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sexta-feira, 29 de julho de 2022

"Consciência é igual a trabalho" ...

Não sei o que pensar. Fazer, sei. Cumprir uma banal e ofensiva rotina. Ofensiva? Sim, porque se respeito o trabalho dos outros também quero que respeitem o meu. O pior é que este país joga o “faz de conta”. Eu “jogo” sempre a sério, mesmo com sacrifício. Respeito o trabalho, porque é a sublime expressão da dignidade humana. De todas as características humanas assinalo o trabalho como a mais sublime de todas.   

Um dia, há muitos anos, numa conferência, alguém fez uma pergunta divinal, “Quando é que o homem começou a trabalhar?”. Confesso que não estava à espera. Normalmente tenho quase sempre resposta para tudo. Não sou um ser inibido ou inibidor. Adoro os espaços coletivos, onde a palavra atinge a sua expressão mais elevada. E as perguntas? Adoro que me façam perguntas. Fiquei em silêncio durante algum tempo e fui sincero. “Olhe, não sei responder neste momento, mas vou pensar no assunto. Se encontrar uma resposta, a minha, naturalmente, terei muito gosto em lhe dizer”. E assim foi. A pergunta nunca mais me largou. Passou a ser uma espécie de sombra da minha alma. Atento a tudo o que lia ou pensava, queria satisfazer a angústia despertada por aquela pergunta, tanto mais devido às minhas responsabilidades em matéria de saúde ocupacional.  

Um dia, ao ler mais uma obra de Carl Sagan, presumo que deve ter sido os “Dragões do Éden”, este notável pensador e cientista fez uma interpretação, que considero uma das mais brilhantes, ao dizer que a expulsão de Adão e de Eva do paraíso foi o momento da tomada de consciência da nossa espécie. Pensei, se esse momento é o nascimento da nossa consciência, então, viver através do suor do rosto e da dor é o sinal inequívoco do começo do trabalho, logo, consciência é igual a trabalho. Se a consciência é o momento do nascimento da nossa espécie, trabalho passou a ser a nossa verdadeira e “divina” identidade. Por esta razão, considero o trabalho, seja ele qual for, como a expressão máxima do respeito e dignidade humana. 

Gostava tanto de encontrar o autor daquela pergunta e dizer-lhe qual foi o momento “em que o trabalho nasceu”; para mim foi no preciso momento em que tivemos consciência da nossa existência, quando fomos expulsos do paraíso…

1 comentário:

Olinda Melo disse...


De acordo. Mas isso levando em linha de conta
a perspectiva bíblica. E a outra, a científica,
segundo a qual descendemos de um ramo de primatas
e a nossa evolução se verifica ao longo dos tempos?
É certo que em algum momento ganhámos consciência
da nossa dignidade... Quando passámos a homo
sapiens sapiens ou antes? Pode ser que nessa altura
tenhamos sido expulsos realmente de um qualquer
paraíso, ainda que não tenha sido o Éden.

Gostei muito do seu texto.

Olinda