António, na semana passada estendeu-se à Câmara de Santarém.
Estas autarquias estabeleceram protocolos, com médicos oftalmologistas de Cuba, para a realização de cirurgias às cataratas dos cidadãos portugueses, seus respectivos munícipes.

Entre nós temos várias centenas de milhares de pessoas que esperam e desesperam, em listas intermináveis e não resolúveis ( pelos vistos) de cirurgia oftalmológica.
As Câmaras deram-se conta da tragédia, aperceberam-se do sucesso, puseram mãos à obra e oferecem-se para cobrir as despesas e arrecadarem os louros deste grande "milagre" que é voltar a dar a visão a quem já há muito que nada vê.
Contratualizaram com Cuba!

O Governo não tem vergonha, nada comenta...
O bastonário dos médicos veio á televisão dizer que era uma vergonha para Portugal e para os seus médicos...
Denunciou a má distribuição geográfica destes especialistas, a concentração despropositada em alguns hospitais e, há muito tempo, que a comunicação social mais especializada publica listas com o número de cirurgias por mês e por oftalmologista, com valores que não chegam ás duas cirurgias mensais!

Sinceramente não consigo perceber o que se passa, como é difícil contratualizar cá, programando, quantificando, prolongando tempos de bloco operatório.

As reportagens sensacionais que já vi com jornalistas nossos, em Cuba, entrevistando os portugueses, bem idosos, no pós-operatório, não deixam margem para dúvidas: retomar a visão há anos perdida gera emoções, descrições e "considerandos" sobre a Pátria...que não nos conseguem deixar indiferentes.

Agora que as eleições autárquicas se aproximam com esta velocidade a que o tempo actual nos habituou...imagino que os oftalmologistas cubanos não tenham mãos a medir...a bem dos nossos concidadãos!

A cultura dos Planos Quinquenais

A fixação do critério da quantidade produzida como o mais determinante na avaliação do desempenho, a não ser em processos produtivos muito simples, é rematada asneira. E perfeitamente inaplicável em muitas situações. Não é concebível, por exemplo, que os Inspectores da Polícia Judiciária sejam avaliados predominantemente pelo número de acusações que formularem ou os Inspectores da ASAE, pelo número de estabelecimentos que fecharem, como é dito que o Governo quer estabelecer.
Tal só é possível, a meu ver, por duas razões: má assimilação, pelos dirigentes e tecnocratas socialistas, de conceitos básicos de gestão em cursos feitos à pressa, estilo bolonhês, avant la lettre; ou porque esses mesmos dirigentes e tecnocratas ainda interpretam os novos conceitos de gestão à luz e na base da cultura dos Planos Quinquenais da União Soviética que foi, para muitos, a grande matriz da sua formação.
De facto, a doutrina marxista exaltava o trabalho operário, o único que gerava valor, consubstanciado na criação de bens reais. Na nomenclatura soviética, o conjunto dos bens assim gerado formava o que designavam por val ( não o valor actual líquido, que heresia, mas, em russo, o valovoi produkt, faltando o trema no oi de valovoi…).
Este val, ou estes bens tinham o seu valor próprio, qualquer que fosse o seu destino final. Até 1965, o val esteve no primeiro lugar dos indicadores. A missão dos trabalhadores era, acima de tudo, fazer o val.
O que se passava posteriormente à produção já não interessava. Se deixava de haver procura, se os bens não eram escoados ou por serem defeituosos, ou por falta de transporte, ou por não obedecerem completamente às especificações, nada interessava. A empresa tinha produzido os milhares de toneladas previstos, mesmo que os parafusos não tivessem rosca e se assemelhassem a pregos, ou se os bens produzidos fossem completamente rejeitados.
Com o método de avaliação agora proposto pelo Governo, o mesmo se irá passar na Fábrica da Polícia Judiciária.
As acusações valerão por si próprias, qualquer que seja o seu destino ou a sua sorte final. A missão da Polícia é, acima de tudo, produzir acusação, isto é, fazer o seu val.
Acontece que, mesmo na União Soviética tal processo de medida acabou em 1965. Aqui, está a começar, por obra e graça destes tecnocratas com luzes modernaças, mas cultura dos planos quinquenais!...
Nota: Recomendo um excelente livro, se é que é possível encontrá-lo ainda, editado pelas Publicações Europa-América há uns trinta anos, A Empresa na União Soviética, de E. Egnell e M. Peissik. Algumas das expressões do texto foram daí retiradas.

domingo, 27 de abril de 2008

Tribute-se a estupidez e de pronto se equilibram as contas públicas

Hoje, mais importante do que dizer coisas politicamente correctas é ter um discurso ambientalmente certinho. Fica sempre bem afirmarmo-nos amigos intimos da natureza e amantes de tudo o que com ela se identifica: desde o vulgar malmequer ao morcego rabudo.
Não há político, não há empresário com ambição que não "esverdeie" o seu discurso.
Ser verde, é estar na vanguarda. Até os anúncios da próxima Festa do Avante abandonaram o tradicional vermelho e se renderam à bem mais conveniente onda verde...
Se no meio da afirmação oca de muitos mitos ambientais, esta adesão fácil ao verde contribuir para chamar a atenção para a necessidade de mudar atitudes pessoais e colectivas em defesa dos recursos de que depende uma vida sadia, nada de mal existe nesta moda. Mesmo que ela não seja o resultado de convicções mas o produto de conveniências.
Agora, o que não faz sentido é que se preguem por um lado boas práticas ambientais; se vá ao ponto quase patético de louvar publicamente o senhor secretário de Estado do Ambiente por utilizar o comboio nas suas deslocações, e depois sermos confrontados com uma estupidez como esta que podem ler aqui.

Exageros que não levam a lado nenhum...

Mas afinal quem é que tem razão?
Paulo Portas (o presidente do CDS-PP) acusou ontem a ASAE de estar a perverter o seu funcionamento ao definir objectivos quantificados anuais que cada inspector deve cumprir: “tem que detectar 124 infracções, levantar 61 processos de contra-ordenação, que vão terminar em coimas, abrir oito processos crime e fechar ou suspender o funcionamento de pelo menos seis estabelecimentos” e ainda “até têm de, por instrução central, fazer, pelo menos, duas detenções de pessoas”. Sustentou que teve acesso a um documento oficial da ASAE no qual estão quantificados os objectivos anuais para cada inspector. Denunciou que "Se a ASAE já sabe quantas infracções cada inspector tem que detectar, então não anda à procura do que existe na realidade" e acusou a ASAE de "andar, pura e simplesmente, numa caça desenfreada à multa e à receita da ASAE" e de "só querer apresentar serviço ao Estado".
Por sua vez, António Nunes (o presidente da ASAE) reagiu dizendo que “não é assim que as coisas se passam”, que apenas existem metas globais e regionais e que não são quantificados objectivos por inspector e que são definidas anualmente metas para o número de agentes económicos que devem ser visitados e para o número de processos em instrução processual que têm de ser concluídos.
E agora pergunto eu: mas qual é verdadeiramente o problema?
É evidente que a ASAE, como qualquer entidade que tem responsabilidades, deve ter planos de actividades nos quais sejam definidos os objectivos, os meios e recursos a afectar e os resultados pretendidos. Tudo isto se impõe que esteja suficientemente desenvolvido, mas resguardando aspectos da actividade que atendendo à natureza da ASAE não podem nem devem ser totalmente desvendados sob pena da sua perda de eficácia. Não conheço o plano de actividades da ASAE para 2008 (que tentei abrir no Site, mas não consegui), mas creio que acima desses objectivos quantitativos deverá estar a preocupação fundamental de garantir ou melhorar padrões de higiene e qualidade das actividades que fiscaliza, designadamente a restauração, assim como deverá estar a preocupação de prosseguir esse trabalho com ponderação e proporcionalidade, não caindo na tentação dos abusos e exageros, que só prejudicam a sua missão, só porque quer mostrar serviço.
Gestão e administração por objectivos sim, mas nunca esquecendo que o seu desempenho não pode cingir-se a uma mera estatística, mas que terá de estar suportado na capacidade de induzir uma mudança qualitativa nas actividades dos sectores fiscalizados.
O ataque do CDS-PP é populista e pouco profundo, procurando obter ganhos políticos num terreno em que somos, e bem, sensíveis: a restauração tradicional, "caseira” e pitoresca, bem à maneira portuguesa!
E como já estamos habituados a estas coisas, o importante é mesmo não perdermos alguns hábitos bem mais saudáveis. Isto para dizer que agora vou lanchar e comer uns pãezinhos com Queijo da Serra que trouxe lá de cima da minha Beira...

Magnanimidade!...

Ironia das coisas!...
Nunca, como hoje, tantos benfiquistas e sportinguistas esqueceram as rivalidades antigas e desejam que o FCPorto ganhe!...
O FCPorto é magnânimo: estou certo de que lhes vai fazer a vontade!...

Aberrações deste socialismo tecnocrata!...

Segundo Proposta a apresentar pelo Governo, diz o DN, “os inspectores da Polícia Judiciária vão passar a ter uma nova avaliação do seu desempenho, que terá como critério o número de acusações propostas ao Ministério Público…”
Não se trata de brincadeira, fantasia ou loucura de quem fez a notícia, já que o próprio Ministro, no início de Março deste ano, expressou a opinião de que o número de processos com acusação é o dado "mais relevante" para avaliar o trabalho da PJ. Isto dito no Parlamento, para ser mais solene!...
Mais um passo para a presunção de inocência se tornar em presunção de culpa.
Numa investigação, a acusação passa a ser a medida de todas as coisas. Acusa-se e pronto. a acusação passou a ser acto bom, em termos absolutos, e até dá mérito e dinheiro ao Inspector.
Aberrações inimagináveis, as deste socialismo tecnocrata!...

sábado, 26 de abril de 2008

O "meu" 25 de Abril


O ´meu´ 25 de Abril foi comemorado, como nos últimos anos, na capital do Douro-Sul, Lamego.
Leio que o senhor Presidente da República lastimou, no discurso que proferiu na Assembleia da República, a falta de conhecimento dos jovens de hoje sobre o significado da data (e não só), baseado num estudo que encomendou à Universidade Católica.
Os investigadores não passaram pelas escolas do meu Concelho. Ontem mesmo, na sessão solene comemorativa do Dia da Liberdade da Assembleia Municipal de Lamego, foram os jovens que deram uma lição a quem a ela compareceu, sobre o sentido profundo, no passado e para o futuro, do 25 de Abril.
Visões diferentes. Esta que para aqui trago, admito que não é nada católica perante a adesão geral ao discurso do senhor Presidente da República. Mas é aquela que me ficou impressa de uma cerimónia onde o brilho foi precisamente dado pelos jovens que nela entusiasticamente participaram.
Dir-se-á que uma andorinha não faz a primavera. Talvez não.
Mas saiba-se que é bom sentir a primavera anunciada por aquelas jovens andorinhas.
Enche-nos o coração de esperança no futuro.

sexta-feira, 25 de abril de 2008

O 25 de abril e o servo da gleba!...

De manhã, estava eu descansado da vida a ler os jornais no terraço e a gozar o sol da primavera, quando a minha mulher me diz: olha que logo temos que plantar as cebolas!... Fiz que nem ouvi e embrenhei-me mais na leitura…
Ao fim da tarde, acabado um telefonema de alta política, que em meia hora deu solução para todos os problemas do PSD, esgueirava-me eu para uma bica e um passeio a pé na Praia Grande.
Para onde é que vais assim tão leve? Vamos mas é pôr as cebolas!...Leva a enxada, que eu levo as cebolas…
Amochei, e lá fui, enxada ao ombro, como mandam as regras!…
-Só tens que fazer os regos, que eu ponho as cebolas, diz-me ela
Claro que também tinha que tapá-los, aconchegando as plantas com terra.
A área de plantação já tinha uma pré-preparação, mas pareceu-me imensa.
Comecei a espaçar os regos, de modo a chegar ao fim mais depressa.
-Estás a deixar muito espaço entre os regos...
-Assim é que está bem. As cebolas precisam de espaços largos para crescer!…
-Mas eu até gosto mais de cebolas pequenas…
Amochei segunda vez e lá fiz regos mais pegadinhos uns aos outros...
Claro que sobrou muita terra.
E que vais fazer ao resto da terra?
-Não te preocupes, que tenho mais cebolo, para plantar amanhã!...
Terminada a jorna, arrumada a enxada, pensei como era bom ter ido ter ido às Manifestações do 25 de Abril!...
Sempre era trabalho menos pesado!...

Genoma

O Expresso vai abordar na próxima edição o tema do Genoma. A “democratização do genoma está para breve”. Pois está e não vai ser pacífica a abordagem.
Neste momento, alguns países já têm um registo de DNA de criminosos e até para efeitos de identificação civil que, segundo os proponentes, poderá ser muito útil em matéria de combate à criminalidade e em caso de catástrofe.
Também é do conhecimento geral o papel do DNA para efeitos de incriminação e de absolvição de muitas pessoas. O seu uso começa a generalizar-se e a transformar-se num meio de prova irrefutável. Mas a situação começa a ir longe de mais, ao ponto de transformar uma pessoa num mero objecto. Casos, devidamente relatados. apontam para a desculpabilização de indivíduos, porque são portadores de certos genes que os “levam” a cometer crimes. Coitados, não têm culpa é a “força dos genes”! Na Carolina do Sul, um assassino foi ilibado por causa de ser portador de uma “depressão geneticamente determinada”! Outros defensores provam que os seus constituintes são portadores de genes da violência, de algum atraso mental e até de “impiedade”, consequentemente não podem ser condenados! As implicações vão mais longe ao ponto de alguns responsáveis por produtos com efeitos tóxicos e pela poluição afirmarem que os problemas decorrentes não são devidos aos produtos em causa, mas sim aos genes dos indivíduos, porque muitos também estão sujeitos às mesmas agressões e não sofrem qualquer problema! A situação irá ser explorada, e de que maneira, pelas companhias de seguro quando começarem a exigir dados dos segurados para saber se têm ou não genes que estejam associados a uma vida longa, ou se os mesmos são portadores de genes que provoquem doenças. Face aos resultados determinarão se vale a pena ou não fazer o seguro e qual o prémio a pagar. Mais? Veja-se o caso de certos pais que acabam, através do genoma, por saber se o seu filhinho apresenta elevado “fitness” para a prática de certos desportos e, consequentemente, passarão a “explorá-los” nesse sentido.
Cada dia que passa avolumam-se evidências sobre o valor preditivo de muitos genes, não só em termos de saúde/doença, mas também sob o ponto de vista comportamental. Tudo leva a crer que estejamos a caminhar a passos largos para um determinismo preocupante.
Um dia destes a descodificação do genoma irá ser tão “simples” como algumas determinações bioquímicas. Então surgirão desculpas do género: - Oh Senhor Guarda, eu sei que ia com excesso de velocidade mas não tive culpa, foi o sacana do meu gene “Fórmula 1” que me obrigou a isso! Ou então o relato para o papá e a mamã: - O vosso filhinho tem uns genes da vigarice que eu nunca vi. Já sabem, agora é só treiná-lo para certas actividades profissionais. E também já estou a ver as astrólogas de serviço a combinar os padrões genéticos das pessoas com a posição ou acção dos astros à nascença! Já agora, antecipo uma outra preocupação. Como não é possível esconder o nosso genoma de quem quer que seja, já que andamos a libertá-lo às paletes em qualquer lugar por onde passamos, um coscuvilheiro genófilo poderá colher material suficiente para saber quem somos e o que é que o futuro poderá ditar!
Enfim, avizinha-se “fornicação genómica” a uma escala nunca imaginada...

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Nivelamentos e desnivelamentos...

Li hoje uma notícia que, admito não terá despertado a atenção da maioria das pessoas, por falar quase de um lugar comum, por retratar uma normalidade que de normal nada tem.
O título é: “Comboio volta a matar em São Pedro do Estoril enquanto Refer adia obras há sete anos”. Mas afinal o que tem esta notícia de especial? Nada, a meu ver, a não ser a revolta e a brutal constatação de vivermos num País em que todos os anos são mortalmente colhidas pessoas no atravessamento de passagens de nível ferroviárias, sendo que algumas delas fazem a ligação às próprias plataformas de embarque como é o caso da estação de São Pedro do Estoril, obrigando os peões a caminhar sobre as linhas dos comboios.
Porque é que não são feitos os necessários desnivelamentos? Será por falta de qualidade de gestão? Será porque não são consideradas obras prioritárias ou será que não há entendimento entre a Refer, as autarquias ou o IPE, ou melhor, porque as entidades responsáveis não se entendem? Será que a culpa é dos concursos públicos e das obras que se arrastam ad eternum? Será porque novos estudos se sucedem a outros estudos inconclusivos? Ou será, como é noticiado no caso da estação de São Pedro do Estoril, que a Refer pretendendo fazer uma obra mais vasta de modernização da infra-estrutura ferroviária, anunciada em 2001 mas que nunca se iniciou, não faz a obra mais simples, a do simples desnivelamento da passagem de peões? Mas será assim tão difícil?
Mas será que estas incapacidade e irresponsabilidade são admissíveis num País que tem a ambição de ser desenvolvido? Não será falta de responsabilidade social uma empresa como a Refer – empresa pública que supostamente presta um serviço público essencial – assistir de “braços cruzados” ao anúncio de quem serão as próximas vítimas?
Realmente, até parece que quando se houve falar de linhas de alta velocidade e de TGV tudo o resto está a funcionar muito bem, com segurança e qualidade. Não há dúvida que somos um País de grandes "nivelamentos" e "desnivelamentos"!

quarta-feira, 23 de abril de 2008

O direito e o dever!...

Depois de intensa “reflexão” , Pedro Santana Lopes está, hoje, disponível para se candidatar a Presidente do PSD.
Santana Lopes tem todo o direito a candidatar-se.
Mas tem, sobretudo, o dever de não expor o PSD a tal situação.

O princípio da relatividade

É coisa importante a aprovação parlamentar para ratificação do Tratado de Lisboa? A alteração proposta para o Código do Trabalho? A solução para a crise do PSD? A inflação galopante? O desemprego? Tudo, meus amigos, é relativo em face desta notícia...

O PS/PSD

O Governo anunciou alterações ao Código do Trabalho, da responsabilidade do Governo PSD/CDS, no sentido de uma maior flexibilização laboral.
Lembro-me da barragem de críticas que o PS fez ao actual Código, em grande convergência e coro com o PC e o inevitável Bloco, em nome dos ideais e de uma política de esquerda. Tem sido, aliás, essa a posição constante do Partido Socialista, quando na Oposição, em todos os processos legislativos que podem significar alguma, ainda que leve, adaptação aos novos tempos, e geralmente liderados pelo PSD: crítica sistemática e destrutiva.
A confirmação plena dessa conduta está nas palavras de Mário Soares, quando referiu que “meteu o socialismo na gaveta”...
Bem aferrolhado, a cadeado e fechadura de segurança, continua o “socialismo” de Sócrates.
O que não acho mal, antes pelo contrário. O que Sócrates fez de bom nada cheira a socialismo. O que Sócrates fez de bom vem sendo reclamado pelo PSD há anos, mas sem o poder realizar, por inépcia própria e pela dificuldade de ultrapassar o “ambiente” desfavorável” às mudanças, criado pelas oposições, corporações e organizações sindicais.
Na oposição, o PSD nunca fez a política de terra queimada do Partido Socialista.
Por isso, seria honesto que o PS se deixasse, por uma vez, dessa ridicularia de se armar em grande defensor das políticas de esquerda, para enganar papalvos.
Na sua melhor prática governativa, o PS deixou de ser PS para ser PS/PSD, com o defeito de não conseguir justificar ideologicamente os seus actos governativos.
Na pior prática governativa, é o verdadeiro PS, bem identificado na sua ideologia.

terça-feira, 22 de abril de 2008

“Ovos podres”...

Hoje é o dia Mundial da Terra. Andamos todos, ou quase todos, preocupados com ela. A Terra está cheia de cicatrizes de origem antropogénica, mas nós, seres humanos também temos cicatrizes provocadas por ela.
A este propósito, e na sequência do meu post sobre “Escravidão e Hipertensão”, tentei explorar, ainda que de forma muito sucinta, uma eventual relação entre o património genético e o factor ambiental do consumo excessivo de sal. Queria explicar que certos genes, relacionados com a hipertensão, são mais prevalentes nas latitudes mais baixas. Deste modo, poderão explicar a maior tendência para este fenómeno, em certas comunidades, nomeadamente, entre nós, facto muito preocupante. Não querendo ser redutor, baseando-me numa simples explicação de um fenómeno cuja multifactorialidade é mais do que evidente, o que é certo é que a propensão genética para a hipertensão traduz uma “cicatriz ecológica”.
A sensibilidade ao sódio ocorreu há cerca de dois milhões de anos no decurso do Pleistoceno. Alguns autores apontam, e bem, que caçar e perder sódio não é uma boa ideia para as pessoas que vivem em zonas quentes e pobres em sal, como é o caso de África. A selecção natural originou o aparecimento de genes poupadores de sal, verdadeiro paradigma da medicina darwiniana. A frequência de certos genes responsáveis pela variação mundial da pressão arterial está bem estudada, assim como o facto dos nativos oriundos de zonas quentes terem mais probabilidade de virem a sofrer hipertensão relativamente aos oriundos das zonas mais frias.
Outro aspecto muito menos conhecido tem a ver com as épocas caracterizadas pela extinção das espécies. A última parece que foi devida ao impacto de um meteorito com a Terra ocorrido há cerca de 65 milhões de anos. Antes desta extinção ocorreram outras, que se saiba quatro, e parece que foram devidas não a meteoros mas a outros fenómenos muito interessantes relacionados com o gás sulfídrico.
Quase todas espécies foram extintas há cerca de 250 milhões de anos devido à produção do gás de “ovos podres”. Modificações climáticas aliadas à proliferação de bactérias produtoras deste gás levou à morte de quase todas as espécies existentes. O seu mecanismo de produção e explicação ambiental estão bem demonstrados no artigo “Suspending Life” publicado na última revista SEED.
Os mamíferos evoluíram a partir de criaturas que conseguiram sobreviver a este ambiente inóspito. Níveis elevados de gás sulfídrico são letais, mas, doses baixas deste tóxico podem prolongar as suas vidas. O gás de “ovos podres” reduz os níveis de oxigénio nos corpos, diminuindo a actividade metabólica. Experiências recentes permitiram verificar a suspensão da vida em ratos expostos a doses baixas deste gás durante várias horas, podendo ser possível a redução da temperatura para níveis mortíferos. Se se provar este achado, então o gás sulfídrico poderá vir a ser uma verdadeira revolução, salvando muitas vidas.
Quando um ser humano é ferido o corpo produz, naturalmente, pequenas quantidades de sulfureto de hidrogénio. Será que o nosso corpo tenta colocar-se numa situação de suspensão de vida de forma a sobreviver à agressão? Um “instinto” com milhões de anos presentes nos nossos genes? Sendo assim como interpretar o uso da oxigenoterapia em muitas situações clínicas? Às tantas estamos a lançar gasolina no fogo! Em caso de lesão celular ao utilizarmos o oxigénio poderemos estar a matar e a não a salvar, já que o oxigénio, o “poluente” que respiramos, aumenta as reacções celulares. Sendo assim, o nosso primeiro “instinto” face, por exemplo, a um ataque cardíaco, deveria ser o abaixamento da temperatura corporal e ministrar sulfureto de hidrogénio!
Há muito por saber, caso dos acidentes evolucionários escondidos nas profundezas dos organismos, verdadeiras “cicatrizes” que sobreviveram a milhões e milhões de anos de evolução, esperando “mostrar” a sua razão de ser. O que é curioso é que estamos a falar daquele cheiro tão característico a ovos podres que nos afugenta quase que instintivamente. Perfeitamente compreensível, já que o sulfureto de hidrogénio é mortífero em determinadas doses. No entanto, tudo aponta que pode salvar a vida se for utilizado em doses muito baixas. Um conselho, nada de lançar ovos podres contra ninguém. Mas será que a eliminação de “gases”, ricos em sulfureto de hidrogénio, poderá ter algum efeito, prolongando a vida de muitos ?
Estou convencido de que alguns políticos andam a “snifar” micro quantidades de sulfureto de hidrogénio, lançando, ao mesmo tempo, ovos podres nalgumas criaturas!

Em nome da Terra


Comemora-se hoje o Dia da Terra.
Há uns cinco anos as questões ambientais eram marginais. Hoje são temas centrais da ciência, da política e dos media. O caderno - aliás, excelente - que o Publico de hoje dedica às questões da sustentabilidade, é um sinal evidente de atenção e de preocupação que vai para além da mera opinião para se fundamentar em dados que a ciência, a cada dia que passa, vai confirmando.
A humanidade parece ter acordado para os problemas que se colocam à sobrevivência do planeta e à sua capacidade de suportar as consequência da explosão demográfica e das legítimas ambições de crescimento acelerado dos países mais pobres.
Acordou para o problema. Mas está longe de, em todos os cantos do mundo, ter acordado para as soluções.
Basta pensar que o esforço positivo que na Europa se faz para reduzir emissões e para incluir na cultura empresarial a responsabilidade ambiental a par da social é largamente compensado pelos efeitos negativos do consumo de recursos naturais em larga escala na India ou na China.
Por isso é fundamental que, 16 anos volvidos sobre a Conferência da Terra no Rio de Janeiro, a comunidade internacional reflita nos novos desafios que a globalização trouxe á sustentabilidade, comprometendo as economias em acelerado crescimento com objectivos de gestão racional e sustentada das partes comuns deste condomínio em que todos vivemos.

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Idosos carenciados vítimas da perversão do sistema...

Foi hoje notícia que “há lares de idosos sem fins lucrativos que arranjam vagas em troca de donativos”.
Estes lares de idosos fazem parte da rede de instituições de solidariedade social, incluindo as misericórdias, através da qual o Estado concretiza as suas políticas de acção social. Estamos perante instituições sem fins lucrativos que o Estado contratualiza, mediante um preço, com vista a assegurar o acolhimento e a prestação de serviços aos beneficiários que a elas recorrem.
É importante recordar que estas instituições sendo financiadas pelo Estado, ou melhor com os impostos cobrados aos contribuintes, devem cumprir com a legislação e as regras contratuais estabelecidas. A razão da sua existência é a satisfação de necessidades das pessoas carenciadas que a elas recorrem porque não auferem rendimentos que lhes permitam pagar serviços de assitência privados.
Não sei se são muitas as situações de instituições que exigem entregas adicionais – “direitos de entrada” – aos idosos carenciados e às suas famílias e não sei se a grande maioria ou uma minoria destas instituições utiliza ou não utiliza essas práticas. Agora o que sabemos é que é assumido pelas entidades da segurança social e por altos representantes das instituições de solidariedade social que a realidade existe. A segurança social queixa-se que tem dificuldade em actuar, sabendo que tal prática pode constituir crime de burla. As instituições de solidariedade social salientam que “muitas instituições estão a lutar pela sua sobrevivência” porque a comparticipação do Estado por idoso – fixada, segundo a notícia, em 330 € mensais – não chega para financiar metade do custo que em média um lar tem por cada pessoa internada.
Estamos assim perante situações ilegais, irregulares, imorais, em suma inadmissíveis, em que as instituições de solidariedade social fazem condicionar a atribuição de uma vaga em troca da entrega de uma entrada em dinheiro (segundo a mesma notícia o direito de entrada do caso apresentado ascendia a 15.000 €) ou até de uma herança futura como também consta.
O mais grave de tudo isto é que, no meio desta “selva”, são os idosos carenciados as vítimas destas práticas. São justamente estas pessoas que não tendo rendimentos necessitam do apoio do Estado e que não podendo fazer “donativos” porque os seus rendimentos não permitem ficam fora do sistema. Isto é, não têm acesso ao apoio do Estado.
É a total perversão do sistema, com o consentimento, pelos vistos, de uns e de outros. Uns por umas razões, outros por outras. No meio estão idosos indefesos e vulneráveis. Uma grande injustiça! Será que alguém está interessado em apurar responsabilidades? Em pôr cobro a este estado de coisas? Se as regras de financiamento e de funcionamento estão erradas, pois então que se alterem!

Manuela Ferreira Leite!...

Acabei de ouvir que Manuela Ferreira Leite poderá apresentar, nas próximas horas, a sua candidatura a Presidente do PSD.
É a melhor notícia dos últimos tempos. A notícia está para o PSD como, para um portista, a da vitória do FCPorto no Campeonato!...
É uma grande figura do Partido e uma grande figura nacional. De grande carácter. Íntegra. inteligente, experiente, exigente e trabalhadora.
Ah, e sobremaneira importante, atenta aos novos tempos!...Deu-nos a honra de apresentar o nosso livro 4R, editado nos fins do ano passado e aí discorreu largamente sobre a realidade que denominou "este novo fenómeno da bloguítica"!....
Ser for avante, como se espera, será uma candidtura de sucesso!...

Não percebo!...

Não percebo!...
Ainda nenhum dos meus ilustres colegas do 4R se candidatou à Presidência do PSD!...
Inacreditável!...
E tem andado o 4R a criticar os políticos profissionais…

Dependência financeira externa agrava-se: como explicar?

1. Os dados hoje divulgados relativos às contas com o exterior dão conta de um agravamento importante dos desequilíbrios da economia portuguesa, reflectidos num crescente défice das contas com o exterior.
O défice da balança corrente evidencia em Jan/Fevº uma subida de 25% em relação a igual período do ano transacto, podendo vir a situar-se este ano claramente acima de 10% do PIB.

2. Especialmente notável o que se passa com a rubrica dos Rendimentos, cujo défice, a manter-se a tendência dos últimos meses, pode só por si vir a representar um valor muito próximo de 6% do PIB no corrente ano...depois de ter atingido 4,6% em 2007.
Esta dependência do financiamento externo, que tem vindo a agravar-se de ano para ano – com a aparente indiferença dos responsáveis da política económica – pode vir a constituir uma poderosa condicionante das escolhas de política económica, nos próximos anos, pondo em causa, muito em especial, o programa de grandes obras públicas – quem as vai financiar e como irão esses financiamentos ser pagos, se o País suporta já hoje encargos de dívida tão elevados?

3. Não é fácil explicar este agravamento das contas com o exterior se aceitarmos por boa a tese, amplamente difundida em todos os media, de que têm sido implementadas reformas com grande impacto sobre a economia e, em particular, as chamadas “reformas difíceis”, envolvendo medidas de contenção que deveriam necessariamente produzir um impacto significativo na correcção do desequilíbrio externo...

4. Algo de estranho se passa, pois:
- Ou as reformas não são nada daquilo que tem sido apregoado, constituindo essencialmente operações de show-off, manifestações de intenção, muito pouco concretizadas...
- Ou então a estrutura plutonómica da economia portuguesa, traduzida no fosso entre os rendimentos mais elevados e os mais baixos acentuou-se nestes últimos 3/4 anos muito mais do que supomos, retirando eficácia às tais medidas de contenção, que atingem as famílias de rendimentos mais baixos mas deixam incólumes, ou cada vez melhor, as famílias de mais altos rendimentos...

5. Assinale-se, pela positiva, a evolução crescente das exportações de serviços (+50% em 2007/2006) – que não turismo ou construção – mostrando que tem sido criada uma malha de empresas competitivas nesta área...é promissor mas ainda é muito pouco (15,9% das exportações líquidas de serviços em 2007, face a 73% do turismo)...

6. Seria este um bom tema de debate, se existisse em Portugal uma Oposição que, em vez de passar a vida em intrigas internas/palacianas ou a tentar descortinar porque motivo sobem os preços dos bens alimentares (subida “incompreensível” face ao que se passa nos mercados desses produtos...) se preocupasse verdadeiramente em discutir a estratégia económica do País...que parece à deriva, para ser franco...

A repetência e a recuperância!...

Hoje estou particularmente obtuso, para não me classificar de outra maneira menos favorável.
Vejamos:
A Ministra da Educação diz que "chumbar os alunos é a maneira mais fácil de resolver o problema...".
E eu pergunto: para quê, então, complicar ?
Mas a Ministra continua a falar: "...O que significa é que a repetência devia constituir um espaço de trabalho efectivo para que eles recuperassem. O problema é que esses alunos nunca recuperam".
E eu pergunto, mais uma vez, e ainda mais obtuso: então, para evitar a repetência, dá-se aos alunos a passagência, como forma de recuperância?

domingo, 20 de abril de 2008

O drama do PSD


O PSD sofre de um mal terrível. No seu seio prevalece o entendimento de que o partido não precisa de um líder, necessita de um messias. E é pois de um messias que o PSD anda em busca.
É dificil, porém, ser messias sem boa nova. E não vejo que as personalidades messeânicas de que se fala, sejam portadores de uma qualquer doutrina que consiga curar o mal de que padece o partido: a fortíssima sensação de falta de ar, por ser curto o espaço que hoje ocupa, em boa parte apropriado pelo PS.
O PSD só voltará a respirar quando for reconhecido como alternativa ao PS.
E só o será quando apresentar ideias novas para superar os problemas estruturais de que o País continua a sofrer. Se na educação, na saúde, na economia e nas finanças, no papel social do Estado, na desgraçada justiça, nas políticas de segurança ou de ambiente e de ordenamento do território, na relação entre os diferentes níveis de Administração e na estruturação desta, não for capaz de apresentar propostas pensadas e credíveis, não é a personalidade do futuro lider que trará a cura. Ainda que as pessoas se cansem de Sócrates. Ou este se canse de governar sem sucesso.

Julgo inevitável que, mais uma vez, a escolha do lider do PSD se faça pelo simples confronto de personalidades. A confirmá-lo está a teoria dos mínimos há pouco exposta pelo messias, perdão!, professor Marcelo Rebelo de Sousa, na RTP1: é indicado para liderar aquele que está acima dos mínimos, pelo que, existindo vários, não se justifica que ele próprio, um dos messiânicos desejados, se dê ao incómodo de se submeter à imolação, que seria voltar a presidir ao partido a que pertence (não sou eu que o digo, foi Marcelo que, por outras palavras, o afirmou).
Eis um "excelente" crisma para o futuro líder, do qual as resmas de comentadores hostis ao PSD não se irão esquecer: o líder, qualquer que ele venha a ser, sê-lo-á porque que satisfaz pelos míninos...
Mas se é inevitável que a escolha se faça pela confrontação de personalidades, há sinais de que outros (poucos? muitos?) reconhecem que é pelo programa político que a afirmação de uma liderança deve começar. E que o momento é uma oportunidade aberta para lançar para a discussão novas ideias e novas propostas.

Se for assim, começou aqui a regeneração do PSD. Seja quem for a próxima escolha para o liderar.

Eduardo Melo, cidadão português...

Eduardo Melo, cidadão português, padre da Igreja Católica e cónego da Sé de Braga, faleceu ontem, com 80 anos.
Foi permanentemente acusado por partidos de esquerda e pelos da extrema-esquerda de interveniente na morte do padre Max, em 1976.
A comunicação social servia de eco à acusação e muita juntou-se voluntariamente ao coro, pelo que o cidadão Eduardo Melo foi condenado à fogueira pela inquisitorial opinião publicada.
No processo judicial e sucessivos recursos, não chegou sequer a ser pronunciado.
Apesar disso, o cidadão Eduardo Melo continuou permanentemente, durante 30 anos, a ser fustigado pela suspeita. Mesmo depois de morto. Ontem e hoje, as notícias do seu falecimento eram sempre acompanhadas da suspeição e do anátema na morte de outro cidadão.
O mesmo acontece com muitos portugueses neste momento, acusados pela opinião publicada, também antes de ser julgados.
E, depois de julgados, mesmo se absolvidos, o veredicto publicado será o da condenação.
Porque os donos da opinião publicada também se consideram os donos da justiça.
E a justiça, ao demorar intoleravelmente os processos, só favorece esta justiça inquisitorialmente popular.

sábado, 19 de abril de 2008

Toda a criança deveria ter o direito de crescer numa família...

O 4R aceitou o convite do Expresso para comentar antecipadamente alguns temas que irão fazer parte das suas edições. Este Sábado é tratado o tema da adopção, concluindo a peça que “Afinal, nem todas as crianças têm direito a ser adoptadas”.
A adopção não é uma matéria que seja tratada com grande visibilidade. Normalmente temos notícias sobre a adopção pelas piores razões, quando nos entram pela casa dentro as histórias e vidas de “pais” - adoptivos, afectivos e biológicos - que lutam judicialmente pela guarda dos filhos.
Mas a realidade é ainda bem mais dura, quando nos damos conta que se encontram institucionalizadas 15.000 crianças e jovens, dos quais 50% – 7.500 – está há pelo menos quatro anos no sistema e 28% – 4.200 – há mais de seis anos. Ou seja, apenas pouco mais de 22% daquelas crianças e jovens está institucionalizada há menos de quatro anos!
É uma situação assustadora e inquietante na dimensão, na longa permanência e na baixa mobilidade e, igualmente, na fatalidade de crescer criança fora dos afectos próprios de uma família. É uma situação que não registou grandes melhoras, mesmo com as alterações que foram introduzidas na lei da adopção em 2003, que aparentemente deveriam ter agilizado e reduzido a carga burocrática do processo da adopção.
A negligência, os maus tratos e o abandono são as razões mais frequentes para a retirada das crianças do seu meio familiar e colocação à guarda de instituições. São crianças e jovens fragilizados e vulneráveis que viveram situações traumatizantes, associadas à violência e à privação e que têm normalmente carências afectivas muito grandes. São crianças que por maioria de razão requerem atenções especiais, em particular afectivas, impondo-se a urgência da sua recuperação.
O direito fundamental de toda a criança a desenvolver-se numa família é a principal motivação da lei da adopção. Sendo esta lei particularmente exigente – pois na adopção a criança passa a integrar-se como filho na família adoptante extinguindo-se para o futuro o parentesco com a sua família biológica – conciliar o rigor e a celeridade do processo é um princípio fundamental que todas as instâncias envolvidas, designadamente tribunais e segurança social, deveriam ter presente na defesa do superior interesse da criança.
É normal encontrarmos famílias adoptantes que procuram crianças com uma dupla exigência: tenra idade e saudáveis, não apenas de um ponto de vista físico mas também na dimensão psicológica/emocional. Outras vezes acrescem outros requisitos, como por exemplo, a raça.
Nem sempre estas condições se verificam e muito menos simultaneamente, pelo que, à partida, há muitas crianças que estão condenadas a crescer sem família.
O que não é admissível é que uma criança veja gorada a possibilidade de um projecto de vida familiar porque as leis e as instituições não funcionam. Ora, em Portugal continuamos a ter este nível de falhas e deficiências lamentáveis e lesivas dos direitos da criança.
Os tempos de espera de concretização da adopção demasiados longos, para cima de dois a três anos, inviabilizam muitos projectos familiares. Sabemos que as famílias procuram normalmente crianças pequenas, pelo que se tivermos presente que apenas uma pequena parte das crianças acolhidas nas instituições são recém nascidos ou de muita tenra idade, os tempos de espera praticados são incompatíveis com esse desejo, frustrando a vontade e a disponibilidade de muitos “pais”.
Os números não enganam. A maior parte das crianças institucionalizadas são duplamente vítimas. Não bastando serem vitimas da violência do meio familiar do qual foram retiradas, são também vítimas de um quadro legal que se afigura desajustado em lidar com o primado da defesa do superior interesse da criança e do seu direito a uma solução familiar alternativa, da lentidão dos tribunais e do deficiente e do deficitário acompanhamento por parte das instituições de acolhimento e das entidades oficiais (Segurança Social, Comissões de Protecção de Crianças e Jovens em Risco).
Nunca esquecerei uma visita que fiz, há uns anos, a uma instituição de acolhimento de crianças em risco em que uma menina de seis anos não me largou. Tinha dois irmãos mais novos que já tinham sido entregues a duas famílias. A miúda já tinha conhecido uns "pais" mas, segundo a explicação que me deram, a experiência de contacto e de adaptação, que tinha durado para lá de seis meses, não tinha resultado. Pediu-me insistentemente que a levasse para minha casa porque os irmãos já tinham ido embora e ela não queria ficar sozinha. Esta menina tinha apenas seis anos! A sorte não estava do lado dela. Pertencia ao grupo das crianças que o destino quisera que haveria de crescer sem família e separada dos irmãos...

sexta-feira, 18 de abril de 2008

“Apetites”...

A revista Única do Expresso vai ser dedicada à gastronomia. O título, “Apetites”, convida a fazer algumas reflexões sobre gastronomia que alguns consideram uma “arte”. Se é ou não uma arte parece-me irrelevante. No entanto, não deixa de ser uma verdadeira mina de prazeres. E que prazeres! Dispararam acto contínuo dois flashes. A relação entre a “alimentação e a sexualidade”, os dois mais poderosos motores da espécie, sendo a alimentação ainda mais forte, porque é preciso algum sustento para a prática da outra, para não falar nas semelhanças das respectivas práticas. O outro flash reporta-se a uma frase de um escritor francês, cujo nome os meus neurónios já deixaram de reter, que afirmou algo do género: “O homem é o único animal que come sem ter fome, bebe sem ter sede e faz amor em todas as estações”. Face a estes “preliminares” não é difícil compreender que o homem procure, através do seu segundo “órgão sexual”, a língua com as suas inúmeras e diversas papilas gustativas, procurar sensações que provoquem a liberação de endorfinas cerebrais e outros mediadores que têm como missão provocar prazer. Não sei se existe ou não um “Kamasutra gastronómico”, mas se houvesse o número de estímulos e combinações possíveis ultrapassariam, e em muito, as posições do equivalente clássico! A par destes considerandos, associam-se as virtudes terapêuticas de muitos produtos que são explorados, muitas vezes de forma obscena, por profissionais que sabem abusar da ingenuidade de muitas pessoas. O endeusando desta área é uma realidade em crescendo, cultivado por alguns especialistas na matéria que, comportando-se como verdadeiros sacerdotes e sacerdotisas, não têm pejo nenhum em afirmar que o produto x é perigoso para a saúde enquanto o y faz bem à saúde ou à beleza. Enfim! Uma área de negócio sem paralelo nos nossos dias que “alimenta” clínicas, médicos, nutricionistas, “alternativos”, indústrias, ginásios, comunicação social, entre muitos outros.
O grande problema é não ter como encher o estômago. Os que não têm essa possibilidade nem se lembram de que têm papilas gustativas! Quando conseguem obter alguns alimentos a preocupação imediata é enfiá-los, o mais rapidamente possível, pelas goelas abaixo, mesmo que não saibam lá muito bem ou que saibam sempre ao mesmo.
As minhas papilas gustativas e o meu apetite já passaram por algumas atribulações. Recordo-me de dois episódios. Um dia, durante a recruta na Ota, eu e mais seis colegas fomos obrigados a fazer uma marcha e uns exercícios não programados. Quando chegámos ao refeitório tínhamos para almoçar codornizes. Por uma questão de “feitio” recusei sempre comer aves “abaixo de frango”. Naquele dia, ao ver que eram codornizes consegui que os meus olhos vissem enormes perus! Tamanha era a fome, meu Deus! A outra foi há uns 15 anos durante uma reunião de vários centros colaboradores de todo o mundo numa Moscovo em plena crise. Não sei o que me deu para aceitar o convite. Fui com um velho colega e amigo. Comida não abundava, ou melhor, praticamente não existia e éramos considerados como VIPs! Ao pequeno-almoço kefir com um pãozinho manhoso meio adocicado e uma chávena de chá com dois cubos de açúcar. Almoços e jantares, pimentos recheados de arroz e uns grãos escuros que diziam ser carne. Se não eram pimentos, eram rolinhos de diversos feitios, sempre com o mesmo recheio e chá, muito chá, sem açúcar, porque só tínhamos direito a dois cubos pela manhã. Foi assim que começámos a ser os primeiros a descer para “pifar” alguns cubos de outros açucareiros. Ao ponto que uma pessoa chega! Ao fim de dois, três dias, começaram a surgir queixas de tonturas matinais. Diagnóstico dos ilustres colegas: - Foi do vodka! Claro que já me tinha esquecido que não havia falta de vodka. – Qual quê! São tonturas da fome. Atrevi-me a dizer. Ao fim de alguns dias já não sentíamos nem tonturas nem fome. Perderam-se uns valentes quilogramas naquele interessante grupo. Duas semanas mais tarde regressámos a origem. Eu e o meu obeso colega fizemos escala em Amesterdão. Arranjámo-nos e corremos para o melhor restaurante para tirar a barriga de misérias, de acordo com a combinação feita no último dia em Moscovo. Quisemos demonstrar as nossas capacidades gastronómicas e seleccionámos um prato todo requintado acompanhado de uma garrafa de um excelente vinho francês cujo preço foi superior à própria refeição. Antes de iniciarmos o “ataque” rimo-nos com satisfação, antevendo uma refeição digna desse nome nos últimos tempos. Ao fim de algumas garfadas, que nem atingiu a meia dúzia, parámos. Não tínhamos apetite e não conseguimos enfiar mais nada. A tolerância à fome impediu-nos desfrutar de uma refeição tão desejada. O “maître”, muito preocupado, veio logo a correr a perguntar se havia algum problema. Lá conseguimos explicar que o problema não era da comida mas sim dos nossos estômagos meio “atrofiados”. A bem dizer, como diz o povo, tivemos “mais olhos do que barriga”. Realmente as barrigas encolheram e muito. Vá lá, salvou-se a garrafa que foi degustada até à última gota! Sempre conseguimos manter o “apetite” para a bebida...

“Escravidão e hipertensão arterial”...

Há cerca de três anos a agência norte-americana FDA (Food, Drug and Administration) aprovou pela primeira vez um medicamento com a indicação formal de que é útil apenas para negros com grave insuficiência cardíaca. Este facto resulta da existência de diferenças genéticas que ocorrem naturalmente em diferentes etnias. Compreende-se que a interacção entre o património genético e o meio ambiente possa explicar as razões da maior ou menor prevalência de algumas doenças em certas comunidades. No entanto, esta indicação formal é perigosa porque constitui um argumento que pode servir a movimentos racistas e, por outro lado, pode ser muito inconveniente, caso venham, no futuro, aparecer mais medicamentos “raciais”, porque nada impede que muitas pessoas louras e de olhos azuis não tenham também “genes africanos”!
Um dos mais graves problemas que aflige os portugueses são as doenças cerebrovasculares relacionadas com a hipertensão arterial. Sabemos que existem “genes africanos” que proporcionam maior propensão à hipertensão arterial. A sensibilidade ao sódio terá ocorrido há cerca de dois milhões de anos, no Pleistoceno. Até é compreensível esta selecção genética, porque caçar e perder sódio em zonas quentes e num continente pobre em sal não é lá uma grande ideia!
Muitos estudos, realizados em negros, americanos e brasileiros, demonstram que os tais genes (relacionados com a hipertensão) são muito mais prevalentes nestes grupos correndo riscos muito acrescidos de morte súbita e acidentes cardiovasculares.
Perante a nossa situação, bastante desconfortável, não será estranho o facto de termos iniciado em 1441 o tráfico de escravos negros. Nessa altura, Antão Gonçalves, capitão do Infante D. Henrique, trouxe o primeiro lote, que comprou em Arguim (actual Mauritânia), para o nosso país. O que é certo é que entre 1450 e 1500 chegaram a Lisboa cerca de 150.000 escravos e que em meados do século XVI 10% da população da capital era negra.
Não era a primeira vez que ocorria uma migração de "genes africanos". A primeira foi há cerca de seis mil anos, devido à desertificação do Saara e a segunda foi há 1300 anos com a invasão magrebina.
O que é certo é que o país deveria estar cheio de negros. A este propósito, Nicolau Clenardo, humanista e teólogo flamengo, que andou pela Europa, ao chegar a Évora ficou atónito ao ponto de afirmar: Portugal está cheio de negros! E para testemunhar esta afirmação nada melhor do que este breve texto: “...Sempre que um senhor sai a cavalo, saem dois negros à sua frente; um terceiro transporta-lhe o chapéu; um quarto o manto; um quinto segura as rédeas do cavalo; um sexto transporta as pantufas de seda; um sétimo apresenta a escova para o vestuário; um oitavo seca o suor do cavalo; um nono entrega o pente ao seu senhor; um décimo supervisiona todo este exército. Eu apenas falo do que vi...
Como os filhos das escravas eram muito bem tolerados entre nós, os “genes africanos” acabaram por disseminar-se pela população portuguesa. De facto, e agora num contexto mais amplo, a origem dos portugueses é bastante interessante. Quem leu o livro da jornalista brasileira, Ângela Dutra de Menezes, “O Português que nos Pariu” ficou a saber quais os ingredientes necessários para cozinhar um português. Os ingredientes são vários: "homens pré-históricos do vale do Tejo e do Sado; um punhado de povos indígenas, principalmente lusitanos; celtas - apenas para polvilhar; bárbaros, alanos caucasianos, vândalos germânicos e escandinavos, suevos e visigodos, estes últimos dissolvidos na civilização romana; mouros (tribos islamizadas de Marrocos e da Mauritânia); judeus sefarditas (coloque um punhado entre um ingrediente e outro e reserve a porção maior para o final da receita). Quanto a cristãos... a gosto". Curiosamente esqueceu-se dos negros.
Quanto à forma de cozinhar, o melhor é lerem o livro!
Deste modo, talvez consigamos explicar, pelo menos em parte, as grandes variações que se observam no tocante aos famosos acidentes vasculares cerebrais, um problema muito sério que nos coloca numa situação cimeira face a outros povos.
Andam por aí tantas pessoas, até louras e de olhos azuis, a transportar, sem saber, velhos “genes africanos”...

Ministras-objecto...politicamente muito correcto!...

O Expresso vai tratar amanhã o tema que diz ser da alteração de preconceitos na política. Dando como exemplos a chamada ao governo espanhol de Cármen Chacón, ao francês de Rachida Dati e ao italiano de Mara Carfagna. E interroga-se se “serão estes sinais de um novo tempo político, mais coerente com a realidade social, ou meros acasos definidos pelo poder da imagem”.
Nem uma coisa nem outra, a meu ver. Nem sinais de um tempo mais coerente com a realidade social (aqui dá-se, apesar de tudo, o benefício da dúvida à escolha mais sólida, a de Rachida Dati, de ascendência marroquina), nem meros acasos definidos pelo poder da imagem, mas sim atitudes premeditadas de projectar uma falsa imagem, à falta de substância que a suporte. O pior dos cenários, infelizmente!...
Não ouvi, nem li qualquer análise ou mesmo simples apontamento que considerasse Cármen Chacón ou Mara Carfagna como pessoas dotadas de sólido e incontestável curriculum profissional ou político, que as recomendasse para serem membros do Governo. Ou de qualquer particularidade de perfil ou de percurso que as recomendasse para serem Ministras da Defesa ou da Família. Isto, para além de Cármen Chacón ser mulher de um antigo Secretário de Estado, o que não é despiciendo nos tempos em que as repúblicas querem fazer de monarquias, nomeando sucessores.
Por isso, e à falta de atributos fundamentais para o cargo, Zapatero escolheu o atributo mais óbvio, o da gravidez, para catapultar uma mulher para o Ministério mais imprevisível, o da Defesa. Assim como o atributo mais evidente de Mara Carfagna é o de ser ex-modelo, ter concorrido a Miss Itália e ter levado Berlusconi a dizer-lhe que, se não fosse casado, casaria contigo, agora.
Com tal pose fracturante e progressista, Zapatero e Berlusconi ficarão muito bem na fotografia do politicamente correcto. As Ministras servem de bibelot e adorno à imagem. Nas paradas militares, ou nas paradas das revistas sociais.
A ascensão pelo mérito dá lugar à ascensão pela circunstância.
Mulheres objecto, mas objecto politicamente muito correcto!…

PSD (no dia 18 de Abril de 2008)

Sentíamos, sofríamos, incomodavam-nos os sucessivos episódios...
Os comentadores comentavam.
Os críticos criticavam.
Os tácticos calculavam.
Os "sucessores" ameaçavam...

Os genuínos Sociais Democratas (notáveis ou bases) demarcavam-se pelo afastamento e pela pseudo indiferença...

Tudo vale pelas Pessoas, os Países, os Partidos, as Famílias; são as Pessoas que destroem ou constroem, independentemente da solidez dum passado ou dum recém novo caminho.
Não sei o que vai seguir-se no PSD.
Mas sei que, como estávamos, o estiolamento era o próximo passo; sei eu e sabe toda a gente!

Que o nosso patriotismo obrigue, agora e já, a centrar esforços numa "lufada" de credibilidade dum partido que nunca esteve ausente das grandes reformas no Portugal pós Abril, dum partido que traçou uma matriz ideológica e demarcou um espaço político que só ele preencherá.

Haja coragem, haja autenticidade e pense-se "primeiro o País e depois o PSD"!
Mas rápido!

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Querida democracia!...

"...Berlusconi governará a Itália, possivelmente com o mesmo desprezo pela democracia que antes já demonstrou. A história vai-se repetindo..."
José Leite Pereira, Director do JN, em 16.04.08

"...A terceira vitória…de Sílvio Berlusconi nas eleições italianas…não sofre contestação. Mas ridiculariza a democracia. É preciso que se o diga e escreva com todas as letras. Berlusconi ganhou. Mas a Itália continua a perder. O sistema democrático está a ser gozado. Pode mesmo estar a manifestar sintomas de estertores de morte… "
Paquete de Oliveira, Sociólogo, Professor no ISCTE e Provedor da RTP, no JN, em 17.04.08
"... Não é surpreendente a vitória de Berlusconi. Ele representa o que há de pior na política: grosseria, ignorância, mentira, má-fé, soberba e desprezo...É a vitória dos porcos, como escreveu Orwell..."
Baptista Bastos, Jornalista e Escritor, no DN, em 17.04.08, no artigo A vitória dos Porcos
E podia continuar por largas páginas!...

Crédito está mais caro?! Que grande surpresa!!!

1. Há cerca de 5 meses, o Gov/BP, em intervenção pública na Associação Comercial de Lisboa, lançou uma onda de tranquilidade sobre o “mercado” dos “opinion-makers” em Portugal quando previu (i) que a subida dos preços no consumidor a que se estava a assistir, na Europa e cá no burgo era um fenómeno muito passageiro e (ii) consequentemente, que estava excluído um cenário de subida de taxas de juro em 2008.
Os Media, com destaque para os mais laboriosos, anunciaram aos 4 ventos a boa nova, incensando, como é seu hábito, aquelas sábias previsões....
Até chegaram a dar como certa uma descida das taxas do BCE no corrente mês...que não aconteceu!
Aqui fizemos referência, mais do que uma vez, a tais previsões, sobre elas emitindo sérias dúvidas.

2. Ontem, 16 de Abril, os mesmos Media anunciavam que os juros do crédito bancário continuam a subir, tanto para os particulares como para as empresas...e que o cenário é de subida, pelo menos quanto se pode prever nesta altura...
As taxas Euribor atingem máximos de Dezembro de 2007, quando a “velhinha” crise do “subprime” estava no auge.

3. No mesmo dia caiu a notícia de que a inflação (homóloga) atingiu 3,6% na zona Euro, em Março, prosseguindo uma trajectória ininterrupta de alta que vem do 3º Trimestre de 2007...atingindo valores “record” de há mais de 10 anos...e não serão de admirar novas subidas face à continuada pressão sobre os preços dos combustíveis e dos bens alimentares (neste último caso, em quase toda a fileira) de uma procura em contínuo crescimento e da prodigiosa política de subsidiação dos biocombustíveis...

4. A já “velhinha” crise do sub-prime vai entretanto fazendo o seu trabalho, tornando mais difícil o acesso dos bancos a fontes de financiamento alternativas – leia-se a securitização das carteiras de crédito - com isso forçando a subida dos juros activos e passivos.

5. Da festejada proibição legal do arredondamento das taxas de juro do crédito à habitação - que foi motivo de enorme emoção há alguns meses, mesmo para alguns habitualmente esclarecidos Comentadores do 4R – já ninguém se recorda e é bom nem dela falar!

6. Admirados pelo crédito mais caro? Quem nos obrigou a acreditar em contos de fadas?
Mas estes estimadíssimos Media vão continuar a acreditar, basta que apareçam novas edições desses contos...revistas e melhoradas...

Um prometedor início!...

Segundo li e ouvi hoje, foi executada uma penhora de móveis no Ministério da Economia, como forma de pagamento a funcionários despedidos.
Ora aí está uma notícia optimista, pois nos pode fazer antever o início de um processo que leve a penhorar, executar e vender em hasta pública todo o Ministério!...
Asim como assim, ajudava à diminuição da despesa, e sempre podiam entrar uns cêntimos, embora escassos, nas contas públicas.
Dos efeitos da execução, estou certo, ninguém reclamaria.
Nota: Agora, a minha dúvida lancinante é se o Senhor Ministro e Ajudantes irão trabalhar de pé ou de cócoras!...

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Espectáculo!...






Pela boa 1ªparte do Benfica e, sobretudo, pela espectacular 2ª parte do Sporting!...
Pelos oito golos, cinco do Sporting, depois de estar a perder por dois!...
Espectáculo e emoção.
Hoje, por hoje, parabéns aos clubes da 2ª circular, especialmente ao Sporting Clube de Portugal!... Lá o esperamos, na final do Estádio Nacional!...

A clareza das Contas Públicas

O nosso ilustre comentador Rui Fonseca exigiu esclarecimentos adicionais ao meu texto aqui do 4R, PIB flácido e Oposição sem facho. Basicamente relacionados com a atitude das Oposições perante as previsões de desaceleração no crescimento do PIB e a dificuldade de medir o défice.
Procuro responder agora à segunda questão, e que tem muito a ver com os procedimentos contabilísticos de elaboração da Conta. Da primeira também não me vou esquecer.
Uma das minhas grandes surpresas, quando fui deputado independente do PSD, de 2002 a 2005, foi verificar que o Tribunal de Contas não considerava a Conta Geral do Estado como fidedigna, o que logo pude comprovar, e outra foi verificar que o Parlamento não lhe dava qualquer atenção. Para a sua discussão no Plenário era-lhe atribuído o tempo mínimo, apenas alguns minutos para todos os Partidos. E a própria A.R., por vezes, nem as suas contas enviava atempadamente ao Tribunal de Contas.
A pouca importância que era dada à CGE evidenciava-se ainda no modo de aprovação. Era sempre votada positivamente pelo PSD e pelo PS, quando eram Governo, e negativamente, quando não o eram. Os argumentos para votar contra, quando na Oposição, desapareciam quando no Governo. E vice-versa. Mantendo os mesmos defeitos, era uma atitude desavergonhada.
Nessa Legislatura, foi possível formar uma Comissão para acompanhar o Orçamento e a Conta, uma das que tive a honra de fazer parte, presidida e dinamizada pelo nosso companheiro de blog Tavares Moreira. Uma primeira tarefa, da qual me incumbi e que, devido à liderança do Dr. Tavares Moreira, conseguiu ter o apoio de todos os Partidos da Comissão, foi uma análise dos principais problemas que levavam à falta de rigor e fidedignidade da Conta.
Dela resultou um Projecto de Resolução contendo um Plano de Acção, a 2 anos, para o Governo dar às Contas do Estado a credibilidade necessária. Esse Projecto de Resolução, de Novembro de 2004, chegou a ser agendado para Plenário, não tendo sido discutido e aprovado, pelo facto de a Assembleia ter sido dissolvida, no início de 2005.
É um documento importante. Poderá ser consultado, no post Clareza das Contas Públicas, que acabo de publicar no Quarto da República.
Na altura, o PSD era Governo. Pois foi uma iniciativa de Deputados do PSD que questionou o Governo sobre tão importante matéria.
Creio ter respondido ao amigo Rui Fonseca.

GOP: Também não são deste Mundo!...

Depois de ter publicado o meu post da passada segunda-feira “Viverá neste Mundo?!...”, tive conhecimento que, nas Grandes Opções do Plano (GOP) para 2008-2009, o Governo manteve todas as previsões económicas que foram apresentadas aquando do Orçamento do Estado para 2008… há mais de 6 meses!...

Assim, quando a inflação homóloga já atingiu 3.1%, o Governo manteve a projecção de 2.1% quer para 2008, quer para 2009 (mesmo sabendo que se todos os preços estivessem totalmente congelados até ao final deste ano, ficaríamos sempre acima de 2.1%...).
No desemprego, quando, infelizmente, as revisões acontecem todas em alta e os dados conhecidos não antecipam nada de bom, o Governo, mantendo uma ilusão que se revela totalmente desadequada, continua a prever uma queda do desemprego quer em 2008, quer em 2009.

Mas o caso pior é mesmo o do crescimento económico.

No post anterior já falei do FMI, da OCDE e dos indicadores do INE e da Comissão Europeia. Faltava só o Banco de Portugal. Que, ontem, no seu boletim económico de Primavera, veio considerar que a actual crise nos mercados financeiros terá uma implicação desfavorável na economia portuguesa. A que se deve somar o efeito da alta dos preços do petróleo e das matérias-primas e ainda a desaceleração da economia americana, com naturais efeitos na Europa. E considera ainda o Banco de Portugal que “a combinação destes choques não deixará de ter implicações desfavoráveis sobre a dinâmica de recuperação da economia portuguesa, afectando a procura externa dirigida à economia portuguesa, as decisões intertemporais de consumo e investimento dos agentes económicos e a evolução das suas condições de solvabilidade”.

Ora, perante esta análise, nas GOP, o Governo manteve o mesmo cenário de há 6 meses. Como se, entretanto, tudo continuasse na mesma…

Se as GOP fossem um documento fundamental (que em minha opinião não são, e por isso já num passado recente propus o seu fim, numa intervenção no Parlamento), tinham recebido, agora uma (nova) valente machadada em termos de credibilidade. Assim, apenas a alenta agonia em que há já vários anos caíram foi novamente ampliada.

Mas atenção: nem tudo são más notícias!... É que, afinal, se no post anterior questionava se o Governo (e o Primeiro-Ministro) viveria neste Mundo, não posso deixar de constatar que, em matéria de coerência, está tudo certo: um Governo que não vive neste Mundo, só podia elaborar umas GOP que também não são deste Mundo!...

Questão de peso, questão de talento

Como se previra, a discussão sobre as vantagens para a Europa, mas também para o País, do novo Tratado europeu, decorre (quando decorre) no circuito fechado dos partidos políticos. Num simulacro de debate sobre aquilo que os mesmos partidos consideraram já que não depende nem ganha com o debate esclarecido e generalizado: a ratificação do novo modelo institucional da União Europeia.
Segundo se relata do que se terá passado numa dessas úteis conversas familiares, no caso promovida pelo grupo parlamentar do PS, Manuel Alegre considerou, afirmando sem complexos as suas patrióticas preocupações, que com o Tratado Portugal vai perder peso na União e corre o risco de ser irrelevante, enquanto os Estados mais poderosos ganham peso e são cada vez mais relevantes.
Que sim, confirma o Primeiro-Ministro, Portugal perderá peso. Mas ganhará em talento negocial.
Afinal - sabemo-lo agora - à decisão de ratificar aquele concreto tratado presidiu uma convicção socrática, uma lei não escrita: a lei das compensações. Ao deputado Manuel Alegre, o Primeiro-Ministro responde: perdemos peso, mas compensamos com talento negocial.
O talento negocial de Portugal nestas matérias tem força de caso julgado. Revelou-se precisamente na negociação de um tratado que nos torna mais "leves" e, como diz Manuel Alegre, à beira da irrelevância institucional.
Por isso, quanto ao trading ensaiado por Sócrates e ao merecimento do nosso talento negocial, estamos conversados. Não é necessário juntar prova adicional.
Outra coisa seria discutir-se se, com uma Europa a 27 (e com alguns Estados mais a baterem-lhe à porta) poderia Portugal ambicionar a não perder peso ou a passar de uma situação de relativa importância, para a quase irrelevância decisória. Essa sim, era questão que merecia discussão. Não a discussão doméstica entre fieis deputados, adormecidos pela decisão dos directórios partidários há muito tomada, conscientes por isso da sua própria irrelevância no processo. Mas feita pelo Povo, em referendo, em torno do debate no qual todas as forças políticas teriam a indeclinável responsabilidade de justificar o que valem os pesos e o que pesam no futuro de Portugal os talentos negociais dos seus dirigentes.

terça-feira, 15 de abril de 2008

"Prodigiosa" avaliação....


Não resisto em partilhar esta "prodigiosa" avaliação...


Nota: imagem que recebi via internet com o título "Avaliação na Função Pública".

PIB flácido e Oposição sem facho

O PIB português não se alevanta!... Enquanto o Governo o procura manter firme, com um arrebitamento vigoroso de 2,2%, a OCDE, a Comissão Europeia e até o Banco de Portugal apenas lhe conseguem medir a energia até um máximo de 2%. Agora, é o exigente FMI que vem atestar a sua flacidez, dizendo-o encolhido e sem possibilidade de se erguer em mais do que 1,3%.
Claro que a Oposição aproveita para exigir do Governo, não que ministre ao dito novas medicinas apropriadas que o façam reerguer, mas que seja reconhecida a sua inacção. Quando o PSD era Governo, o PS fazia exactamente o mesmo. Merecem-se mutuamente.
Dentro deste ciclo baixo, não sou dos que dou muita importância a uns impulsos a mais ou a menos. Mas já me preocupa a tendência para a falta de energia de instrumento tão fundamental de medida de força e também de jeito!...
De facto, a natureza está muito bem feita. É que se o PIB não é içado às alturas, logo aparece o défice em todo o seu esplendor.
Tendo-se consolidado em altíssimo grau as gorduras do Estado, por não se terem cortado, nem em termos absolutos, nem sequer em termos relativos, o sangue não aflui ao PIB e o défice tornar-se-á pujante e com francas possibilidades de ultrapassar novamente o mínimo vital. O que, na medicina tradicional, vai exigir novas drenagens de sangue de quem ainda vai mantendo o facho elevado, para sustentar os desmandos gordurosos de um Estado doente e dar imagem de um défice dentro da normalidade.
Neste círculo vicioso nos vamos consumindo. Não intervindo nos órgãos doentes, mas exaurindo os que ainda denotam alguma energia.
Falando mais a sério, o fim não vai ser feliz. Com PIB a baixar, o défice vai subir. Com a Despesa Pública a aumentar consolidadamente, serão necessários novos impostos para o défice e a dívida pública não ultrapassarem os máximos sustentáveis. Equilibram-se as Finanças do Estado num patamar mais elevado de despesa e desequilibra-se a economia num patamar cada vez mais alto de inadmissível tributação, causa da estagnação profunda.
E, neste contexto, o que as Oposições querem é que o Governo reconheça o erro de previsão!...
Nota: Tinha escrito ontem este texto. Hoje, vi publicado o texto do M. Frasquilho Viverá neste mundo? O M.Frasquilho tem proposto boas alternativas de política económica. Não há, pois, qualquer crítica ao pensamento e forma de oposição individual do M. Frasquilho.

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Coleira telefónica


A notícia do DN de domingo lembrou-me logo uma cena que muito me chocou há uns anos em que uma mãe levava a filha pequena pela trela, como se fosse um cão. Tinha uma espécie de corpete que a criança vestia e das costas saía uma fita extensível, que terminava no punho que a mãe segurava, dando mais ou menos largas ao raio de acção da menina.
Eu sei que não serve de nada lutar contra isso e que, não tardará muito tempo, a maquineta diabólica andará em todos os bolsos e mochilas. Mas que me dá arrepios ver anunciado que já está no mercado o telemóvel que “permite aos pais saber por onde andam os filhos”, isso dá, e não augura nada de bom.
Primeiro, acho absolutamente lamentável, para não dizer desprezível, que se utilize a chaga ainda fresca do mediatizado desaparecimento de 2 crianças para explorar esse sentimento de insegurança que se alimentou e estimulou até à histeria. É claro, sei que a oportunidade cria o negócio, mas tenho dificuldade em imaginar coincidência mais estranha, o estímulo e a resposta, tudo assim tão de repente como se o slogan já estivesse feito e com “as crianças como público-alvo. Os pais podem sempre saber onde estão os filhos e seguir os seus passos”.Note-se que os destinatários são as crianças, claro, não os pais… Tipo biberão, ou fraldas conforto, agora um chip no telemóvel. Não deve ser por acaso que a mesma notícia dá conta de que Portugal é dos países onde as crianças têm telemóvel mais cedo, agora então é mais que certo que passe a integrar o enxoval básico do recém nascido!
Este novo equipamento aparece, como sempre, sob a capa de um bem indispensável, qualquer coisa que uns pais dignos desse nome terão que comprar a correr, sob pena de parecer que afinal não fazem tudo, mas mesmo tudo o que podem, para “proteger” os seus filhos.
Com este aparelho maravilha, os filhos levam a asa protectora dos pais para onde quer que vão. E os pais deixam as crianças andar sozinhas mas é como se nunca tivessem saído de casa. A probabilidade de os jovens se tornarem cada vez mais irresponsáveis e inconscientes dos perigos que realmente correm é enorme, uma vez que vão certamente, como sempre, inventar mil e uma forma de iludir esta absurda vigilância, correndo riscos sérios. A probabilidade de os pais saberem cada vez menos onde param as criancinhas, de estas lhes mentirem ou de dependerem deles de uma forma doentia é cada vez maior.
Não sei se não se trata de segurança das crianças e jovens, se de perseguição. Não sei se se trata de tranquilidade dos pais, se de egoísmo de quem não quer nem suporta o mínimo de tensão que estará sempre associado ao processo de crescimento de quem depende de nós. Uns querem crescer e não os deixam, outros deviam ir aprendendo a ver os filhos crescer e fecham os olhos, passando a angústia para o telemóvel e os seus apitos atentos…
Não digo que não tenha que ser assim, é talvez uma inevitabilidade. Mas não me digam que isto é para nosso bem e dos nossos filhos e netos…

Viverá neste Mundo?!...

Na quarta feira passada foi o FMI. Dada a conjuntura actual, de crise nos mercados financeiros e de crédito, a desaceleração (mais profunda) nos EUA e (menos) na Europa será uma inevitabilidade. Felizmente a Ásia equilibra hoje mais os pratos da balança mundial do que há 10 ou há 20 anos – mas, mesmo assim, os efeitos a nível mundial serão fortes: o crescimento global não chegará a 4% quer em 2008, quer em 2009, depois de cerca de 5% nos dois últimos anos. Naturalmente, Portugal será afectado: segundo o FMI, o nosso crescimento será de 1.3% em 2008 e de 1.4% em 2009. Ainda (e sempre, como nos últimos largos anos) abaixo da média europeia.

Depois, na sexta-feira, foi a vez da OCDE disponibilizar o seu indicador avançado de Fevereiro(calculado com base em dados do consumo, do investimento e das exportações), que projecta com um , diferencial de cerca de meio ano o que se passará na actividade, e mostrar que, no caso de Portugal, se registou a terceira queda anualizada a seis meses consecutiva, tendo sido atingido o valor mais baixo desde 2003. E na União Europeia a tendência é semelhante.

Além disso, é ainda conhecido que, de acordo com o INE e a Comissão Europeia, a confiança de empresários, investidores, indústria, comércio, serviços e, sobretudo, consumidores, já conheceu melhores dias, quer no nosso país, quer na Europa.

E, no entanto, perante todos estes sinais e a tormenta que nos chega de fora, o Primeiro-Ministro refere que “o Governo não tem nenhuma razão para alterar a sua previsão de crescimento económico para 2008”.

É caso para perguntar – e assim termino, porque, em face de tamanho autismo, não creio que seja preciso acrescentar mais nada: em que Mundo viverá José Sócrates?!...

Felizmente, também os há!

Bons e dedicados professores. E alunos com consciência dos valores.
O JN de hoje conta a estória que resumo aqui. É um simples episódio que não resistirá para além do dia em que dele se tomou conhecimento. Apesar da volatilidade mediática dos factos positivos e dos actos louváveis, tem a virtude de nos fazer ver que a escola pública não é afinal aquilo que as imagens passadas até à nausea sobre os acontecimentos numa turma da Escola Secundária Carolina Michaelis, deram a entender que é.
Uma turma de uma secundária de Reguengos de Monsaraz, deixou de lado a possibilidade de recolher fundos destinados à viagem de finalistas, para ajudar a pagar o custo elevado da reparação do carro de um professor, acidentado durante uma actividade organizada pela escola.
Na falta de veículos que transportassem os alunos, um dos docentes emprestou a sua viatura que acabou acidentada, sendo vultosos os prejuízos.
Os alunos organizaram um jantar de recolha de fundos para reparação da viatura. E admitem abdicar da sua viagem de finalistas, canalizando o que juntarem para aquela necessidade.
Importa sublinhar estes exemplos.
Dos professores generosos que empenham na educação tempo e meios para além do que é a sua obrigação.
E de alunos que cultivam a solidariedade como valor. E a sobrepõem a apelos a que é natural não resistir naquela idade, como é o caso da almejada viagem de finalistas.
Aí está uma escola - Escola Secundária Conde de Monsaraz de seu nome - que, ou muito me engano, ou é acima de tudo um centro de formação de bons cidadãos.

Inflação sobe: não será bom um pouco de sal?

Foi hoje divulgada a taxa de inflação para Março, de 3,1%, sobre a qual se pode dizer em resumo:
- Que é muito inferior à registada em Espanha, de 4,5%, os espanhóis continuam à nossa frente... até na velocidade dos preços...
- Que é bem inferior à média da zona Euro, de 3,5%...ainda não estamos a convergir...
- Que é perigosamente mais elevada do que a meta oficial e juridicamente protegida (fixada por decreto) para 2008, de 2,1%...

Para os últimos 12 meses, a média subiu de 2,5% para 2,6% e a tendência é claramente de subida, afastando-se hereticamente do objectivo 2,1%...
É claro que à medida que nos aproximamos do final do ano, a média dos últimos 12 meses começará a parecer-se, cada vez mais, com a inflação média do ano...o que suscita um novo problema legal - como lidar com uma inflação que, apesar de ilegal, é oficialmente reconhecida...
Confesso não ter resposta imediata para este novo problema, mas admito que se no final, como tudo parece indicar, a inflação ficar (muito) acima da meta legal – aí em 3% algo de semelhante - possa haver recurso para o Tribunal Administrativo, pondo em causa a validade do resultado...
Caso o Tribunal Administrativo mantivesse o resultado, ainda assim o problema poderia ter solução - o recurso para tribunal superior e/ou uma recontagem dos preços, a cargo da ASAE apoiada por Deputados do CDS/PP...substituindo-se ao INE, seria bem mais fiável um índice de preços ASAE-CDS/PP.
No campo das medidas preventivas, poder-se-ia generalizar a regra da proibição dos arredondamentos para os preços de todos os bens de consumo e para os equipamentos de uso doméstico (devidamente fiscalizada pela ASAE e pelo CDS-PP) bem como instituir uma bandeira especial, rosa ou azul, para os estabelecimentos que pratiquem preços mais baixos...
Enfim tanta coisa que é possível fazer para combater a praga da subida dos preços...

“Humor” à parte, não me parece que estejamos perante um grande problema...como dizia um conhecido economista, há alguns anos, a inflação está para a economia como o sal para a comida, um pouco de inflação torna a economia mais apetecível, animada...
O descrédito em que as organizações sindicais se deixaram cair em Portugal torna o risco de efeitos de “second round” desta subida de preços negligenciável...
E a distribuição de rendimentos ficará ainda mais concentrada, cumprindo-se um relevante objectivo da política económica vigente.

NOTA DA REDAÇÃO: O Ministro da Agricultura terá declarado hoje que "A Europa está a actuar para contrariar a subida dos preços dos cereais no mercado...".
Suponho que esta actuação se relaciona com o reforço dos incentivos para os biocombustíveis. Ficamos assim mais tranquilos...

domingo, 13 de abril de 2008

Envelhecimento activo: uma mudança de mentalidade!

Ontem fui jantar a casa de uns amigos. Assisti, e acabei por trocar algumas palavras, a uma conversa entre o porteiro que estava de serviço à portaria do condomínio e uns amigos que tinham chegado há uns minutos para o mesmo jantar. O porteiro dizia então que tinha vivido um processo doloroso de passagem à reforma – ainda novo, segundo percebi com 57 anos – por imposição da empresa na qual trabalhava. Tinha começado a trabalhar muito jovem e nunca tinha tido a possibilidade de fazer estudos para além do secundário. Aos 57 anos viu-se então com o problema grave de reorganizar a sua vida, não querendo aceitar que pudesse ter que passar o resto do tempo em casa sem trabalhar, sem estar ocupado com uma actividade útil para si e para os outros. O cenário de aos 57 anos ter de ficar em frente a uma televisão ou ter de fazer passeios da "terceira idade" foi qualquer coisa que o deixou num estado de ansiedade muito grande. Foi então que decidiu ir à procura de “emprego”, o que viria a resultar na sua contratação por uma empresa de gestão de condomínios. O porteiro sorriu quando explicou que neste caso concreto a administração da empresa não teve dúvidas em escolher uma pessoa sénior em detrimento de um jovem porque a experiência e a maturidade eram valores a ter em conta no desempenho exigido. Estava satisfeito por ter encontrado uma “saída” mas revoltado com as "políticas cegas dos governos que varrem sem dó nem piedade pessoas capazes para debaixo do tapete".
Casos como este multiplicaram-se nos últimos anos. As reestruturações das empresas têm sido feitas à custa da dispensa dos mais velhos, ainda longe da idade legal de passagem à reforma, num quadro em que os empregadores invocam que o rejuvenescimento é fundamental para a eficiência.
O envelhecimento acabou por ser tema do jantar e todos fomos unânimes em concluir que o desenvolvimento não pode ser feito à custa da exclusão das pessoas “idosas” e que é preciso uma renovação ética que recupere a dimensão humanista.
O envelhecimento é um fenómeno estruturante das sociedades contemporâneas. A longevidade significa cada vez mais anos com elevados níveis de autonomia, de capacidades, de potencialidades de realização pessoal e de intervenção na sociedade. A confiança e a segurança são factores decisivos para o equilíbrio das pessoas ao longo da vida. As pessoas necessitam de sentir que estão incluídas na sociedade, que são úteis e amadas.
Vivemos uma época em que as pessoas idosas (erradamente assim chamadas, como também é errado classificá-las de terceira idade) são colocadas como que à margem da sociedade “viva”, submetidas a processos de exclusão social matematicamente calculados, redundando em pesos pesados para a sociedade e a economia. A desvalorização com que as pessoas idosas são etiquetadas surge como que uma fatalidade dos tempos modernos. Estamos a assistir ao desbaratar de um capital intelectual por força das políticas de rejuvenescimento do tecido económico.
Com efeito, o envelhecimento populacional lança o desafio de pensarmos muito para além dos complexos impactos na despesa do Estado com os sistemas de pensões e de cuidados de saúde ou na sustentabilidade financeira da segurança social. Esta é uma visão puramente tecnicista do problema que deixa de fora a dimensão humana. É nesta dimensão que temos, a meu ver, que fazer um esforço para reconhecermos que as pessoas idosas constituem um repositório de conhecimento, de sabedoria e de experiência, não apenas técnico mas humano e pessoal, que é necessário às novas gerações e ao progresso. Precisamos de abordar o envelhecimento não como um fenómeno de “guilhotina” em que subitamente o trabalho dá lugar à reforma, a capacidade se transforma em vulnerabilidade, a força de desvanece em fraqueza e a aceitação social redunda em rejeição, o conhecimento é trocado pela inexperiência e pelo vazio e o capital humano é dispensado, mas antes como uma etapa ou um processo fundamental para a construção de uma sociedade equilibrada. Assim como cada pessoa contém várias idades também a sociedade deve ser activamente constituída por todas as idades.
É por isso necessário pensarmos num novo “contrato geracional” que estabeleça um compromisso de assegurar a educação e aprendizagem ao longo da vida.
A reforma parcial conjugada com o trabalho a tempo parcial, soluções diversificadas na combinação entre trabalho e outras ocupações ou o trabalho de voluntariado aliado à reforma e ao trabalho remunerado são formas de valorizar e aproveitar o saber dos mais velhos, são formas de vida que combinam aptidões variadas e que moderam o esforço físico e intelectual, são combinações que previnem “guetos” geracionais que dificultam o bem estar intergeracional, são afinal oportunidades para um melhor aproveitamento do capital humano e para uma melhor redistribuição do esforço e do contributo de todas as gerações para a riqueza comum.
Portugal tem despertado tarde para a necessidade de encontrar novas abordagens para os problemas económicos e sociais que caracterizam o desenvolvimento económico dos tempos de hoje. Gostamos de minimizar os problemas e deixamos passar o tempo à espera que se agravem ainda mais. Como em muitas outras matérias em que nos deixámos atrasar, seria importante tomarmos consciência dos problemas que se colocam ao envelhecimento e tomarmos medidas que garantam o direito de envelhecer com dignidade e segurança.