Número total de visualizações de páginas

quarta-feira, 31 de julho de 2013

Os briefings

Retomaram-se os briefings. O sentimento dos media sobre a utilidade destes encontros com hora marcada mas sem agenda negociada - mas que tanta expetativa geraram -, é bem revelado neste relato da Rádio Renascença. Previsível, de resto.
Percebo bem a tentativa de através deste meio dar o Governo resposta à sistemática crítica de que informa mal e informa pouco, aproveitando para passar a mensagem que aposta no diálogo e é hoje mais transparente.
Não é, porém, este formato dos briefings que levará a mudar as coisas quanto ao deficite de comunicação de que, diz-se, padece este governo (afirmou-se exatamente o mesmo de todos os governos!). E não mudam as coisas desde logo porque os interesses informativos do governo e dos media são diferentes e naturalmente desencontrados: o que o Governo pretende explicar através da comunicação social não coincide com o interesse dos media em divulgar.
Uma questão de tempo. Breve, breve regressar-se-à aos comunicados oficiais temperados com os "recados" para as redações e para os jornalistas "amigos" por parte dos assessores de imprensa dos membros do governo. Ou à forma mais eficaz
 de colocar os comentadores e analistas como núncios as medidas setoriais a tomar no próximo conselho de ministros.
Pedro Lomba poderá então ser mobilizado para função mais útil e mais compatível com a sua inteligência. Digo eu...

Um colossal embuste

A informação detalhada sobre os swaps, invocada pelo PS, colocada na famosa pasta de transição é a seguinte: 
6. Medidas do Programa implementadas ou a implementar
Despacho 807/2011-SETF, de 31 de Maio, determina à DGTF que até 20 de Junho receba das empresas as informações necessárias e que até 15 de Julho  aprEsente a Proposta de Relatório. O Relatório do SEE habitualmente publicado pela DGTF, incluirá um capítulo exclusivamente dedicado  à quantificação das responsabilidades, explícitas e implícitas, das empresas públicas, a publicar até final de Julho de 2011.
E foi nesta base que o  PS e, depois, o PC e o BE, apoiados por muitos meios da comunicação social, montaram o colossal embuste de acusar Ministra das Finanças de mentir. Invocando até princípios éticos para a demissão da Ministra!...
Muito baixo desceu o PS.

Cura de intoxicação...

A tragédia dos swaps das empresas públicas - porque é disso que se trata quando estão em causa operações financeiras especulativas e consequentemente com elevada probabilidade de perdas financeiras significativas - deveria ter outras consequências que não vemos discutir. Os activos e os passivos das empresas públicas pertencem aos contribuintes. Este é o aspecto fundamental que nos deve mover na promoção da boa gestão e na prevenção e penalização da má gestão.
A questão que deve ser discutida é como proteger a gestão das empresas públicas, isto é, que condições devem ser dadas aos gestores públicos para que adequem a gestão financeira aos interesses do país e que modelo de governance melhor responde às exigências da gestão da coisa pública e ao respeito e reconhecimento pelo seu trabalho e desempenho.
É preciso de uma vez por todas estabelecer um quadro regulatório para a gestão financeira das empresas públicas, clarificando e definindo as operações financeiras que os gestores públicos podem fazer e as que lhes estão vedadas. A regulação justifica-se porque estão em causa bens públicos e o interesse público.
E é preciso de uma vez por todas estabelecer os mecanismos de acompanhamento e controlo efectivos do cumprimento do quadro regulatório. O que temos são diversos organismos do Estado que elaboram relatórios sobre as actividades do sector público empresarial do Estado sem o nível de eficácia que impeça que fique tudo na mesma, que não se apurem responsabilidades e não haja consequências. Eficácia deve significar também actuação em tempo útil.
Enquanto não fizermos o switch para a mudança de paradigma que se impõe, o clima de intoxicação não tem fim…

O Swap da realidade

Ouço a Oposição e a comunicação social e, pronto, a responsabilidade pelos swaps foi da actual Ministra das Finanças. O anterior governo até terá referido que havia uns problemazitos. Mas, tão pequenos que eram, nunca os terá compreendido, nem julgou importante actuar. O grande problema dos swaps foi, pois, criado por Maria Luís Albuquerque.
Ora aí temos mais um swap tóxico criado pela má consciência do PS e a que os media dão toda a cobertura. Cria um derivativo virtual, a que chamou Maria Luís Albuquerque, para esconder mais um passivo bem real e bem tóxico  que deixou aos portugueses. Como produtor de swaps tóxicos, o PS revelou-se mestre dos mestres. Agora, até swapa a realidade. Faz o mal e a caramunha, com bons proveitos partidários, certamente. Um esplendor de ética socialista.  

terça-feira, 30 de julho de 2013

A penosa consolidação orçamental do 1º semestre de 2013...

1.Os dados divulgados na semana passada sobre a execução orçamental do período até Junho revelam já, em pleno, o elevado MAU GOSTO do esforço de consolidação orçamental vertido no OE/2013, como na altura aqui assinalamos – 80% pelo lado da Receita e apenas 20% pelo lado da Despesa – decorrente, em linha recta, da douta jurisprudência do TC que inviabilizou a adopção das principais medidas de contenção das despesas com pessoal e com pensões. 2.Ao contrário dos dois últimos anos, conclui-se que a despesa corrente e a despesa primária crescem acentuadamente (+6,1% e +5,0%, respectivamente, para os sectores Administração Central+Segurança Social, os de maior peso das Administrações Públicas), anotando-se um crescimento de 4,8% nas despesas com pessoal. 3.Este aumento da despesa teve como contrapartida um aumento de 6,5% na receita fiscal (+9% no caso da receita fiscal do Estado), sendo que o impulso maior para este aumento vem dos impostos directos – IRS (+38,8%) e IRC (+7,7%) – com um enorme salto conjunto de +25,3% em relação ao 1º semestre de 2012, enquanto a receita dos impostos indirectos apresenta uma evolução negativa (-4,3%), em resultado nomeadamente da queda das receitas do IVA (-0,8%), do ISP (-3,2%) e do Imposto de Selo (-2,0%). 4.Este comportamento das despesas e das receitas tornou possível o défice acumulado no 1º semestre, para o conjunto das Administrações Públicas, de € 4,058 milhões segundo a DGO, situar-se abaixo do limite fixado no PAEF, de € 6 mil milhões... 5....mas o que aconteceu é exactamente o oposto do que teria sido desejável: um esforço de consolidação orçamental feito muito mais pelo lado da despesa, não agravando a carga fiscal sobre Famílias e Empresas, a fim de não onerar ainda mais uma economia extremamente fragilizada e que tem vindo a realizar um extraordinário esforço de ajustamento - e com grande sucesso, como aqui temos salientado. 6.Apesar de se poder dizer que o objectivo de contenção do défice em 2013 se afigura ao alcance, isso não nos deve dar grandes motivos de satisfação, pois se assim for será à custa de uma desajustada combinação entre receita e despesa, ou seja um enorme e desequilibradíssimo ónus (mas constitucional, pelos vistos...) imposto às Famílias e às Empresas a favor de um Estado excessivamente gastador... 7.Em conclusão, para além do enorme contributo para o reequilíbrio da economia (que aqui temos salientado, à saciedade), traduzido num formidável esforço de reestruturação e de ajustamento às dificílimas condições que lhes foram criadas, às Famílias e às Empresas ainda tem de ser creditado agora o esforço principal do ajustamento orçamental – é OBRA ! 8.Em 2014 não será possível repetir este cenário...

Boa vai ela!...

Os que mentem diariamente no Parlamento, nas televisões, nos jornais e na rádio querem agora averiguar se a Ministra das Finanças mentiu. Boa vai ela!...  

segunda-feira, 29 de julho de 2013

As respostas que ainda faltam...

A refundação do Governo culmina amanhã com uma moção de confiança. Não vejo ainda como se poderá entrar num novo ciclo político e económico. Teremos readquirido condições político-sociais para se avançar com os cortes acordados com a Troika? Ou os credores internacionais permitirão que esses cortes se reduzam de 4,7 para 2,5 mil milhões de euros, ou menos, dando algum alívio à economia? Por um lado, o lançamento do novo ciclo implica a injecção de mais dinheiro na economia. Por outro lado, temos a realidade da contenção orçamental à nossa frente.

domingo, 28 de julho de 2013

Small is beautiful?


Tem uma certa graça virem agora todos constatar a "evidência" de que a bandeira política de se ter poucos ministros, implicando um aglomerado de temas distintos sob o mesmo ministro,não podia dar grande resultado. Que me lembre, a seu tempo foi considerado um achado por muitos dos que agora correm pressurosos a desdizer-se. No entanto, continua em alta a tese de que se misturarmos os serviços públicos com a mesma lógica, reduzindo as chefias e amontoando os assuntos, de certeza que vai ser tudo muito mais eficiente, basta ler (enfim, eu sei que não é fácil) algumas leis orgânicas tão festejadas e passar os olhos nas alíneas que descrevem as atribuições e que se desdobram depois em competências tão díspares que seria pelo menos de ficar um tanto hesitante quanto às consequências. É que uma coisa é reduzir funções e organismos porque não é necessário o que faziam, ou podem fazer com menos, outra coisa é distorcer a sua lógica de organização para parecer que encolheram. Há coisas que parecem simplificar e só complicam.

sábado, 27 de julho de 2013

"Passamento"...


Começa a ser muito frequente receber notícias de passamentos. É natural, penso, conheço muitas pessoas e já vivi alguns anos, logo, tenho que os registar, algumas vezes com naturalidade, outras com certo incómodo, por vezes com sentida tristeza e até mesmo com sentimento de perda. Começa a ser frequente receber notícias de passamentos. São tantos que às vezes chego a confundi-los com os meus pensamentos. São tantos que acabo por mergulhar em pensamentos construídos à custa das suas vidas e confissões. Quem diria que muitos dos meus pensamentos são frutos de vivências, do convívio, das confissões e do conhecimento de muitas histórias que a morte apaga num dia qualquer, indiferente a tudo e a todos. Desaparecem uns atrás de outros e eu acabo por ficar com algumas das suas recordações. Recordações que nunca partilharam com mais ninguém. Fui o único espetador de muitas representações singulares, em que a tristeza, a angústia, a amargura, o mistério, a volúpia, o ato reprovável aos olhos de Deus, mas nunca aos meus, foram-me oferecidos em toda a sua nudez, numa verdade pura a oscilar entre os extremos da condição humana e por esse motivo escondidos dos semelhantes. Segredos? Sim, muitos, talvez em demasia, mas suficientes para compreender bem a natureza humana. Segredos? Sim, muitos, talvez em demasia, mas suficientes para construir muitos dos meus pensamentos. Segredos? Sim, muitos. Guardo-os após a morte os ter apagado aos seus autores. E agora? O que é que vou fazer com eles? Guardá-los, claro, mas vou revivê-los nos meus pensamentos. Dou-lhes vida, conto-os para mim. Sempre conseguem viver durante mais algum tempo, mas acabarão por desaparecer. Um segundo passamento. 
- Hoje morreu o meu avô.
- Sim? Disse não muito surpreendido. Senti respeito, mas não fiquei incomodado. Disse-lhe, em tom de conforto:
- Ainda conseguiu viver dez anos! E com qualidade de vida. Nem sei como, mas cumpria com todas as minhas recomendações. Só assim se explica. Claro que era uma pessoa interessante. Nem imagina as histórias que me contou. Era cada uma. Valha-me Santa Ambrósia! Foram tantas, qual delas a mais curiosa e malandra. Estou certo de que só nós os dois é que as conhecíamos. Não acredito que as tenha contado a mais ninguém.
- Sim. Ele era malandro, mas nunca as contava. E se as contava ao senhor doutor era porque tinha muita confiança em si e fazia tudo o que lhe mandava.
À medida que a conversa decorria, tive que sorrir porque muitas das suas histórias assobiavam ao meu ouvido como se estivesse a ouvi-las da boca do próprio. Presumo que foi a primeira vez que ri a propósito da notícia da morte de alguém. Mas que fazer? Se ele pudesse ouvir a conversa decerto que daria umas boas gargalhadas e ainda era capaz de contar mais algumas historietas. Não tenho qualquer dúvida! 

No meio da confusão ainda há quem serenamente procure explicar...

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Economia espanhola oferece-nos simpática boleia?

1. Como já aqui referimos, a economia espanhola tem vindo a emitir sinais de vida mais intensos,reflectidos em especial nas sucessivas quedas do nº de desempregados: no 2º trimestre deste ano contabilizaram-se menos 225.000 desempregados, fazendo o número total baixar dos 6 milhões (5,98 milhões) e a taxa de desemprego baixar 0,9 pontos para 26,3% (ainda enorme, obviamente).
2. Informações recentes (B. Espanha) sugerem que a economia terá praticamente estabilizado no 2º trimestre, esperando-se uma variação do PIB em cadeia de -0,1% (-0,5% no 1º trimestre), e antecipando-se uma retoma no 2º semestre do ano.
3. Mais importantes, para a economia portuguesa, são os dados quase surpreendentes do comércio externo: depois de um aumento de 2,4% no 1º trimestre, as exportações de bens portuguesas para Espanha aceleraram nos 4 meses até Abril (+5,6%) e mais ainda até Maio (+7,4%).
4. No grupo de 10 maiores clientes das exportações portuguesas, o ritmo de crescimento das exportações para Espanha nos primeiros 5 meses deste ano foi apenas superado pelas exportações para Angola (+10,7%) e para os Países-Baixos (+8,2%), enquanto as vendas para a Alemanha (-2,4%) e para França (-0,4%) perderam terreno.
5. A manter-se (já nem digo acentuar-se) esta evolução, pode bem acontecer que a Espanha, para além de reforçar a sua posição como principal mercado de destino das nossas exportações de bens (23,5% em Maio), venha também dar um forte contributo para a ultrapassagem da recessão em Portugal, oferecendo-nos assim uma simpática e oportuna boleia para a estação do Crescimento.
6. Tudo isto constitui mais do que fundamento para os Crescimentistas, cujas fileiras estão felizmente engrossando dia a dia, afirmarem em voz forte: “arriba, Espanha”!

quinta-feira, 25 de julho de 2013

O mercado das evidências nacionais


Se pudéssemos trocar as "evidências"nacionais por euros estou certa de que estaríamos numa situação financeira muito confortável. Desde que as tais evidências fossem tomadas pelo seu valor instantâneo, claro, nunca pelo que valiam meia hora depois de ter sido anunciadas. Todos os dias, logo pela manhã, o sobe e desce das bolsas ou dos juros da dívida evidenciam mil coisas, políticas certas ou evidentemente erradas, reacções a discursos ou a zangas, aplausos a comentários ou a estados de espírito mal disfarçados. O boletim de execução orçamental também vem carregado de evidências que é preciso alardear no segundo preciso em que são lidas, compara-se número com número e aí estão, reluzentes, mais umas quantas evidências. Também é evidente a causa efeito dos resultados escolares, da data dos exames, do pequeno almoço nas escolas, assim como é evidente o efeito da chuva e do sol,os fluxos de trânsito ou o número cabalístico dos veraneantes na praia de Carcavelos ao dia de semana. Todas estas e muitas outras evidências deviam dar lugar a um clima de confiança, é tudo tão "óbvio" e tão fácil de interpretar que quem não responde logo com a "solução" rápida na ponta da língua ou anda a dormir ou não sabe o que anda a fazer. Quando as evidências nos atraiçoam, concluímos que "está tudo errado" ou então quiseram enganar-nos sabe-se lá em nome de que obscuros interesses. Se pudéssemos vender as evidências seríamos um país muito próspero, mesmo que fizéssemos grandes saldos ainda teríamos lucro.

Um País formiga e um Estado cigarra...que contraste!

1. Os dados mais recentes quanto ao desempenho da economia portuguesa confirmam, com crescente evidência, o que aqui referimos por mais de uma vez: estamos a testemunhar uma verdadeira revolução económica, que se traduz numa total inversão do desequilíbrio de contas com o exterior em que o País viveu durante mais de 15 anos e que nos endividaram até ao limite das forças...
2. A informação da última edição do Boletim Estatístico do BdeP, divulgado na semana passada, referente ao período até Maio, é muito elucidativa a este respeito, como se depreende pela evolução das principais rubricas da Balança de Pagamentos com o exterior:

– Saldo das Balanças de Bens + Serviços = + € 875 milhões

- Saldo das Balanças Corrente + Capital = + € 1.437 milhões

3. Em função do padrão habitual intra-anual, estes excedentes deverão aumentar significativamente nos próximos meses, tendo o BdeP, no Boletim Económico de Verão, divulgado também na pretérita semana, apresentado projecções de superavits para o conjunto do ano em curso que atingem 3% e 4,5% do PIB para as Balanças de Bens+ Serviços e para as Balanças Corrente+Capital, respectivamente, aumentando para 4,9% e 6% do PIB em 2014.
4. Ao mesmo tempo, existem informações que parecem confirmar que a economia terá abandonado tecnicamente o “mood” recessão já no 2º trimestre do corrente ano, esperando-se que o PIB venha a apresentar uma variação positiva, em relação ao trimestre anterior, após 10 trimestres SUCESSIVOS de declínio...
5. E, certamente baseado nessas mesmas informações, o BdeP, no referido Boletim Económico, apresentou um cenário para o comportamento do PIB no corrente ano que, sendo ainda negativo, se mostra no entanto menos negativo do que o anterior - a previsão é agora de uma queda do PIB de -2%, a anterior era -2,3%, cumprindo recordar que em 2012 foi -3,2% - abrindo-se perspectivas de estabilização ou mesmo de ligeiro crescimento em 2014.
6. Ao mesmo tempo que isto acontece, pondo em evidência o enorme esforço que tem vindo a ser realizado pela economia privada, (i) que se mostrou capaz de se adaptar às dificílimas circunstâncias que a terrível inépcia dos políticos lhe criaram e culminaram na espectacular confissão de derrota do Memo de Entendimento celebrado em Maio de 2011, (ii) que “arregaçou as mangas”, (iii) que trabalhou sem descanso, sem entrar em greves, (iv) que foi capaz de se reestruturar com muito sacrifício para tantos, (iv) que passou a vender muito mais nos mercados externos do que no mercado doméstico, (vi) que foi, em suma, capaz de mudar radicalmente de vida...
7...o Estado, com os seus diferentes sectores administrativos e empresariais, continua a resistir quanto pode a mudar de vida, a reestruturar-se (ainda não se reestruturou, salvo em alguns sectores muito específicos), continua obeso e anafado, gastando o que pode e o que não pode, acumulando dívida crescente, voltando a subir a despesa com a preciosa ajuda do TC (como se vê pela informação orçamental ontem divulgada), agravando extraordinariamente a tributação sobre o sector privado para poder manter seus vícios, fazendo greves a torto e a direito para conservar vantagens que o País não pode mais sustentar...uma cigarra incorrigível, em suma! Que impressionante contraste!

Da série "Indicios da falta de universalidade do Serviço Nacional de Saúde"

«O coronel Vasco Lourenço, um dos arquitetos da revolução que, em 25 de abril de 1974, devolveu a democracia a Portugal, considera que os mais altos dirigentes do país estão ao serviço do estrangeiro e, por isso, "temos de defenestrá-los, como fizemos ao Miguel de Vasconcelos, em 1640"». Anedota da revista Visão.

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Racionalidade das leis orgânicas...

A propósito da reforma do Estado, seria uma boa decisão estabilizar a estrutura orgânica do governo. Os custos das alterações das orgânicas dos governos são elevados. Não há governo que se preze que não queira redesenhar a orgânica de acordo com o seu querer. Há sempre razões para o justificar. Sempre haverá necessidade de ajustamentos para responder a diferentes programas de governo, mas ajustar não deveria significar mais do que fazer acertos. 
Não é apenas o custo da instabilidade que está em causa, são também os custos do tempo que os governantes consomem na sua elaboração, incluindo a respectiva legislação (“leis orgânicas”), e os custos de adaptação e gestão dos serviços envolvidos.
Custos que poderiam ser poupados em benefício de mais tempo para a decisão política e a favor do normal funcionamento dos ministérios e serviços públicos.

"Triste país"...


Uma tarde livre é algo pouco habitual. Quis o acaso, e a época, que hoje tivesse possibilidade de fazer algo de diferente. Fui até à Figueira da Foz. É raro ir até aquelas bandas, que, noutras épocas, constituía um ponto de referência estival de máxima importância. O tempo passou e quando o tempo passa muda tudo, sobretudo os velhos hábitos. Ao chegar à cidade, a mente, liberta de preocupações, deixou-se inundar por inúmeras recordações que se sobrepunham de forma intemporal. O compasso de espera para uma brevíssima reunião permitiu verificar o apagamento de velhos pontos de referência. Triste ver esse apagamento. Dói. Mas também dói o vazio humano que se prolongava pelas ruas e até pela praia. Um vazio humano, um vazio de sentimentos e um vazio de esperanças. Dói ver a decadência a desfilar perante os olhares de quem se entretém, durante uma bela tarde, a analisar os passantes e o ambiente. Perguntei o que se passava, como se fosse muito complicado encontrar as explicações. Apenas queria ouvi-las de outra boca. Não quis ficar na cidade luz e fui até Cantanhede. Não fiquei muito tempo, cheguei como os gaiteiros, na véspera da inauguração da feira. Acontece chegar antes do tempo. E agora? Bom motivo para ir jantar à Mealhada, há muito que não comia peixe de tão bela região. Mas ainda era muito cedo e desloquei-me até à Curia. Um local esplendoroso com história e encanto. Andei pelo parque. Sedutor, vazio de gente, vazio de sentimentos e vazio de esperança. Nem a fonte dos desejos me cativou, há muito que ficou surda e cega. Algumas folhas castanhas impregnavam o chão como que antevendo um outono prematuro. Dói ver um local tão belo vazio. Pensei, o país está morto. Só pode. Passeei e inebriei-me de lembranças do passado, as minhas e de muitos outros. Cheguei à Mealhada e lambuzei-me sem escrúpulos. Há dias em que temos necessidade de esquecer certas coisas, para isso nada melhor do que um estômago saciado capaz de morfinizar o cérebro. Enquanto o fazia, o vazio humano instalava-se no restaurante. O país está morto, pensei. Acabei o repasto e fui dar uma volta para esmoer. Andei por ruelas que nunca tinha visto. Escondidas, começaram a revelar algo de surpreendente que o sol dourado realçava de forma despudorada. Casas, muitas casas degradadas, mortas como os seus proprietários. Um vazio humano num cemitério de casas vazias. O país está morto. Mas está mesmo. 
Os espaços por onde passei durante a tarde foram, em épocas mais ou menos remotas, pulmões sociais, músculos de atletas, belos paraísos, fontes de riqueza, penedos de saudade, antros de alegrias e de esperanças, no fundo altares de almas de portugueses. Hoje, estavam vazios. Incomoda-me o vazio, incomoda-me a agonia de um povo, que parece ter aceitado com resignação a morte anunciada. Triste país.

Sobre o incipiente

"O incipiente hodierno, da aldeia global que é a televisão, não é um indivíduo mediano, como o marido que aparece no ecrã a acusar a mulher de lhe ser infiel. É um indivíduo que está acima da média. Convidam-no para participar nos talk shows e nos concursos, precisamente porque é incipiente. Porém, o incipiente televisivo não é necessariamente um atrasado. Pode ser um espírito bizarro (como o descobridor da Arca Perdida ou o inventor de um novo sistema para o movimento perpétuo, que durante anos bateu à porta de todos os registos de patentes e de todos os jornais, e que finalmente encontra alguém que o leva a sério); pode também ser um escritor de trazer por casa que todos os editores se recusam a publicar, mas que percebeu que mais eficaz do que escrever uma obra-prima era baixar as calças em directo na televisão e dizer palavrões durante os debates culturais; ou pode ser a bas-bleu da província, que encontrou finalmente um político que se dipõe a ouvi-la soletrar umas quantas palavras difíceis a propósito das suas experiências extra-sensoriais.
Antigamente, quando os clientes da tasca faziam o incipiente ultrapassar o limite do tolerável, intervinha o presidente da junta, o farmacêutico, um amigo da família, que agarrava no desgraçado e o levava a vasa. Hoje, pelo contrário, ninguém leva o incipiente da aldeia global da televisão para casa, nem ninguém o protege, e o incipiente passa a desempenhar um papel semelhante ao do gladiador, condenado à morte para agradar à multidão. A sociedade, que protege o suicida da sua trágica decisão, ou o drogado do desejo que o iria conduzir à morte, não protege o incipiente televisivo; antes pelo contrário, encoraja-o, tal como antigamente se encorajavam os anões e as mulheres com pêlos a exibiram-se nas feiras populares".

Umberto Eco, A Passo de Caranguejo, Gradiva, 2012.

terça-feira, 23 de julho de 2013

"Lembrança"...

Lembrar é viver, é degustar certos momentos da vida que deixaram as suas marcas, sem as quais não seríamos o que somos. Pequenas lembranças, mas suficientes para definir uma vida. Podemos deixar de entrar em contacto com a fonte que contribuiu para a nossa formação, a nossa vivência e quem sabe se para o nosso sucesso. Não interessa pesar essas lembranças, é suficiente dar-lhes a devida importância. Recordo o seu auxílio, as suas aulas personalizadas, a ida a casa e a doçura do trato. Soube ensinar com delicadeza para quem estava fragilizado. Aprendia facilmente sob o efeito de um doce sorriso e uma ternura maternal. Com o tempo, as melhoras do corpo e do espírito permitiam-me acompanhá-la a casa, como se a escuridão da época fosse algo de atormentador. Não era. Dava-lhe o braço e sentia que era um herói, alguém que passava de protegido a protetor. Gostava desta cumplicidade. A distância entre as nossas casas não era por aí além, umas quatro centenas de metros que se faziam facilmente na altura em que o verão dava os primeiros passos. Conversávamos e via o céu estrelado, numa altura em que as estrelas ainda se mostravam com orgulho. Até as ouvia a cantar. Aprendia com muita facilidade, talvez devido a esta estranha combinação, doçura das palavras, ternura e compreensão pela minha situação, orlada de belas e brilhantes estrelas sacudidas pelo calor da noite. Frequentei as suas aulas, sempre doces. Nunca gritava. Nunca bateu. Um perfeito contraste com o primário do professor primário a quem nutria e nutro algum desprezo. Mais tarde via-a de quando em vez. Respeitosamente cumprimentava-a com muito prazer. Fui ao seu casamento. Tive direito a um fato feito no alfaiate da terra. Foi em Fátima. Foi a primeira vez que lá fui. Não me esqueço da festa e nem do que vi. Memória de criança regista tudo. No regresso, o carro do senhor Arnaldo, o homem da farmácia, um velho Volkswagen, teve um percalço, rebentou um pneu. O barulho assustou-nos. Foi mesmo em frente da estalagem de Santa Luzia, hoje em degradação total. Conseguiu resolver o problema do pneu, mas o barulho ainda perdura na minha cabeça. Depois via-a de tempos a tempos, cada vez mais espaçados, mas nem por isso menos delicados e ternurentos, recordando  outras épocas que iam enchendo as gavetas da memória. Acabei mais tarde por saber do seu infortúnio por causa de um problema de saúde, que se repetiu passados poucos anos na irmã gémea do seu peito. Já era médico e fui vê-la. Depois continuei a vê-la de tempos a tempos, cada vez mais espaçados e cada vez mais íntimos. Sempre que a via era como regressar a outros tempos, tempos em que me ensinava, em que eu aprendia, em que eu a acompanhava a sua casa. Recordo tudo com uma transparência que só as estrelas das noites escuras de então sabiam iluminar. Tenho o mapa celeste gravado na minha mente. Hoje nasceu mais uma estrela. Agora preciso de uma noite escura para a poder ver cintilar e ouvir o cantar das suas irmãs. Está lá com toda a certeza. Sinto o meu braço esquerdo a abraçar o seu braço direito. Sinto um estranho calor, doce, único, de um corpo que hoje desapareceu. Sinto-o e nunca mais poderei esquecê-lo...

"Beleza"...


Desde sempre que o homem procura a forma de perpetuar a beleza e atrasar o envelhecimento. Procurou e continua a procurar. Nesta ânsia de travar o processo de envelhecimento faz tudo o que pensa e o que nunca pensou. Presumo que não deve haver área onde a loucura atinge toda a plenitude. Poderia invocar fórmulas, dietas, rezas e muitas outras coisas sempre com o objetivo de travar a passagem do tempo. As células reconhecem como ninguém a sua finitude e acabam por sofrer as consequências. Mas o que interessa não é o que acontece às células e tecidos escondidos, o que pretendem é limpar o que ocorre à superfície da pele, escondendo a podridão ou a degradação mais profunda. Convencem-se de que se travarem o envelhecimento à superfície o problema está resolvido. No fundo traduz a primazia da superficialidade e das aparências, não muito diferente do que acontece com a vida social, académica, profissional e política. O que parece é! Claro que não é. 
Lembrei-me de escrevinhar este texto por ler lido uma nova forma de combater o envelhecimento e manter a beleza da pele. Como? Através de caracóis que se passeiam pelo corpo eliminando os seus mucos ricos em substâncias dotadas de propriedade antienvelhecimento. Uma delícia fabricada no Japão. Mas não são caracóis quaisquer. São caracóis alimentados com produtos orgânicos, entre os quais cenouras e acelgas suíças, entre outros. Claro que este aspeto deve ser para evitar a sua replicação noutros pontos do globo. Não tarda e vamos ter clínicas de caracóis. 
Esta prática vai somar-se a inúmeras outras que, de memória, passo a citar, banhos de vinho, de leite de burra, de chocolate, de morangos, extratos de placenta, sabão de leite de mulher, creme de caracol, esperma de touro (!), pele de prepúcio dos bebés, chispes de porco (não aconselhados a judeus e muçulmanos), picadas de abelhas e até um chá de um cogumelo, "cogumelo do tempo", que o louro artificial publicita na televisão. Enfim, não há falta de ideias para tentar travar o processo de envelhecimento. Entre os diversos produtos destacam-se os famosos polifenóis e os produtos ricos em colagénio e ácido hialurónico que ocorrem em muitas substâncias. As consequências são previsíveis, o tempo ri-se destas tentativas meio absurdas que pretendem retardar o que quer que seja. Nada para o tempo. Nem mesmo o uso de caracóis a passearem pelo corpo, deixando atrás de si toda aquela ranheta, que através de massagens irá penetrar na pele de muitas dondocas, vai conseguir parar o relógio da vida.
Tenho dúvidas se este processo irá ter sucesso em Portugal. Não porque não haja interessadas, mas porque os portugueses preferem comer os caracóis e caracoletas acompanhadas de cerveja fresquinha. No fundo, não deixam de fazer a terapêutica antienvelhecimento, mas fazem-no internamente. É mais saudável e dá prazer. Mas também estou convencido de que não irão ter grande sucesso porque não há caracóis suficientes em Portugal como tive oportunidade de ouvir aquando de um festival nacional para as bandas de Loures. Tiveram de importar caracóis de Marrocos! Ora, eu não acredito que os caracóis de lá sejam alimentados com produtos biológicos ou que tenham propriedades virtuosas, logo, o melhor é comê-los, caso gostem, claro!
Anda tudo maluco. O melhor é montar os candidatos a eternos jovens em fotões e mandá-los para o universo à velocidade da luz. Assim, talvez se mantivessem jovens e deixavam de chatear os caracóis, e não só...

"Vida longa eu lhe darei, e lhe mostrarei a minha salvação." Salmos, 91:16 (II)

Tem inteira razão Pinho Cardão no post que antecede. Se um acordo alargado entre os partidos em alternância beneficiaria o País, foi o País que mais uma vez ficou esquecido no desacordo a que se chegou. A nú ficou a falta de sentido de Estado pressentida por muitos. Revelou-se também a dificuldade crescente de promover o desenvolvimento social e económico sem alterações profundas de regime, alterações que arrastem uma mudança de paradigma no sistema de partidos e no modelo de representação política que temos. Só assim se conseguirá melhorar a qualidade de quem dirige e de quem governa em nome de todos. Da democracia, em suma.
Porém, há que reconhecer que o desfecho deste episódio da crise política (crise que permanece enquanto permanecerem os fatores que a alimentam e que são sistémicos), se é preocupante do ponto de vista da incompreensível subordinação do interesse geral ao taticismo partidário, não deixou de traduzir duas importantes e positivas afirmações: (i) do sentido de responsabilidade revelado pelos parceiros sociais (CGTP naturalmente excluída), o que permite pensar que por aí se assegura uma das condições essenciais para a recuperação, o clima de paz social necessário para as reformas (assim não seja defenestrado este importante capital); e (ii) da garantia de que, contrariando a campanha que vinha sendo feita contra o PR e corrigindo erros de avaliação mas sobretudo de discurso do próprio, houve quem, no Palácio de Belém,  tivesse dado provas de estar à altura do momento e significar o garante institucional do funcionamento regular da democracia, num tempo de tutelas externas incontornáveis e, por isso, de particulares dificuldades na gestão política. 

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Vencido, o povo português.

Vencido foi o povo português, que merecia um acordo que lhe desse estabilidade e esperança.
Vencedores, por um momento, foram três tristes figuras: Soares, Alegre e Sócrates, em aliança contra o Presidente da República, até contra Seguro e sobretudo contra o povo.
É que, cheios de arrogância doentia e desmedida, nenhum deles perdoou ao povo as últimas e pungentes derrotas eleitorais que este justamente lhes infligiu. Por isso, tudo fizeram para que o povo fosse castigado. 
E, nos antípodas da democracia, continuam a arrogar-se de representação que expressamente lhe foi retirada. Mas que, ao abrigo de um poder eleitoralmente não validado, por isso, antidemocrático, os media lhes continuam a conferir. 
Quanto aos outros, Passos, Portas e Seguro, foram parceiros menores. É o que acontece a quem não sabe usar da legitimidade democrática para constituir projectos que sirvam o povo e nos quais o povo se reveja. Sinais de um tempo perdido.

O Papa Francisco já está no Brasil...

O Papa Francisco já está no Brasil, mas os seus apelos sobre o futuro dos jovens e por uma sociedade intergeracional inclusiva ecoam por todo o mundo, com a rara simplicidade e a natural verdade a que já nos habituou. Saibamos ler a sua mensagem, deixemo-nos tocar pela sua bondade. 

"A crise mundial não faz nada de bom pelos jovens. Corremos o risco de ter uma geração que não tem trabalho, ora é do trabalho que vem a dignidade da pessoa”, afirmou o primeiro Papa sul-americano no avião que o levou de Roma ao Rio de Janeiro.
Os jovens são o futuro, repetiu, “mas um povo não são só os jovens”. “Eles são o futuro porque têm a força, são jovens, avançam. Mas no outro extremo da vida, os mais velhos são também o futuro de um povo. Têm a sabedoria da vida, da história, da pátria, da família, e nós também precisamos disso”, (...). “E por isso digo-vos que vou ao Rio encontrar os jovens, mas no seu tecido social, principalmente ao lado dos mais velhos.”
“Estamos a acostumar-nos à cultura do descarte”, (...). “Fazemos isso com os mais velhos, mas agora também o fazemos com os jovens sem trabalho”,  (…). “Devemos eliminar esse costume de descartar”, (...). “Devemos caminhar para a cultura da inclusão, do encontro. Temos de fazer um esforço para integrar todos na sociedade.”

"Religião e vacinação"...


Desde há muito tempo que certos movimentos se caracterizam por se oporem à vacinação das suas crianças. Os argumentos são vários, mas quase sempre de natureza ideológica e religiosa. São formas de contestação curiosas, uns dizem que é antinatural, que as crianças devem apanhar as doenças, que não devem ser sujeitas a "agressões" de origem humana, que as próprias vacinas são causa de doenças e há quem defenda a "ecologia normal". Há quase sempre uma atitude de rebeldia face à tentativa de criar uma ordem em que a saúde e o bem-estar sejam realidades palpáveis. Considero que dentro da esfera médica não há nada que consiga igualar-se ao poder e alcance das vacinas. Uma das principais conquistas da civilização que já permitiu erradicar uma doença, a varíola, e até poderia erradicar mais, como é o caso da poliomielite que ainda grassa em determinadas partes do Globo por incúria e desconfiança das autoridades religiosas islâmicas que veem neste processo uma forma de esterilizar os muçulmanos! 
Na Europa as coisas estão a complicar-se, caso da Inglaterra e agora da Holanda, no que toca à vacinação contra o sarampo. Nos Países Baixos, no chamado "cinturão bíblico", onde predomina o calvinismo, a palavra de ordem é respeitar o "plano de Deus", logo, nada de vacinação contra o sarampo. Alguns pais desta religião quando veem os filhos doentes chamam à socapa os médicos a casa com medo de represálias religiosas. As autoridades de saúde tentam convencer os dirigentes religiosos afirmando que não querem por em causa Deus e nem as crenças dos seus seguidores mas que as vacinas também podem ser consideradas como estando no "plano de Deus". Pois! Parece que não aceitam este argumento. O que se sabe é que o surto epidémico que se tem vindo a observar na comunidade calvinista é muito preocupante havendo já crianças com graves sequelas. 
De facto, quando as ideologias e as religiões se metem nestas áreas sai asneira e quem paga são sempre os mesmos, as frágeis e inocentes crianças. Será que faz sentido invocar o "plano de Deus", seja ele qual for? Parece-me bem que não.

"Vida longa eu lhe darei, e lhe mostrarei a minha salvação." Salmos, 91:16 (I)

A maioria dos comentadores e analistas continua a discorrer sobre quem ganhou ou quem perdeu com a crise política e com o desfecho das negociações entre os partidos. Ontem, na habitual prédica dominical, o Professor Marcelo opinava que a crise por um pouco não era mortal para o líder do PS; que os líderes do PSD e do CDS PP milagrosamente resuscitaram ao 3ª dia.
O que continua a interessar parece ser a política pequena, feita de fait divers, de afetividades e cumplicidades, de farpas, de construção de factos políticos e de calculismos. Poucos, muito poucos, são os líderes de opinião que se preocupam com a morte do País e com a impossibilidade de ressureição se continuarmos o caminho da divergência quanto ao que é essencial. Poucos parecem ser os que ouvem as palavras e aceitam como boas as motivações do Presidente da República.
Neste clima de endógena conspiraçãozinha à portuguesa - clima que constitui o abono de família de muitos -, faça-se o justo registo das exceções: os parceiros sociais, CGTP excluída, naturalmente. É de sublinhar o elevado e patriótico sentido de responsabilidade dos seus dirigentes. Alguns dos atuais líderes partidários deveriam por os olhos no seu comportamento. 
A bem da Nação.

domingo, 21 de julho de 2013

"Facciosismo"...


Sou um faccioso. Ensinaram-me que tinha de pertencer a um grupo, a uma religião, a uma corrente política, a um clube de futebol e que tinha de tomar partido por um ou por outro. Na escola os rapazes faziam pequenos grupos e se não pertencêssemos a um deles levámos "porrada" de todos. Assim sempre se evitava ser agredido porque havia quem viesse em socorro. Quando pertencia a um grupo ou fação ouvia vários tipos de argumentos, eram os melhores, os superiores, enquanto os outros não prestavam, eram maus ou perigosos. Se não pertencesse ao grupo que ia à igreja diziam que era obra do diabo e que ia para o inferno, um local horrível, onde o cheiro a carne queimada deveria ser intolerável. Ouvi, algumas vezes, naquele tempo, o padre a denegrir e a ofender um coleguinha por ser filho de um pastor protestante. Como não havia mais ninguém que pertencesse aquela religião o pobre do rapaz não entrava nos nossos jogos no adro, não assistia à catequese e praticamente não brincava. Andava sempre triste. Eu, como pertencia ao grupo dominante, pedi, um dia, ao padre para o deixar entrar e assistir às nossas lições. Olhou-me com um ar furioso e a gaguejar deu-me um empurrão como se quisesse enfiar-me diretamente no inferno sem ter direito à passagem pelo purgatório. Senti medo. Ainda hoje consigo reviver o estranho brilho que libertou dos seus olhos. Não soube classificar. Calei-me e pus-me atrás de todos os outros meninos. Estávamos no coro, onde ele tocava num órgão. Fiquei-lhe com um pó dos diabos e quando voltou a teclar, e a cantar, fiz-lhe um manguito, e, pé ante pé, desci pelas escadas. Fui brincar com o menino protestante. Interroguei-me por que razão o menino não poderia entrar na igreja, o pai dele não deixava e o padre também não. Que coisa tão estúpida, pensei. Mas não fiquei por aqui. Tinha de pertencer a um clube de futebol. Na escola havia os benfiquistas, os sportinguistas, e três desalinhados, um do Belenenses e dois portistas. Eu era um destes dois. Que chatice. Fui obrigado a ser de um clube por tradição familiar. Na altura o FCP não ganhava praticamente nada, mas eu coleccionava pancada de três em pipa dos benfiquistas e dos sportinguistas, e não podia jogar por nenhuma das equipas, logo, ficava de fora. Insultavam e agrediam, tudo por sermos de clubes diferentes. Eu perguntava se era necessário serem tão brutos. Resposta, dois estalos e alguns empurrões, mas eu não me ficava, ficava era com marcas que depois em casa eram "tratadas" de várias maneiras, com mercurocromo e alguns "conselhos"! E como se isso não bastasse a besta do professor, um benfiquista ferrenho, fazia o resto, palmatória nas mãos às segundas-feiras. À entrada na sala, em fila indiana, tomávamos o "pequeno-almoço" da derrota ou do empate do seu clube. Aqui, nem os benfiquistas se safavam. Mais tarde comecei a ter opiniões políticas, inicialmente calado, em surdina, não fosse o diabo tecê-las. Não me esqueço de ser obrigado a saudar os senhores do regime, nas inaugurações, nas festividades e nas missas por isto ou por aquilo, uma chatice essa coisa de ter ir à missa para rezar pelo fulano. Eu ia, mas contrariado, e não rezava, era o que mais faltava, fingia. Claro que tinha de fingir, porque em casa ouvia que o "gajo" era um sacana da pior espécie e que tinha mandado prender e dar pancada ao meu avô. E agora tinha de rezar por ele? É o rezas! Se ele soubesse o que pensava durante a cerimónia religiosa! Pois, mas era obrigado a pertencer a um grupo.
Mais tarde, muito mais tarde, apareceram os partidos políticos, cada um com a sua ideologia. Não me foi fácil posicionar ao princípio. Sabia o que não queria, sabia que não queria pertencer a certos grupos. Com o tempo consegui ajustar-me. Porquê? Porque tinha de pertencer a um grupo, porque as regras eram essas, embora não acreditasse que algum tivesse a verdade absoluta. Com o tempo verifiquei que os partidos políticos se comportavam como grupos facciosos, arrogantes, julgando ser melhores do que os outros. Querem convencer-nos de que isso é verdade, mas não é, não passam de produtos sociais que alimentam e se alimentam do facciosismo. Em vez de conjugarem esforços e partilharem ideias para encontrar as melhores soluções para o país, não, castigam-nos com sobranceria, arrogância, petulância e uma superioridade patética. Por vezes parece-me que estou a ver aquele estranho brilho do olhar do padre quando lhe pedi para deixar entrar o menino protestante. O melhor é sair sorrateiramente, mas antes vou fazer um manguito. Aprendi muito cedo a linguagem "gestual"...

sexta-feira, 19 de julho de 2013

O verdadeiro problema nacional...

O compromisso de salvação nacional falhou. Mudou alguma coisa? Não, as necessidades de salvação nacional mantêm-se. O interesse superior do país foi vencido. Ouvi há pouco Adriano Moreira numa reflexão lúcida sobre o falhanço. Ficou claro que não há perspectiva de acordo no futuro. Não há conciliação nacional. Não há margem de cedência. Há projectos políticos incompatíveis de visão sobre o país, por isso não houve cedência de parte a parte. Este é o verdadeiro problema nacional.

Mais adiante, Adriano Moreira manifestou a sua convicção de que a situação perigosa em que o país está mergulhado se vai agravar de tal forma que a negociação da austeridade e da viabilidade económica do país terá que ser feita ao mais alto nível na Europa. Não é a primeira vez que ouvimos Adriano Moreira apontar que a dignidade do Estado é ofendida quando os ministros falam com técnicos contabilistas da Troika sobre as brutais dificuldades do país.

A independência do juiz

Perez de los Cobos é o presidente do Tribunal Constitucional espanhol. A investigação do caso Barcenas levou à descoberta que de los Cobos é filiado no PP, pagante de quotas, pouco mais de 37 euros por ano a crer no que relata hoje o El Pais. Esta notícia está a desencadear uma saudável polémica no país vizinho: podem os juízes pertencer a partidos políticos, mesmo os juízes do Tribunal Constitucional que muitas vezes modela o direito através da utilização de critérios materialmente políticos?
Esse debate tem perfeito cabimento em Portugal pese embora os nossos brandos costumes também se revelarem na quase ausência de polémica quando, há uns anos atrás, as imagens televisivas mostraram um senhor juiz conselheiro do Supremo Tribunal de Justiça, vice presidente do Conselho Superior da Magistratura, de cachecol partidário ao ombro, comemorando, efusiante, na sede do partido, a vitória nas eleições desse dia. Ou quando escassos dias depois de ser escolhido juíz do Tribunal Constitucional pela AR o eleito não ter tido pejo em aceitar convite para ministro. Não teve ele pejo nem quem o convidou sentiu haver qualquer constrangimento moral ou ético. Ou quando nas TV e na rádio, em artigos de jornal, se assiste a magistrados em funções, muitos deles pertencendo aos tribunais superiores ou aos órgãos de governo das magistraturas, criticarem opções políticas, censurarem comportamentos partidários com mais veemência e parcialidade do que muitos dos dirigentes dos partidos.
Esse debate é decisivo e há que enfrentá-lo sem receios nem complexos. Está em questão a credibilidade do poder judicial, se quiserem, dos tribunais - também do Tribunal Constitucional -, que em tudo depende na confiança pública na imparcialidade e isenção dos juízes. A nossa Constituição, para garantir a independência e isenção dos magistrados, protege-os com um estatuto que os torna inamovíveis e irresponsáveis pelas decisões que tomem. Estatuto que não encontra paralelo em qualquer outro titular de órgãos de soberania. A proibição (que em Portugal é legal e em Espanha é constitucional) de pertença a partidos políticos deveria ser mais do que uma exigência formal, deveria ser um imperativo de distanciamento da cena política, garantindo o mais possível que os critérios da lei não são substituídos pelas convicções do juíz, ou à legitima discricionariedade da opção política, emergente da legitimidade eleitoral, não se sobrepõe um poder de fazer a lei no caso concreto. Talvez assim se evitasse que, como hoje sucede, sejam os juizes e não os governantes a decidirem abrir ou fechar maternidades, escolas, centros de saúde ou hospitais...
 
Esta exigência de distanciamento faz todo o sentido também em relação aos senhores juizes conselheiros do Tribunal Constitucional. Numa certa dimensão faz até mais sentido e deve levar-nos a repensar seriamente o modelo de justiça constitucional que temos. Mas isso são contas do rosário seguinte.

Vale a pena pensar nisto


Do artigo de Francisco de Assis no Público de hoje:
" Sem que nunca estivesse em causa a manutenção da identidade política mais profunda de cada força partidária, muitas foram as ocasiões em que prevaleceu um útil sentido de compromisso (...) Onde estaríamos hoje se tal não tivesse acontecido, e se alguns lideres da época não tivessem sabido correr o risco da incompreensão junto dos seus mais próximos?
Curiosamente, nos últimos anos temos vindo a assistir a uma decrescente disponibilidade para o consenso que, não raras vezes, é apontado como tentação de renúncia humilhante e de traição. Os líderes políticos procuram prestigiar-se pelo radicalismo discursivo e pela apologia irrestrita de convicções enunciadas de forma cada vez mais simplista. A cativação do espaço público por uma linguagem primária, excessivamente emotiva, subsidiária da representação mental do mundo das telenovelas com as suas metáforas corriqueiras concorrerá em muito para o triunfo deste modo de intervenção política. (...)".

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Não haverá por aí um restinho?


Intervalo na "silly season"...

Chama-se Marreta, de Viana do Castelo. Revoltou-se.
Fugiu do seu destino mais certo.
Escondeu-se tão bem que foram necessários seis dias de buscas para o encontrar.
Foi salvo por uma campanha no Facebook.
Foi, então, levado para uma quinta em Aveiro onde viveria o resto dos seus dias.
Mas o Marreta voltou a fugir.
Cruzou-se com um morador de Salgueiro, parecia assustado. Foi avistado pela GNR, mas embrenhou-se numa zona de pinhais, escapando assim à captura.
Não há sinais de rastos. As buscas prosseguem, parece que há riscos de segurança para as pessoas, embora o Marreta, dizem, não investe, está apenas amedrontado.
A quinta que o acolheu, graças à angariação de fundos no Facebook, ainda não perdeu a esperança de o ver regressar. Gostavam dele.
Um grupo de voluntários ofereceu-se, entretanto, para fazer uma batida na zona. Querem encontrar o Marreta com vida e trazê-lo de volta à quinta onde será tratado com todas as comodidades bovinas.
Tornou-se uma figura mediática, as redes sociais simpatizaram com ele.
É um touro com história, pesa 500 quilos, só tem um corno, fugiu a caminho do matadouro, não se conformou com o destino traçado para todos os da sua condição. Um sobrevivente.
Com tanta gente preocupada com o seu bem-estar, o que terá levado o Marreta a saltar as cercas da quinta e andar por aí escondido? 

Tenham um bom dia

uns, com os olhos postos no passado
Uns, com os olhos postos no passado,
Vêem o que não vêem; outros, fitos
Os mesmos olhos no futuro, vêem
O que não pode ver-se.

Por que tão longe ir pôr o que está perto-
A segurança nossa? Este é o dia,
Esta é a hora, este o momento, isto
É quem somos, e é tudo.

Perene flui a interminável hora
Que nos confessa nulos. No mesmo hausto
Em que vivemos, morreremos. Colhe
O dia, porque és ele.

ricardo reis

quarta-feira, 17 de julho de 2013

"Salvação Nacional": servirá um qualquer Acordo?

1. Os 3 partidos do chamado “arco da governação” parecem ter-se comprometido até ao final da corrente semana a apresentar resultados das frenéticas negociações em que têm estado envolvidos com o objectivo de conseguir um Acordo em torno dos princípios enformadores da política económica e financeira a vigorar até ao final do PAEF (supostamente Junho de 2014) e pós-PAEF - incluindo, eventualmente, um anexo com calendário político-eleitoral.
2. Vamos admitir que é possível a celebração de tal Acordo, a ser rubricado em luzidia cerimónia pelos negociadores ou mesmo pelos líderes dos 3 partidos, no próximo fim-de-semana.
3. A principal interrogação que se deve colocar nesta altura é a de saber para que servirá um hipotético Acordo que, por exemplo, e por impossibilidade de encontrar maior denominador comum, se limite a um enunciado dos princípios gerais a que deva subordinar-se a política económica no horizonte temporal considerado...
4. ...deixando sem resposta as questões mais duras e quentes da governação, designadamente a decantada “Reforma do Estado” e suas implicações em termos de redução permanente da despesa pública que a Troika considera “pedra angular” das reformas por concluir.
5. Um Acordo que, para conseguir a rubrica dos 3 partidos, fuja a tratar essas questões mais difíceis da governação/PAEF e se limite, por hipótese, a reiterar a necessidade de serem cumpridos os objectivos orçamentais do PAEF, com mais ou menos rigor, bem como a reafirmar o propósito de cumprir a trajectória descendente do rácio Dívida Pública/PIB...
6. ...de forma a atingir um valor não superior a 100% em 2020 e a 60% em 2032 - poderá constituir um momento musical de grande beleza e exaltação patriótica mas na prática, bem “espremido”, servirá para muito pouco.
7. Num cenário mais carregado, um Acordo em que, porventura, seja afirmada a necessidade de renegociação dos termos do PAEF – o que colocaria desde logo a impossibilidade de o concluir até Junho de 2014, com fortes dúvidas existenciais quanto a eleições nessa altura – sem ser preciso quanto aos novos objectivos do Programa bem como às medidas a tomar e como negociar com a Troika...
8. ...omitindo, especialmente, as fontes de financiamento adicionais que uma eventual revisão do PAEF possa requerer (quase inevitável em cenário de revisão), será uma solução do tipo “pior a emenda que o soneto”, representando um convite aberto aos investidores para que saiam da dívida pública portuguesa antes que venha por aí um PSI porventura não tão duro como o da Grécia mas “quand même”...
9. A ver vamos, pois, que tipo de Acordo aí vem...uma semana de negociações parece tempo + que bastante para negociar um “Acordo de Salvação Nacional” em matérias que já estão praticamente pré-definidas (PAEF)...esperemos, pois, que as negociações não redundem num Acordo do tipo “Salve-se Quem Puder”...

terça-feira, 16 de julho de 2013

Da série ´titulos fantásticos'


Mais um Elefante Branco!...

1. Por momentos não quis acreditar no que vi ontem em reportagens de TV: a inauguração de mais um grande Centro Cultural, desta vez em Viana do Castelo, com a assinatura do consagrado arquitecto Souto Moura, um custo (inicial, claro) de algumas dezenas de milhões de Euros (a que por graça continua a chamar-se Investimento)!
2. O edifício lá está na sua imponência, com linhas arquitectónicas desafiantes da nossa imaginação, materiais de primeiríssima escolha, uma beleza para encher os olhos dos Vianenses e não só...
3. Paradoxalmente, os mesmos media que noticiaram esta memorável inauguração, tinham divulgado, poucos dias antes, a situação aflitiva com que diversos hospitais se debatiam pela falta de instalações de ar condicionado, vendo-se forçados a utilizar métodos de recurso, alguns muito primários mesmo (despir os doentes, por exemplo), para que os seus doentes pudessem aguentar a vaga de calor que se fez sentir...
4. Mas o novo Centro Cultural lá está, preparado para gerar défices de exploração por tempo indeterminado, que a nossa infinita generosidade e paciência de contribuintes fiscais, de sujeitos passivos de imposto, permitirá que sejam mantidos para glória desta amada Pátria Lusitana...
5. Mais um Elefante Branco, em suma, a juntar a centenas ou milhares de outros que enchem o País de norte a sul e que explicam, em boa parte, a situação financeira aflitiva a que chegamos mas que ninguém - pelo menos daqueles que mais se fazem ouvir nos “media” escritos ou falados - ousa denunciar com receio de serem apelidados de inimigos da boa cultura...
6. Este novo Elefante Branco tem pelo menos uma vantagem: para aqueles que ainda possam iludir-se quanto ao comportamento da esmagadora maioria da classe política central, regional e autárquica, cuidando que esta crise lhe serviu de lição e que para o futuro vão mudar de atitude e ser mais criteriosos na utilização dos recursos públicos, este episódio vem aconselhar que não se iludam...

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Certezas e incertezas...

No fim de semana ouvi alguém comentar numa reportagem na televisão que é urgente acabar com a incerteza, que os partidos têm que decidir se querem ou não acordar no compromisso de salvação nacional. As definições e noções de incerteza como temos tido ocasião de verificar são múltiplas, à vontade do freguês, há para todos os gostos. Há quem veja no não compromisso de salvação nacional a solução para a incerteza. Os partidos sentaram-se, entretanto, à mesa, já não é mau, e fizeram juras de que no final da semana haverá fumo branco. Alcançar um compromisso desta natureza, não sabemos ainda o que entendem por salvação nacional, obriga, com certeza, a colocar os interesses do País acima de tudo. Não se trata de ir pelo caminho, como gostam de fazer, de esgrimir culpas para obter vantagens políticas ou de entrar em calculismos de poder. As culpas são conhecidas e estão atribuídas. De calculismos estamos cansados e desgraçados. Os partidos têm jogado demasiado na incerteza, para depois dela retirarem vantagens. Chegámos a um ponto de degradação política perigoso. A confiança é negativa. Uma certeza temos: a desconfiança é causa da incerteza. Acumulámos muitas e variadas crises por demasiado tempo. Andámos sempre pouco preocupados em as evitar e atrasados na sua resolução. O tempo passou, implacavelmente. A situação exige realmente uma solução de salvação nacional. Esta é uma certeza.

É complicado!

O que parece é que nos tornámos especialistas em problemas, não sei se já repararam mas uma das expressões que mais se ouve é "é complicado". Descreve-se um acontecimento, e "é complicado", faz-se uma reportagem na rua e as pessoas acabam sempre com a frase "é complicado" pergunta-se aos alunos se o exame correu bem e eles hesitam, procuram as palavras e lá vem "é complicado". A síntese da moda  centra-se no problema, na dificuldade, e nunca na solução que possa antever-se. De certa forma, não se fecha o assunto, fica assim em suspenso o desfecho, ser "complicado" desculpa que ainda se esteja assim, sem saber, sem decidir, mas permite que se acentue uma angústia em relação a quem deveria vir em socorro do aflito mas que o deixa ali, na complicação, tão enredado na circunstância negativa que levou à notícia e sem saber como há- de sair dela. 
Ouvir a comunicação social com todo o vasto leque de quem se quer pronunciar sobre o que nos vai afligindo mostra de facto esta nossa incongruência. Sorvemos avidamente as notícias, especamos em seguida a ver e ouvir tudo o que nos possa trazer alguma luz e nicles, é só os problemas, vistos de todos os ângulos, de todas as motivações, expostas as suas sombras mais sombrias e as suas luzes mais encadeantes, ao fim de umas horas os problemas aumentaram e tornaram-se inevitavelmente insolúveis, tantos e tais são os seus cambiantes e as armadilhas que escondem as hipotéticas soluções. A conclusão é sempre segura: faça-se o que se fizer, é sempre "complicado" mas, a não se fazer nada, então aí a parada sobe e pode ser mesmo "criminoso". O desporto nacional parece ser, por esta ordem, o de dar a conhecer o problema (informar), seguido da demorada explicação do mesmo, sua génese, extensão, consequências, culpados, vítimas, etc., (análise e comentário) segue-se uma fase menos agitada enquanto se aguarda que alguém se lembre de arriscar um movimento na direcção da solução (alívio, durante a qual cada um espera o momento de  poder vir a terreiro dizer que tinha razão) e, finalmente, o movimento, qualquer que ele seja ou mesmo que não seja mas que podia muito bem ter sido (informar de novo). Aí, haja Deus, renovam-se e acrescentam-se os "complicados". Se a decisão é prudente e dá azo a movimentos sequenciais, aqui d'el rei, que devia ter sido definitiva e não dar quaisquer hipóteses ao problema. Se, pelo contrário, é decisiva, ai, ai,  como é que se sabe se não teria sido melhor de outra maneira? Nesta fase, o écran enche-se de corajosos, de arriscados, de duvidosos, de elaborados, de argumentativos, de uma miríade de gente que teria sido bem capaz de escolher a decisão certa desde que não fosse a que foi tomada. De repente, o problema está na decisão, seja ela qual for, em tudo o que certamente comporta, comportaria, comportará, talvez, mas, porém, todavia, contudo, desde que, complicações evidentes que, claro, as decisões alternativas evidentemente não comportariam. Desde que não fossem tomadas, claro. Reconheçamos: é complicado!

domingo, 14 de julho de 2013

Os Neros e as suas liras

Se houve clareza na palavra e no pensamento do Presidente da República ao longo dos seus mandatos, ela foi especialmente impressiva na última comunicação ao País sobre a indisfarçável crise política motivada pelo abandono do Doutor Vitor Gaspar e pela nada espantosa deserção do lider do segundo partido da coligação.
O Presidente da República foi claro nas motivações: a salvação de Portugal perante um cenário económico e financeiro agravado e de uma preocupante interrogação quando o País tiver de procurar outros apoios externos. A emergência nacional justifica que o Presidente recuse eleições imediatas e que chame à responsabilidade os partidos políticos que, sendo responsáveis pela situação, têm de se responsabilizar pela solução. Em nome da salvação do País, disse.
Estes últimos dias foram porém férteis nas habituais análises e comentários mais preocupados em especular, em adivinhar intenções ocultas e subentendidos conspirativos, do que em contribuir para o esclarecimento sério e sereno dos portugueses, naturalmente preocupados com a degradação política e com a falta de motivos de esperança.
Acabo de ouvir o Professor Marcelo Rebelo de Sousa, comentador político mas conselheiro de Estado. Ouvindo-o explicar o que está em causa pela ótica do jogo político, das ambições de fulano e cicrano, dos cenários e das conveniências, das intenções não reveladas, censurando o Presidente num momento em que da parte dos senadores (daqueles que não ensandeceram) se esperaria apoio claro, fico a pensar se este País, entregue como está a estes dirigentes políticos e a estes lideres de opinião incorrigíveis, tem na verdade solução. Nem por uma vez Marcelo se referiu ao que o Presidente da República deixou muito claro: Portugal está numa situação de emergência, não saiu dela apesar dos imensos sacrifícios das pessoas, das famílias e das empresas, precisa de salvação, e essa passa pela assunção de responsabilidades. Marcelo - tal como outros - prefere como Nero tornar-se indiferente à visão de Roma a arder e recreia-se com a sua lira. Distraído nas suas lucubrações mais ou menos conspirativas, porventura nem se apercebe que o fogo tudo e todos consome...
Apetecia-me citar um daqueles portugueses que desiludidos com a Pátria são implacáveis quando se referem a esta tendência para o suicídio inconsciente. Mas amanhã, com grande probabilidade, arrepender-me-ia de alinhar na desesperança. Prefiro pensar que, tal como o Presidente da República, há ainda muita gente com sentido de responsabilidade. E não pouca com sentido de Estado. Nesta república? Talvez não. Por isso venha urgentemente a Quarta.

"Chatos"...



Desde há algum tempo que me confronto com peitos de homens rapados. Habitualmente são novos, mas já vi alguns mais velhos. Nunca perguntei as razões, não tenho esse direito e não me serve para nada. O que eu sei é que começa a nascer uma nova cultura que é retirar os pelos do corpo. Vejo pela televisão e por algumas entrevistas que ter pelos no corpo, no peito e abdómen, caso dos homens, não é compatível com os fins a que se dedicam, habitualmente são manequins, atletas, atores, ou seja, de um modo habitual os que têm necessidade de mostrar a "peitaça". Alguns dos fervorosos adeptos da depilação argumentam que é melhor e mais higiénico. Mais higiénico? Onde é que foram buscar aquela ideia? Ter pelos é, para esse pessoal, sinal de algo "sujo" e inestético no contexto atual, mas ser higiénico isso não. Claro que há quem tenha pelos como se fossem "macacos". Talvez seja por isso que não queiram ser comparados com tão simpáticos animais. Há quem afirme que é mais um sinal de metrossexualidade. Enfim, não digo nada, mas digo agora, é feio ver aqueles pelos cortados a quererem nascer. São pelos diferentes que ao crescerem parecem mais restolhos de um campo de milho ceifado, e dificilmente ficarão como eram antes. Cada um faz o que lhe vai na tola.
Nas mulheres depilar vem de longe, retiram os tufos das axilas, retiram os pelos do buço, retiram os pelos das pernas e por aí fora, a ponto de qualquer dia não haver nenhum cabelito a ornamentar o corpo. Os pelos púbicos também estão a ir à vida. Estes pelos têm funções especificas, "fonte" de feromonas, evitam a abrasão, podem ter um papel na prevenção de infeções, mas também podem ser vítimas de inquilinos indesejáveis, os primos direitos dos piolhos (Phthirus pubis), mais vulgarmente conhecidos por "chatos" que, quando se instalam, provocam incómodos nada agradáveis. Parece que estes animais estão em vias "extinção". Segundo um trabalho científico realizado por colegas dermatologistas, a ausência de pelos púbicos é o fator determinante. Claro! O que eu desconhecia era que a série "O sexo e a cidade" podia ter a ver alguma coisa com o assunto. A forma de encarar a sexualidade e de mostrar o corpo sem pelos, sobretudo as tais regiões, anteriormente consideradas púbicas, mas que agora passaram a ser "públicas", devido ao uso de roupas mínimas, caso das calcinhas tipo fio dental, provocou esta onda de depilação coletiva que, só nos Estados Unidos, alimenta uma indústria monumental, faturando mais de dois mil milhões de dólares ao ano. 
Aqui está mais um exemplo dos riscos que as espécies correm neste planeta. Muitas já desapareceram, e outras estão a desaparecer, graças aos efeitos das atividades humanas. A acrescentar a estas poderíamos acrescentar que os "chatos" vão por esse caminho. Que chatice! Não tarda e vai nascer uma nova corrente "filosófica" a defender os "pelos" e a combater a depilação progressiva, que anda por aí alimentada por fortes interesses económicos - o negócio de depilação é uma realidade inquestionável -, baseada em questões estéticas e higiénicas. Ainda vamos assistir a interessantes debates e manifestações, os que estão a favor da depilação, os "depilantes", e os defensores dos pelos, os "piloecologistas". 

Momentos maus e perigosas tolerâncias

Não gostei da forma como a Sra Dra Assunção Esteves cumpriu com o dever de garantir as condições de funcionamento da Assembleia da República. E menos gostei da citação de Simone de Beauvoir que fez a (des)propósito do comportamento dos arruaceiros que se juntaram nas galerias da Assembleia da República há uns dias atrás (além do mais, uma citação deslocadíssima da circunstância concreta). Mas não posso deixar de assinalar esta tendência para a inversão de valores tão própria dos tempos que correm. A Sra Presidente da AR teve um momento mau, é inegável. Todos nós pecamos, e nela o lapso tem maior gravidade por ter sido cometido por quem foi escolhida justamente por se lhe reconhecer qualidades suficientes para não revelar estas fraquezas. Mas isso não permite que se esqueçam, muito menos valida, as tentativas sistemáticas de boicote dos trabalhos parlamentares por profissionais do protesto ao serviço de projetos político-partidários representados no próprio parlamento. Começa a parecer muito estranha uma sociedade que é em absoluto intolerante com os tropeções de uns, e benevolente para com o mais absoluto desprezo pelas regras da democracia representativa. Os que verberam as atitudes de Assunção Esteves mas se mostram absolutamente tolerantes com os profissionais do protesto e do insulto, são os mesmos que se queixam que as instituições da democracia estão desacreditadas...

sábado, 13 de julho de 2013

"Voilá"...


Verão, época de férias. Eis que muitos emigrantes começam a regressar para descansar umas semanas. Mudaram muito desde os velhos tempos, quando vinham com as suas "voitures", novas e provocantes, a ponto de porem a salivar muitos dos que cá ficaram. Assustavam na condução. Sempre que via uma matrícula francesa tinha de redobrar a atenção para evitar problemas. E não era por uma mera questão de preconceito era por experiência própria e pelo que via. Também os ouvia. Aqui as coisas eram diferentes, não eram ofensivos em termos de integridade física, mas suficientemente agressivos em termos de comunicação quando misturavam o português com o prepotente francês. Falavam mal a nossa língua, o que não era novidade para ninguém, mas "compensavam" com o idioma de Voltaire e de Edith Piaff. Presunçosamente verbalizavam a torto e a direito frases e palavras francesas para poderem impor algum respeito e admiração aos demais. Enquanto as "voitures" denunciavam o seu poder financeiro, a nova língua testemunhava a sua superioridade "cultural". Formas de poderio, novas, ingénuas, típicas de quem quer mostrar que está bem na vida e a subir. Ouvia-os sentado da minha varanda. O largo ficava repleto de matrículas francesas. Traziam prendas para os familiares, muitas "botelhas" de bom vinho francês. Já entoavam a forma de falar dos gauleses, mesmo quando falavam em português. Divertia-me imenso aquele parlar meio aparvoado, mas perfeitamente compreensível. Tinham as suas razões. Os tempos mudaram, já não vêm com tanta frequência de carro. Usam o avião. Fazem muito bem. É mais seguro para eles e para os outros. Os carros já têm matrícula portuguesa. Ficam cá nas garagens das suas "maisons", que são, na grande maioria, as mesmas. Apesar de toda a evolução, positiva, ainda não perderam o trejeito de misturar frases francesas no decurso das suas conversas. É "chic", ou, então, já não sabem utilizar o seu equivalente em português. De qualquer forma provoca-me sempre um sorriso, porque faz-me recordar muitos episódios, como um que há muitos anos ouvi por esta altura. Na casa de uma vizinha a mãe advertia de forma contundente o miúdo, "tu vas tomber", "tu vas tomber", sempre numa crescente preocupação face ao risco de queda. Advertia do perigo aos gritos, "tu vas tomber", "tu vas tomber". Claro que o lusito, nascido na periferia de Paris, caiu. Ato contínuo, a mãe recuperou a sua velha formação da terra que a viu nascer e disse-lhe alto e em bom português: - Oh meu filho da puta, eu não te disse que ias cair? Eu não te disse meu cabrão? Claro, em cima do joelho esmurrado, caiu-lhe nas trombas uma sonora bofetada e o puto pôs-se a chorar, em francês e em português...

sexta-feira, 12 de julho de 2013

"Sorte"...


Sorte, uma palavra enigmática, simples de pronunciar e rara de encontrar. Se fosse matemático  decerto encontraria modos de a exprimir através de complicadas equações. As constantes, os expoentes, as raízes quadradas, cúbicas ou que tais, as derivadas, das quais já não me lembro bem, e o uso de letras gregas, belas e cheias de sabedoria, conseguem seduzir qualquer ignorante provando que naquela complexidade equacional está a explicação científica deste fenómeno. Mas não sou, infelizmente. Se fosse poeta diria que a sorte era a benção de algum deus ocioso ou vicioso, que, apaixonado por alguma deliciosa mortal, se encarregaria de me utilizar para a possuir e amar através de belos e sedutores versos. Mas não sou, infelizmente, Se fosse religioso diria que era a vontade divina, que, ao escolher-me para usufruir a sorte, me tinha considerado como um eleito entre os eleitos. Mas não sou, infelizmente. Se fosse guerreiro seria um herói, porque a sorte protege os audazes, isso caso sobrevivesse, o que nem sempre acontece aos que lutam nos campos da batalha, infelizmente. Se fosse jogador, atribuiria decerto a sorte ao diabo, porque só ele sabe como ninguém como comprar uma alma através da ganância do jogo. Mas não sou jogador, felizmente. A sorte campeia por todo o lado e o seu atributo tanto pode ser fruto do acaso, do poder de um deus qualquer, menor ou do maior, do diabo em pessoa ou, então, como já ouvi, e mais do que uma vez, do trabalho. Aqui, tenho de fazer um parêntesis, ou seja, como é possível ouvir alguém dizer que "a sorte dá muito trabalho"? Confundir sorte com trabalho é, para mim, muito estranho, porque acredito no trabalho como forma de realização humana. Acredito no trabalho para que cada um possa ganhar a vida e realizar-se, embora saiba que há pessoas que "trabalham" apenas para ter "sorte". Resta saber o que é que entendem por esse tipo de "trabalho", que nem sempre é sinónimo de honestidade, nem sempre é realizado com respeito pelos direitos dos outros e nem sempre é legal. Mesmo assim continuam a designar essas atividades como "trabalho". Tenho dúvidas. Ouço-os, mas não aceito a expressão de que "a sorte dá muito trabalho". Preferiria ouvir dizer algo como o "trabalho compensa", o que não acontece algumas vezes quando o azar se encarrega de destruir todo o trabalho de uma vida. Não posso ouvir a expressão segundo a qual "a sorte dá muito trabalho", quando muitos não têm meios, nem possibilidades de trabalhar com determinação, com honestidade e com vontade genuína de poder ganhar a vida e realizar-se. Não gosto da palavra sorte na boca daqueles que trabalham para a "alcançar". A sorte é uma mera questão probabilística do jogo, de qualquer tipo de jogo, inclusive o da própria vida. Prefiro acreditar no trabalho apenas como forma de realização pessoal e não como a procura da "sorte" tal como é entendida e alcançada por muitos.
Será por falta de sorte? Não, nunca a procurei, nem a procuro. Prefiro saborear o fruto do meu trabalho. Para mim chega. Só tenho pena que outros seres com os quais me defronto no dia-a-dia não o consigam saborear. E merecem, tanto como eu e até como aqueles que, ufanamente, sabem mostrar que "a sorte dá muito trabalho"... 

Tão bons ou melhores do que os outros...

Simplesmente, o melhor! Um prémio que lhe reconhece o mérito da excelência de liderança e gestão, que nos mostra que podemos ser tão bons ou melhores do que os outros. Assim sejamos capazes - cá dentro e não apenas lá fora - de, a todos os níveis, nos organizarmos e unirmos em torno de objectivos comuns. Dá muito trabalho, mas não há alternativa...

Taxas de juro da dívida pública apertam: despachem-se, senhores políticos!...

1. As taxas de juro implícitas na cotação da dívida pública portuguesa (yields) para o prazo de 10 anos atingiram hoje um valor próximo de 8%, acentuando fortemente a subida já ontem registada.
2. A esse nível, equivalem já a mais do DOBRO da yield para a dívida irlandesa do mesmo prazo e, embora ainda longe, encurtaram bastante a distância para a yield da dívida grega (11,2%).
3. Quer isto dizer que a pressão vendedora da dívida portuguesa aumentou hoje significativamente, reflectindo a incerteza que paira no mercado em relação ao desenrolar da chamada “crise política”...
4. ... e sinalizando que o eventual prolongamento desta crise pode vir a ter consequências muito acima do esperado (?) na deterioração das condições de financiamento tanto da República como das empresas que recorrem ao mercado de capitais, bancos muito em especial...
5. Isto também significa que os políticos vão ter muito pouco tempo para selar (ou não, como quiserem) um acordo-base em torno dos pontos apresentados na agenda anunciada pelo PR: ou conseguem fazê-lo nos próximos 3 a 4 dias ou a situação financeira pode tornar-se insustentável...
6. Não esquecer que para a próxima 4ª Feira está anunciado um leilão de Bilhetes do Tesouro, de montante entre € 1.250 e € 1.750 mil milhões, aos prazos de 5 e de 12 meses, o qual, se até lá os decisores políticos não tiverem ainda “made up their minds”, poderá vir a dar um sinal violento de falta de confiança no Emitente...
7. Despachem-se, pois, senhores políticos: nada de descanso no fim-de-semana, aproveitem este tempo mais fresco para ganhar tempo, trabalhar e apresentar conclusões já no início da próxima semana! O País não pode esperar!

Tivemos Presidente. Teremos Partidos?

O Presidente da República deu aos partidos políticos de poder uma oportunidade para renascerem e ao País a possibilidade de se manter no euro. A escolha que enfrentam PS, PSD e CDS é entre a morte a prazo ou a regeneração. É entre regressarem às raízes da sua existência, o combate com o povo e pelo povo, ou continuarem a atirar o País com eles para o precipício. O Presidente expressou a vontade do povo.
Helena Garrido, em Temos Presidente. Teremos partidos?-Jornal de Negócios

A insustentável evidenciação da incompetência

O debate do estado da nação é a prova real de que a classe política ainda não tem qualquer ideia do estado em que nos encontramos. Sem nunca se esgotar a debater, deixa o essencial por fazer. 
No Parlamento, como nos partidos, o Princípio de Peter no seu máximo esplendor!...
Não sabendo passar à acção, vão-nos evidenciando o estado da sua suprema incompetência. 

Fora do mundo da política...



No i de hoje, secção Mais Desporto, podia ler-se:

"Sporting e outros guerreiam"

"Os protagonistas Bruno de Carvalho e Bruma voltam hoje ao trabalho (...) hoje é também o dia em que os leões voltaram a convocar uma reunião com os representantes do jogador para definir o seu futuro - renovação do contrato que termina em 2014 e análise das propostas que existem de clubes estrangeiros".

"Ninguém parece disposto a abdicar das suas convicções (...) o Sporting parece querer mudar as regras no relacionamento entre clubes, jogadores  e empresários"

"Com o contrato a terminar em Junho de 2014, o Sporting arrisca-se a que o jogador seja livre para negociar o seu futuro já em Janeiro"

"Bruma quer ficar mas desde que lhe reconheçam o que ele representa neste momento e para o futuro".



quinta-feira, 11 de julho de 2013

Interesse nacional e interesses das nomenklaturas

Cavaco propôs um compromisso de salvação nacional que deveria envolver os três partidos que subscreveram o Memorando de Entendimento. Um acordo que garanta a tomada das medidas necessárias ao cumprimento do que ficou acordado com os nossos parceiros externos, mas também que assegure que o governo que resultar das próximas eleições poderá contar com o compromisso entre os três partidos que assegure a governabilidade do país, a sustentabilidade da dívida pública, o controle das contas externas, a melhoria da competitividade e a criação de emprego
Trata-se de proposta adequada e necessária ao difícil tempo que vivemos? Claro que é.
Serve ao governo que advier das próximas eleições? Claro que serve.
Trata-se de proposta exequível? Claro que também é. 
E será concretizada? Claro, se os partidos tiverem qualidade e estatura para assim o decidir. 
E, se os partidos não aderirem, o Presidente é responsável pelo fracasso? Não. Fica é evidente a irresponsabilidade dos partidos, que assim mostram que não têm qualquer interesse em resolver os problemas dos portugueses e só pensam nos seus próprios interesses, que são exclusivamente os das suas nomenklaturas.

Em fase de "quarentena política", meditemos no pós-Troika...

1. Com alguma intensidade até ontem – a partir de ontem à noite entramos em “quarentena política” – começou a falar-se, nas últimas semanas, dos cenários pós-Troika, com destaque para as iniciativas do PR que pretenderam (bem, a meu ver) colocar o assunto na agenda política...
2. Parece-me, com efeito, que vai sendo tempo de começar a perceber aquilo que nos pode esperar, depois de Junho de 2014, quando ficar (se ficar...) concluído o Programa de Ajustamento (PAEF) em vigor.
3. E vai sendo tempo porque muito boa gente é capaz de pensar que vamos chegar a Junho de 2014 – por enquanto ainda sob a grande incógnita de saber em que estado lá chegaremos (mais ou menos comatoso) – e que vamos poder atirar a “Austeridade” para fora da carruagem, respirar de alívio, quiçá regressar alegremente ao folclore despesista que caracterizou os 9+6 belos anos interrompidos em Maio de 2011...
4. Numa recente (8 do corrente) e muito interessante intervenção do Governador do BdeP, acessível através do website da Instituição, são apresentados alguns dados elucidativos quanto ao que nos deve esperar no período pós-Troika.
5. Em 1º lugar, constata-se que as necessidades de emissão de dívida pelo Estado Português, no período 2014-2023 (assumindo que será emitida 50% a 5 anos e 50% a 10 anos), serão de € 14,5 mil milhões/ano, em média, o que compara a um valor médio de € 12,2 mil milhões no período 2000-2010 quando ao País gozava de uma notação de rating AA...
6. Por outro lado, existe o compromisso de reduzir o nível da dívida pública até 60% do PIB em 2032, depois de atingir um pico de cerca de 125% em 2014 e de cair para cerca de 100% em 2020...
7. Acresce que o andamento descendente do nível da dívida referida no ponto anterior pressupõe (i) o cumprimento integral dos objectivos do PAEF em 2013 e 2014, (ii) uma redução anual de 0,5 pp do PIB no défice orçamental estrutural até 2020, (iii) que o esforço de consolidação orçamental a partir de agora seja feito exclusivamente do lado da despesa (APLAUSOS, mas atenção à jurisprudência do TC...), e (iv) um ritmo de crescimento (nominal) do PIB de 3% ao ano.
8. Estes dados bastam para concluir que o tal período pós-Troika será tudo menos um mar de rosas – e afastam quaisquer expectativas de regresso ao folclore despesista do período ante e pós-Euro – se quisermos levar a sério os compromissos assumidos...
9. Se não quisermos levar a sério esses compromissos, como proclamam os habituais vendedores de ilusões - como os abnegados proponentes do doce “Que se lixe a Troika” – o pós-Troika será infinitamente mais ardoroso do que foram os últimos 3 anos...

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Teste de stresse

Chegou a hora do teste de stresse dos partidos políticos. Descontadas as análises dos cientistas políticos loucos (já nem divertem), veremos como respondem os partidos e as suas lideranças perante a claríssima chamada às suas responsabilidades.

PS sem saber onde cair, a ver no que a coisa dá!...

"O PS não apoiará nem fará parte de um governo sem que os portugueses manifestem a sua vontade através de eleições".
O PS discorda da solução presidencial. 
O PS "tal como lhe compete, aguardará as iniciativas" de Cavaco Silva.
O PS continuará a apresentar "propostas e soluções para resolver o problema dos portugueses".
"O PS não rejeita nenhum diálogo, em particular quando está em jogo o interesse nacional e o futuro dos portugueses". 
O PS escutou "atentamente" a declaração do Presidente da República.
O PS igual a si próprio. Sempre indefinido, sem saber para onde cair, um partido do sim e mais que também.
E o leader não falou, mandou falar por ele. Igual ao partido, ficou a ver no que a coisa dá!...

Alô Berlim, Bruxelas, Frankfurt e Washington: Alguém está a ouvir?...

Portugal viveu, na semana passada, o mais grave desacordo político no seio da coligação PSD/CDS que governa o país desde Junho de 2011.
Deixando de lado considerações sobre a política caseira – que não cabem no âmbito deste texto –, creio que este episódio (tal como casos anteriores) acaba por estar também relacionado com a aplicação de um programa de ajustamento mal desenhado desde o seu início na sua vertente orçamental – e que nunca foi corrigido de forma certeira e adequada. E a verdade é que, olhando para o espectro político em Portugal, não acredito que fosse possível encontrar outro Governo mais cooperante com um programa da natureza daquele a que estamos sujeitos (apesar de ele ter sido maioritariamente negociado com a Troika pelo anterior Governo Socialista).
Tenho para mim que o garrote e a fadiga da austeridade – é disso que se trata – está a tornar-se insuportável, não apenas em Portugal, mas em boa parte do espaço da Zona Euro, o que poderá gerar revoltas sociais e, no limite, colocar em causa a própria democracia europeia e… o projecto da moeda única europeia.
São conhecidos os resultados eleitorais na Grécia, em 2012, que reforçaram forças políticas radicais de esquerda ou de direita (respectivamente, Syriza ou Aurora Dourada, este de inspiração nazi); e em Itália, já em 2013, que viabilizaram o regresso de Berlusconi (!) ou o nascimento de fenómenos “contra tudo e contra todos”, como o liderado pelo comediante Beppe Grillo, cujo partido, Movimento 5 Estrelas, foi a força política individual mais votada. E deve notar-se que estas tendências se sucederam depois das soluções tecnocráticas impostas por Bruxelas (ou Berlim), como Lucas Papademos na Grécia, ou Mario Monti em Itália (a coligação por si liderada teve uns esclarecedores 10% de votos…), provando-se que, mesmo que tenham sido úteis na altura, não podem ser a regra porque não são democráticas – e é na democracia que o projecto europeu assenta. Espantoso, mesmo, é que estes resultados eleitorais não tenham feito tocar todas as campainhas de alarme ao mais alto nível europeu… Até porque o que se vai conhecendo mais recentemente é revelador: em Espanha, o PP e o PSOE juntos não chegam sequer a 40% nas sondagens; em França, Marine Le Pen, presidente da Frente Nacional (de extrema direita) já liderou alguns estudos de opinião recentes. Ao contrário do que alguns poderão pensar, o problema não é português, nem grego, nem irlandês, nem cipriota: é europeu. Com projectos radicais e nacionalistas a alastrar, é a Europa que sai enfraquecida.
Sucede que, na Troika, até agora, apenas o FMI parece ser capaz de reflectir sobre eventuais erros cometidos nos programas de ajustamento; ao contrário, CE e BCE (sempre sob a omnipresente sombra da Alemanha) insistem na mesma receita, independentemente dos resultados à vista de todos, e de estudos que vão sendo conhecidos (publicados pelo FMI em Outubro de 2012 e, recentemente, pelo Banco de Portugal) e que indiciam que, em tempos de crise, o impacto recessivo da austeridade pode suplantar em muito o impacto em tempos, digamos, “normais”.
A este propósito, ainda na semana passada tive a oportunidade de participar no encontro de economistas promovido pelo Presidente da República destinado a analisar o “pós-Troika”, do qual saliento as palavras de Marco Buti, Director-Geral para os Assuntos Económicos e Financeiros da Comissão Europeia – que me deixaram siderado: resumidamente, Buti considerou inquestionável a continuação da aplicação do programa português como até aqui, e a manutenção das metas orçamentais que estão estipuladas. Isto com o argumento de que, se assim não for, perde-se a credibilidade.
Tenho a opinião exactamente oposta: tornar o programa realista através de uma flexibilização adequada das metas orçamentais que deixem, de algum modo, respirar a economia – e, consequentemente, desanuviar o ambiente social e político –, é que traria credibilidade. Nestas condições, Portugal continuaria a cumprir o programa (como até agora) e poderia, portanto, continuar a beneficiar do apoio do BCE (através do seu programa de compra de dívida pública OMT) – o que, estou convencido, mesmo que a dívida pública aumentasse mais do que o previsto no curto prazo, tranquilizaria os investidores e permitiria o desejável regresso ao financiamento em mercado.
E é isto que, creio, seria adequado para os restantes países com problemas: o seu endividamento tem, obviamente, que ser reduzido – mas com programas realmente exequíveis e realistas que minorassem as terríveis consequências sociais da (necessária) austeridade, e apoiados pelo BCE, cujo papel como lender of last resort sujeito a condicionalidade é imprescindível. E, nos restantes países (“sem problemas”), as orientações devem ser simétricas: políticas expansionistas, que acabarão por favorecer a procura externa dos países endividados, atenuando as suas dificuldades… e beneficiando o projecto da moeda única.
Se o (nosso) episódio político da semana passada tiver servido para abrir os olhos aos nossos parceiros e à Troika – que, até agora, e como já referi, parecem ter ignorado o que se passa em vários países europeus –, e levar a uma alteração das actuais orientações, então, de indesejável e dispensável, ele passará a… ter valido a pena. E – quem sabe?... – pode ser que assim seja: afinal, Portugal tem cumprido tudo o que se lhe pediu e, depois do fracasso na Grécia, é o país do Sul da Europa em que todos (nós, portugueses, por maioria de razão, mas também os líderes políticos europeus e a Troika) desejam (e precisam...) que o programa de ajustamento termine bem.

Alô Berlim, Bruxelas, Frankfurt e Washington – alguém está a ouvir?...

Texto publicado no Jornal de Negócios em Julho 09, 2013.