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domingo, 7 de dezembro de 2008

Buzinar ou não buzinar eis a questão!


A buzina, o primeiro sistema anti-colisão, imagem de marca do Ford T, começa a ser questionada sobre os seus reais efeitos preventivos. Até hoje, que eu saiba, desconhece-se quantas colisões terá evitado. Estudos recentes revelam que o uso da buzina não está associado com a diminuição de acidentes. Buzinar e travar ao mesmo tempo é muito difícil. Trava-se primeiro e buzina-se depois. Foi o que aconteceu comigo há dias quando um condutor, inopinadamente, invade a faixa da rodagem “à Lagardère”! Guinei instintivamente para a esquerda e, depois, com o coração aos pulos, travei, acabando por buzinar meio chateado. Um som prolongado até acalmar a taquicardia. Também fiquei a saber qual o som da minha buzina! Sou daqueles que se esquece de buzinar. Em contrapartida, muitos usam e abusam da buzina para vários fins, excepto para evitar acidentes, já que parece não ser de grande utilidade! Às vezes até assusta! Que digam alguns ciclistas quando levam com uma estridente buzinadela. Olham para trás, desequilibram-se e acabam por ser atropelados.
A linguagem da buzinagem é interessante. Estamos parados num semáforo. Assim que passa a verde, o nervoso miudinho do chico esperto que está atrás de nós enfia-nos pela traseira a típica buzinadela de aviso: “o cagagésimo de segundo” que, no semáforo seguinte, pára precisamente à nossa frente. Não sei se já sentiram a vontade de lhe retribuir a buzinadela! Há os que pensam que são os donos das ruas. Ainda vêm longe e começam a avisar com a buzina para que não entrem, para saírem da frente, o espaço é deles. Ponho-me a olhar e lá passam todos empertigados na sua qualidade de “proprietários da prioridade”! Há os que, ao cruzarem, saúdam com toques curtos e suaves, prontamente retribuídos, verdadeiros acenos. O buzinar ansioso do género “desce depressa que já é tarde”, logo de madrugada, irrita-me ao ponto de desejar abrir as janelas e usar a mais pura linguagem vicentina, ou ser tão desbragado como Lula, o que contrasta com o buzinar discreto e suave do namorado a sinalizar a sua presença. O toque contínuo, ao ponto da pobre buzina ficar afónica, ilustra o protesto quando um qualquer sacana, atrevidamente, deixa o seu veículo frente à rampa de saída ou da garagem. Quando aparece, põe uma cara de parvo muito típica e, com um suave desculpeeee, lá se põe em marcha. Há os que utilizam a buzina para festejar a vitória no campeonato ou nas eleições: “O buzinar dos campeões” e o “buzinar da vitória”. Enchem a atmosfera de sons “cacofónicos”. O “provocador” utiliza a buzina para irritar e insultar os outros, a que não é alheio a forma muito pouco ortodoxa como conduz. Quase que me apetecia dizer: “Diz-me como buzinas e dir-te-ei quem és!”. A este propósito, também há casos divertidos. Há muitos anos, um amigo meu, vendedor, tinha um medo de morte de ser albarroado nas curvas pelos emigrantes que, inexperientes, enxameavam no Estio as nossas estradas. – Oh doutor quer ver a minha buzina “espanta-emigrantes”? –Espanta quê?! Foi então que me mostrou o seu velho Renault no qual instalou uma bateria suplementar e uma buzina de um camião TIR. - Ao chegar às curvas dou uma buzinadela. Pode ter a certeza que do lado de lá até se encolhem!
As buzinadelas podem ser fonte de agressões. Muitos condutores não gostam de ser alvo de avisos sonoros. Nos Estados Unidos, então, é melhor não buzinar, senão ainda arriscam a levar com um tiro! Em contrapartida, em muitas cidades, como Bombaim, pode-se apitar à vontade. Faz parte da cultura, e ninguém corre o risco de se enervar, porque não se sabe de onde vem o som. Além do mais, muitas viaturas ostentam nas traseiras um aviso a alertar para buzinarem caso pretendam ultrapassá-la! A situação é de tal forma grave que, devido à poluição, o dia Mundial da Saúde deste ano, em Bombaim, foi aproveitado para sensibilizar os motoristas indianos a não buzinarem. Está bem! Ficou tudo na mesma.
Parece que buzinar serve para tudo, menos para evitar acidentes. Até já serviu como arma política, caso dos “buzinões”, em que os portugueses se tornaram especialistas, “os buzinadores políticos”. Atendendo à surdez que reina por aí, provocada pela “poluição”, já não vale a pena utilizar a buzina...

2 comentários:

Bartolomeu disse...

Nesta matéria, considero-me um completo adepto da evolução tecnológica. Apesar de muito já se ter inovado e adaptado e criado, com vista ao aumento da segurança, recordo que a Volvo lançou recentemente um modelo que já trava se o condutor se aproximar demasiado de um obstáculo, ainda não é o suficiente. Aquilo que eu acho caríssimo Professor M.C., é que os pópós deveriam ser entregues aos condutores, equipados com detectores de "artolices" que sempre que o "artista" cometesse uma manobra perigosa, ou um "atropelo" às regras de trânsito, a mesma era identificada por um sistema electrónico que instantâneamente o presenteava com uma valente descarga electrica suportável.
Coisa assim ao jeito de umas coleiras para cães que lhes aplicam um choque sempre que eles insistem em ladrar, mas antes emitem um aviso sonoro, de modo a que o animal aprenda que só pode ladrar uma ou duas vezes sem levar com a "mostarda". Mas em minha opinião, esta coisa do aviso podia ser obviada em relação aos humanos.
;)))

Anónimo disse...

Caro professor, que belissimo post sobre um dos cancros do Sul da Europa: a buzina! É um exercício interessante ver o uso que os povos do norte da Europa fazem da buzina quando em comparação com os do sul. E isto, aliás, não é um exclusivo das rodovias. Em caminhos de ferro, nos países do sul da Europa, os regulamentos prevêm uma série de toques para tudo e mais alguma coisa. Nos países mais a norte os toques são usados apenas em casos excepcionais e, nalguns casos mas não todos, quando o comboio arranca. Isto origina que nas cabines de condução desenhadas no sul da Europa o manipulo do apito esteja em local de destaque na cabine. Nas máquinas alemãs por exemplo, são um botão numa consola, entre vários outros todos iguais.

Será o silêncio uma marca de civilização? Eu tenho para mim que sim, é.