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sábado, 21 de janeiro de 2023

“São Sebastião” …

Presumo que já tive a oportunidade de explicar a razão de gostar do São Sebastião, capitão da guarda pretoriana de Diocleciano, imperador romano. Sendo cristão, Sebastião era benévolo com os crentes, facto que o levou a ser considerado como traidor e condenado à morte por flechas. Lançado ao Tibre acabou por ser resgatado por Irene (nome tão lindo, nome de uma tia querida com voz de anjo) que mais tarde foi elevada aos altares. Novamente presente perante o imperador, acabou por ser executado através de espancamento e o seu corpo lançado nos esgotos de Roma.
Foi objeto de várias obras, uma delas li em pequeno, Fabíola, do cardeal Nicholas Wiseman. Nunca mais esqueci a belíssima capa do livro. Também foi objeto de outros autores de forma sedutora e encantadora. 
Desde pequeno que sou fascinado pela sua imagem, tronco nu, amarrado a um tronco e cravejado de flechas. 
Portugal tem uma característica religiosa que considero única. Em todas as procissões, sejam elas em honra de quem for, aparece sempre um São Sebastião. Vai a todas! Está presente em muitas igrejas, e quanto a capelas, upa, upa, é difícil, penso eu, encontrar um santo com tantas. São Sebastião pode mesmo ser considerado como o campeão das capelas em Portugal. Presumo que o culto a São Sebastião tenha a ver com a peste, a fome e a guerra, a tríade destruidora da humanidade. Na falta de melhor, São Sebastião tornou-se no santo protetor das pestilências humanas. É tão popular que até tivemos um rei chamado Sebastião (por ter nascido neste dia) que tudo fez para o honrar. Lisboa tinha sido assolada em 1569 pela peste. O rei mandou erigir um templo junto à margem do Tejo e até o papa lhe enviou de Roma uma das setas com que o santo foi martirizado.
Muito mais havia a contar a propósito deste cristão que tentou converter Diocleciano.
No seu dia, 20 de janeiro, costumava calcorrear alguns sítios onde lhe prestam homenagem. Lembro-me de um ano ter passado por eles. Fiquei triste, nem uma festa, nem uma procissão, nem uma venda, nem música ao estilo de Quim Barreiros, nem um taberneiro, nada. Ainda pensei: - Ó Sebastião! Será que as pessoas estão a esquecer-te? Não me respondeu.
Na altura “precisava” de dois santos para juntar aos muitos que andam por aqui. Faltavam-me um São Brás e um São Sebastião. Agora já os tenho. O São Brás por causa da minha mãe, e o facto de ter nascido no seu dia! As voltas que dei para ir buscá-lo à Guarda. Tantos anos à minha espera! Quanto ao Sebastião, foi em Frankfurt que o adquiri. O antiquário quase que me o ofereceu. - Sabe? É indo-português. Adquiri-o em Goa. Como o senhor é português é perfeitamente legítimo que o leve para o seu país. Venda simbólica. Presumo que não vou adquirir mais nenhum santo. Este Sebastião, tosco, popular, foi criado pelas mãos de um santeiro de Goa nos finais do século XIX.
Lembrei-me dele. Hoje, à hora do almoço, telefonei para casa e pedi para ir ao jardim ver se havia uma flor. Havia apenas um lindo botão de rosa. Agora está a seus pés no meu quarto. Bom, tenho que agradecer ao São Sebastião. De facto, mais tarde ou mais cedo, acabo sempre por conseguir o que desejo. Estranho? Um pouco. Mas foi sempre assim.
Escrevinhei este texto ao som de uma chuva miudinha e de um largo sorriso cheio de sol que, inesperadamente, surgiu enquanto almoçava na esplanada de um restaurante. Adoro o sorriso de São Sebastião.
Foi hoje, 20 de janeiro de 2023.
Agora, termino a minha refeição bebendo um copo de vinho à sua memória e história.
-  À tua, Sebastião!