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sábado, 1 de outubro de 2022

Nomes e ferimentos

Conhecemos muitas pessoas através das suas obras, opiniões, conquistas, descobertas, inovações, arte e demais atividades ligadas aos seres humanos. Fabricamos as nossas opiniões acerca dos seus valores, princípios, dignidade, forma de estar e de sentir o mundo, acabando por incorporar na nossa essência parte do que são ou foram. Somos moldados por tudo o que nos rodeia. Os “outros” também fazem parte de nós.  

Conhecer não é apenas conviver ou partilhar, também é ouvir e saber o que fazem ou o que fizeram. Por vezes ficamos incrédulos quando a imagem de alguns fica manchada por algo iníquo ou horrível que fizeram. Além de perderem de imediato o seu valor e o respeito que julgávamos merecedores acabam por nos atingir e até ferir-nos. Também sofremos 

Quase que me apetece dizer que raro é o dia em que não somos confrontados com certos tipos de ferimentos ou insultos às nossas almas. Um eclesiástico, que foi inundado de honrarias ao mais alto nível mundial, passou a ser um iníquo. Um criminoso visivelmente alquebrado e sem a força de outrora, foi humilhado na sua condição humana. Alguns políticos mostram ao fim de algum tempo a qualidade das fibras de que são feitos, falsas e hediondas. Desportistas sem caráter e violadores da solidariedade e do companheirismo destroem a essência dos valores olímpicos. Os seus nomes correm a princípio como doces e felizes rios de água limpa, saciando a nossa sede e alimentando as nossas esperanças, mas alguns transformam-se em enxurradas de águas sujas e extraordinariamente violentas capazes de destruir a vida, as suas e ferindo as de outros. Também somos os que os outros são, porque fazem parte de nós. Os nomes que transportamos, mesmos que sejamos desconhecidos e sem qualquer impacto de maior, sempre transmitem alguma ideia acerca do nosso valor, nem que seja para dar algum alento à nossa autoestima, mas os dos outros, os dos “maiores”, podem causar transtornos muito graves porque roubam muito do que desejaríamos que a humanidade fosse. O quê? Já nem sei. Confesso que não acredito que alguma vez a humanidade seja o que foi prometido. Acredito apenas num breve momento em que o tempo se esquece que existe e me deixa saborear um café em paz na companhia de um cão sossegado e meigo deitado aos meus pés. Temos nomes, o dele também está incorporado na minha essência.

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