1. Curioso das políticas do BCE e suas
razões, já aqui escrevi (em Janeiro último) sobre a intrigante combinação de uma política
de compras maciças de dívida pública (chamada QE), que têm induzido forte
redução dos respectivos custos (yields), e da insistência do BCE na
necessidade de os governos da zona Euro promoverem reformas estruturais…
2.
…quando parece evidente, ao facilitar o
endividamento dos Estados, que o BCE reduz, fortemente, o incentivo para a
realização de reformas estruturais (cujos custos políticos são conhecidos).
3. Outra política que me tem suscitado grandes
dúvidas é a do proclamado apoio á economia - à actividade económica -
através de uma política de juros muito baixos, supostamente facilitando o
acesso dos agentes económicos ao crédito bancário.
4.
Pois bem, as estatísticas do BdeP mostram que,
desde o final de 2012 até Abril do corrente ano, o saldo do crédito bancário às
empresas não-financeiras (a chamada economia real) tem vindo sempre a cair, de
€ 105.361 milhões para € 74.715 milhões, ou seja “apenas” 29%...
5. No mesmo período, o saldo do crédito bancário à
compra de habitação por particulares, caiu sempre,de € 109.673 milhões para €
94.014 milhões, ou seja 14,3%.
6. Ainda no mesmo período, apenas o crédito
bancário ao consumo de particulares subiu, ligeiramente, de € 13.371 milhões
para € 13.813 milhões, ou seja 3,3%.
7. Será que esta evolução do crédito à economia
serve para demonstrar a eficácia da política de incentivo do BCE à actividade
económica? Se não serve, então que indicadores poderão servir?
8. Bem sei que empresas como a EDP, REN e BRISA,
com acesso directo ao mercado de capitais, têm beneficiado bastante da política
do BCE, conseguindo colocar dívida no mercado a taxas (cupões) bastante baixas
e a prazos confortáveis.
9. Todavia, a esmagadora maioria das empresas – e
obviamente os particulares – não têm acesso ao mercado de capitais e, para
essas, os “benefícios” da política do BCE são ilustrados pelos dados supra,
pontos 4 a 6.
10.
Mas quem sou eu para colocar em dúvida a bondade
das políticas do BCE…que atrevimento!