Número total de visualizações de páginas

quinta-feira, 30 de abril de 2009

Confirma-se as suspeitas e suspeita-se da confirmação


A notícia podia limitar-se a dizer que não há notícia de casos confirmados da gripe antes suína, depois mexicana, agora gripe A, em Portugal. Mas não. Dando largas à nossa propensão para suspeitar, e para alimentar suspeitas que nos alimentam as preocupações como se fossem provas provadas, sem nos ralarmos muito com o dia em que virá a certeza, a nossa imprensa multiplica-se em anúncios de suspeitas, obrigando os profissionais de saúde a virem explicar qual a febre dos suspeitos, onde conheceram o suspeito que os tornou suspeitos, e por aí fora. Há pouco ouvi na rádio um médico explicar qual é a definição científica de suspeita…tal é a confusão.
Na ausência – felizmente! – de notícias concretas que nos confirmem a eventual propagação da doença no nosso País, usam-se os grandes títulos para confirmar suspeitas e logo no dia seguinte – felizmente! – confirma-se que não se confirmaram as suspeitas da véspera, mas que se suspeita de que haverá novas suspeitas a confirmar no dia seguinte. Agora também se suspeita que as reservas confirmadas do medicamento eficaz se tornarão insuficientes, se se confirmar a suspeita de que se confirma a pandemia iminente. Entre suspeitas confirmadas e confirmações suspeitas, suspeito que era melhor confirmarem que não houve, até agora, - felizmente!- nenhum caso de gripe agora mexicana, aliás, A, no nosso País. Não temos já outras preocupações bem confirmadas que nos angustiem?

Portugal deveria ser de todos...

Escutar o que os cidadãos têm para dizer, mobilizar os cidadãos para participarem de forma séria e construtiva na vida colectiva impelindo-os a pensarem e a apresentarem ideias que possam melhorar a actuação dos poderes políticos e da sociedade civil em geral é por si só uma iniciativa cívica meritória. Aproveitar a “sabedoria popular” é um sinal de inteligência.
Foi o que aconteceu com o “Portugal é de Todos”, uma iniciativa conjunta da Visão, Expresso e SIC, que recolheu na Net cerca de 8.000 propostas apresentadas por cerca de 1.200 pessoas que responderam a um inquérito cobrindo os temas da actuação do governo e do parlamento, da actuação dos municípios e da actuação da sociedade civil.
Estamos pouco habituados a este tipo de participação e o pouco que se faz cai quase sempre em “saco roto”. Para contrariar esta tendência, seria importante a publicação de uma síntese dos contributos recolhidos e que as diversas instâncias democráticas e forças políticas e forças vivas da sociedade civil fossem convidadas a reagir publicamente.
A lista de propostas relativas àqueles três planos de actuação é bastante abrangente e inclui domínios como a justiça, a educação, o combate à corrupção e a participação cívica. São propostas de ideias de cidadãos “anónimos” que vivem os problemas do País, que demonstram ter um olhar atento, crítico e construtivo. São ideias que parecem ser relativamente consensuais e que poderiam ser subscritas por muitos milhares de cidadãos. É também perceptível que as pessoas não estão adormecidas, que não só avaliam os problemas e a suas consequências, como reconhecem a importância da sua solução para o seu bem-estar e o bem-estar colectivo.
Há algumas ideias centrais que se retiram deste trabalho. Umas apontam o dedo a problemas crónicos recorrentemente tratados em programas políticos, eleitorais e de governo mas com um grau de efectividade insatisfatório, como é o caso do combate à corrupção. Outras, como por exemplo no campo da participação cívica, espelham a necessidade de repor o padrão de valores tradicionais enquanto farol de orientação de comportamentos e atitudes ou a necessidade de equilibrar direitos e obrigações de cidadania.
Depois de uma leitura rápida e um pouco em diagonal, confesso, das primeiras páginas das propostas, acabei a seleccionar algumas:

. Aumentar significativamente o papel dos municípios na Solidariedade Social em detrimento do actual papel de "ajudantes" dos empreiteiros da construção civil. Legislar de forma a que os municípios possam tornar maiores e mais eficazes as redes sociais existentes e a existir. Financiar essas medidas com a riqueza criada no município, principalmente. Portanto, um sistema fiscal que deixe ficar nas regiões a riqueza criada por elas em vez de a retirar.

. Promoção de iniciativas de apoio a populações carenciadas, estimulando os jovens ao trabalho voluntário, enquadrados pela Escola. Incentivar os cidadãos a participar activamente nas ONG (Organizações Não Governamentais), com trabalho ou ajuda financeira.

. Colocação de todos os presidiários a realizar trabalho comunitário. Acredito que há demasiado trabalho que pode ser adjudicado a estes, em vez deixar nas prisoes a "aprodecerem" ou cumprirem a sua pena a ver TV.

. A Justiça em Portugal terá de ser reforçada em qualidade e eficacia. A Justiça é muito morosa, levando os processos demasiados tempo, assim como é bastante condescedentes para quem comete delitos gravissimos.

. A solidariedade começa na Primavera" poderia ser o lema do Ministério da Educação para implementar meses cívicos mas obrigatórios para os jovens cuja participação seria activa junto dos idosos, jovens, doentes,crianças.

. Escolher aleatoriamente um cidadão eleitor todos os meses e promover a sua participação activa no município.

. Estamos perante uma sociedade consumista, hoje vivemos a "ressaca" dos gastos superfulos de ontem. A sociedade está deseperada com esta crise que a todos nos afecta. Aliás nenhum cidadão hoje em dia faz qualquer coisa que seja, em função do bem-estar do próximo. É isto que tem que mudar, o governo tem de pôr em prática projectos que deiam motivação aos cidadãos para serem mais solidarios.

. Para podermos viver em liberdade os cidadãos têm de ter instrução,eu recomendava a criação da disciplina escolar de direitos e cidadania que seria obrigatória e com direito a reprovar o ano quando o aproveitamento fosse insuficiente.Disciplina essa que reforçaria a noção dos cidadãos dos seus direitos,obrigações e deveres na vida em sociedade,esta disciplina ensinaria também direito,abordando o estudo das leis essenciais e a noção,compreensão e interpretação da lei na sua generalidade(esta abordagem sobre as leis,poderia servir para atribuir penas mais severas,quando o cidadão,tendo perfeito conhecimento das mesmas as desrespeitasse).

. Deixo aqui uma ideia para os municípios darem mais liberdade a quem não a tem como é o exemplo dos portadores de qualquer tipo de deficiências físicas e motoras.Bastava para isso os autarcas saírem à rua nos seus próprios municípios em cadeira de rodas e dar a volta aos mesmos e tentarem fazer o exercício de uma vida normal como ir ás finanças ou comprar o jornal ou ir ás compras para compreender que coisas tanto rotineiras como as descritas atrás se tornam em autenticas corridas de obstáculos e todo o terreno ou mesmo missões impossíveis.Acho que é hora de fazer cumprir muitas leis que já existem mas é como se não existissem pois não são cumpridas ou são mesmo ignoradas.

. Estes planos de "recuperação social"poderiam englobar também parcerias com outros municípios e autarquias de maneira a dar trabalho a pessoas que fossem abrangidas por estes planos de inserção e reinserção social que estivessem sem trabalho e para tal as pessoas que estivessem a usufruir de rendimentos sociais fossem obrigados a apresentar-se 5 dias por semana(ex:3ª5ª6ª e sábados)de manhã com o fim de serem transportados para locais onde pode-cem prestar serviço social tais como limpeza de matas,obras publicas ,etc.Os dias livres serviriam para poderem procurar trabalho e descansar.Estes trabalhos não trariam nenhum esforço para os cofres do estado pois os sujeitos abrangidos pelo plano já estariam a ser pagos com os rendimentos sociais que já usufruíam e com as rendas das casas que não pagavam.

. Introduzir a prática do voluntariado nas escolas, incutindo desde cedo nos mais novos a noção de partilha, de comunidade, de solidariedade. Alertá-los para a existência do outro, para a diferença, na busca pela igualdade e reforço da integração social.

Portugal é de todos, ou melhor, Portugal deveria ser de todos. Ouçamos pois a voz do povo que normalmente nunca se engana…

Dois Governos - e que grande contraste!

1. É notícia de destaque na edição de hoje do F. Times a revisão, em forte baixa, da previsão oficial da queda do PIB na Alemanha para o corrente ano: dos anteriores -2,25% para -6%!
2. Trata-se de previsão do próprio Governo, em linha com as previsões dos 4 principais institutos de previsão económica do País e mais pessimista do que a maioria das previsões de entidades privadas...
3. O Ministro da Economia alemão, Guttenberg, referindo-se a estas previsões disse, simplesmente: “Enfrentamos uma crise de confiança...precisamos de repor essa confiança e isso requer uma análise honesta e clara da situação...”.
4. Entretanto, face a esta nova previsão, o Ministro das Finanças, Steinbruck, prepara-se para apresentar em breve a 3ª proposta de revisão do Orçamento (seria o 3º Orçamento Rectificativo cá do sítio) para 2009, com menos receitas e maior défice...provavelmente da ordem de 7% do PIB ou mais...
5. Convém não esquecer que a Alemanha terá eleições legislativas em Setembro deste ano...
6. Que diferença abissal para o optimismo “pacóvio” cá do burgo, pensava para os meus botões enquanto lia esta notícia...
7. Há dois dias até já alguém, de opinião tida por autorizada, se lembrou de sugerir, sendo certo que um Orçamento Rectificativo é inevitável, que a melhor solução será o Governo só o apresentar lá para o final do ano...dá tanto jeito...
8. Magnífica ideia esta de apresentar a proposta de Orçamento no final do ano...genial mesmo, pois assim se evitam muitas incertezas e o Governo pode gastar à vontade sem estar sujeito à maçada de ter de respeitar limites de despesa...
9. Será quiçá o momento de a Assembleia da República ponderar alteração da Lei de Enquadramento Orçamental (Lei nº 91/2001) no sentido de o Governo ficar autorizado a apresentar a proposta de Orçamento do ano N até 31 de Dezembro do próprio ano N...
10. O futuro está tão incerto...para quê fazer previsões para o futuro se podemos fazê-las apenas para o passado e mesmo assim com algum risco?
11. Passaríamos deste modo a adoptar em matéria orçamental o famoso princípio do ex-futebolista (FCP) João Pinto: “Prognósticos...só no fim”.

Dalai Lama aceitaria um convite?

Ser ascético é abraçar um modo de vida que repudia os prazeres mundanos, baseado no sacrifício - quando necessário -, mas acima de tudo na austeridade individual. Ser ascético é acreditar que a purificação do corpo ajuda a purificação da alma, podendo esse supremo objectivo ser alcançado designadamente pela automortificação e pela renúncia ao prazer.
A Dr.a Paula Teixeira da Cruz veio criticar a candidatura de Pedro Santana Lopes a presidente da Câmara de Lisboa porque o seu companheiro de partido não preenche os requisitos de 'rigor´ e de 'ascetismo' que ela considera essenciais ao desempenho do cargo. Estou de alma e coração com Paula Teixeira da Cruz neste movimento que pretende elevar bem alto a fasquia moral para exercício de cargos públicos.
Eu pecador me confesso: mesmo que os meus fracos méritos a isso não conduzissem, afastaria de mim a tentação de me candidatar a cargo similar, impreparado como estou para me sujeitar a qualquer modalidade de automortificação ou para renunciar a prazeres mundanos.

quarta-feira, 29 de abril de 2009

“Desviados”!

A tentativa de interpretar as causas das doenças numa base moralista não é de hoje. Constitui um perigo que não se restringe à própria medicina ou saúde, alastrando-se a todas as outras áreas. É óbvio, é mais do que evidente, que grande parte das doenças que nos afligem é devida ao nosso comportamento. Mas a afirmação, segunda a qual muitas das doenças são devidas a “desvios do comportamento”, levanta algumas interrogações e, até, perplexidade, traduzindo, obviamente, um pensamento doutrinário-filosófico que se assume como o “melhor” de todos.
Li numa crónica que “muitas doenças, sejam quais forem as causas, tais como o alcoolismo, a droga e a sida, são devidas a desvios do comportamento”. Claro que o comportamento está presente, tanto nestas como em muitas outras. O que me chamou a atenção foi a palavra “desvio”. Desvio de quê? Tem que haver algo que seja considerado “normal”. E aqui coloca-se a questão: - O que é que deve ser considerado como normal em matéria de comportamento? E quando é que o comportamento deverá ser considerado como desviante? Onde e quem é que estabelece a fronteira do “normal” e do “desvio” propriamente dito? Sinceramente, não consigo delinear as fronteiras. O que eu consigo detetar é que se pretende imputar ou até demonizar certas condutas numa base doutrinária-filosófica.
Os milhões de casos de sida e de portadores de vírus VIH por esse mundo fora, face à tal doutrina, são exemplos de “desvios de comportamento”! Os milhões de casos de alcoolismo por esse mundo fora são devidos a “desvios de comportamento”! Os milhões de casos de toxicodependência por esse mundo fora são devidos a “desvios de comportamento! Logo, se se portarem bem não irão beber a ponto de se tornarem alcoólicos; não irão consumir drogas a ponto de se tornarem toxicodependentes e não irão fornicar a ponto de se tornarem sidófilos. Pronto já está! Medidas simples, baseadas em “leis” morais construídas pelos homens e para os homens com o beneplácito e bênção de entidades superiores. No entanto, esquecem-se que os tais “desvios comportamentais” resultam em muitos casos de uma interação biológica-cultural que contribuiu, e muito, para a evolução da nossa espécie. As grandes conquistas da espécie humana devem-se, também, e talvez de forma predominante, a comportamentos ancestrais que hoje, com a introdução natural e expectável de regras sociais, são considerados como “desviantes”. Como impregnam a nossa essência enquanto espécie, é muito provável que não consigamos faze-los desaparecer e, quem sabe, se num futuro próximo – caso de graves cataclismos -, não possam constituir uma mais-valia, uma espécie de motor de sobrevivência?
A apetência para drogas, para o consumo do álcool e para outros comportamentos de risco está associada a fatores biológicos. Nalguns casos, os “tresmalhados” parecem ser mais afoitos, mais criativos, mais “loucos”, correndo muitos riscos, factos que poderão ter tido vantagem seletiva no passado. Se começarmos a enveredar pela moralização da doença, então é de esperar que o diabético e o obeso sejam considerados como “desviantes” de um comportamento alimentar saudável, um hipertenso seja visto como um desviado comportamental em termos de consumo de sal, um mulher com cancro do colo do útero como uma promíscua ou alvo de promiscuidade masculina, e um fumador como um pecador, entre muitos outros exemplos. Ao menos, os que andam por aí a propagar as suas opiniões acerca das causas das doenças, poderiam ser mais conclusivos ficando-se pelo pensamento agostiniano que diz que “todas as doenças são devidas aos demónios”. Assim sempre se podia transferir as causas para um outro nível. Mas não, querem transformar muitos seres humanos em “demóniozinhos”. Espero que os profissionais de saúde não sejam contaminados por este tipo de “vírus moralista”. Compete-nos, acima de tudo, respeitar as pessoas e evitar quaisquer juízos de valor sobre os seus comportamentos, pelo menos evitando chamar-lhes “desviados”, embora reconheça que há muito por fazer em matéria de prevenção. Os comportamentos deverão ser adaptados às novas realidades, mas sem lhes imputar quaisquer conceções moralistas.

Querem mais Estado - entendem que a economia sofre pouco, ainda?

1. Na 2ª Feira, num conhecido programa de troca de opiniões do canal oficial de TV, um dos pensadores-mores do regime proferia dura catilinária contra os “neo-liberais”, acusando-os de terem burlado o Povo e agora acolherem-se à protecção do Estado...
2. A solução para a grave crise económica e financeira em que ainda estamos mergulhados, segundo essa muito esclarecida corrente de pensamento – de que o famoso Bloco é aliás um distinto precursor entre nós - consiste em confiar mais no Estado e menos no “privado”, este último tomado como género das espécies maléficas (“neo-liberais” e seus apaniguados) que espalharam o caos e o desemprego pelas economias, em muitos casos obrigando ao esforço dos contribuintes para colmatar os défices que geraram.
3. A história contada ao estilo do Capuchinho Vermelho ou do João Ratão até faz sentido, não podendo a sua moral (da história) deixar de ser outra que não esta: se esses malandros (os tais “neo-liberais”) para compensar o resultado de seus desmandos recorrem à protecção do Estado então é bem melhor que o Estado, doravante, ponha termo a essas imoralidades, passando a intervir mais na economia, como regulador e como produtor.
4. Precisamos pois de mais Estado e de menos privado, invertem-se a lógica e a doutrina que prevaleceram após a queda do muro de Berlim...os planos de privatização vão para a gaveta - ai do governante que se atrever sequer a sugerir uma nova privatização, caem-lhe em cima, corre o risco de ser delapidado...
5. Ao ouvir este discurso, quando a economia portuguesa está pagando uma factura insuportável por...ter excesso de Estado, tanto Estado-Administração Pública como Estado-produtor de bens e serviços...interrogo-me sobre o que mais nos pode acontecer...
6. Quem ler o magnífico livro de Vítor Bento, recentemente editado – “Perceber a Crise – para - Encontrar o Caminho”, vai certamente entender a “camisa de 11 varas” em que a nossa economia se encontra metida: é quase impossível travar o aumento da nossa dependência financeira em relação ao exterior, que tende a agravar-se indefinidamente até ao “sufoco” completo...
7. Nada que neste 4R não tenhamos vezes sem conta referido, mas que V. Bento nos explica, de uma forma lógica, coerente e clara, pondo em evidência a natureza e a gravidade do problema económico português.
8. Tenho argumentado que o nosso problema económico tem carácter estrutural e apresenta uma enorme rigidez.
9. Os sectores protegidos da economia e “campeões” da baixa produtividade – (i) Estado, incluindo aqui as Administrações Central, Regional e Local, Sector Empresaria Público, bem como as empresas públicas ou EPEs, as Empresas Regionais e as Empresas Municipais, (ii) Empresas monopolistas ou quase-monopolistas, (iii) Parcerias Publico-Privadas – assumem um peso desconforme na actividade económica, consumindo grande parte dos recursos disponíveis e contribuindo, de forma decisiva, para “arrasar” a produtividade do trabalho e dos outros factores.
10. A questão da produtividade, da qual se fala vezes sem conta é, nesta perspectiva, uma falsa questão: não pode melhorar enquanto não for resolvido – isto é, dramaticamente reduzido – o peso dos sectores protegidos e a carga que impõem ao resto da economia, que vem definhando, agora de forma acelerada...
11. E ainda querem mais Estado? Bem, se tivermos mais Estado pelo menos libertam-nos da “maçada” de tentar “Encontrar o Caminho” (Vítor Bento). Não é o Povo que diz “O que não tem remédio, remediado está...”?

Até parece que ficámos presos neste retrato

"Nenhum povo pode viver em harmonia consigo mesmo sem uma imagem positiva de si. A revolução de Abril restituiu ao cidadão português a plenitude dos direitos cívicos comuns às democracias ocidentais, operou uma mudança na relação de forças entre as classes sociais, mas não encontrou ainda aquele ponto de apoio que corresponda ao sentimento de natural fruição da autonomia e da dignidade nacionais. A colectividade nacional não vive Portugal como uma realidade histórica sustentada e animada por um sentimento de confiança e de legitimo orgulho no seu destino particular. Mau grado a luta pela dignidade nacional, pela recuperação das suas possibilidades económicas, sociais e culturais, a actual imagem de Portugal aparece de novo, aos olhos dos portugueses, eivada de estigmas e de carências cuja recordação pesa na nossa memória colectiva. (...)Para quando a nova viagem para esse outro desconhecido que somos nós mesmos e Portugal connosco?"

Eduardo Lourenço, Psicanálise Mítica do Destino Português, 1977, in "O Labirinto da Saudade"

terça-feira, 28 de abril de 2009

Bafio!...

Elisa Ferreira e Ana Gomes são candidatas do Partido Socialista ao Parlamento Europeu.
Elisa Ferreira e Ana Gomes são também candidatas do Partido Socialista à Câmara do Porto e à Câmara de Sintra.
Representam de forma perfeita uma classe que se agarra como lapa ao poder. Cujos membros, após agarrarem o estatuto, não arredam pé, não dão lugar a outros, não deixam entrar ar fresco.
Com eleição garantida para o Parlamento Europeu, serão maus candidatos às Câmaras. Aí, nada tendo a ganhar e muito a perder, o trabalho será feito por outros.
A classe política funciona em circuito fechado. Exala bafio por todo o lado!...

"Gripe mexicana"

Querem que a "gripe suína" passe a designar-se por "gripe mexicana", por causa da sensibilidade dos judeus e muçulmanos. Porco nem pensar!!!
Esta rapaziada que não come carne de porco faz-me uma confusão dos diabos. Lá que venham a morrer de gripe H1N1, nova estirpe, é o menos, mas morrer de "gripe suína" nem pensar.

Elevação

Antes de sair de casa ouvi as notícias como habitualmente. Entre crises e catástrofes, tumultos, afirmações e desmentidos da política caseira, soube que o lider da lista do PSD às europeias tinha lançado um livro no Porto que, pareceu-me, reúne parte das suas reflexões e intervenções sobre a situação do País. Fiquei também a saber que o livro e o autor foram apresentados pelo Professor Gomes Canotilho. É conhecida a ligação de Gomes Canotilho ao PS que não seja pelo seu envolvimento nas Novas Fronteiras. Mas isso não o inibiu de realçar as qualidades de Paulo Rangel, aliás num registo alto de elogio muito pouco comum nos académicos. Vão sendo infelizmente raros estes exemplos de pessoas cuja dimensão lhes permite, naturalmente, apreciar qualidades e tornar público o seu reconhecimento sem que a isso se oponha a divergência nas ideias.
Uma lição de Gomes Canotilho que importa deixar sublinhada.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Lino e o legado

Sei que vai ser assim até às eleições e que esta incontinência verbal de cariz comicieiro faz parte da campanha eleitoral em que já mergulhámos. Mas não deixam de chocar as palavras de Mário Lino que em vez de criticar com argumentos as ideias do lider parlamentar sobre as opções de investimento público, se limitou a atribuir a Rangel uma visão cinzenta e salazarenta do país, sem investimentos e sem legado para as gerações futuras.
O ministro não notou, porém, que as suas palavras foram ditas numa daquelas cerimónias de exaltação das obras públicas tão ao gosto dos paladinos do Estado Novo (com a diferença que dantes se inaugurava a obra feita e agora se inaugura a obra por fazer). E não notou também que Paulo Rangel não negou que o programa de investimentos do governo representasse um legado para as gerações futuras. Bem pelo contrário, disse claramamente na sessão solene do 25 de Abril que o problema era exactamente esse legado e a impossibilidade de as tais gerações vindouras o repudiarem!

Então Euro, porque nos desconfortas?...

1. Os resultados de sondagem realizada a nível europeu, divulgados na semana passada, mostraram que os portugueses são dos menos entusiasmados com a adopção da nova moeda – quase 2/3 dos inquiridos disseram que estaríamos melhor se tivéssemos ainda o Escudo.
2. Ontem ouvi na rádio um comentário do distinto economista e honrado cidadão Prof. João Ferreira do Amaral, desde sempre um Euro-céptico, sustentando a tese de que foi pena não se ter organizado um referendo aquando da aprovação do Tratado que instituiu a moeda única.
3. Compreendo perfeitamente o desconforto sentido pelos portugueses em relação ao Euro...e considero bem provável que a % dos que não se sentem bem dentro deste regime monetário venha a aumentar, com o tempo.
4. Se as condições de vida se estão degradando para um número tão significativo de cidadãos e não se vislumbra no horizonte qualquer perspectiva de virem a melhorar, é natural que as pessoas se interroguem quanto às vantagens de termos adoptado o Euro...
5. Importa porém ter presente que o Euro não é o culpado verdadeiro pelo mal-estar e pelo saudosismo do Escudo que um número tão expressivo de portugueses evidenciam...o grande problema, como aqui tenho muitas vezes sublinhado, foi a forma como “enfrentamos” a entrada no Euro.
6. A expressão enfrentamos está entre “ ” porque, na verdade, nem eu nem os ilustres comentadores do 4R temos qualquer responsabilidade no facto de os nossos ilustríssimos governantes da época da entrada no Euro terem resolvido assumir uma atitude de “novo rico”, arrastando-nos para um enorme equívoco.
7. Desprezou-se uma pedagogia fundamental do que implicava a adopção do Euro: (i) rigorosa disciplina financeira, muitíssimo em especial do Estado, (ii) contenção nos gastos das Famílias e na expansão do crédito bancário (coisa que por exemplo o Banco de España fez e muito bem na época), (iii) renovado esforço para obtenção ganhos de produtividade por parte das Empresas...
8. O que foi feito? Exactamente o oposto.
9. Numa postura de exuberante “optimismo pacóvio”, o Estado abriu ainda mais os “cordões à bolsa” – e a gestão orçamental dos anos anteriores à entrada no Euro havia sido já imensamente pródiga - os bancos desataram a financiar as Famílias e as empresas com grande liberalidade, sem qq cuidado quanto ao excesso de endividamento (créditos à habitação por montantes superiores a 100% do valor atribuído ao bem adquirido ou construído foram um exemplo entre muitos outros), assistimos a uma corrida desenfreada ao endividamento, ninguém quis saber...
10. Alguns cidadãos que tiveram a ousadia de alertar para o grave erro que se estava cometendo foram apelidados de pessimistas, aves agourentas e outros epítetos (ainda hoje os guardo como grata recordação...), ninguém quis saber de tais alertas.
11. Passaram 10 anos e agora é tarde, muito tarde mesmo...teremos de penar por muitos e bons anos...mas, por extraordinário que pareça, o “optimismo pacóvio” continua doutrina oficial ...
12. Alguém de bom senso ainda acredita que este problema tenha outra solução que não seja, lamentavelmente, “de mal a pior”?

Corruptissima republica plurimae leges

A expressão é de Tácito (Anais, 3, 27, 3) e a ideia que encerra foi retomada, muitos séculos depois por Montesquieu em O Espírito das Leis, quando afirma a tese de que as leis inúteis enfraquecem as leis necessárias.
"Estado corrupto, múltiplas leis", ensinavam os clássicos. Ensinamento testado e confirmado ao longo dos tempos. A par desta, a História dá-nos outra lição: a de que raramente aprendemos com a História...

domingo, 26 de abril de 2009

Clube das Virgens

Hoje, no jornal Público, uma donzela, de sua graça Margarida Menezes, dá uma entrevista. O aspeto mais interessante da entrevista assenta, não no facto de andar a propalar aos quatro ventos a sua virgindade, mas, na fundação de um clube de virgens. Bom, nos tempos que correm, em que há uma propensão para o fascismo da vulgaridade, acaba por ter destaque de primeira página quem se arvora ou caia naquela parte da curva em que mergulham os mais raros, neste caso as mais raras. Ser-se virgem por opção, por motivos religiosos ou por quaisquer outros motivos, é uma realidade que não me compete criticar. Não é uma questão de ser a favor ou contra. A donzela está à espera do seu príncipe encantado a fim de poder-lhe entregar aqueles “centímetros quadrados”, e faz muito bem se é isso que deseja. Mas daí a andar a criar um clube de virgens, parece-me um pouco excessivo. Não vejo quaisquer vantagens, nem mesmo nas célebres correntes evangélicas, sobretudo norte-americanas, que convidam os jovens a serem virgens até casamento. A interpretação que fazem é que deverão manter o hímen íntegro ou o pénis ignorante dos prazeres do sexo vaginal. Tais comportamentos não impedem de ser mais achacados a outros problemas, nomeadamente doenças sexuais transmissíveis, e procurar, em alternativa, o sexo oral e o sexo anal. Enfim, esta coisa de virgindade é muito mais complexa e não é passível de ser reduzida apenas a uma única prática, neste caso sexo vaginal.

Há uns anos, num determinado contexto particular, uma senhora procurou-me para dar a notícia de que a filha estava grávida e que ia casar-se. Nada de especial, pensei eu. No entanto, a senhora não se ficou por aqui. Denotava uma certa ansiedade, revelando a necessidade de explicar mais detalhadamente o que se tinha passado. Foi então que afirmou que, apesar de estar grávida, a filha era virgem. Acentuou esta explicação como quem que diz, não foi desflorada, é pura, muito pura, ninguém a penetrou, ela quer chegar virgem ao casamento. E, esquecendo-se de que era estudante de medicina, lá foi dizendo que tinham feito aquilo nas coxas e ... Bem, aqui comecei a corar, julgo eu, e tossindo nervosamente lá interrompi o discurso, desviando o mais rapidamente a conversa de forma a ser poupado com mais detalhes. Já tinha conhecimentos suficientes nessa altura para saber que os espermatozoides são piores que lobos esfomeados e, assim que podem, atiram-se de cabeça sobre o primeiro óvulo que possam encontrar. Alguns são mesmo muito atrevidos! Este caso foi o primeiro de muitos outros que pela vida fora fui encontrando, virgens que ficavam muito admiradas por terem engravidado.

Face ao exposto questionei-me se a donzela não teria tinha elaborado alguns estatutos. E elaborou mesmo! Segundo o art.º 2, “O Clube das Virgens, é completamente alheia a todas as manifestações de caráter Político, Desportivo e Racial, não tem fins lucrativos e visa a união e convívio de todas as Mulheres que fizeram a opção de o serem, ou / e por razões que a cada uma diz respeito ainda não sentiram vontade de deixar de o ser…pretende-se: O convívio entre Mulheres Virgens; Troca de ideias; Troca de experiências; Debates; Participar em iniciativas organizadas pelo Clube das Virgens; Organização de desfiles «miss clube das virgens»; Angariação de Fundos para Instituições de Solidariedade Social e ajuda Humanitária.” Ainda procurei o que acontece quando deixam de ser virgens, mas nada! Podiam ao menos criar o estatuto de “virgem honorária” e de “virgem benemérita”!

Votos para que um dia lhe apareça o “príncipe encantado”..

A genialidade da imaginação...

Os alunos não usariam livros, iriam ouvi-los, de acordo com a vontade do professor...
(observe a animação do auxiliar)

Recebi por e-mail uma colecção de gravuras da Biblioteca Nacional de França feitas em 1910, que retratam o que as pessoas imaginavam seria a vida no ano 2000. As que apreciei são impressionantes pela genialidade de prever o futuro. Aqui fica uma das gravuras de que mais gostei. Como será daqui a 90 anos?

sábado, 25 de abril de 2009

Nenhum genocídio deve ser esquecido

Um post muito interessante que relembra um outro "24 de Abril".

"Aqueles que insistem em ressuscitar o conceito de raça devem ser contidos, sob pena de incitarem processos odiosos"



A política partidária está muito doente...

Um estudo da Eurosondagem para a Renascença, Expresso e SIC, ontem divulgado, revela que a maioria dos portugueses (77%) não se revê nos partidos políticos, não acredita na política partidária.
Não deixa de ser curioso que apesar desta avaliação negativa, os portugueses não reivindiquem a criação de novos partidos. À direita, apenas 29% defendem essa necessidade. À esquerda, o número desce para 21%. Mas são cerca de 80% os que concordam que as candidaturas independentes ao parlamento deveriam ser possíveis.
A sondagem revela também que a maioria esmagadora dos cépticos (73%) considera que a política partidária se move por interesses próprios, relegando para segundo plano o interesse nacional.
A saúde, justiça e educação são as principais áreas de preocupação dos portugueses. É a conclusão retirada das respostas à pergunta sobre quais os direitos fundamentais que são menos respeitados em Portugal, apesar da sua consagração constitucional.
Muito admirada ficaria se a justiça não fosse apontada como uma área de preocupação generalizada. Não que a saúde e a educação não o sejam também. O mau funcionamento da justiça é um dado adquirido que, para além de se constituir como uma via de injustiça, está a afectar e a penalizar o bom funcionamento do sistema político.
Com efeito, uma justiça que não cumpre com a sua principal função que é regular a ordem social gera desequilíbrios na sociedade, na economia e também não poupa o sistema político. Este quadro desolador ajudará a explicar o descrédito dos portugueses em relação à política partidária.
Diz-se que as sondagens valem o que valem por serem simplesmente sondagens. Mas há sondagens que reflectem muito bem a realidade!

sexta-feira, 24 de abril de 2009

A mulher de César...

A jornalista Fernanda Câncio vem sendo apresentada, sem desmentido, como namorada e companheira do 1º Ministro, José Sócrates. É matéria do foro privado, e o que lhe poderemos desejar é que sejam muito felizes.
Mas à mulher de César, e aqui com toda a propriedade, não basta ser honesta, é preciso parecê-lo.
Por isso, é de todo lamentável o seu artigo no DN de violenta crítica a Cavaco.
Para além deste facto, que é o essencial, custa-me ler, custa-me mesmo muito a ler que um dos poucos políticos portugueses que tem ideia do que é serviço público e a ele se dedique, seja acusado de só pensar em si próprio. Sem provas e de forma indigna.

Paradoxo do Pinóquio

Paradoxo muito interessante...

Afundamento da economia, desemprego - que culpa tem o Governo?

1. A sucessiva divulgação de dados cada vez mais desfavoráveis sobre o desempenho da economia no ano em curso, tem provocado um coro de acusações contra o Governo e suas políticas.
2. Isto é particularmente verdade em relação à esperada contracção do PIB que segundo as mais recentes previsões pode mesmo exceder -4% e ao forte aumento do número de desempregados que se aproxima rapidamente da barreira dos 500.000, a caminho dos 10% da população activa.
3. Refira-se, por ser não despiciendo, que o número oficial de desempregados deve ser tido como uma “proxy” subavaliada da realidade por razões que já aqui temos referido: é sintomático que o Instituto do Emprego se recuse a divulgar os números dos ex-desempregados, ou seja das anulações que mensalmente efectua no registo dos desempregados inscritos...
4. Seja como for, com + ou - desempregados, o que importa aqui indagar é da justeza maior ou menor das culpas que são atribuídas ao Governo pelo estado comatoso para que a economia portuguesa vai convergindo.
5. Tenho a noção de que a “culpa” deste Governo pelo actual afundamento da economia é bem diminuta em termos objectivos: no contexto actual, os governos nacionais pouco podem fazer só por si – no curto prazo, entenda-se, no médio/longo prazo já não é assim - para dinamizar as economias ou para as proteger de choques externos sobretudo quando estes têm a violência e extensão do actual.
6. Então porquê esta noção generalizada, que percorre todo o espectro político - desde a impropriamente chamada “esquerda” até à impropriamente chamada “direita” - de que o principal culpado deste estado de coisas é o Governo?
7. A resposta é simples: foi o próprio Governo, com as suas promessas (i) de bem-estar crescente, (ii) de solução para todos os problemas e sobretudo para aqueles que mais escapam ao seu controlo (v.g. Quimonda), (iii) de criação mágica de empregos (onde param os famosos 150.000 prometidos no início da legislatura?) (iv) de sucessiva montagem (e posterior desmontagem) de cenários rosa, (v) de produção de estatísticas pouco ou nada credíveis – que criou as condições para que agora lhe sejam assacadas todas as culpas, mesmo as que numa análise objectiva não merece.
8. Interrogo-me como é possível certas pessoas chegarem ao mais alto nível da chefia política sem se darem conta de que ao fazer certas promessas estão vendendo ilusões - que depois, manifestamente incapazes de cumprir, lhes saem tão caras...
9. No pouco tempo que labutei na A. R. apercebi-me que existe de facto na boa maioria (não todos felizmente) dos políticos profissionais uma tentação cénica irresistível...e uma gémea tentação de viver “aos abraços” com o pessoal da comunicação social ao que me pareceu na ânsia de conseguir mais umas “breves” a seu favor...tudo num plano de ficção e de auto satisfação que muito me impressionava...
10. Mas mais impressionante ainda é o facto de mesmo depois de assumirem a máxima responsabilidade executiva não vislumbrarem que tudo ou quase tudo aquilo que prometem...não existe em armazém e é de entrega muito contingente - isso não reclamará uma indagação do foro “neurológico-político”?...

quinta-feira, 23 de abril de 2009

A "realidade" mil vezes impingida!...

Desde há muito que o Governo e Sócrates (o 1º Ministro ainda há dois dias o repetiu na RTP), dizem que definiram e vêm concretizando como medida prioritária e essencial o investimento público, para dinamizar a economia e contrariar o aumento galopante do desemprego.
Fui ver se é verdade. E consultei a Conta Geral do Estado de 2007 e os Relatórios de Execução Orçamental de 2008 e 1º Trimestre de 2009, documentos insuspeitos.
Verifiquei que não há ponta de verdade no que diz o Governo, já que a despesa de capital da Administração Central e da Segurança Social, isto é, o investimento da responsabilidade do Governo, tem vindo a diminuir ano após ano.
Em 2005, foram investidos 4,54 mil milhões de euros; em 2006, o valor investido foi menor, 4,16 mil milhões de euros, e em 2007, o valor foi ainda mais baixo, 4, 07 mil milhões de euros.
E se em 2005 tal valor representava 3,0% do PIB, passou a representar 2,7% em 2006 e apenas 2,5% em 2007.
Comparando com a despesa total, o investimento público representava 7%, em 2005, e passou a representar 6,4% em 2006 e 6% em 2007.
Isto é, o Estado tem aumentado a Despesa Pública, mas em gastos puros e muito desperdício, pouco sobrando para investimento, pelo que a parcela investida é cada vez menor.
No que respeita a 2008, ainda não há Conta Geral do Estado. Mas compulsando o Relatório da Direcção Geral do Orçamento referente a Dezembro de 2008, aqui apenas no que respeita ao Sub-Sector Estado, verifica-se que ao investimento foi de 2,8 mil milhões de euros, equivalente a 6,1% da despesa, quando no ano anterior foi 3,2 mil milhões, equivalente a 7,1%. Portanto, o investimento público de 2008 baixou em relação a 2007.
E a tendência mantém-se em 2009. No 1º trimestre, o investimento foi de 580,5 milhões de euros, equivalente apenas a 5,6% da Despesa.
Também nesta matéria, o que o Governo diz não corresponde à realidade e a política de investimento público tão persistentemente apregoada e louvada é um mito. Cada vez mais os impostos que pagamos e a dívida que contraímos vão para puro desperdício. É esta, infelizmente, a realidade dos factos. Que nada podem, até ver, perante a realidade diariamente impingida pelo Governo.

Sócrates

No Twitter encontrei a seguinte definição de Sócrates. É de antologia!

Sócrates: "Senhor de cabelo branco e de fato cinzento que está sempre a rir e que manda no mundo." – (Afonso, 6 anos)

Livros e notícias benditos!

Fernando Lugo é um homem surpreendente. Renunciou ao cargo de bispo para se tornar presidente do Paraguai. Fernando Lugo é um homem duplamente surpreendente. Passado pouco tempo, após ter ocupado o mais elevado cargo do seu país, reconhece que é pai. Foi pai e bispo ao mesmo tempo. Fernando Lugo é um homem triplamente surpreendente. Ainda não tinha digerido esta façanha paternal e eis que a Dona Benigna - benigna de nome, porque na cama deve ser tudo menos isso -, acaba de reclamar a paternidade para um dos seus filhos ao atual presidente, responsável pela piocópula.
Quem diria que debaixo daquelas vestes respeitáveis se escondia um perfeito garanhão? Não deixo de me questionar até onde irá parar todas estas façanhas! Já são dois, mas nada impede que possam aparecer mais. Ser-se filho de bispo é outra loiça, porque de padres é mais corriqueiro.
Lugo, que pode ser considerado um bom eclesiástico, é um fiel discípulo da doutrina do Vaticano, ao recusar o uso do preservativo. Neste ponto, tenho que admitir a sua coerência. Mas não fica por aqui, porque também é sensível à máxima divina, “crescei e multiplicai-vos”; conseguindo ultrapassar a plástica abstinência eclesiástica. Grande Lugo, a fazer lembrar os ricos contributos que os religiosos deram, e continuam a dar, para evitar o despovoamento e promover o crescimento demográfico.
Cruzei a leitura da notícia com o conto “Malditos Livros”, inserido na obra, “Contos Bárbaros”, de um genial escritor português, João de Araújo Correia. Tudo, porque tive um momento livre que antecedeu o almoço. Sentado numa esplanada, sob o efeito de um Sol simpático, ao mesmo tempo que saboreava um estimulante café, lia com ansiedade e tristeza as notícias do dia. Nem vale a pena comentar muito. Trágicas, medíocres, mesquinhas, parvas, algumas denotando raiva, outras ódio, misturadas com baboseiras e análises pirosas, contribuíam para reforçar um desejo íntimo, a necessidade de mergulhar na leitura. Pode ser que seja uma fuga à realidade, ao entrar no mundo dos outros. É capaz de ser isso, mas ao menos fico menos ansioso. A realidade entristece-me cada vez mais.
Voltando ao conto do médico escritor, Araújo Correia, o autor narra a vida do padre Bento, o tal que usava um chapéu diferente, consoante a amada. Eram tantas que deveria ter uma volumosa chapeleira capaz de rivalizar com a sua livraria onde mergulhava a avidez literária, ao ponto de um dia ter sido questionado porque é que tinha tantos livros. Respondeu de forma áspera e pronta, como era o seu timbre, porque precisava de “esquecer que vivia entre burros e para manter os burros em respeito”. Pessoa singular, aliava a um humanismo sem limites o uso e abuso de linguagem pouco apropriada e, até, mesmo atitudes que o associavam ao diabo. De facto, o homem conseguiu ser diabólico, mas apenas em matéria de saias, que o digam as mulheres de Cima-Corgo, onde semeava pioespermatozóides a torto e a direito com os consequentes resultados: crianças de cabelo preto, pele branca e olhos azuis, a marca de padre Bento, em que “a noite e o dia” se transformavam em belos seres humanos.
No dia do seu funeral, aos 84 anos, nasceu mais uma filha, mais uma bela “noite e dia”. A mãe, recém-parida, irrompe pela igreja dirigindo-se ao celebrante. Meio esbaforida, comunica-lhe que os livros do padre Bento são livros do Diabo e que queria queimá-los. O arcipreste ouviu e, mansamente, disse-lhe: “- Queime, queime...”
E assim foi. Em pouco tempo as cinzas substituíram inutilmente os preciosos espíritos das obras.
Queimar livro é um ato hediondo. É a mesma coisa que queimar uma pessoa. Hoje, queima-se tudo e por nada. Para já não se queimam, ainda, os livros, mas lança-se azeite a ferver sobre as pessoas, torturam-nas de forma sádica, lançam opróbrios e humilhações a torto e a direito, enegrecem o bom nome, escondem e branqueiam os poderosos e roubam a esperança que resta aos demais. Mas enquanto tudo isto acontece ao nosso redor, ao menos ainda somos confrontados com notícias interessantes e humanas, como a do ex-bispo procriador Fernando Lugo, e de belas obras como os “Contos Bárbaros”, onde nos sentimos à vontade e felizes, sem temermos ninguém; graças aos livros, que não são malditos, mas sim benditos!

Economia mundial: recuperação? Grande incógnita...

1. Martin Wolf, notável colunista do Financial Times, assinou ontem um dos seus mais interessantes textos, dedicado à análise da crise económica internacional e em que coloca especial enfoque na estratégia escolhida para o combate a essa crise e nos seus presumíveis resultados.
2. Wolf sustenta que esta estratégia de combate à crise não nos pode reconduzir ao ponto de partida da mesma, porque isso seria reincidência no erro– “the world economy cannot go back to where it was before the crisis, because that was demonstrably unsustainable”.
3. Um importante resultado que a estratégia de combate implementada desde os USA até à Europa, com a participação activa do FMI, certamente vai obter é evitar aquilo que na sua ausência teria sido uma depressão extremamente cavada e longa da economia mundial, com particular ênfase nas economias mais desenvolvidas. Seria pior que em 1929-33.
4. Mas o facto de com toda a probabilidade ter sido possível evitar as piores consequências da crise financeira sobre a actividade económica a nível mundial não significa, segundo Wolf (e bem, parece-me), que estejam criadas as condições para uma retoma económica sustentada e duradoura.
5. “Is the worst behind us? In a Word, NO” – é esta a posição de Wolf em relação às perspectivas de recuperação geradas pelos programas de combate à crise.
6. É verdade, reconhece, que o declínio económico regista já algum abrandamento (USA, Alemanha, por exemplo), com a quebra da procura a desacelerar. Também é verdade que o sistema financeiro global dá sinais claros de estabilização, sendo já muito apreciável a redução dos spreads entre as dívidas de maior e de menor risco (privada "versus" soberana).
7. Mas é ainda muito cedo para se falar de uma próxima retoma e ainda menos de um regresso a um crescimento sustentado.
8. É remota, na análise de Wolf, a eliminação do excesso de capacidade instalada em múltiplos sectores de actividade, sendo mais afastada ainda a perspectiva do fim do processo de desendividamento (deleveraging) do sector privado.
9. Em última análise, a grande questão que se deve colocar é de saber se a principal causa desta crise económica - de que a crise financeira foi ao mesmo tempo consequência e causa, é curioso – ou seja um formidável desequilíbrio estrutural das principais economias, algumas exibindo enorme excesso de despesa em relação ao rendimento que geram (USA e UK, como bons exemplos) e outras um grande excesso de poupança (China, Japão, Alemanha, países do Golfo) – terá correcção com a “receita” que tem vindo a ser adoptada.
10. Wolf entende que não: nem as medidas de estímulo económico de curto prazo conhecidas nem o saneamento dos balanços das instituições financeiras serão por si sós suficientes para fazer o Mundo regressar a um crescimento económico sustentado e saudável – enquanto aqueles desequilíbrios estruturais não forem corrigidos.
11. O grande risco, a final, é que uma pequena recuperação venha a ser interpretada como um regresso à “normalidade” anterior ao desencadeamento da crise: “will convince the world things are soon going to be the way they were before”.
12. “They will not be”, conclui Wolf. Subscrevo.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Como era aquela estória da boa moeda?


A falta de consenso parlamentar quanto à candidatura do Professor Jorge Miranda a Provedor de Justiça acentua a razão dos muitos que consideram que vivemos um gravíssimo problema de falta qualidade da nossa democracia. Desprezar a disponibilidade de alguém com o passado, a dimensão humana, o saber e a isenção de Jorge Miranda torna quase irónico que esta patologia se revele em pleno à custa de uma personalidade que, como poucas, se bateu pela qualificação do nosso sistema democrático e muito em especial pela afirmação dos direitos, liberdades e garantias e pela efectividade das normas que os consagram.

Às vezes penso que Portugal não merece alguns dos seus. Mas rapidamente percebo que não é Portugal, nem muito menos a larguíssima maioria dos portugueses, quem não resiste a desprezar a boa moeda...

terça-feira, 21 de abril de 2009

Uma boa notícia, mas...

A Ministra da Saúde anunciou duas medidas positivas no apoio aos tratamentos de infertilidade: o aumento da comparticipação de 37% para 69% nos medicamentos usados nos tratamentos de infertilidade e a possibilidade de os casais que se encontram em lista de espera há mais de um ano nos hospitais públicos poderem ser tratados no sistema privado.
Uma boa notícia para os casais que lutam pela realização do sonho de ter filhos. São medidas de importante alcance social, designadamente porque reduzem a aberrante discriminação em relação aos casais que por não disporem de rendimento não podem recorrer ao sistema privado, em alternativa à longa espera de anos a que têm que se sujeitar para receber tratamento nos hospitais públicos.
Não compreendo, contudo, porque é que os casais que estão em fila de espera nos hospitais públicos não são livres de poder escolher os centros médicos do sistema privado autorizados a fazer tratamentos de infertilidade. Com efeito, será o Estado a determinar ao casal infértil o centro privado que lhe fará o tratamento. Mais um tique estatizante dispensável que, ou muito me engano, vai complicar a eficácia da medida.
Assim como, também, não compreendo porque é que neste domínio tão sensível da vida a comparticipação nos medicamentos não é assegurada a 100%.
Esperemos, então, que as medidas finalmente anunciadas, depois de anos de estudos e mais estudos, passem do papel ao concreto. Não raras vezes entre um e outro vai uma grande distância…

O Ministro goza connosco!...

Pelo caminho que as coisas levam, arriscamo-nos seriamente a que, no fim do ano, a Despesa Pública ultrapasse os 50% do PIB, um feito socialista de que qualquer moderno regime “comunista democrático” não desdenharia.
Nos três primeiros meses do ano, a despesa corrente primária aumentou mais 6,2% do que em igual período do ano anterior. E a despesa total cresceu 4.9%, sendo o respectivo grau de execução da ordem dos 21.2%, aquém do padrão de segurança, diz o Ministério das Finanças. Aquém do padrão de segurança, mas, como o grau de execução em 2008 foi superior, se o grau de execução fosse igual o desvio tenderia a ser maior. E será tanto maior quanto o grau de execução se aproximar do montante orçamentado.
A Dívida Pública, por força da diminuição das receitas e do aumento da despesa, também começa a pisar valores de difícil controlo.
No meio de tudo isto, o Ministro, com desfaçatez patética, diz que o Orçamento está controlado.
Controladíssimo, com novos impostos logo a seguir às eleições. Para servirem o Estado e definharem a economia.
Ai Peter, Peter, que tão bem está confirmado o teu princípio nos ministros portugueses!...
Despesa Pública superior a 50% do PIB!... Não cresceria mais, por certo, se não houvesse Ministro.

Defice orçamental pode chegar a 7 ou 8% do PIB? Tranquilamente, é a resposta

1. Achei algo enigmática a reacção do Ministro das Finanças quando, na semana passada, interrogado acerca das eventuais implicações da forte revisão em baixa da variação do PIB sobre o OE/2009 e respectivo défice respondeu qualquer coisa como “por agora não vemos motivo para revisão”.
2. Mas confesso que, se estivesse na pele do Ministro, também dificilmente encontraria outra saída – a pergunta nem era aliás inteligente, a pergunta adequada teria sido “em quanto é que o Governo vai rever o défice” e não se o Governo vai rever ou se pensa rever...
3. Já ontem, defrontado com a acentuadíssima queda das receitas correntes do Estado, em mais de 11% no 1º trimestre do corrente ano, o Ministro usaria outra expressão enigmática “a receita está sob controlo”...
4. Estou em crer que o Ministro, nesta altura dos acontecimentos, prefere esperar para ver o que acontece e nomeadamente se acontece...algum milagre que salve o Orçamento/2009 de uma profunda revisão.
5. Tal como as coisas estão neste momento, não me parecendo fácil que melhorem nos trimestres mais próximos, a eventualidade de uma quebra de receita da ordem de grandeza (em %) da verificada até agora poderá significar qualquer coisa como 6 mil milhões de Euros a menos no Estado Central – serviços integrados e serviços e fundos autónomos.
6. Teríamos pois cerca de 3,6% a adicionar na relação défice orçamental/PIB, o que, considerando o défice previsto oficialmente de 3,9% do PIB (não esquecer ainda a esperada contracção nominal deste), colocaria o défice em pelo menos 7,5% do PIB.
7. Se acrescentarmos as inevitáveis derrapagens cíclicas na despesa, designadamente nas despesas sociais (estas até beneficiando do aplauso geral), facilmente se chegaria a 8% do PIB ou mesmo mais.
8. Devo confessar, apesar de alguma ortodoxia de que fui acusado nestas matérias - ouvi bastos impropérios afáveis desse tipo em intervenções feitas na AR por representantes da actual maioria – que esta situação em nada me impressiona ou aflige.
9. Estamos em pleno funcionamento dos estabilizadores automáticos numa época de profunda contracção económica – as receitas fiscais não podem deixar de diminuir, e muito, as despesas correntes não podem deixar de aumentar...
10. O que já me parecerá mal é que o Governo venha a adoptar uma política de "avestruz", tentando mais uma vez contrariar a evidência, e deixe arrastar este tema até já não aguentar – com toda a gente das Oposições a reclamar mais um RECTIFICATIVO.
11. Em minha modestíssima opinião, o Governo só teria a ganhar se neste caso reconhecesse sem demora e com toda a abertura e frontalidade a excepcionalidade da situação, avançando uma proposta de OE Suplementar que traduza a nova realidade em que nos encontramos.

Falsidades e indignidades

O Público dava hoje honras de primeira página a uma falsidade que transpira uma grande indignidade, tão grande que admito que nem os responsáveis pela notícia tenham tido tempo de reflectir no alcance do que publicaram.
A “notícia” “informava” que a líder do PSD teria negociado a entrada das duas candidatas nos lugares elegíveis da lista às europeias com a condição de saírem depois de eleitas, libertando a sua “quota legal” para “repor” os candidatos, homens, nos lugares a que se achariam com direito.
Esta “notícia” é insultuosa para a líder do PSD, por sequer admitir que pudesse alguma vez fazer semelhante proposta a quem quer que fosse, faltando ao respeito e humilhando outras pessoas, ainda por cima quem se tivesse disposto a aceitar integrar as listas a seu convite. Não imagino que tipo de pessoa pudesse fazê-lo, mas tenho a certeza absoluta de que à Dra. Manuela Ferreira Leite nunca lhe passaria tal coisa pela cabeça e que sentiria vergonha e desprezo por quem sequer lho sugerisse.
Esta “notícia” é insultuosa para as supostas candidatas, que merecem todo o respeito e consideração pessoal e profissional e que, pelos vistos, bastaria entrarem na política activa para serem desconsideradas como alguém sem orgulho, sem ambição, sem outro mérito que não fosse o de servir de “duplo” para os actores principais que aguardassem a vez nos lugares “usurpados” pelas quotas.
Esta “notícia” é insultuosa para todas as mulheres, para essas mesmas mulheres que tantos insistem dever tomar lugar na política por direito próprio, o direito de serem reconhecidas pelo seu mérito e pelo seu valor também nessa área da vida nacional. Repare-se no detalhe: seriam precisamente as mulheres quem, para o inventor da notícia, estaria na disposição de se prestar a tão aviltante proposta, como se o facto de serem mulheres as tornasse destinatárias privilegiadas de tal humilhação.
Quem congeminou a história, seja lá quem for, mostra que não sabe avaliar e distinguir caracteres, mostra que não respeita as mulheres, mostra que acredita que os portugueses poderiam achar plausível semelhante torpeza, tornando as quotas simplesmente ridículas. E, o que é mais incrível, é que foi uma mulher que votou a favor das quotas que veio a público exigir explicações por este “escândalo”, dando dimensão ao insulto, dando relevo à ignomínia, admitindo que uma o poderia ter feito e que outras o poderiam ter aceite, em vez de se horrorizar com o preconceito que está bem evidente na mente de quem engendrou este “escândalo”. Lamentável, e muito triste, a todos os títulos.

Tratar das meloas!...


Depois da falência completa das previsões semestrais do Banco de Portugal, o Borda D`Água é o único documento previsional credível e em que se pode depositar confiança completa.
Embora distribuído no Verão passado, apontava para este mês tempo instável na primeira e segunda semanas e tempo mudável a partir daquela em que nos encontramos. O que está perfeitamente certo. E até prevê, para o dia 25, a Revolução de Abril, com feriado nacional e tudo. Como não deve gostar de revoluções, o Borda D`Água ameaça os revolucionários com chuva, frio e vento, porventura para os dissuadir da tarefa. Algum dia os 200 videntes do Banco de Portugal chegaram a esta precisão? Claro que não.
Mas, neste tempo de crise, o Borda D`Água dá-nos conselhos inestimáveis para prevenir surpresas quanto a necessidades básicas de alimentação. Em Abril, deverá semear-se, mas apenas no quarto crescente, tomem nota que é importante, no quarto crescente, abóboras, batatas, beterrabas, bróculos, cenouras, couves, favas, melões, melancias, nabos, pimentos, rabanetes e salsa. No fim do mês, pode-se semear feijão temporão.
No minguante, mas atenção, apenas no minguante, pode começar a tosquia das ovelhas.
Seguindo tão apropriados conselhos, ontem dei comigo de enxada na mão, a plantar melões e meloas. Depois de ter feito uns regos e colocado as plantas, chegou a minha mulher, que logo afirmou que os regos estavam mal feitos e a plantação estava sem qualquer estética. Passando à acção, tratou logo de arrancar a plantação já feita, obrigando-me a refazer a agricultura, mediante rigorosas instruções. Trabalhando que nem um escravo, lá deixei a plantação num brinquinho, um verdadeiro primor. Mas fiquei matutando de mim para comigo: então vem agora uma “prisponeta” da cidade, sem terra, ensinar-me a mim , que tenho terra, não sou de Lisboa, nasci e vivi na terra a ver como a agricultura se faz? Isto já não é como dantes!...

segunda-feira, 20 de abril de 2009

“Morte medicamente assistida”

Começa, embora ainda um pouco timidamente, a falar-se da “morte medicamente assistida”. Quer queiramos quer não, vamos ser confrontados com esta realidade muito em breve, inclusive, já está a ser desenhado, nesta primeira fase, o denominado “testamento vital”, através do qual o titular estabelece o que pretende que lhe seja feito, ou não feito, em caso de situação clínica irreversível.
O debate ao redor da eutanásia irá ser muito intenso e problemático, com posições já perfeitamente descortináveis, a prever com base nalguns textos de opinião. Sinceramente é uma das áreas que mais me perturba. É certo que morrer com dignidade é um direito de qualquer um. O problema é saber o que se entende pela tal “dignidade”, que deve variar de pessoa para pessoa. Neste contexto, sou de opinião que deverá ser respeitado a vontade dos que, num determinado momento, não pretendam ser vítimas de medidas de sobrevivência a raiar o dito “encarniçamento terapêutico”. Neste ponto, não tenho qualquer dúvida, quer em termos pessoais, isto é, caso me encontre numa dessas tenebrosas e iníquas situações, ou caso me peçam para respeitar a ação da ceifeira da vida. Mas ter uma intervenção direta, ou seja, participação ativa no processo, julgo não ser capaz. Nunca ouvi, ao longo da minha vida, alguém a solicitar tal ato, dentro do contexto já referido, nem de perto nem de longe. Pelo contrário.
Já assisti a muitas mortes e nenhuma delas se acompanhou de apelo ao abreviamento.
Um dos passamentos ocorreu num dia marcado por um raro acontecimento astronómico, um eclipse parcial do Sol, que foi suficiente para provocar uma visível e estranha penumbra acinzentada. No velho hospital, o doente, deitado sob a longuíssima janela virada a poente, estava sôfrego de ar. As medidas terapêuticas não conseguiam acalmá-lo. Fumador de longa data, estava, desde há algum tempo, a afogar-se lentamente. Tinha consciência disso. Magro, de fácies esquálida e pele encarquilhada a ornamentar lábios e nariz violáceos, pedia-me desesperadamente ajuda através de uns olhos vivos e muito brilhantes, nos quais me pareceu ver-lhe a alma. Apercebi-me que a situação desta vez não era passível de controlo.
A meio da tarde, preocupado com o seu estado, acabei por ir vê-lo. Assim que me viu, os seus olhos vibraram e a respiração que já era mais do que ofegante ainda se acelerou mais. Aproximei-me. Sussurrou-me com extrema dificuldade: - Por favor, senhor doutor, ajude-me a respirar. Eu não consigo! Ajude-me. Não me deixe morrer! Ao mesmo tempo, a sua mão esquerda, fria, viscosa, decorada com longos dedos azulados, que mais pareciam baquetas prontas a tocar no tambor da morte, agarraram a minha mão. Não consegui dizer-lhe nada. Temendo que me ausentasse pediu, num tom quase que impercetível, para que não o abandonasse. Durante longos minutos, que não consigo contabilizar, estivemos a olhar um para o outro. Não consigo esquecer aquele olhar, tão ávido de vida quanto os pulmões estavam sequiosos de oxigénio. Passado algum tempo os olhos emudeceram e passou a respirar com tranquilidade. Entretanto, o Sol, que inundava a enfermaria através da longilínea janela, começou a acinzentar-se. Tinha iniciado o fenómeno que tanto queria seguir naquela tarde. Sai e fui para casa. Senti frio em pleno verão. Perturbado com o fenómeno da morte, virei ostensivamente as costas ao Sol...

O discurso e a circunstância

Ouvi as palavras do senhor Presidente da República que tanta agitação têm gerado nas hostes da situação. Voltei a ler o essencial da mensagem do Chefe do Estado do fim de semana. Não vejo que o Professor Cavaco Silva dissesse algo mais ou algo de diferente do que disse em outras ocasiões. O que variou foi a circunstância. Outrora menos susceptíveis às críticas perante os "recados" do Chefe do Estado, o PS e o governo apressavam-se então a declarar que concordavam interiramente com a visão presidencial, sinal de uma cooperação institucional desejada. Agora, com as eleições à porta mas sobretudo uma situação económica, financeira e social em acelerada degradação sem que as medidas de política travem a tendência, qualquer observação ou prevenção do Chefe do Estado, mesmo que se traduzam num manifesto dejà vu e sejam proferidas em tom sereno, esfrangalham os mal tratados nervos dos estrategas socialistas. O que se compreende, passada a fase da pesporrenta auto-confiança do PM e dos seus próximos de há uns tempos atrás, substituída agora por um nervosismo que já não escapa nem aos mais distraídos.
Uma nota mais. Algumas falsas virgens (pretensos independentes, para ser mais claro) escandalizam-se com a intervenção do Professor Cavaco Silva vendo nela uma quebra da neutralidade em tempo pré-eleitoral. Pois era só o que nos faltava que, não exercendo mais do que influência pela autoridade das suas intervenções, o Presidente da República até no exercício deste direito (dever) estivesse constrangido pelo facto de se disputarem eleições em breve!
Não creio que os portugueses tivessem escolhido este presidente na expectativa de o poder ver assistir, calado, ao país a arder.

Ab Imo Corde Laetemur (Do fundo do coração, alegremo-nos)


Bem sei que, nos dias que correm, é um tanto dissonante apelar à alegria, mas não deixa de ser uma proposta contra-corrente que é capaz de não nos fazer mal algum. Ab Imo Corde Laetemur (do fundo do coração, alegremo-nos) é o lema da Confraria do Espumante que, no sábado passado, entronizou mais de duas dezenas de novos confrades, com a particularidade de, nesta cerimónia, os novos membros serem todos mulheres, entre as quais me incluo com muito gosto.
A cerimónia foi na sala do capítulo do Mosteiro de Alcobaça e inclui um ritual de juramento e posse, acompanhado da entrega das adequadas vestes da Confraria, e termina, como não podia deixar de ser, com um brinde com espumante português.
A Confraria do Espumante é uma associação cultural, sem fins lucrativos, de âmbito nacional, onde estão representadas todas as regiões produtoras do Espumante e tem como objectivo promover e defender a qualidade do produto e divulgar a raiz cultural, tradições, riqueza paisagística, e património arquitectónico e religioso associados.
O ambiente depressivo actual não parece propício ao aumento do consumo do espumante, sempre associado a momentos de alegria e festejos mas, se pensarmos um pouco, há sempre alguma coisa boa a que brindar, talvez a actual conjuntura nos possa afinal estimular a dar valor a muita coisa que até agora passaria despercebida.
O espumante português agradece e aí está, para sublinhar os bons momentos e, certamente, os portugueses vão sentir-se melhor com a prática deste simples exercício de vontade que é o de procurar, em cada dia, um motivo para celebrar!
Com espumante, de preferência, ou mesmo sem ele (que não nos sirva de desculpa…) “ab imo corde laetemur”!

Críticas do Presidente, estatísticas "rosa" e lnhas de crédito

1. O Presidente da República proferiu, na última 6ª Feira, um conjunto de declarações geralmente interpretadas, mal ou bem, como a mais aberta crítica até hoje dirigida à acção do executivo.
2. Uma das críticas aponta a obsessiva preocupação com as estatísticas que o executivo terá vindo a demonstrar, parecendo mais interessado na qualidade das estatísticas do que na efectiva resolução dos problemas sociais ou económicos que essas estatísticas oficialmente reflectem.
3. Tenho a noção de que existe de facto uma quase paranóia oficial em melhorar dados estatísticos, não poucas vezes à revelia da qualidade das soluções adoptadas, nos mais diferentes domínios da governação.
4. Existem inúmeros casos desse curioso fenómeno do foro “neurológico-político”, a que à falta de melhor poderemos denominar de estatísticas "rosa”, começando pelo campo da educação – a famosa melhoria das estatísticas dos resultados das provas de matemática à custa da simplificação excessiva dos exames – até às ultra-protegidas estatísticas do desemprego e às saborosas reformas da administração pública em que as estatísticas da eliminação nominal de serviços não têm qualquer correspondência na redução de estruturas e, em muitos casos, resultam mesmo em estruturas bem menos eficientes que as anteriores.
5. Depara-se hoje mais um caso deste tipo de estatísticas “rosa” envolvendo as famosas linhas de crédito que têm sido anunciadas a ritmo de enxurrada, supostamente dirigidas a combater os efeitos da crise económica que tem atingido mais duramente os sectores expostos à concorrência, como aqui temos assinalado, com particular dureza as PME’s e as micro-empresas.
6. Segundo a estatística agora divulgada, cerca de 25.000 empresas, sobretudo PME’s, teriam já utilizado essas linhas, beneficiando assim dos apoios contra a crise...
7. Todavia, destacados dirigentes empresariais, com relevo para Henrique Neto, cuja independência de opinião é bem conhecida, vêm negar os benefícios que as fontes oficiais pretendem associar a esta estatística, afirmando que os principais beneficiários destas linhas não são as empresas mas sim...os bancos!
8. Estou em crer que neste caso as razões se repartem pelos dois lados - o que não retira a qualidade “rosa” a estas estatísticas...
9. Não custa admitir que as tais 25.000 empresas, mais ou menos (o número nem me impressiona nem me merece muita confiança, mas isso pouco importa) tenham tido acesso às linhas de crédito, embora pense que muitas mais ficaram excluídas por não cumprirem os requisitos de acesso...
10. Mas também não custa aceitar que os bancos tenham aproveitado a situação para substituir crédito não garantido ou mal garantido por crédito concedido ao abrigo das linhas em que uma parcela elevada é suportada pelos mecanismos de garantia mútua.
11. Este último dado não deve admirar, pois nada obsta que as linhas de crédito sejam utilizadas para satisfazer compromissos financeiros vencidos ou em vencimento...as empresas necessitam de cumprir e os bancos não perdem a oportunidade!
12. Temos é de nos preparar para mais, provavelmente muitas mais estatísticas "rosa”!

domingo, 19 de abril de 2009

Destaque

"...Há matérias tão substantivas e tão importantes que não se pode embarcar por existirem actos eleitorais. Há quem não resista ao problema da contagem de votos...".
Assim se expressou Vítor Vítor Baptista, líder distrital de Coimbra do PS, o único Deputado que, de acordo com o que pensava, votou contra a admissibilidade da proposta que estabelece o fim do sigilo bancário para efeitos fiscais, sem autorização judicial.
Independentemente do que cada qual possa pensar sobre a matéria em questão, é acto de inusitada e rara independência, e até coragem, nos tempos que correm, que merecem registo.
Com a ressalva, naturalmente, da qualidade do português utilizado, longe da dignidade de uma cidade onde Torga se expressou...

Rita Levi-Montalcini

Rita Levi-Montalcini é uma cientista italiana, judia, e prémio Nobel da Medicina pelas suas descobertas sobre o fator de crescimento dos nervos. Solteira, por temer que lhe acontecesse o que era usual no seu tempo de menina e moça, mulheres subjugadas pelos homens, casou-se consigo próprio e amantizou-se com a investigação científica. Personalidade ímpar que, a escassos três dias de completar um século, deu uma interessante entrevista, onde a par das queixas de falta de visão e de audição fez várias afirmações uma das quais merece ser realçada, o seu cérebro, foco de atenção durante toda a sua vida, funciona perfeitamente e até muito melhor do que quando tinha 20 anos! Não quer grandes festas nesse dia, mas sim fazer uma conferência sobre o cérebro. Nem mais! Vive ainda intensamente e proclama que é mulher de esquerda. Quanto à explicação para esta sua opção, afirma que tal facto se deve a que as grandes infelicidades da humanidade são devidas ao hemisfério direito do cérebro. Curiosa esta análise. Adiante afirma que esta parte do cérebro corresponde ao “instinto”, que foi responsável para que o australopiteco descesse das árvores e salvasse a vida. É pouco desenvolvido e é muito recetivo aos apelos dos ditadores para que as massas os sigam. “Todas as tragédias apoiam-se sempre neste hemisfério que desconfia do diferente”.
Para quem vai fazer cem anos, e com toda a lucidez, é inevitável que lhe façam a sacramental pergunta: - Qual é o segredo da sua longevidade?. Responde que nem tem qualquer mérito neste pormenor, mas sempre vai adiantando que a “única forma é pensar, desinteressar-se de si mesmo e ser indiferente à morte”. Deseja viver apenas enquanto o cérebro funcione, quando tal deixar de ocorrer, ou seja, quando por fatores químicos deixar de pensar, quer ser ajudada a deixar a vida com dignidade. “O importante é viver com serenidade, e pensar com o hemisfério esquerdo e não com o direito, porque este leva à Shoah, à tragédia e à miséria. E até pode levar à extinção da espécie humana”.
As palavras de Levi-Montalcini, expressão de uma verdadeira livre-pensadora que deu um grande contributo à ciência, obrigam-nos a pensar sobre os mecanismos capazes de arregimentar as pessoas em tempo de crise, de miséria e de mal-estar. Há um substrato orgânico, certas zonas do mais misterioso e interessante órgão que dispomos, o cérebro, que persiste mesmo milhões de anos depois de ter dado um contributo na evolução da espécie humana, à espera de ser utilizado. Há quem saiba explorá-lo, mesmo sem o mínimo de conhecimentos de neurologia. Quando tal acontece, é de esperar o pior. Ser “esquerdista” apenas pelo facto de o cérebro esquerdo ser o “pensante” deverá ter sido uma brincadeira por parte de Levi-Montalcini, até porque estruturalmente o que se pensa no lado esquerdo “materializa-se” no lado direito do corpo e vice-versa...

Seria, não; está a ser!...

"...Seria um erro muito grave, verdadeiramente intolerável, que na ânsia de obter estatísticas económicas mais favoráveis e ocultar a realidade se optasse por estratégias de combate à crise que ajudassem a perpetuar os desequilíbrios sociais já existentes ou que as hipotecassem as possibilidades de desenvolvimento futuro..."
Porque muitos dos agentes que tiveram um papel activo na crise financeira continuam a ser capazes de "condicionar as políticas públicas, quer pela sua dimensão económica, quer pela sua proximidade ao poder político..." Cavaco Silva, no Congresso AGEGE
Seria, não; está a ser!...

sábado, 18 de abril de 2009

A nova pátria-sol

O mundo ao contrário

Não deixa de ser divertido assistir a este regabofe de populismo e de burrice a propósito do combate à corrupção e ao enriquecimento que agora é "ilícito" e na hora seguinte "injustificado". Depois de ouvir o PCP evocar entusiasticamente o exemplo, não da Coreia do Norte, mas do presidente do EUA em apoio das suas propostas de penalizar pagamentos a gestores, é a vez de ver Francisco Louçã criticar a lentidão da nossa justiça, louvando-se na eficácia dos tribunais ao serviço do imperialismo norte-americano, capazes de julgar o crime económico em dois meses.

As trapalhadas do MAI

Ainda há membros do governo que me conseguem espantar. O senhor ministro Rui Pereira é um desses. Ontem, no debate sobre o relatório sobre a criminalidade em 2008, o ministro foi ao parlamento dizer, perante a evidência de um preocupante incremento do crime violento, organizado e sofisticado, que estamos no bom caminho! Isto depois de, há dias, o secretário-geral de Segurança Interna, o senhor Juiz-Conselheiro Mário Mendes, ter sido contrariado veementemente pelo ministro quando se limitou a fazer a leitura dos números que toda a gente fez.
Conhece-se agora outra burlesca trapalhada do MAI. Relata-se que o secretário de Estado da Administração Interna remeteu à Associação Sindical da PSP um despacho do Ministério das Finanças no qual se autorizava o pagamento de horas extraordinárias à PSP. Ao que parece Rui Pereira apressou-se a desautorizar desta vez o seu próprio secretário de Estado, que se mantém no cargo.
Espanta-me ainda o MAI porque esta sucessão de folhetins envolvendo o ministro Rui Pereira evidencia a sua manifesta falta de jeito para o cargo mas resulta sempre inconsequente.

Qual sigilo, qual carapuça!...

Aproximam-se eleições e, como habitualmente, o Governo vira à esquerda. Neste vira que vira, não faz política nem de esquerda nem direita, o que tem feito é política incompetente. Como é o caso da Lei que pretende acabar com o sigilo bancário, dando poderes ao Fisco de acesso livre às contas dos cidadãos.
O Governo e o PS propõem-se agora ir contra tudo o que vinham defendendo, inclusivamente há dois meses, aquando da aprovação do Orçamento Rectificativo. Também, como habitualmente, de forma incompetente e canhestra, não se dando sequer ao trabalho de compatibilizar o objectivo em vista com a legislação fundamental existente.
Mas não se espere muito da lei agora enunciada. Ditada por oportunismo político, por oportunismo político vai morrer à nascença. Para vigorar a partir de 2010, só terá efeitos em 2011. Passadas as três eleições deste ano, se o PS ganhar, obviamente que não achará oportuno pô-la em vigor. E se for o PSD vencer, vai alterá-la.
Desconfio mesmo que nem haverá tempo para a aprovar até ao encerramento, em Junho, da sessão legislativa. Dará, quando muito, umas discussões na Assembleia da República. Para o Governo dar uns ares de esquerda radical e trocar uns abraços com o Bloco de Esquerda. É esse o único objectivo da lei.

Alô, alô?


Ouvi hoje, na AESE-Escola de Direcção e Negócios, uma conferência do Prof. Aquilino Polaino com o tema “Saber Escutar”. Professor catedrático de Psiquiatria em Madrid e licenciado também em filosofia, o Prof. Polaino disse que estamos hoje a “construir um infinito jardim infantil”, povoado de jogos que entretêm as pessoas em vez de as deixar comunicar. O fundamento da comunicação reside no facto de todos necessitarmos de querer e de ser queridos, esse é um princípio antropológico indubitável, e por isso não se esgota no conhecimento, na troca de informações ou de palavras, tem que ter a componente afectiva. Quando se “navega” horas e horas na net só para ocupar o tempo, sem que a curiosidade da pesquisa seja dirigida e controlada, isso é o contrário da socialização e nunca pode substituir a necessidade de comunicar.
A comunicação implica racionalidade e afectividade e só existe verdadeiramente se associada ao saber escutar. Quando alguém fala, tem que haver identidade entre o que diz, o que pensa e o que sente, senão não está a implicar a sua identidade, está a fazer uma representação teatral, é um impostor, cria uma barreira entre si e quem o ouve e impede o entendimento.
Saber comunicar, neste sentido pleno, é essencial para manter as famílias unidas, para criar bom ambiente no trabalho ou nos negócios, para tudo o que implique partilha e confiança, a qualidade da comunicação implica que se queira escutar o outro, que se receba e procure descodificar as suas mensagens afectivas. Pode-se falar e ouvir horas e horas sem que se estabeleça comunicação, e todos nos lembramos de imensos exemplos em que sentimos isso.
Quem não sabe escutar não permite o entendimento, apenas a troca de palavras, monólogos sobrepostos que são geradores de conflito porque não se entendem razões nem se avaliam os argumentos e, por isso mesmo, suscitam logo respostas contrárias.
Não saber escutar torna as pessoas cada vez mais sós e mais infelizes, porque não são capazes de se pôr no lugar dos outros e consideram-se vítimas de tudo e de todos, causando também a infelicidade. As pessoas que não sabem escutar não sabem dar-se, não estão disponíveis para gostar de outras, do mesmo modo que não sabem acolher o que os outros querem dar.
Saber escutar desvenda a riqueza humana que há em cada pessoa, permite aprender com quem é completamente diferente e ensina também a valorizar e respeitar.
O Prof. Polaino, que foi psiquiatra também de população prisional e tem décadas de profissão, dezenas de livros escritos e centenas de artigos, que foi professor, médico e que conheceu e escutou todo o tipo de pessoas, terminou a sua conferência com uma afirmação surpreendente: “Nunca encontrei nenhuma pessoa na minha vida que não tenha mais coisas positivas que negativas – se a souberes escutar, seja quem for, verás que terá sempre pelo menos um aspecto em que sentirás que tem mais valor do que tu”.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Mais uma "pérola"...

Na jornada dedicada pelo Presidente da República à Matemática, no âmbito do Roteiro para a Ciência que decorreu esta semana, ficámos a saber que dos 350 cursos de Engenharia existentes em Portugal apenas 50 exigem matemática à entrada. Inacreditável! O que pode justificar este estado de coisas?
Não parece que esta seja a melhor forma de contrariar os péssimos resultados da aprendizagem da matemática. Não é com estes facilitismos (ou serão distracções?) que seremos capazes de melhorar o sistema de ensino. E bem que precisamos!

Ratos

Nunca percebi qual a razão da expressão “esperto que nem um alho”. Em contrapartida até sou capaz de entender uma outra, “cabeça de alho chocho”, que corresponde a não haver nada de interesse lá dentro. Mas voltando à primeira, dizem – confesso que nestas coisas não sou um grande entendido -, que vem de um portuense, Afonso Martins Alho, que foi o responsável pelo tratado entre Portugal e Inglaterra nos meados do século XIV. Pronto, sendo assim estou esclarecido. Afinal, não tem nada a ver com o célebre vegetal. E ainda bem! Não vá haver alguém a enfiá-lo pela boca abaixo das crianças para aumentar o Q.I.! Por outro lado, sempre compreendi uma outra, “esperto que nem um rato”.
Lembro-me do barulho que os ratitos faziam no sótão lá de casa durante a noite. Era assustador para uma criança. Quando vi os primeiros, até lhes achei graça. Pequeninos, simpáticos, com umas ”mãozinhas” cor-de-rosa. Quantas vezes, fiquei, momentaneamente, aflito, quando ouvia gritos de horror, como se tivesse acontecido uma tragédia, por causa de um ratito. Ficava de boca aberta e só acalmava quando ouvia as ordens para ir buscar a vassoura! A caça ao rato era uma epopeia. Nem o veneno era capaz de os matar. Ratoeiras? Qual quê! Só se andassem distraídos ou fossem “burros como os humanos”! Esta última frase, poderia ser atribuída com a maior naturalidade a estes animais, a que nos ligam um antepassado comum que, há cerca de 70 milhões de anos, se “lembrou” de ensaiar alternativas para originar duas das mais interessantes espécies que andam por aí, os humanos e os ratos.
Dizem que somos mais aparentados com os chimpanzés, porque partilhamos 99% do genoma, contra 95% dos ratos. Apesar dos esforços para colocar os chimpanzés no mesmo género do humanos, ou os humanos no género dos chimpanzés – há quem nos rotule de “terceiro chimpanzé” -, acabamos por ter muito mais semelhanças com os ratos, e daí a alguém afirmar que somos o “segundo rato” é um pequeno salto. Para onde vai o homem vai o rato, o mesmo não se passa com o chimpanzé. O rato, na sua fisiologia, assemelha-se muito aos seres humanos, ao ponto de os utilizarmos com frequência para diferentes tipos de estudo. Devemos muito, mesmo muito, a estes animais. Claro que eles, também, não deixam os seus créditos em mãos alheias e têm-nos contemplado com muitas doenças. Não sei se isso fará parte de alguma estratégia por parte deles. Será que também andam a investigar-nos? Já não digo nada. Também não compreendo esta aversão dos humanos pelos ratos. Parece que tudo começou com Noé que, desobedecendo às ordens divinas, recusou a entrada do casal de ratazanas na arca. Pelo menos é o que diz Günther Grass, na sua obra, “A Ratazana”, na qual acabamos por ler que o homem, espécie extinta, passa a ser um mero vulto na memória dos ratos, os quais continuam a sonhar com os velhos primos, reinventando-o a cada momento.
Tudo parece em conformidade com uma evolução muito peculiar dos ratos. Neste momento, são aos milhares os “novos” ratos de laboratório, entretanto modificados e transformados para os mais diversos fins. É de ficar com os cabelos em pé. Devido à facilidade de os criar e reproduzir, os “novos animais” estão a ser pressionados em termos evolutivos numa velocidade alucinante, ao ponto de começarem a perder muitas das qualidades dos seus irmãos selvagens e adquirirem outras. Vivem em condições asséticas, são bem alimentados, alteram-lhes a estrutura genética, modificam o seu sistema imunológico, eu sei lá o que fazem a estes animais, que vivem em condições verdadeiramente futuristas.
De todos os animais, os ratos têm sido objeto de particular atenção, desde o famoso Mickey, que já entrou há algum tempo na terceira idade, mas que mantém uma agilidade impressionante, ao “superesperto” Tom, da famosa dupla, Tom e Jerry, em que consegue ser superior ao gato, passando pelo recente Despereaux, um ratinho corajoso, que prefere ler livros a comê-los, ou mesmo a Firmin, que através das letras consegue ser mais humano do que os humanos. Não há dúvida, tudo aponta para que os ratos - caso ocorra alguma catástrofe -, possam substituir os humanos. Já falam, já discursam, já filosofam e já sonham com os humanos. Entretanto, alguns representantes da espécie humana, talvez prescientes do futuro da humanidade, comportam-se como verdadeiros ratos, falam, discursam, filosofam e sonham com as ratazanas...

O homem foi um verdadeiro profeta

...apesar do equivoco de calendário
1 - 2 - 3
4 - ...

Europeias: o grau zero da argumentação socialista II

Paulo Rangel disse que era contra a “mordaça” que Vital Moreira queria impor em relação ao debate de temas nacionais na campanha para as eleições europeias. Vital Moreira respondeu que mordaça existia no tempo do Estado Novo. Eu sei o que é mordaça, eu sei o que é suportar a mordaça, referiu Vital Moreira.
Pelo todo das declarações, mais uma vez Vital Moreira não hesitou em passar os habituais atestados de democracia, ou de não democracia, que só gente dita de esquerda se erige com competência para passar.
Ao tempo do 25 de Abril, ainda Paulo Rangel não andava na escola primária. E Vital Moreira, já bem crescido e bem formatado, pontificava na Assembleia Constituinte, lutando contra o PS, o PSD e o CDS, tecendo os maiores elogios aos regimes comunistas totalitários, e procurando implantar um regime semelhante em Portugal. Lá, nesses regimes, pelos vistos, não havia mordaça!...
Autoridade, pois, para passar atestados!... E nobre argumento para umas eleições europeias.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Europeias: a primária argumentação socialista I

A falta de argumentos leva normalmente à falta de senso na argumentação. E a falta de senso leva normalmente a argumentação rasteira.
O PS criticou a escolha de Paulo Rangel como cabeça-de-lista do PSD às europeias, porque " é reveladora do esgotamento de opções" da líder do partido social-democrata, que preferiu um nome do "aparelho mais próximo".
Por similitude, poderia dizer-se, com total propriedade, que a escolha de Vital Moreira como cabeça-de-lista do PS às europeias " é reveladora do esgotamento de opções" do líder do partido socialista, que teve que lançar mão de um nome do "aparelho mais longínquo" do partido.
A óbvia não aceitação pelo PS desta argumentação diz bem do calibre do seu próprio argumento.
Mas é a “inteligências” destas, tão sem senso e tão primárias no conteúdo, que estamos entregues. Votem neles, votem!...

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Quando a culpa morre solteira...

É realmente lamentável que não tenham sido apuradas culpas pela tragédia da queda da ponte Entre-os-Rios que matou 59 pessoas. Não tendo sido apurados responsáveis pela tragédia, as famílias condenadas na dor que o sofrimento da morte lhes causou, são agora obrigadas a pagar as custas judiciais – ascendem à módica quantia de meio milhão de euros - de um processo judicial que não deu em nada.
Revejo-me nas palavras do presidente da Associação de Familiares das Vítimas da Tragédia de Entre-os-Rios (AFVTE-R): "Não só não vimos feita justiça, como fomos os únicos condenados no processo", acrescentando que "o sentimento profundo existente em Castelo de Paiva é o de que os únicos condenados são os familiares e as pessoas que passaram no local errado à hora errada" e que "Num estado dito de Direito, é inconcebível que o ónus da queda da ponte recaia unicamente nas vítimas e suas famílias. Neste caso, a justiça não funcionou".
Este é mais um caso que em nada abona a favor do nosso sistema de justiça. Mas será que não é possível mudar este estado de coisas?

Cartões de plástico

Já estou a ficar farto dos cartões de plásticos. Parece que não há ninguém que não os ofereça para obter descontos, para fidelizar o cliente, para pontuar coisas que nunca vamos comprar, para atulhar a pobre da carteira, para nos confundir no momento da sua escolha, para termos de fixar códigos e mais códigos, e, sobretudo, para encher a mula à banca, que nos “aluga” logo de início ou ao fim de algum tempo em que são “gratuitos”. Algumas entidades bancárias até os “oferecem” sem que sejam solicitados, para não falar dos assédios telefónicos sobre as vantagens, que são sempre superiores aos da concorrência.
Por vezes chego a ficar verde de raiva. Ainda faço parte daquela fração da humanidade que pensa com o fígado. A revolta é tanta que tenho a perceção de que vou vomitar a bílis.
Há dias comecei a contar os cartões que habitualmente tinha na carteira. Uma loucura! Acabei por retirar uma catrefada deles e escondê-los em casa. Passei a utilizar apenas um cartão de crédito e dois de débito, porque um deles serve para identificar a minha instituição e o outro utilizo para a minha extravagância, compra de livros. Uma contita para este efeito é muito útil.
Os cartões são de PVC, um produto derivado do petróleo. Para fabricar um são necessários 4,25 grama de petróleo. Se multiplicarmos pelo número de cartões que andam à solta, verificamos que são muitas centenas ou mesmo milhares de barris de petróleo. Só nos Estados Unidos produzem-se anualmente 1,6 mil milhões de cartões de crédito e de débito, correspondente a 45.000 barris de petróleo, sem falar nos larguíssimos milhares de milhões de outros tipos de cartões. Ainda por cima não são reciclados e não devem ser incinerados porque libertam as perigosas dioxinas. Há uma tentativa de utilizar novos produtos mais amigos do ambiente, biodegradáveis, mas ainda é muito cedo para a sua implementação, apesar de haver já um cartão feito de milho.
Substituir os cartões pelas notas não significa que seja uma atitude mais amiga do ambiente. As notas são feitas de vários produtos, nomeadamente algodão, cuja produção exige grandes quantidades de água, de pesticidas e fertilizantes, para não falar do transporte e distribuição.
Fiquei a saber que o Banco Central Europeu produziu, em 2003, oito notas por cada cidadão europeu. Claro que não diz, mas presumo que para nós, portugueses, contabilizaram apenas notitas de cinco e se muito de dez euros! Somos uns pobretanas. No fundo, o impacto ambiental cumulativo das oitos notas é o equivalente ao produzido pela condução de um carro durante um quilómetro.
Fiquei sem saber qual dos dois tipos de “dinheiro”, cartão ou notas, é o mais ecológico, o mais “verde”. Da minha parte vou passar a reduzir os cartões. Não há grandes vantagens em ter muitos, sempre vou contribuir para não consumir uns gramas de petróleo, evito poluir o ambiente, corro menos probabilidade de ser trafulhado através de alguma clonagem, resisto à tentação de comprar coisas supérfluas, enfim, ser um pouco mais amigo do ambiente. Entretanto, com a crise que vai por aí, acabaremos por ser mais amigos do ambiente, à força, já que começa a faltar dinheiro, embora tenha ouvido dizer que vão por as rotativas a trabalhar em pleno, produzindo mais notas! Mas essas coisas transcendem-me.