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sábado, 31 de janeiro de 2009

A Ética e a falta dela...


Barak Obama, ao acusar as grandes empresas americanas de agirem com “arrogância e ganância” por distribuírem bónus aos seus gestores depois de recorrerem a ajuda com dinheiro público, colocou, a meu ver, o dedo na ferida da actual crise.
Com efeito, a crise brutal que vivemos não é apenas financeira e económica, é também o espelho da ausência de um padrão de valores tradicionais na condução das actividades financeiras, designadamente bancárias, e das actividades económicas.
A situação a que chegámos funda-se em dois objectivos que passaram a guiar o comportamento das pessoas e das organizações: a maximização do lucro imediato sem restrições éticas e a realização do prazer imediato. Vive-se o primado do ter, relegando para segundo plano o ser. As pessoas são avaliadas pelo que têm e não pelo que são!
Os gestores das empresas, e não apenas das instituições bancárias, induziram na vida das organizações a maximização do lucro imediato, pela urgência de rapidamente aumentarem as suas remunerações, sem quaisquer preocupações de sustentabilidade e com elevado risco de gerar quebra de valor social. O que deveria ser entendido como uma transgressão, transformou-se numa norma. É impressionante como fomos caminhando para o abismo com a ilusão do sucesso, sem nos questionarmos ou duvidarmos sobre a sustentabilidade da maximização do lucro imediato.
O excesso de tudo modelizar - na actividade bancária, nos mercados financeiros, na economia - também está presente na crise que estamos a viver. Os modelos são úteis, mas podem ser perigosos, se neles nos centrarmos e esquecermos a necessidade de observarmos com sentido crítico os comportamentos e as decisões das pessoas e das instituições.
Parece-me urgente e importante estabelecer restrições que quebrem estas práticas, para o que são fundamentais novas regras de supervisão e de regulação. Afigura-se também importante que um novo modelo de funcionamento das instituições seja introduzido com muito bom senso, no sentido de que há que encontrar o justo equilíbrio entre o mercado e a regulação para prevenir, corrigir e suprir falhas de mercado, num quadro em que é preciso retomar valores éticos e mobilizar as pessoas para com os mesmos se identificarem e os acolherem.

A devassa telefónica I

“É proibida toda a ingerência das autoridades públicas na correspondência, nas telecomunicações e nos demais meios de comunicação, salvo os casos previstos na lei em matéria de processo criminal”.
Constituição Portuguesa, Direitos, Liberdades e Garantias, artigo 34.

O Tribunal Constitucional decidiu não reapreciar o acórdão do Supremo Tribunal Administrativo que considera inválidas as escutas telefónicas em processos disciplinares, no caso, desportivos.
E depõe a favor da justiça que norma tão clara fosse ignorada pela magistratura e tribunais e tivesse que ser apreciada pelo STA e interpretada pelo Constitucional?

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Boca e sujidade

Três senhoras, bem cuidadas, não escondiam que o cavaqueio era o seu desporto favorito, atendendo ao modo como falavam, alto e em bom som, sem receios da vizinhança. Interrompiam os seus comentários, por breves momentos, quando levavam as chávenas do chazinho aos lábios, que deveria estar muito quente, pelo menos era o que dava a entender os estranhos sopros!
O episódio da chupeta de um bebé, que tombou no chão do café, leva-me a relatá-lo e a tecer alguns comentários e reflexões.
O pai da criança, médico, assim que viu a chupeta no chão, apanhou-a, afagou-a em seguida com a palma da mão, enfiou-a na própria boca, voltou a afagá-la novamente, acabando por a introduzir na boca da criancinha, ante o ar “gemelarmente” atónito e escandalizado das três da vigairada.
Quando os protagonistas saíram, o episódio da chupeta passou a ser o tema da conversa. Era patente a indignação sobre a falta de higiene do pai, ainda por cima médico! A este propósito teceram inúmeros comentários, revelando que, relativamente aos filhos, nunca teriam tido aquela atitude, já que os primaram com o máximo de cuidados higiénicos.
Impossível tal atitude, dizia uma das senhoras, “imagino o que poderia ter acontecido ao meu filho, que sofre de asma e de alergias, se não tivesse cuidados higiénicos com ele”! A segunda ripostou no mesmo sentido ao revelar que sempre teve com a sua filha adolescente, entretanto diagnosticada com uma grave doença inflamatória dos intestinos, cuidados extremos de higiene.
Ouvi com muita atenção a conversa e apeteceu-me intervir para explicar que não tinham tanta razão quanto isso, antes pelo contrário.
Ninguém contesta que as grandes conquistas na área da higiene foram determinantes para o progresso social, bem-estar e saúde das sociedades. Mas - há sempre um mas -, o “excesso” de higienização passou a constituir um grave problema. O não contacto precoce com as “sujidades”, nomeadamente as que provocam infeções virusais, bacterianas e infestações parasitárias, estão na base da não estimulação do sistema imunológico, responsável pela defesa dos nossos organismos, que não se escuda apenas ao combate às infeções, alargando-se aos campos das agressões físicas e químicas e das alterações cancerosas, a que estamos constantemente a ser sujeitos.
Temos vindo a assistir, desde há alguns anos, a um aumento preocupante da prevalência de certas doenças que têm a ver com a falta de estimulação do sistema imunológico, caso da esclerose múltipla, das alergias, da asma e das doenças inflamatórias do intestino, só para falar de algumas.
Precisamos da “sujidade”, e a boca é a via privilegiada para o contacto, como é óbvio.
Não é por acaso que as crianças contactam com o mundo, e apreciam-no em primeira mão, através da cavidade bucal. Em boa hora o fazem. Mas quando passam a viver em ambientes asséticos, então, o perigo de virem a sofrer mais tarde certas doenças é uma realidade. A situação é de tal modo caricata que, para algumas afeções, já estão a utilizar extratos de parasitas, que outrora provocavam infestações, sem grandes consequências, para as tratar.
Não me admiraria muito que, um dia destes, comecem a aparecer “extratos de sujidade” à venda para estimular o sistema imunológico. Aqui está uma boa área de negócio: “Proteja a sua saúde! Estimule o seu sistema imunológico. Tome diariamente uma cápsula de extratos de lombrigas”!
Voltando à conversa das senhoras, apeteceu-me explicar-lhes que as alergias e a asma do filho de uma delas poderiam ter sido, eventualmente, evitadas se tivessem tido menos cuidados de higiene em criança, e o mesmo para a mãe da jovem com a doença de Crohn.
Nem oito nem oitenta, diz o povo na sua sabedoria. No caso vertente, as donas já deviam andar pelos “noventa”!
A boca e a sujidade estão, desde sempre, intimamente ligadas, em todos os sentidos. Importa analisar esta relação, “deshigienizando” o suficiente para que as crianças se possam contaminar. Elas agradecem! Por fim, seria, também, conveniente investir mais alguma coisita na “higienização” do que anda a sair da boca de muitos graúdos, sujidade muito perigosa, mortífera nalguns casos...

A corrupção!...

Doze filmes portugueses estreados em 2008 e dezasseis milhões de euros de apoio de fundos públicos. O resultado de tal investimento é verdadeiramente extraordinário. Vejamos:
Um filme, Terra Sonâmbula, teve 1245 espectadores e nove filmes não chegaram a 6000 espectadores. Dos dois restantes, Aquele Querido Mês de Agosto, atingiu a estratosférica soma de quase 20.000 espectadores e o Amália poderá atingir os 200.000 espectadores.
Nada, aliás, diferente do que aconteceu em 2006. Das 12 longas-metragens de 2006, três não atingiram 1.000 espectadores, seis não atingiram os 10.000 espectadores (e muitos ficaram bastante abaixo) e apenas duas ultrapassaram 10.000 espectadores, um com 29.000 e outro com 11.000.
E também nada diferente do que aconteceu em 2004. Em 2004 foram estreados 15 filmes, que tiveram uma audiência de 233 mil espectadores. Um dos filmes, Querença, teve, imagine-se, a assistência verdadeiramente extraordinária de 100 espectadores, três atingiram a imponente e redonda cifra de 400 espectadores, outros três chegaram a uma assistência fenomenal, de 1.300 a 5.000 espectadores e dois tiveram um enorme sucesso, já que foram vistos por 6.000 e 9.000 devotados cinéfilos!...O filme mais visto, Sorte Nula, teve 74.100 espectadores.
Diz-se que quantidade não significa qualidade. Não é verdade nesta sucessão de casos. Tivessem os filmes qualidade que haveria um número razoável de cidadãos que os iriam ver. Não vão, porque não estão para se sujeitar a verdadeiras borracheiras sem tino nem senso.
Alegremente, vamos desperdiçando recursos e deitando dinheiro ao lixo, melhor, para benefício de meia dúzia que fizeram modo de vida na invocação de valores culturais que não têm, nem sentem, nem alguém lhes reconhece.
Mas que os administradores dos dinheiros públicos irresponsavelmente premeiam.

Estado de Citius


O clima de intriguismo e de conspiração em que o País está mergulhado, está a atingir niveis de paroxismo.
Há dias fiquei pasmado ao deparar-me com cópia de um despacho de uma senhora magistrada, que recebi por email, no qual, com base em argumentos inacreditáveis, se condenava o CITIUS - o programa de gestão electrónica dos processos nos tribunais comuns - porque, entre outras coisas, permitiria a ingerência de terceiros e até a alteração das decisões dos senhores juizes ou as peças dos senhores advogados. Mais espantado fiquei quando ontem verifiquei que esse despacho foi o rastilho para mais um bombástico ´caso´, com os habituais alarmes sindicais, honras de escândalo na TV e imediata chamada ao parlamento do ministro da justiça.
É legítimo que nestas ocasiões se pense se estas coisas acontecem porque entre nós existe a tendência para se valorizar tudo quanto soe a insídia ou escândalo mesmo quando não há escândalo algum; ou se, diferentemente, existem interessados em desestabilizar e inquietar sectores fundamentais da vida do País, como é o caso da justiça.
Há quase 4 anos que eu entrego as minhas peças processuais, consulto os processos e me relaciono com colegas ou com o Tribunal através de meios electrónicos, utilizando o SITAF - o correlativo do CITIUS para a jurisdição administrativa. Se críticas tenho a dirigir ao sistema, é ao seu funcionamento, à elevada taxa de indisponibilidade, à deficiente utilização por alguns tribunais. Mas não tenho qualquer dúvida que com ele se aumentou extraordinariamente a minha produtividade como advogado (já não sou tão definitivo em relação à produtividade dos tribunais). Porém, jamais me passou pela cabeça que, com as seguranças que o envolvem (aliás, bem mais apertadas no CITIUS), alguém o pudesse entender mais vulnerável do que os processos de papel, livremente manipuláveis por advogados, funcionários, magistrados e sei lá mais quem, alguns deles especializados ao longo dos anos em coser e descoser as linhas que solidarizavam os documentos que os constituiam...
Se a este movimento que pretende semear um novo escândalo a propósito da falta de segurança do CITIUS for reconhecida credibilidade, então acho melhor pormos em causa a segurança dos sistemas que gerem as nossas contas bancárias, as nossas relações com o fisco, as nossas comunicações com um número crescente de entidades, todas feitas através através de sistemas que têm sempre alguém por detrás capaz de conhecer os fluxos de informação que passam pela fibra óptica.

E já agora, não se descuidem com os carteiros, esses intemporais espiões...

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

A água amarga do Freeport

De enaltecer e louvar a reacção do PSD ao caso Freeport, envolvendo José Sócrates, não procurando daí retirar benefícios políticos: à justiça o que é da justiça, à política o que é da política. Não deve a política antecipar-se ao que a justiça não concluiu.
Neste campo, aparte uma ou outra excepção que confirma a regra, a atitude do PSD tem-se pautado sempre por alguma moderação, ao contrário dos hábitos de outros partidos, nomeadamente do Partido Socialista. Para não ir mais longe, recordam-se todas as violentas e continuadas campanhas do PS para a demissão de Paulo Portas de Ministro da Defesa, no caso Moderna, toda a campanha contra Carmona Rodrigues, ou contra Fontão de Carvalho, mesmo antes de serem constituídos arguidos ou contra Santana Lopes, seja pela atribuição de casas da Câmara ou da urbanização do Parque Mayer. Quando se trata de obter benefício político, qualquer indício tem servido para o efeito.
Esquecendo-se do provérbio de que ninguém pode dizer que desta água não beberei.
A mesma água que friamente serviu a outros está agora a bebê-la, bem amarga, até à última gota!...
Oxalá Sócrates possa brevemente ultrapassar esta difícil situação, com honra para si próprio e sem indignificar país!...

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Para além da razão!...

Sócrates louvou-se num Relatório sobre a educação que disse ser da OCDE.
Soube-se agora que o Relatório não é da OCDE. A própria OCDE desmentiu que o Relatório fosse seu.
Era pensável que isto acontecesse em Portugal?

PIB cai -3% a -2% em 2009...contra a crise marchar, marchar!

1. Já é tempo de o barómetro 4R avançar a 1ª previsão do PIB para 2009, tal como em 2008, com resultados tão estimulantes como estarão recordados...
2. A primeira previsão do 4R para 2008, de +0,7%, editada em Julho - numa altura em que o Governo e os seus “advisors” da baixa pombalina ainda apontavam taxas de crescimento “close to” 2% - e corrigida em Setembro para 0,5%, viria a revelar-se a mais certeira de todas as editadas em Portugal.
3. As previsões do 4R para 2009 aqui estão, pois, embora a nossa modéstia mande dizer, como sempre dissemos, que elas são passíveis de erro, nomeadamente numa conjuntura tão incerta como aquela que vivemos.
4. Que razões nos levam a avançar uma previsão tão divergente das “quase infalíveis” emitidas pelo Governo e BdeP (gémeas, como se impunha...)?
5. A nossa percepção é de que a contribuição das exportações líquidas para o PIB, prevista pelo BdeP em -0,8%, deverá ser bem mais negativa – por força de uma maior quebra das exportações do que a admitida pelo BdeP (-3,6%).
6. Informação que vai chegando de sectores exportadores sugere que a quebra é muito forte, muito mais do que a que foi avançada pelo BdeP...
7. O problema não seria tão grave se as importações caíssem mais do que o previsto pelo BdeP (-1%), compensando assim a maior quebra das exportações...
8. Mas aqui entra em acção o famoso programa de “combate” à crise cujo principal efeito será contribuir para sustentar as importações de bens e de serviços...
9. O tipo de despesa que se pretende dinamizar - despesa pública em obras sem qualquer impacto favorável nos sectores mais expostos à concorrência internacional - deverá dar uma boa ajuda às importações...agravando os desequilíbrios insustentáveis da economia.
10. Caricaturando, ocorre perguntar em que medida a construção de novas rodovias vai resolver os problemas de que padecem empresas como a Quimonda, a Aerosoles, a Citroen e quejandas?
11. Será facilitando o escoamento por estrada de produtos que deixaram de ter procura nos seus principais mercados?...Alguém acredita?
12. Será que os rendimentos gerados por essas empreitadas vai ser gasto em produtos nacionais e não em importados?...Alguém acredita?
13. Será que a secagem do crédito bancário imposta por essas obras altamente consumidoras de capital vai ajudar as empresas dos sectores mais expostos à concorrência?...Alguém acredita?
14. É claro que a despesa beneficiará com esta enxurrada de dinheiro cego, que vai açambarcar (na curiosa expressão de Campos e Cunha) o pouco crédito de que ainda dispomos...mas em detrimento do estado da economia que em todos os planos relevantes se agravará!
15. Quando daqui por 6 a 8 meses se verificar que a previsão do 4R é a mais próxima da realidade, podemos estar certos de que o discurso oficial será “... e se não fosse o nosso plano de combate à crise, a nossa coragem de a enfrentar, como é que estaríamos?”
16. O coro dos dóceis “media” entoará os refrãos: (i) Governo de visão e coragem para decidir; (ii) Sem maioria absoluta País ingovernável...
17. Assim, contra a crise marchar, marchar!

As contas da justiça


Os portugueses pagam todos os anos com os seus impostos, mais de 400 milhões de euros para manter em funcionamento a máquina da justiça.
Cada processo entrado num tribunal custa em média ao Estado, isto é, a todos nós, mais de 500 euros, a acreditar nas contas de um estudo. Soma-se a este montante custas, honorários e despesas a suportar pelas partes.
É ncessário algum estudo para perceber quais os benefícios deste esforço para os interessados e para a comunidade ?

Curiosamente - ou não - ninguém fala disto na cerimónia de abertura do ano judicial...

Cá vamos indo...a fazer de conta!...

O Ministério da Justiça decretou a proibição das máquinas Multibanco nos Tribunais, para evitar assaltos.
Um ilustre Deputado do PSD recomendou a proibição das sessões parlamentares das 6ªs feiras, para evitar as faltas dos deputados.
O Ministério da Educação determinou a proibição de reprovar os alunos, para evitar o insucesso escolar.
Para não prender os ladrões, aprisionam-se as máquinas; para não marcar faltas aos deputados, extinguem-se as sessões; para não haver insucesso, decreta-se a passagem administrativa.
Os ladrões continuarão a explorar outras máquinas Multibanco; os deputados insistirão em esforçado trabalho político fora do Parlamento; os alunos ignorantes esperam as sempre gratuitas novas oportunidades. Como assaltar máquinas Multibanco!...
Cá vamos indo... a fazer de conta!...

Transações reprováveis...

Será que a crise financeira foi assim tão madrasta para com o ex-Presidente do banco Lehman Brothers? Oportunismo, imoralidade, fraude? Classificações que nos sugerem o comportamento noticiado pelo The New York Times.
Segundo o jornal, Richard Fuld vendeu a sua mansão na Florida, adquirida em 2004 por 13,75 milhões de dólares, pelo montante de 10 dólares à mulher Kathleen. Fontes jurídicas na Florida admitiram “que o banqueiro esteja agora a transferir as suas propriedades por recear processos judiciais por parte dos investidores ou uma possível bancarrota”.
O Lehman Brothers foi mentor e uma das vítimas das hipotecas “tóxicas”. A sua falência em Setembro de 2008, depois da Administração Bush ter rejeitado o apoio ao financiamento do banco com dinheiros públicos, disparou o fatal tiro de partida para a crise mundial que, de lá para cá, não pára de fazer graves estragos na economia.
Para quê mais comentários? Não me ocorre, sinceramente, a adjectivação necessária para qualificar uma tal transação imobiliária.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Uma voz autorizada!...

"No meu tempo, o Benfica não tinha esses contratempos das arbitragens..."
Mário Coluna, em declarações ao programa Trio de Ataque, da RTPN, quando interrogado sobre se no seu tempo também havia problemas com os árbitros.
Uma voz autorizada!...

Não entendo

Porque insiste o Senhor Presidente da República em responsabilizar a lei pelos males da chamada justiça, quando os discursos que ouve em todas as cerimónias de abertura do ano judicial claramente denunciam onde estão e quais são as verdadeiras causas.

O botão de chamada do elevador

Após ter terminado as consultas, desci pelas escadas praticamente às escuras, porque o raio do botão da luz não funcionou, como é habitual. Ao iniciar a descida comecei a ouvir um estranho gemido, não de dor, mais semelhante a esforço, mas era um gemido muito estranho, rouco, gutural, o que me obrigou a perscrutar quem é que estaria na sua fonte. No lanço do rés-do-chão, onde a escuridão atingia o seu máximo, vi uma sombra junto aos dois elevadores. Aproximei-me e descortinei a jovem deficiente, por paralisia cerebral, que habita naquele prédio e que conheço, de vista, há muitos anos. Agarrada a um andarilho, a jovem, desesperadamente, tentava com o seu dedo indicador pressionar o botão da chamada do elevador. Gemia devido a um esforço sobre-humano para o alcançar. A ponta do dedo ficava, teimosamente, a uns escassos dois centímetros, se tanto. Tentava com todas as suas forças resolver um problema que antes conseguia, mesmo com alguma dificuldade. Desta vez, não conseguiu. Não se apercebeu da minha chegada e, muito naturalmente, sem pensar, carreguei no botão da chamada com uma facilidade louca, apesar dos muitos livros e do computador que carregava. O meu dedo cruzou-se com a da menina. Olhei-a, vi os seus olhos a brilhar num corpo disforme, silenciei os gemidos dos seus esforços e fugi. Senti-me verdadeiramente miserável. Fiquei com a sensação de que os gemidos eram agora de dor, dor silenciosa. A minha atitude, tão simples, tão fácil de executar, contrastou com o ato heroico de um ser prisioneiro de um corpo que não responde às coisas mais banais do dia, como o simples pressionar de um botão. Pus-me a pensar na dor que deverá ter sentido ao aperceber-se da facilidade com que os outros resolvem certas situações e ela não. Às tantas, se não lhe tivesse facilitado a vida, talvez tivesse conseguido pressionar o botão. Estava muito escuro e por este motivo poderia estar mal colocada. Bastaria, talvez, uma pequena mudança de posição para conseguir o seu objetivo, ou, então, não me custa nada a acreditar, a sua reduzida autonomia está a deteriorar-se rapidamente.
Queixamo-nos, frequentemente, de que somos “prisioneiros” de muitas coisas, mas na realidade somos muito mais livres e autónomos do que pensamos. Basta reconhecer a facilidade com que pressionamos o botão de chamada do elevador...

O cacete vitaminado


O cacete continua uma instituição parisiense, nu nas extremidades, pequena tira de papel ao meio para transportar sem sujar a mão ou o casaco.
No metro ou no autocarro serve para limpar os assentos ou as portas onde o proprietário se encosta, desempoeirar a camisa ou as calças do vizinho, consoante a posição em que esteja colocado, debaixo do braço, ou pendente da mão ao longo das pernas.
Em casa, e assim bem vitaminado, também é um verdadeiro tónico para acompanhar as refeições!...
Refira-se o inqualificável desleixo do fotografado, que mandou cortar o cacete ao meio, e assim lhe fez perder substancial qualidade!...

O novo, o velho e o reciclado no direito da conservação da natureza

Aproveito o súbito interesse pelos temas da conservação da natureza e defesa da biodiversidade para animar o nosso QUARTO DA REPÚBLICA.
Ali coloquei o texto da intervenção nas Jornadas de Direito do Ambiente promovidas pela Faculdade de Direito de Lisboa sobre a mais recente legislação neste domínio.

Violência e miséria no Congo


Vi hoje uma notícia sobre o recrutamento de crianças combatentes na República do Congo, aliás nem deve já haver nenhum ser vivo no Congo que não seja combatente ou vítima dos combatentes ou seja, refugiado, estropiado, ou subnutrido, para não falar da cólera e de todos os cavaleiros do Apocalipse que acompanham a guerra.

O EL País de há umas semanas trouxe a primeira de uma série de reportagens “aos infernos na Terra”, e levam como testemunha dos horrores um escritor com a arte e a coragem suficiente para ver e relatar. Para estrear, levaram Mário Vargas Llosa ao Congo, esse país tão rico e há longos anos mergulhado numa guerra sem regras impossível de imaginar, em que milícias rebeldes competem em violência e brutalidade com o exército dito governamental, em que se cruzam lutas tribais com luta pelo controle dos minérios, e hordas de criaturas que nasceram humanas fogem aterrorizadas de um campo de refugiados para outro, deixando para trás os casebres, o gado, os campos de onde tiravam a magra sobrevivência. “Os refugiados estão condenados a uma vida atroz, parasita, que os desmoraliza e anula, este é talvez o espectáculo mais terrível que oferece o Congo Oriental: dezenas de milhares de pessoas a quem a violência e a miséria reduziu a zombies”, consta do relato tão brutal que só com esforço se lê até ao fim.
Por coincidência, li nesse mesmo dia uma breve notícia noutro jornal que dava conta de que se cumpriam 50 anos sobre a emancipação do Congo e “o reconhecimento oficial da vocação do Congo para a independência”, prevendo-se a "eliminação da segregação política e racial dos negros, a participação dos congoleses na construção de uma democracia e um conselho de legislação", sendo que o jornal da época criticava fortemente a medrosa “abertura” dos belgas à real emancipação da sua colónia. Que abismo entre estas duas datas, há 50 anos a ambição da emancipação de um povo, a impaciência pela hora da liberdade para desenharem os seus destinos na terra que voltava a ser só deles, hoje a guerra civil total, a miséria e a destruição até ao mais pequenos dos seus habitantes.
No entanto, na amálgama de terrores que é hoje o Congo com os seus meninos combatentes e as suas crianças destroçadas, há um grupo de “Poetas da Renovação”, lembrando que “há sempre alguém que resiste, há sempre alguém que diz não”, que se reúnem numa igreja onde sobrevive uma pequena biblioteca. Vargas Llosa provocou entre eles um diálogo sobre os efeitos do colonialismo, mas o juízo negativo que alguns sustentaram foi cortado por um jovem “teólogo poeta”: “E que temos nós, os congoleses, feito com o nosso país desde 1960?”
A reportagem bem actual dos meninos soldados, andrajosos, esfomeados, com fardas de palhaço triste e dramático, mas com armas reluzentes e de modelos bem actuais, dá a terrível resposta.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Pilhéria com graça!...



Comentário do Blog Mensagem Certa: "hoje querem o serviço, mas já não o pagam!..."
Falso como Judas, mas com piada!...

Bom...mas depois não me venham dizer que não sou desportista!...

Os ricos e os pobres


Na rica Lisboa, a coisa fia mais fino e a tecnologia tem que ser requintada.
Na decadente Paris, uma lata de tinta para as brasas, uma chapa furada para colocar o produto, uma lista das páginas amarelas para empacotar o artigo e um carrinho de supermercado para assegurar a infra-estrutura capaz ao equipamento, e aí está o clássico assador de castanhas.
Contraste entre países ricos e países pobres!...

Ganhar a lotaria é perigoso!

Recordo-me de ter assistido, em tempos, a uma cena em que um grupo de crianças, como eu, ao responderem onde habitava uma certa senhora, “mulher de virtude”, não se quedaram na informação, gaiatamente aconselharam as utentes para que não se esquecessem de pedir à senhora o número da sorte grande. Ato contínuo, e ao mesmo tempo que expeliam risinhos marotos, davam gás aos pneus de bicicleta com os seus bastões, fugindo cada um para o seu lado. Matutei no assunto e conclui: então se a mulher descobria o futuro, também deveria conhecer o número da sorte grande e, desta forma, fugiria à miséria em que vivia. Sim, porque a localidade, a habitação, e as condições de vida da senhora eram de uma pobreza confrangedora. Pensei que deveria sofrer imenso com a sua perspetiva de futuro, devido às suas artes divinatórias. Terrível fado, uma pessoa que adivinhava a miséria do seu próprio destino e não era capaz de ficar com a sorte grande que lhe possibilitaria ter uma vida mais condigna.
Muitos procuram a sorte no jogo e tudo fazem para ganhar e fugir à miséria ou à pobreza. Os portugueses podem ser considerados como jogadores compulsivos, basta olhar para o que gastam, e ganham, nos ditos jogos legais. Até são estimulados, à exaustão, a comportarem-se dessa maneira, e não é só na lotaria, no totoloto, no euromilhões ou no totobola, mas também nos concursos televisivos. Tudo o que seja dinheiro fácil é uma atração, procurando, deste modo, a solução para muito dos seus problemas.
Não tenho nada contra quem joga. Confesso que já fiz uma ou outra aposta, mas sem qualquer convicção. Nem os jackpot do totoloto me seduzem. A somar à elevada improbabilidade de ganhar, acrescento, meio a sério meio a brincar, que o risco de ganhar a taluda pode ser muito perigoso para a própria saúde, bem-estar e segurança. Contra-argumentam da maneira mais previsível, “está bem, está”, “tomara eu”, “qual quê”, “ai seu ganhasse, o que não faria”, “tretas”, entre outras banalidades próprias da ocasião.
Mas é verdade. Quem ganha ao jogo, sobretudo a partir de certo quantitativo, e não são precisos milhões, a saúde das pessoas não melhora. Pelo contrário, agrava-se, já que passam a comemorar mais, bebendo, comendo, enfim, sofrem uma alteração substancial dos hábitos. Quanto ao bem-estar mental, numa primeira fase ocorre uma explosão agradável, mas não tem continuidade no futuro. Sob o ponto de vista financeiro, nos primeiros dois anos, o risco de bancarrota diminui cerca de 50%, mas a partir daqui aumenta. A riqueza dos que ganharam prémios chorudos é transitória e o risco de perturbações físicas é uma realidade, demonstrada através de alguns estudos epidemiológicos recentemente publicados.
Face a estes dados, à minha conceção do jogo e à volubilidade do dinheiro fácil, pergunto se a tal “mulher de virtude” não teria já adivinhado as consequências do perigo em ganhar a sorte grande, evitando assim por em causa a sua saúde física e bem-estar...

Os prémios e os castigos do rating...

Paul de Grauwe, o conhecido Professor de Economia e colunista do Financial Times, escreveu na sexta-feira um artigo naquele jornal, hoje reproduzido para português no Diário Económico, com o título “Aviso: as agências de rating podem ser prejudiciais”.
Neste artigo é feita uma reflexão sobre as consequências de notações de rating tendenciosas ou parciais e sobre as suas implicações nos incentivos e nos castigos aplicados aos gestores e accionistas e ao mercado em geral, com tradução objectiva na confiança dos mercados em relação às entidades avaliadas e no seu impacto nas economias dos países e das empresas.
Com efeito, perante a brutal crise financeira que eclodiu, é legítimo e pertinente que nos interroguemos sobre a qualidade e a credibilidade do trabalho dos auditores externos responsáveis pela auditoria às contas financeiras e das agências de rating que se pronunciam sobre a solidez financeira ou a capacidade de solver os compromissos da dívida contraída.
A crise financeira veio pôr a nu que a credibilidade e a segurança que accionistas e mercados procuram, por exemplo, nas agências de rating estão longe de merecer a sua confiança. Mas certo é, que, independentemente dos erros do passado, o mercado tende a fazer fé e a levar a sério, ainda que a memória seja curta, os veredictos dos seus ratings. Não havendo melhor substituto, os mercados acreditam que os ratings atribuídos são a melhor proxy de avaliação da situação real e da previsão da sua evolução futura e, como tal, reagem de imediato, reformulando expectativas, rebalanceando as suas prioridades, tomando decisões que favorecem ou penalizam a capacidade de endividamento e o seu preço, premiando ou castigando emissores e detentores de dívida, com impactos, muitas vezes de grande monta, na economia e na situação financeira dos países e das empresas alvos de decisão.
Tem razão Paul de Grauwe quando lembra que “No passado recente, o mercado acreditou nas mesmas agências de rating quando deram o seu selo de aprovação à dívida que estava a eclodir nas empresas privadas, permitindo assim a estas empresas financiarem-se no mercado a taxas de juro ainda mais baixas. E foi o desastre”.
Quem não se lembra da Standart & Poors ter mantido o rating da Islândia em AA e no dia seguinte este país ter declarado que estava na banca rota?
Afirma o Economista que as agências de rating estão a exagerar na sua reacção e a ser altamente selectivas na sua reacção excessiva, quando constata que as dívidas dos Estados Unidos e do Reino Unido estão a aumentar rapidamente, sem que, contudo, aquela agência tenha emitido qualquer aviso.
A Standart & Poors baixou a notação de rating de Portugal de AA para A+. As razões apresentadas prendem-se, já todos sabíamos, com os insuficientes resultados das reformas estruturais associadas à economia e às finanças públicas. Este down grade pode vir a criar, é quase certo, dificuldades no acesso ao crédito internacional e aumentará o custo financeiro da dívida, com implicações gravosas para as finanças públicas e no curto e médio prazos com dificuldades acrescidas nos esforços que temos que fazer para melhorar a produtividade e a competitividade nacionais. O mal da economia portuguesa já cá estava, mas o reconhecimento através da redução do rating é um dado novo na formação da decisão dos financiadores e investidores internacionais de quem dependemos. É, também, a credibilidade do País que está em causa. Se alguma virtude a notícia pode ter é a de nos obrigar - será? - a repensarmos o insustentável endividamento a que chegámos.

Freeport e informalidade nos processos decisórios

Obrigatório ler o esclarecido e muito elucidativo post de Henrique Pereira dos Santos, no blog Âmbio, a propósito do Freeport e da informalidade dos processos decisórios. Explica quase tudo!...

domingo, 25 de janeiro de 2009

O caso Freeport: o apelo do cidadão e a inacção do 1º Ministro

Aludindo ao seu alegado envolvimento no caso Freeport, o 1º Ministro José Sócrates pediu que o sistema judicial apurasse rapidamente os factos, de forma a ser feita justiça com celeridade.
Todos nós comungamos dos seus votos, pois é publicamente reconhecido que a justiça funciona tão lentamente que chega a negar-se a si própria. Porque as demoras escandalosas que se verificam nos processos, em todas as suas fases, levam a que os envolvidos sejam tantas vezes julgados e queimados em lume brando na praça pública. Mesmo que inocentados em julgamento, já não é reparável o mal que os atingiu.
A justiça é, senão o maior, um dos maiores problemas com que se debatem os portugueses. Acontece que os Governos, todos eles, têm fugido, é o termo, à necessária, imperiosa e inadiável tarefa da reorganização do sistema judicial. Fuga essa só explicável por cobardia, ou por medo de afrontar os poderes instalados nos vários nós e fases do processo.
O apelo de celeridade que o 1º Ministro fez é o apelo desesperado e silencioso de milhares e milhares de portugueses que se defrontam com o problema de Sócrates, mas que não têm acesso à comunicação social. E se esse apelo nunca teve qualquer eco nos governos anteriores, também não teve qualquer resposta no governo de Sócrates.
Em vez de, como cidadão, apelar à celeridade da justiça, melhor seria que Sócrates actuasse como 1º Ministro e tivesse produzido a legislação necessária a uma justiça oportuna e eficaz.
Porque a justiça, como qualquer outra actividade, não pode resultar de apelos, individuais ou colectivos, à boa vontade dos seus agentes, embora ela seja sempre requerida, mas do seu correcto enquadramento.
E se Sócrates pode ser inocentado como cidadão, e oxalá que o seja, já nunca o será pela sua inacção na reformulação da justiça. Calhou agora a vez a Sócrates de ser vítima dessa mesma inacção. Lamentavelmente para ele e para todos nós, que bem precisamos de um 1º Ministro mais preocupado com o país e menos preocupado com o seu caso pessoal, que uma justiça condigna há muito teria resolvido.

As lições do Tio Patinhas contra a crise Maga Patalógica




O velho Tio Patinhas tornou-se uma personagem bem real nos nossos dias. Saltou das esquadrias que o prendiam na banda desenhada, a ficção ganhou vida e anima agora as notícas dos jornais e das televisões, o pato sortudo, sempre vitorioso nas crises maléficas, feito carne e osso, a rir-se de quem julgava tê-lo derrotado.
Quem não se lembra do velho pato milionário e forreta, que vivia para juntar dinheiro para o aferrolhar numa caixa forte? Quem não se lembra da invariável trama daquelas histórias aos quadradinhos, o Tio Patinhas sempre preocupado em aumentar a sua fortuna com golpes de sorte, a divertir-se a mergulhar para o seu mar de moedas acumuladas, fanfarrão e egoísta, sempre a arranjar desculpas para não pagar os serviços do sobrinhos pobres, o Pato Donald e os escuteiros mirins Huguinho, Zezinho e Luisinho?
A origem da fortuna do Tio Patinhas era atribuída à misteriosa moedinha da sorte, que ele guardava a sete chaves, não era ao trabalho, nem aos negócios, mas apenas à sorte das circunstâncias. A razão pela qual a fortuna se mantinha era a sovinice, a arte que ele tinha de pôr os outros a pagar tudo o que ele necessitava e ainda por cima até parecia que era ele que lhes fazia um favor.
O Tio Patinhas era perseguido pela Maga Patalógica, uma bruxa matreira que o perseguia para lhe roubar a moeda talismã e a fortuna acumulada. Aparecia quando menos se esperava, apanhava tudo e todos de surpresa, mesmo sabendo-se que ela nunca se tinha afastado muito e que espreitava apenas o momento de distracção para agir.
A Maga Patalógica era a figura da crise em saltos altos, armava ciladas, mudava de aspecto e quando, finalmente, se apoderava da moeda e o cofre forte se esvaziava num ápice, ouviam-se as suas gargalhadas de troça enquanto voava para longe na sua vassoura mágica.
O Tio Patinhas guardava então o chapéu alto e vestia o traje de mendigo, gritava que estava à beira da falência total, assim de um dia para o outro, ora rico ora pedinte, e atirava-se para o chão, a dar bengaladas à toa, até conseguir usar indecentemente a ingenuidade e a bondade confiada dos seus solícitos e aflitos sobrinhos, que corriam riscos e tormentos para salvar o tio da derrocada.
As histórias acabavam sempre com o pato espertalhão, forreta e egoísta, a sair vencedor da bruxa má, hoje chamada crise, e com a sua fortuna a salvo. Os pobres e heróicos sobrinhos regressavam à sua velha casa, exaustos, cheios de mazelas, ainda mais pobres, dependentes e sempre desenganados quanto à sua prometida generosidade.
A Maga-crise ficava a ruminar noutra oportunidade, o Tio Patinhas voltava a mergulhar na sua piscina de moedas e ignorava olimpicamente os trouxas que tinham arriscado a vida para o salvar. Logo os chamaria de novo, quando fosse preciso.
Hoje, abrimos e jornal e encontramos tios patinhas por todos os lados. Sobrinhos, também, mesmo que voluntários à força. E receio que as histórias terminem todas da mesma maneira.

Poluição hídrica e infertilidade masculina

Acabo de elaborar um parecer sobre um projecto de dissertação de doutoramento, que uma aluna minha vai desenvolver, focando a presença e os efeitos dos estrogénios no meio ambiente.
O lançamento de certas substâncias no meio ambiente pode ter consequências muito desagradáveis para várias espécies, inclusive a nossa. Muitas dessas substâncias são dotadas de efeitos de disrupção endócrina, facto que pode contribuir para os desequilíbrios ecológicos, favorecendo o aparecimento de tumores, alterações comportamentais, compromissos do desenvolvimento, infertilidade e, até, sobretudo nas espécies mais sensíveis, modificações sexuais muito importantes.
O uso de estrogénios sintéticos, através dos contraceptivos orais, constitui um risco nada discipiendo. Basta ver o número de mulheres que os utilizam por esse mundo fora. Quase que poderíamos dizer que a Natureza anda a “engolir” pílulas de proporções gigantescas. Resta saber se os meios de que dispomos hoje, caso das estações de tratamento de esgotos, conseguem impedir ou minimizar o impacte ambiental. A ver vamos!
O estudo poderá esclarecer um pouco mais sobre esta matéria ao analisar os diversos estrogénios, os de origem natural e os sintéticos, assim como os seus efeitos nos batráquios, animais muito sensíveis a estes químicos. Parece que estes andam muito “perturbados” e não é razão para menos.
Importa referir que outras substâncias lançadas no meio ambiente são, também, suscetíveis de provocar infertilidade masculina como é o caso de pesticidas e medicamentos anti-androgénicos, no último caso destaque para a flutamida e a ciproterona usados no tratamento do cancro da próstata.
Ao redigir o parecer, lembrei-me, naturalmente, da publicação de um artigo de um médico espanhol, no L´Osservatore Romano, no qual foca o papel dos contraceptivos como tendo um efeito devastador no meio ambiente, constituindo “uma das principais causas de infertilidade masculina no Ocidente”. O que é curioso, é o facto de invocar a encíclica Humanae vitae como uma “profecia científica”. Este documento, como é sabido, proíbe o uso de contraceptivos, incluindo os orais. De acordo com o médico espanhol, a contaminação ambiental provocada pela libertação de hormonas, através da urina das mulheres que usam a pílula, “é um dos motivos pelos quais o homem no Ocidente produz cada vez menos espermatozóides”. Sendo assim, se as mulheres não usassem a pílula, os homens não corriam riscos de ficar inférteis!
Resta saber o que é que o meu douto colega diria se soubesse - às tantas até deverá saber -, que as mulheres menarcas excretam diariamente cerca de 3,5 mcg de estradiol, 8 mcg de estrona e 4,8 mcg de estriol. Se já entraram na menopausa então as doses diminuem para 2,3 mcg, 4 mcg e 1 mcg, de estradiol, de estrona e de estriol, respectivamente. No entanto, durante a gravidez eliminam, em média, 259 mcg de estradiol, 600 mcg de estrona e 6.000 mcg de estriol! Quanto ao estrogénio sintético, as que tomam as pílulas, a eliminação estimada é da ordem dos 35 mcg/dia. Mas não se pense que os homens não eliminam estrogénios! Eliminam pois, um pouco menos que as mulheres na menopausa, mas eliminam!
Quando se comparam as excreções de estrogénios durante a gravidez, face aos outros períodos na vida da mulher, verificamos que as quantidades eliminadas durante aquele estado são muito elevadas. Se não houvesse contracepção eficaz, o número de gravidezes aumentaria e os estrogénios lançados na Natureza também. Pergunto: Neste caso não haveria contaminação ambiental susceptível de provocar infertilidade masculina?
É preciso de facto esclarecer melhor estes problemas, independentemente da forma como se pretende utilizar o conhecimento.
O artigo de Castellví tem o condão de estimular e despertar o interesse por estas áreas. A sua formação levou-o à Humanae vitae, o presente estudo vai levar a minha doutoranda às ETARs...

Bispo que nega o Holocausto!

Um bispo integrista britânico, Richard Williamson, que faz parte dos seguidores de Lefebvre, e cuja excomunhão foi anulada pelo atual papa, deu uma entrevista na televisão sueca em que afirmou estar convicto de que nem um judeu foi morto nas câmaras de gás. Admite que tenham morrido entre 200 a 300 mil nos campos de concentração, mas “garante que não foram gaseados seis milhões de judeus”!
Impressionante! Já pode associar-se com Mahmoud Ahmadinejad e muitos outros que negam o Holocausto. Como a negação do Holocausto é crime em muitos países, espero que quando passar por um deles seja acusado. Entretanto, enquanto a justiça não o punir, o melhor seria excomungá-lo outra vez!

Cozinhar, a arte dos bons costumes


Num lindo texto publicado hoje no Público, a autora, Mafalda Mourão Ferreira, conta que uma das coisas mais importantes que aprendeu com Stella Piteira Santos foi que ela lhe ensinou “a importância de saber cozinhar: para manter as pessoas unidas à volta de uma boa mesa e de uma boa conversa”.
Faz parte da nossa cultura enquanto povo, esse gosto por um bom petisco como pretexto para um bom convívio, as duas coisas sempre interligadas. O meu pai costumava dizer que os filmes de família, que são centenas e abarcam a vivência de várias gerações, tinham sempre o mesmo fundo da mesa posta, das pessoas a comer e da exposição de iguarias…
Há para os portugueses uma espécie de sacralização das refeições, um símbolo que tanto pode ser da luta pela sobrevivência como do sucesso, em qualquer caso uma razão de partilha com a família ou com os amigos. O ritual do jantar em família prolongou-se para além da diluição de muitos dos valores que ele expressava, como a importância da pontualidade nesse momento de reunião do clã, o respeito pelo chefe de família e pela organização doméstica a cargo da mãe, a educação à mesa nos gestos, na contenção das palavras, na precedência a servir-se, ou ainda a selecção do que era preciso contar e ouvir. As refeições, em particular o jantar, eram um momento educativo por excelência, no seu sentido mais amplo de transmissão de valores, de cultura, de comunhão de angústias e alegrias, de expectativas de vida.
Li algures que está a tornar-se moda as refeições “drunch”, a emparceirar com os já populares “brunch”. Estes foram a designação comercial do almoço simplificado (lunch) que junta o pequeno almoço (breakfast), geralmente ao fim de semana, para quem se levanta mais tarde ou para quem quer descansar da cozinha, juntando tudo numa refeição que faz a bissectriz entre o que mata a fome da manhã e o que sacia para a tarde que já começa. Agora inventaram o “drunch”(dinner+lunch), que junta o almoço tardio e o jantar, numa resposta prática para as necessidades de quem já não quer jantar a sério ou de quem recolhe cedo.
Não digo que isto não seja muito prático e dinâmico, certamente que sim, há que simplificar. Mas, a pouco e pouco, almoço e jantar vão perdendo a sua formalidade, vai-se ali à cozinha e cada um prepara a sua refeição tardia ou a sua ceia precoce, cada um à sua hora, na medida em que lhe convier. Adivinho que já não haverá crianças amuadas à frente de um jantar sem ketchup, nem jovens a ouvir ralhetes porque chegaram depois do pai estar sentado à mesa, nem mães ansiosas por ouvir gabar os seus cozinhados. E sentarem-se todos à mesa, sem televisão nem telemóveis, já deve ser uma raridade.
Tudo muito simples, à medida de cada pessoa. Só falta tudo o resto, que é muito.

sábado, 24 de janeiro de 2009

Reunião de quadros de empresa


Contaram-me um episódio que merece bem a nossa reflexão.
Numa reunião de quadros de uma grande empresa, um director apresentava o seu power point com o plano de actividades e o modo como a sua equipa se propunha realizar os objectivos. Ao longo da apresentação o orador intercalava as propostas com críticas à insuficiência das mesmas. “Isto aqui está assim, mas podia estar melhor, vamos aperfeiçoar” ou então “estes objectivos não tiveram ainda em conta isto e aquilo, é claro que teremos que corrigir” ou ainda “não está bem explicado neste slide o que queremos dizer, mas para a publicação vamos melhorar”.
Tantas vezes tropeçou nos defeitos que encontrava no trabalho que mostrava, que o Administrador que estava a assistir, vindo de outro País mas há vários anos na empresa, se impacientou. Levantou-se e interrompeu o director orador: “Páre de dizer mal do trabalho que fizeram! Há aí muita coisa boa, porque é que em vez de valorizar o que fez está sempre a desfazer? Vocês têm que aprender a apreciar o que fazem, em vez de estar sempre na defensiva, à espera que alguém vos queira destruir! Essa não é a atitude de uma equipa ganhadora, se fazem isso com a vossa própria equipa, se nunca reconhecem o valor do que fazem nem o esforço que puseram para fazer bem, como é que querem que os outros vos valorizem? São capazes de fazer melhor? Acredito que sim, um trabalho nunca está perfeito, mas não é isso que interessa, o que conta é o que conseguiram fazer agora, se melhorarem no futuro tanto melhor, é isso que se espera, mas não vamos atirar-nos ao chão só porque ainda não atingimos o ideal!”
Provavelmente um gestor português teria subscrito a falsa modéstia ou a insegurança daquele director, dava-lhe umas palmadinhas paternalistas nas costas e recomendava-lhe outra data para apresentação da versão melhorada, até porque essa já teria também o seu “contributo” crítico…
É por estas e por outras que ficamos sempre aquém do que poderíamos atingir, duvidamos sempre do que fazemos e exibimos essa insegurança, quanto mais não seja porque não queremos arriscar ser criticados. Esta cultura, multiplicada por cada uma das pessoas, traduz-se no desincentivo a quem se atreve e na demolição de quem assume os êxitos próprios.
Valham-nos outros olhos que têm a generosidade de se impacientar perante tantos complexos nacionais!

Até sempre!

Fernando Monteiro do Amaral 1925-2009

Desapareceu um Homem enorme. Professor, advogado brilhante, deputado à Constituinte e à AR em sucessivas legislaturas, Ministro Adjunto do Primeiro-Ministro e da Administração Interna, Vice-Presidente e Presidente da Assembleia da República, Conselheiro de Estado, Vice-Presidente da Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa, vereador e Presidente da Assembleia Municipal da sua e da minha terra natal, Lamego, o Dr. Fernando Amaral desmente, em especial para quem o conheceu de perto, todos aqueles que lamentam a falta de grandeza dos homens públicos.

A Fernando Amaral devo muito. Devo-lhe acima de tudo a distinção da sua amizade e o orgulho de a sentir, assim, verdadeira. Devo-lhe a orientação sábia na altura em que ela foi mais necessária. Devo-lhe o exemplo e o conselho amigo, preciosos guias em muitos momentos. Desapareceu do convívio que ultimamente se tinha tornado cada vez mais espaçado. Jamais desaparecerá da minha vida, cada vez mais cheia de memórias de gente fundamental ao que sou.

Até sempre, Dr. Fernando Amaral.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Tristeza

Ao longo da vida acabamos por penetrar, sem autorização, nas almas das pessoas, mesmo naquelas que põem trancas nas portas com receio de que a intimidade seja escalpelizada. Mas não conseguem. Há sempre algo no semblante, na postura, no olhar, na indecisão momentânea, na emissão meio rouca dos pensamentos, na confusão ligeira, no tropeçar do esquecimento, no resfolgar da respiração, na moleza do aperto de mão, na lentidão dos passos, a refletir a imagem da tristeza.
Tristeza, sentimento tão velho como o homem e que deverá ter constituído um dos principais fatores de evolução, que, afinal, não se restringem apenas às agressões físicas, químicas e biológicas. O interior do ser humano comporta em si a necessidade de se adaptar e nada melhor do que a tristeza para o efeito.
A tristeza ajuda-nos a aprender com os nossos erros. A tristeza permite-nos interromper, momentaneamente, o decurso da nossa existência, obrigando-nos a pensar. Ao mergulharmos na tristeza, fugimos do stresse crónico e da própria morte. A tristeza liberta-nos do quixotismo e de muita loucuras. A tristeza obriga-nos a ser criativos. A tristeza alimenta a esperança em melhores dias. A tristeza torna-nos mais aptos a lidar com os desafios da vida. A tristeza empurra-nos para altos desígnios. A tristeza é vital à evolução humana. Sempre foi. Resta saber se continuará a ser. A nossa sociedade privilegia os felizes e enaltece a ventura. Ai de quem fique triste, porque constitui um sinal de fraqueza e de infortúnio. Face aos mínimos sinais e sintomas, é-lhes oferecido, desde que paguem, claro, a felicidade sintética: medicamentos. Ofertam-lhes as pílulas da felicidade. A maioria acaba por ser rotulada de doentes e não são. São apenas seres humanos que, periodicamente, necessitam de se entristecer e de se sentir miseráveis para conseguirem ver a vida na sua plenitude, e, a partir daí, poderem contribuir para novas conquistas e descobertas.
Arte, ciência, religião, estão repletas de seres que, através das suas misérias, mudaram a face do mundo originando revoluções a vários níveis. Mas agora querem, teimosamente, acabar com a tristeza. “Don´t worry, be happy”, seria melhor substituída por “Don´t happy, be worry”, que condiz mais com a nossa condição.
Medicar excessivamente a tristeza é muito perigoso, porque interrompe a nossa capacidade de abraçar o lado miserável da existência e, consequentemente, impedir a motivação para o amadurecimento. A estabilidade emocional passa pela tristeza. Poderão dizer: - E os que se sentem deprimidos? Estes, de acordo com o grau de depressão, deverão ser tratados. Cerca de 25% da população sofrerá, pelo menos, durante a sua vida uma crise depressiva e cerca de 5% da população está permanentemente deprimida.
Os fatores sociais constituem hoje as principais causas de tristeza. Avizinham-se situações particularmente graves que irão originar muita dor. Se originarem apenas tristeza, nada de mal advirá ao mundo, pelo contrário, o pior é os que se afogam nela, neste caso estaremos perante uma grave tragédia...

Medidas keynesianeiras!...

O aumento da despesa pública para 50% do PIB e o maior intervencionismo do Estado para fazer face à crise têm sido apelidadas de medidas keynesianas.
Constituem uma ofensa à memória de Keynes, que nunca as adoptaria na conjuntura portuguesa, pois saberia que iriam dar o contrário do pretendido.
São, sim, medidas keynesianeiras adoptadas pelos keynesioneiros de serviço. Que, latismavelmente, vêm moldando e amolgando este país, com os resultados bem à vista.

AMERICA GREATNESS IS NOT A GIFT - IT MUST BE EARNED

1. A frase em título foi proferida no discurso de posse do Presidente Obama e é talvez das expressões mais significativas da sua proclamação ao País e ao Mundo.
2. Como não podia deixar de ser, essa expressão, dada a sua importância e significado, passou despercebida no meio da imensa baboseira em que se transformou o noticiário da generalidade dos nossos media sobre o acto de posse do novo Presidente.
3. Esta notável frase fez-me recordar a entrada de Portugal no Euro em 1999: como teria sido importante as nossas distintas autoridades da época – algumas das quais são de novo autoridades no momento que corre – dizerem aos Portugueses “atenção que esta participação no Euro não é uma dádiva, implicou custos, temos de fazer por merece-la”...
4. Mas não foi isso que aconteceu entre nós, os nossos astutos políticos da época entenderam que era motivo e ocasião para “Enjoying life in the Eurozone” como sugestivamente intitulava um suplemento do Financial Times, de meados de 2000, dedicado à economia portuguesa...
5. Criaram-se então, como aqui tenho repetido à saciedade, as bases para o aniquilamento de qualquer hipótese de correcção dos desequilíbrios da nossa economia que, já nessa altura, eram ameaçadores...
6. No breve consulado de Durão Barroso, a tentativa séria de atacar esse problema com a determinação e a coragem de M. F. Leite, seria completamente minada com a famosa declaração do Presidente Sampaio “Há mais vida para além do Orçamento”.
7. Essa declaração, feita em 25/04/2003, dando razão às violentas críticas, sem qualquer fundamento, que os entusiastas da despesa pública acolitados por uma comunicação social insana dirigiam á política de F. Leite, seria absolutamente fatal e marcaria a "tragédia" da política económica até aos nossos dias.
8. Acabam de ser divulgados os dados provisórios das contas externas para Novembro de 2008 e por eles se percebe que só por “milagre” que tenha acontecido em Dezembro o défice externo não terá superado 10% do PIB em 2008...
9. Os entusiastas da despesa pública estão conduzindo o País para um beco sem saída, repetindo-se os sinais de que a política de aparente combate à crise não é mais do que uma política de aprofundamento da crise...
10. Falta-nos um Presidente com poderes executivos, como tem Barack Obama, que começasse por nos recordar “Enjoying life in the Eurozone is over...it is time to go back to reality”...
11. Em vez disso continuamos, agora terrivelmente endividados, com menos dinheiro e com o crédito cada vez mais caro e a acabar-se, a seguir a grande máxima do ex-Presidente “Há mais vida para além do Orçamento”.
12. Resta apenas acrescentar - que triste vida essa...

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Faz pena ver Lisboa assim...

Já tinha reparado, perplexa confesso, nas vacas que estão a pastar na Praça de Espanha. Cheguei a pensar que eram mesmo vacas dos Açores, mas fiquei hoje a saber pela rádio, que afinal são bezerras e não vacas e vieram da Moita do Ribatejo aqui ao lado de Lisboa, porque, segundo foi explicado, o transporte das vacas açorianas ficaria muito dispendioso e além do mais as vacas da Moita já estão habituadas a pastar junto à estrada, o que convenhamos até pode ser uma "mais valia" importante, se atendermos ao facto de que a Praça de Espanha é um local com uma grande densidade de tráfego! Tudo isto até poderia ter uma certa graça, não fosse o triste estado em que Lisboa fica na fotografia.
A mostra das vacas açorianas faz parte de uma campanha turística que está a decorrer em Lisboa para a promoção dos Açores, incluindo para além das bezerras, uma baleia a mergulhar na Praça do Saldanha, um campo de golfe na Praça dos Restauradores e hortenses na Praça de Entrecampos. Reparei hoje no revestimento do piso que contorna da Praça do Marquês de Pombal com uma “alcatifa” azul, com uns placards a anunciar Açores.
Muito recentemente, no último Natal, Lisboa foi polvilhada em várias zonas históricas e emblemáticas de Lisboa com tendas e decorações da tmn e da zon.
Por este andar as Praças de Lisboa, que são âncoras importantes no recorte paisagístico e urbanístico da cidade e, simultaneamente, locais de atracção turística pela sua carga histórica e cultural e beleza arquitectónica e escultural, correm o risco de ver a sua função reconvertida em montras publicitárias de marcas comerciais ou de outras paragens turísticas ou, ainda, de outras coisas que não nos ocorre pensar.
Lisboa vê-se assim "roubada" de um património que pertence à sua identidade e é indispensável ao seu reconhecimento, que os lisboetas gostam de admirar e desfrutar e que os turistas que a procuram querem visitar e conhecer.
Lisboa está, há muito, abandonada e degradada. Estas iniciativas, que a Câmara autoriza, certamente que movida por necessidades de tesouraria, em nada contribuem para melhorar a qualidade de vida e o bem estar dos seus habitantes, antes pelo contrário, são uma prova do desnorte a que tem estado devotada a gestão de Lisboa. Francamente, o que é que ainda mais estará para acontecer a esta pobre Cidade?
Duas Notas: 1º Gosto muito dos Açores. 2º Parece que está instalada uma polémica em torno da defesa dos direitos das vacas (dos direitos dos animais).

“A alma não tem segredos que o comportamento não revele”

O título deste post é uma frase da brilhante conferência "A Confiança",proferida no dia 31 de Outubro pelo Prof. Raul Diniz, " na AESE – Escola de Direcção e Negócios, em boa hora publicada na revista dedicada à XI Assembleia de Alumni, subordinada ao tema “A Economia, as Pessoas e as Confiança”.
É difícil encontrar alguém com um tão completo dom de comunicar, de transmitir e de ensinar como tem o Prof. Raul Diniz, que nos deixa suspensos logo às primeiras palavras e nos prende até à última, num fascínio permanente. Não estou a exagerar, acreditem, mas já que não posso trazer aqui o som e a imagem que dão vida e carisma às suas intervenções, trago ao menos algumas das palavras que pude relembrar ao ler a revista:
A maior parte dos economistas privilegia as explicações de tipo material – capital, trabalho, recursos naturais, etc. E se as mentalidades e os comportamentos constituíssem o principal factor de desenvolvimento ou subdesenvolvimento? Algumas das coisas mais importantes do mundo não se podem medir: são intangíveis.”
“Há muito quem defenda que não se deve confiar nas pessoas, que não se deve confiar que as pessoas vão fazer as coisas certas e que é preferível desenhar sistemas que as ajudem a proceder bem. (…)Todos desejaríamos sistemas de tal modo perfeitos que já ninguém precisasse de ser bom.(…) Numa cultura saudável baseada na confiança, esta e o controlo são duas faces da mesma moeda”.
“Vivemos simultaneamente uma crise de confiança e uma cultura de suspeita (…) as plantas crescem mal quando estamos sempre a auditar as raízes”, “os homens constroem demasiados muros e poucas pontes (…) a confiança reduz a complexidade social”, “se não há confiança mútua, diminui o sentido de responsabilidade e inibe-se a liberdade. A perda de confiança tem exigido uma regulação mais invasiva e, paradoxalmente, ou não, o aumento dos níveis de controlo e sancionamento reduzem mais a confiança do que a restauram”.
“Confiar no outro significa que acredito que não me prejudicará ou explorará, especialmente quando esse risco existe.”
“Muitas vezes aparece aquela dicotomia difícil – eu perdoo, mas não esqueço – que tem uma certa razão de ser, porque o perdão tem a ver com a vontade – eu posso querer perdoar, mas a desconfiança entrou pelo conhecimento de alguma coisas que cai no campo da memória e tenho dificuldade em esquecer”.
“Qualquer dirigente sensato teria uma forte motivação para investir no desenvolvimento da confiança, se esta se pudesse comprar no mercado, pois o seu retorno seria muito superior ao de qualquer outro negócio”, mas “a confiança dá-se fundamentalmente entre pessoas e exprime uma relação muito mais profunda e complexa que chega à confiança nas intenções, ou seja, aquilo que cada um tenta conseguir dos outros”.
“Quem mantém uma relação com uma pessoa, com um grupo, sem confiar nele? Ou, se preferirem, quanto tempo dura uma relação se a confiança acabou? É que a confiança não é estática, tem que ser ganha e reforçada ao longo do tempo pela aderência constante aos valores que estão no seu fundamento. Exige esforço e vontade para manter”.
É tão difícil seleccionar apenas pequenos excertos desta conferência, que amanhã continuo este meu esforço para vos dar uma pálida ideia do seu todo.

O pêndulo imperfeito


No jantar de 2ª feira da Plataforma Construir Ideias, de Pedro Passos Coelho, subordinada ao tema "Crise, Globalização e Intervencionismo do Estado", Pedro Adão e Silva, um dos oradores convidados, teorizou sobre os movimentos pendulares da história, concluindo que, neste momento, o pêndulo descai para o intervencionismo, para o fortalecimento do papel do Estado, em suma, para a esquerda.
Na fase de debate, contestei que a teoria fosse aplicável em Portugal, onde a nota dominante foi sempre um forte intervencionismo do Estado, com a agravante de se fazer sentir, muitas vezes, onde não devia. Socorrendo-me de alguns exemplos, concluí que não havia pêndulo ou, a havê-lo, seria defeituoso, já que apenas se deslocava do centro- esquerda para a esquerda ou, na melhor e maior das amplitudes, do centro para a esquerda.
Na resposta, Pedro Adão e Silva, aludindo embora a razões não coincidentes com as minhas, reconheceu que o pêndulo era, de facto, imperfeito.
Imperfeito e esquerdista, que nada ajuda à teoria, junto eu!...

E se o Director-Geral não tivesse uma filha enfermeira?

Vinha no carro e ouvi na rádio que o Director-Geral da Saúde ameaça não renovar o contrato com a empresa que gere a Linha Saúde 24. Estará no seu direito, não discuto. Mas os argumentos utilizados não lembrariam ao mais pobre diabo!...
Segundo pude entender da peça jornalística, existe um diferendo entre a Administração dessa parceria público-privada e os enfermeiros, devido às trocas de serviço a que procedem sem conhecimento e autorização superior. Diz o Director -Geral, e eu ouvi, que alterações dessas se fazem desde que há enfermeiros. E para atestar definitivamente tal afirmação, deu como exemplo o que se passa com a própria filha, que é enfermeira!...
Posso então concluir que as alterações de serviço constituem um dos requisitos essenciais da profissão de enfermagem, que um profissional que se preze tem que cumprir. E que a filha de S. Excia é dada como exemplo de perfeito cumprimento das regras!...
E se o Director-Geral não tivesse uma filha enfermeira? Como é que avaliaria a questão?

Vacinação contra a crise começou...em grande estilo!

1. Era de esperar...face à avalanche de falso pessimismo para a economia portuguesa em 2009 e 2010, começou a distribuição de uma vacina contra a crise cientificamente preparada nos laboratórios das agências de comunicação de serviço (muito caro convém sempre lembrar, embora os pagantes não se queixem...) mostrando que, a final, não vivendo num mar-de-rosas temos todavia tanta coisa positiva!
2. O mote foi curiosamente dado pelo Gov/BP, em reacção às previsões da Comissão Europeia que incluem uma retracção do consumo privado de 0,2% em 2009: disse S. Exa. que tal previsão era inconsistente...consistentes, consistentes, são as elaboradas pelas entidades domésticas, como bem sabemos...
3. Na douta opinião do Gov/BP o consumo privado não pode diminuir em 2009 – como veremos já em Janeiro, com o forte crescimento da compra de automóveis ligeiros, por exemplo – porque a inflação esperada, de 1%, fica abaixo do crescimento dos salários (de quem recebe salário, supõe-se, os que não receberem ficam-se pela miragem do subsídio) e as expectativas dos consumidores são irrelevantes no nosso caso...
4. A campanha de vacina contra a crise prossegue hoje, com a notícia, de grande relevo em alguns prestimosos, de que as Famílias vão ficar com mais rendimento disponível com as novas regras do IRS no Suplementar...retenção na fonte baixa, logo podem gastar mais até ao dia do pagamento do imposto...
5. Outra boa notícia de hoje: o acesso ao subsídio de desemprego vai ser mais fácil com o dito Suplementar...santo Suplementar! Bela esta notícia, em simultâneo com a divulgação de estatísticas revelando ser cada vez maior o número de desempregados sem acesso ao dito subsídio...
6. Mas temos ainda essa novidade que encheu de alegria os corações num País atordoado pelas carpideiras de uma crise repisada até à exaustão: a candidatura conjunta ao Mundial de futebol de 2018, anunciada por uma comunicação social em alvoroço e um Presidente FPF em grande forma...
7. E a perspectiva de construção de novos estádios também é importante, podendo dar um contributo para combater a crise - caso esta teime em aparecer e persistir para além dos prazos oficiais -os escassos construídos para o Euro 2004, como se tem visto, são insuficientes...e alguns deles (Aveiro, All-Garve, Leiria, Bessa) por visível excesso de uso, não estarão próprios para 2018, necessitando de obras de melhoramento avultadas...
8. A campanha prosseguirá nos próximos dias, espera-se que haja vacinas suficientes para todos...

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

O cartão e o cidadão III

Aqui e ali, quinze dias depois de ter um cartão do cidadão novinho em folha, o roubo da carteira deitou tudo a perder. Mais umas horas de bicha, um computador que não previa roubos, uma funcionária perplexa que me pediu conselho se deveria considerar extravio para o software aceitar, uma multa por me ter deixado roubar, o ladrão à solta e o roubado ainda multado!...
O aviso de levantamento do segundo cartão chegou célere, a 14 de Janeiro. No dia seguinte, aí estava eu na Loja do Cidadão. Entregue o aviso, o funcionário foi buscar o cartão. Olhou uma vez, duas vezes, ainda de pé, e continuou a olhar sentado, sem nada dizer.
Passa-se alguma coisa, perguntei? Passa…é que não lhe posso entregar o cartão. Não pode? Não posso, tenho que considerar o cartão inválido… Inválido, acabadinho de fazer, interroguei? O senhor António tirou a fotografia com óculos? Eu sei lá!... Tirei como me mandaram. Foi a sua colega que tirou. Mas não tirou os óculos? Já lhe disse que não me lembro. E se não tirei é porque não me mandaram tirar. Pois é, mas a fotografia tem que ser sem óculos. Não lhe posso dar o cartão e vou anulá-lo. Está a brincar comigo? Não. Tem é que tirar outro. Não vou outra vez para a bicha... Tem razão, eu acompanho-o e arranjo-lhe já lugar nos prioritários.... Descemos ao rés-do-chão e tomei de imediato o lugar de alguém que, por sorte, saía. Claro que houve protestos, que o funcionário tentou acalmar. Explicou o sucedido à colega e lá começou outra vez o processo: viram se cresci nesses dez dias, impressões digitais do indicador direito e esquerdo, fotografia sem óculos, assinatura digital, etc, etc. Como perder o cartão é uma coisa muito séria, pedi que me fosse passada certidão de anulação. A funcionária nem percebeu a pergunta. O cartão já está anulado, disse ela. Pois eu quero um comprovativo... Mas a gente não dá. Não dá? Pode é ver... E mostrou a anulação no computador. Então imprima e dê-me a certidão. Não posso... Tenho esse direito!...Levantou-se, falou com o chefe, esperei mais uns dez minutos e lá me entregou uma cópia. Como vê, foi fácil!...Pois foi...mas não estava autorizada!...
Bom, estou novamente a esperar que me entreguem o novo cartão!... Com a esperança, algo desconfiada, de que à terceira seja de vez!...Depois de ter repetido integralmente por três vezes o processo, no espaço de pouco mais de trinta dias e ainda ter sido multado por ter deixado roubar o cartão!...
Mas as peripécias ilustram bem a situação relatada pelo DN que deu origem a esta série: filas intermináveis, senhas de atendimento esgotadas pela manhã…e quando se consegue fazer o pedido, nunca se sabe quando será entregue. Está explicado!...

Esperança e virtude, diz Obama

Obama acabou de falar e já começaram os intelectuais de serviço a dizer que o discurso foi banal, que não houve ideias novas e qualquer presidente dos últimos 20 anos poderia ter dito a mesma coisa.
Queriam ideias novas, alimentam-se de ideias novas umas atrás das outras, sem querer saber se as que havia foram postas em prática ou se foram abandonadas antes de tempo. O que é isso de ideias novas? Por mim, acho revolucionário um discurso banal, simples, que todos entendam e possam acolher.
Um discurso de ideias, no sentido nobre do termo, muito ambicioso no que contém de afirmação de valores, a esperança, a virtude, a fé, a coragem, a união, a responsabilidade individual. Obama falou que é preciso verdade, que o poder não é um objectivo pessoal mas um despojamento a favor do bem comum e que o bem colectivo é muito mais do que a soma das felicidades individuais. Todo o discurso atravessado por um profundo patriotismo, esse amor à América que é assumido como uma religião.
O novo Presidente da América foi corajoso no seu discurso, não transigiu em nada, afirmou que a América é como é, foi o que foi, que pode orgulhar-se e que não irá pedir perdão de nada. Lembrou a dura história deste imenso País e a diversidade étnica, religiosa e cultural que forma um todo.
E todos puderam ouvir e compreender, porque ele usou palavras banais e conceitos simples.

Fome e células cerebrais

Todos os dias ouço notícias a profetizarem que o ano em curso vai ser muito pior do que se esperava. Mas não ficam por aqui, já que a tendência da crise é para se espraiar no tempo. O aumento do desemprego, e a recessão, irão contribuir para o agravamento de um fenómeno chamado fome.
As reportagens televisivas e as dos jornais põem-me os nervos em franja. Muitos não têm que comer, ou comem dia sim, dia não, outros entram em instituições de solidariedade, com o pretexto de irem doar algumas ofertas, e, depois, lá dentro, pedem auxílio. Arrepio-me. Estes episódios fazem-me recuar muitos anos e rever a miséria e a fome que então se vivia.
A miséria e a fome são as mesmas, o palco em que se manifestam é que é diferente. Afinal, o crescimento e o desenvolvimento levaram consigo os pobres e os carenciados, transportando-os para outros patamares como se não fosse possível viver sem as suas presenças. Se não houver pobres em quantidade, alguém arranja maneira de os “fabricar”. Nem é difícil, conforme se pode ver.
Ao refletir sobre este fenómeno, acabei, involuntariamente, de o encaixar numa matéria, segundo a qual a fome favorece os cérebros femininos. Ou seja, o efeito da fome é diferente segundo se trata de um mamífero macho ou de um mamífero fêmea. Há muito tempo que se sabe que, em caso de fome, as células dos machos tendem a conservar as proteínas e as das fêmeas a gordura. No que respeita às células cerebrais, um novo achado permite concluir, pelo menos nos roedores, mas não é improvável que possa acontecer, também, nos humanos, que são menos resistentes nos machos do que as das fêmeas, entrando em autofagia. As células cerebrais das fêmeas aguentam muito melhor as restrições da fome, mobilizam ácidos gordos, acumulam triglicerídeos, formam gotículas de lípidos e sobrevivem durante mais tempo.
Não há dúvida que a natureza é mesmo facciosa. Em caso de crise, de fome grave, privilegia as fêmeas. É perfeitamente compreensível. Primeiro a espécie!
Sabemos igualmente, desde há algum tempo, que a restrição calórica intensa é uma forma de aumentar a esperança de vida nos seres humanos, mas ao entrarem em inanição, então, as coisas tornam-se muito sérias. Importa ainda acrescentar que, muito recentemente, se concluiu que a redução da chegada de açúcar ao cérebro, que pode ocorrer nalguns casos, sobretudo durante o envelhecimento pelos mais variados motivos, pode contribuir para a doença de Alzheimer.
Perante estes factos, e a realidade transmitida pela ciência, podemos concluir que a fome e a restrição severa de alguns nutrientes vão ter efeitos perniciosos no corpo, sobretudo nos cérebros, nomeadamente dos machos.
Aqui está uma boa razão para “entregar” o poder ao sexo feminino, cujas células são menos propensas à autofagia em tempo de crise, conseguindo manter em bom funcionamento os seus cérebros. Em contrapartida, muitos machos, mesmo sem passarem “fome”, parece que já começaram a praticá-la. Agora imaginem se lhe tiram os seus “alimentos” preferidos...

Quem se mete com o nosso Primeiro, leva!

Tomem lá, seus ignorantes! Aguarda-se agora o puxão de orelhas do PM aos comissários europeus que tiveram ontem o atrevimento de anunciar previsões divergentes das do governo português quanto à evolução da economia portuguesa até 2011.

Barack Obama e o Velho Continente...

Verdadeiros mares de tinta se têm gasto sobre as perspectivas dos Estados Unidos, da Europa e do mundo sob a administração Barack Obama. Naturalmente que a prioridade das prioridades, numa escala de valor absoluto, serão as decisões dos passos a dar para garantir a retoma e a estabilidade da economia – pano de fundo, lembremo-nos, que o futuro Presidente soube capitalizar para assegurar a vitória.
Os assuntos da restauração das liberdades civis, da protecção ambiental, da redução das desigualdades económica, social e política, da reconquista do empenho dos cidadãos e da solidariedade – por mais nobres que sejam – são programáticos e apenas avançarão num ambiente de prosperidade económica.
Em política externa, salvo algumas cirurgias, também elas importantes, como a desmobilização das forças militares norte-americanas no Iraque ou a desactivação do campo de detenção de Guantamano, teremos que aguardar para ver se algo de substancial mudará: em política externa, as linhas de força de um país não se alteram de repente. E os Estados Unidos não fogem à regra.
Mas a Europa, onde paira a noção da incapacidade de coordenação, de burden sharing e de solidariedade entre os seus Estados para domesticar e ultrapassar com estratégia e segurança as dificuldades económicas e financeiras – tarefa, de resto, impossível sem os Estados Unidos – pode vir a beneficiar de um novo entendimento a seu respeito por parte do novo Presidente.
Barack Obama pode revelar-se ao Velho Continente como benéfico para os seus interesses, quer políticos quer económicos. Se for esta a oportunidade - e há fundadas esperanças para assim pensarmos - esperemos que a Europa a não desperdice, que a saiba aproveitar.

Mudei de opinião: agora sou pelo TGV!...II

De facto, pensei e mudei de opinião. No post anterior, alinhei cinco argumentos de natureza diplomática, ética, económica, cultural e demográfica para justificar a mudança. Mas há mais!...
O sexto argumento é deontológico
: é que o TGV evita definitivamente a deslocação da Lusa a Madrid, para fazer perguntas ao PSOE e o Governo espanhol sobre o incumprimento português.
O sétimo é antropológico: é que só o intercâmbio propiciado pelo TGV permitirá ultrapassar a fascista e salazarista ideia de isolamento, nomeadamente em relação à Espanha, de onde nunca viria ”nem bom vento, nem bom casamento”, ideia de todo desadequada dos tempos de globalização que vivemos.
O oitavo é de cariz social: é que o TGV permite dar uma nova qualidade e rentabilidade à parceria privada, através da implantação de um programa público de subsidiação das viagens a idosos, carenciados e excluídos, de forma a cumprir cabalmente o objectivo mínimo de 9,4 passageiros anuais.
O nono é de mera oportunidade: é que, se não construirmos agora o TGV, prejudicamos a sua construção para todo o sempre, dado os terrenos correrem o risco de virem a constituir uma nova reserva ecológica para abrigar no litoral os excedentes dos linces da Malcata.
O décimo argumento a favor do TGV é que o Governo diz que é investimento estratégico e, neste tempo de crise, se não acreditarmos no Governo em quem é que acreditamos?
Por fim, e para ser justo e equilibrado, vejo também no TGV um gravíssimo inconveniente. É que tem que atravessar alguns rios, com os inerentes problemas de eventuais quedas de pontes, lucidamente definidos pelo Dr. Almeida Santos.
E aqui estão as minhas razões. De facto, só um burro não muda de ideias!...
Nota final: Os argumentos são sérios; diria mesmo, mais ponderados do que qualquer um dos que vêm sendo apresentados pelo Governo!...

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Síndrome euromilhões




Parece que somos o País que mais aposta no euromilhões, cerca de 9 milhões de apostas, segundo ouvi recentemente. As 6ªs feiras ganham uma emoção especial porque é o dia em que se anunciam os prémios, cada cidadão com os olhos brilhantes de ansiedade a seguir as bolinhas a rolar, para logo se deixar cair de desânimo, “logo vi que não me ia calhar a mim, eu não tenho sorte…”. Vai ser preciso arrastar a melancolia mais uma semana, ir pagar o tributo na fila dos apostadores, isto já é uma rotina, mas que outra esperança resta senão a de nos sair a sorte grande?
Não sei o que se passa nos outros países, mas a publicidade que promove o euromilhões em Portugal é bem o espelho de uma mentalidade. Para que quer uma pessoa ser milionária?, qual é o sonho que estimula, qual é a imagem que associamos a quem dispõe de muitos milhões? É a figura de um empreendedor, de um homem de negócios, de alguém que irá contribuir para o bem estar dos outros? Nada disso. O euromilhões serve para “criar excêntricos”, a riqueza é o direito ao esbanjamento, ao luxo absurdo, é a entrada no paraíso de ter quem lhe satisfaça os caprichos a uma simples ordem.
De acordo com o estereótipo nacional, que a publicidade aproveita, um milionário é um inútil que gasta a rodos o dinheiro que não lhe custou a ganhar. Não deixa de ser um paradoxo que aceitemos com bonomia, e até com aplauso, que alguém possa obter milhões nas apostas de poucos euros e decida desbaratar a sorte sem construir nada de duradouro, como se o modo como o ganhou signifique um interlúdio inesperado no rame rame da mediania triste, essa sim, a condição genuína a que a fatalidade condena o comum dos mortais.
Nada disto se confunde com o modo como olhamos os ricos que progrediram à custa do seu trabalho e do seu sucesso. Esses, que criam emprego e trazem progresso, são olhados com desconfiança, com uma inveja disfarçada sempre pronta a descobrir o podre que, lá no fundo bem no fundo, poderá explicar esse sucesso que outros não conseguiram. Um rico que cria empregos é escrutinado nos seus hábitos de vida, um automóvel caro ou uma casa de luxo é quase uma indecência, um insulto a quem é pobre ou vive do ordenado que ele se digna pagar para quem trabalha para ele. Ser um destes ricos é difícil e arriscado, mais vale desdenhar ou hostilizar para que haja uma boa razão que nos dispense de tentar ser como eles.
Já com um “euromilhões” só a sorte é que dita o destino, nem trabalho, nem talento, nem risco, podia ser aquele como ser um de nós, justiça mais democrática não existe, só esperamos é que o dinheirinho seja gasto à farta num egoísmo mais que justificado, pois se saiu de borla porque é que não há-de estoirá-lo?, para que a felicidade do sortudo não dure para sempre…

Um Governo sempre atrasado e a reboque dos acontecimentos

Quando o Governo apresentou o Orçamento do Estado para 2009 (OE’2009), em 15 de Outubro último, todos os números nele contidos estavam já absolutamente desfasados da realidade.

Teimosamente, o Executivo teimou em não rever o que quer que fosse do OE’2009… até à passada sexta-feira, dia em que apresentou o chamado “Orçamento Suplementar” – que mais não é do que um Orçamento Rectificativo… Bem, na verdade, devia era ser o Orçamento do Estado para 2009 (assim mesmo, sem outros qualificativos), porque o divulgado em Outubro mais não era do que um exercício de ficção pura. Só que, mesmo na passada sexta-feira, quando os números deste OE’2009 foram conhecidos, logo se percebeu que a lição de Outubro não tinha sido aprendida – e que estávamos, mais uma vez, perante uma obra de pura fantasia. Vejamos, recorrendo a dois simples exemplos: crescimento económico e desemprego.

Agora, o Governo estima que, em 2009, a economia decresça 0.8%, devendo o crescimento ser retomado em 2010 (0.5%). Mas, como é sabido, já desde 2000 que o nosso país não cresce acima da média da União Europeia (EU-27). E, para 2009, são os próprios Governos espanhol e alemão que estimam que as respectivas economia decresçam 1.6% e entre 2% e 2.5%, respectivamente… Ora, tratando-se dos dois principais parceiros comerciais de Portugal (para onde se dirigem mais de 40% das nossas exportações…), como se explica que o nosso país vá crescer, de acordo com o Governo, (bem) acima destes números?... Pelas condições internas não será, dadas as debilidades estruturais conhecidas… E, portanto, a explicação deve ser semelhante à das projecções de Outubro, em que, embora com outros números, também já se admitia que a convergência fosse retomada… ou seja, com muita vontade e fantasia – e nenhum realismo. Bem mais realistas parecem-me ser as projecções da Comissão Europeia (-1.6%) e do The Economist (-2%), entretanto conhecidas…

Já para 2010, o Governo “deseja” que o crescimento volte a território positivo (0.5%) e seja mesmo superior a 1% em 2011… um verdadeiro wishful thinking: a Comissão Europeia e o The Economist estimam que continuaremos em recessão no próximo ano…

Já quanto ao desemprego, apesar de agora admitir uma subida em 2009 (até 8.5%) – algo que já desde há muito tempo, infelizmente, se prevê, perante a realidade que enfrentamos – depois, e qual conto de fadas, o desemprego desce, para 8.2% em 2010 e para 7.7% em 2011… Sucede que as alterações no mercado de trabalho andam normalmente desfasadas do crescimento económico num período entre 9 meses e 18 meses… Logo, se 2009 será, em termos de crescimento, um ano terrível, como explicar que o desemprego recupere em 2010?!... Mais wishful thinking, infelizmente… Já a Comissão Europeia e o The Economist continuam a prever uma subida do desemprego, que poderá atingir, no próximo ano (2010) o valor mais alto de sempre, em redor ou mesmo superior a 9% da população activa…

E já nem vale a pena falar, agora, nas projecções para o défice público e na dívida pública, claramente menos importantes nesta conjuntura recessiva do que num passado recente – mas que, ao dispararem em 2009 (a dívida atingirá, mesmo o maior valor de sempre, em redor de 70% do PIB), terão, depois, que ser reduzidos nos anos seguintes, quando se tornará claro que a consolidação orçamental pelo lado da despesa, que devia ter existido nos últimos anos, pura e simplesmente não existiu… pelo que… teremos novos aumentos de impostos?!...

Enfim, esqueçamos esta insinuação (a seu tempo voltarei a ela), porque o que importa, para já, é percebermos que o Orçamento Suplementar, apresentado na passada sexta-feira, já está completamente desactualizado e descredibilizado … Apenas três dias depois de ter sido apresentado!…

Quando apresentará o Governo um novo Orçamento?... Podia já tê-lo feito, com projecções realistas – e, assim, não só informaria devidamente os agentes, como anteciparia os acontecimentos. Que é o que os Governos devem fazer. E não andar sempre atrasado, a reboque dos acontecimentos. Como, infelizmente, tem sucedido com o Governo Português – que, assim, decididamente, confirma não estar à altura de conduzir os destinos do País. Desgraçadamente para todos nós…

Mudei de opinião: agora sou pelo TGV!...I

Confesso que mudei radicalmente de opinião sobre o TGV. Não fazê-lo é a pior de todas as decisões. Explico porquê.
O primeiro argumento é diplomático: a não construção do TGV deixa de calças na mão os amigos espanhóis, que ficam com uma linha verdadeiramente num beco sem saída. E não podemos fazer isso aos nossos irmãos.
O segundo é ético: é que o TGV é instrumento essencial para dar o conteúdo justo à distribuição da riqueza nas Parcerias Público Privadas, PPPs, em que o primeiro P define a natureza do negócio (parceria), o segundo P quem arca com os custos e os riscos (público), e o terceiro P quem fica com o benefício (privada).
O terceiro é económico: é que o dinheiro do TGV vai ser quase todo gasto em importações ou nas remunerações dos trabalhadores ucranianos, romenos, eslovenos e caboverdianos e assim estamos a ajudar os outros países a sair da crise. E quanto mais depressa eles saírem e estiverem prósperos, mais depressa nós entramos em crescimento.
O quarto é cultural: é que a construção do TGV vai contribuir para a abertura de horizontes e da cultura da população portuguesa, que passará obrigatoriamente a deslocar-se todos os anos a Madrid e ao Prado, de forma a cumprir os objectivos previstos de 9,4 milhões de passageiros. Mesmo os acamados serão estimuladas a viajar, de forma a deixarem rapidamente os hospitais.
O quinto é demográfico: é que a construção do TGV irá dar início ao mais extraordinário acréscimo de natalidade, de forma a substituir aqueles que, de entre os 9,4 milhões de passageiros por ano, se sintam saturados das viagens anuais e se recusem a viajar.
Estes argumentos bastariam. Mas a decisão foi muito ponderada. Continua a argumentação no próximo capítulo

Adivinha

Um pequeno desafio lançado aos nossos leitores. De quem são estas palavras?
  • "É preciso dizer a verdade aos portugueses: a situação é muito difícil. Temos de resolver problemas que exigem um grande esforço e que não têm uma solução imediata. Portugal piorou a sua competitividade e a produtividade continua baixa. O desemprego aumentou. Só tem sido possível cumprir formalmente os critérios do Pacto de Estabilidade e Crescimento através de sucessivas operações de desorçamentação, da acumulação de atrasados e de “operações extraordinárias” que normalmente se traduzem na venda de valiosos activos do Estado, muitas vezes sem critério ou com pesados custos para orçamentos futuros. Sabemos todos, perfeitamente, que uma grande parte das dificuldades actuais se deve à forma desastrada como o País foi conduzido nos últimos três anos e à falta de credibilidade e estabilidade na governação. Nunca houve um rumo. Não foi dita a verdade sobre a situação das contas públicas. Problemas estruturais graves, no ensino, na justiça, na investigação e em outras áreas chave para o nosso futuro, foram deixados sem resposta".
Dá-se um doce ao adivinho.

Um olhar sobre a vida

Confesso que sempre me irritou a maneira como as pessoas comparam as vidas umas das outras geralmente para concluírem que os outros são melhores, têm mais sorte, mais sucesso, mais saúde, como se as coisas se conjugassem naturalmente para que aos outros saísse tudo bem mas a elas, ou aos filhos, coitados… Parece que estão sempre em competição, seja por eles, pelos filhos, pelos amigos, pelos colegas do trabalho, enfim, em vez de olhar para o que conseguiram ter estão sempre de olho nas vantagens e pretensas facilidades dos outros.
Uma vez fartei-me de ouvir os comentários de uma pessoa amiga, que considerava as maravilhas do meu emprego da altura, ai se ela tivesse um trabalho assim outro galo cantaria, há pessoas com sorte, dizia ela. Eu comecei por ficar surpreendida, a minha mãe dizia-me exactamente o contrário, que eu era uma tola, para que é que me matava a trabalhar, as crianças tão pequenas e eu a chegar tão tarde a casa… Enfim, um dia em que essa tal amiga me disse que já não aguentava mais a infelicidade profissional convidei-a a vir trabalhar comigo, era preciso mais uma pessoa e ela vinha mesmo a calhar, não era fácil encontrar quem estivesse disponível. Pois bem, a atitude mudou logo, que era o que faltava não ter horas para sair, que para isso tinham que lhe pagar mais, e então se não se desse bem, voltava para o mesmo sítio?, e que garantias tinha de promoção, etc, etc. O certo é que não aceitou, mas também nunca mais me fez comentários irritantes.
Sobre esse modo de olhar a vida o El Pais semanal do dia 11 de Janeiro tinha um artigo muito interessante intitulado “Formas perigosas de ver a vida”, mostrando como a nossa atitude perante as coisas as pode tornar boas ou más, simples ou difíceis, e que o balanço que cada um faz da sua vida depende muito mais dessa forma de encarar os factos do que propriamente da sucessão de acontecimentos em si mesmos.
É verdade que é muito curioso ver como há pessoas que passam a vida a queixar-se e que parece que têm medo de tentar ser felizes, apressam-se a pôr reticências quando as coisas lhes correm bem e ao mínimo dissabor logo retomam a ladainha das desgraças. Há outras que podíamos olhar com compaixão porque têm muito menos do que mereciam e que, no entanto, procuram viver com alegria, tirando proveito de cada momento.
Nesse tal artigo chamam a atenção para a nossa capacidade de distorcer as coisas através da análise de alguma metáforas que usamos com frequência, como “vivo encerrada entre o trabalho e a casa”, “trabalho como uma máquina” ou “deixei-me arrastar…”, tudo expressões decorrentes de uma visão de quem suporta, de quem sofre, e não de quem controla e vive plenamente. Outro exemplo é a expressão “carreguei as pilhas” como forma de descrever umas belas férias, ou seja, a pessoa assume que se vai desgastando a maior parte do tempo e que o descanso é só “recuperação” e não suplemento. Talvez então as férias sejam um “remédio” para a doença que consome, o dia a dia, e por isso muitas vezes se descrevem como “soube a pouco”, lá vem a negativa, o apagar num segundo de uns dias livres de obrigações porque o que domina o espírito é a sombra do regresso.
Outra forma de distorcermos a realidade é estarmos sempre a querer “despachar” o que temos que fazer, acabar o relatório, preparar o jantar, o filme demora três horas, que maçada, tanto tempo!, como se quiséssemos galgar o presente seja lá por que motivo for, o que interessa é passar à frente, partir para a tarefa seguinte para não “gastar tempo”. Perder tempo é uma espécie de pecado, “corremos contra” o tempo, mas nunca paramos um pouco para avaliar se gastámos o tempo ou se afinal usufruímos dele, e assim passam os anos sem a percepção dos bons momentos que se viveram. “A vida é uma luta” é outro modo de pôr os óculos para olhar a vida, um combate, uma ameaça constante contra qualquer coisa, uma adversidade permanente que tem que ser afastada para não nos submergir, é preciso uma vitória “esmagadora”, ou “atacar o assunto” ou ainda “debater” em vez de conversar.
Assim, a linguagem de cada um consegue denunciar o modo como vê a vida e condiciona-lhe não só a sua atitude mas também o que deixa ver aos outros sobre si próprio, “não descrevemos o mundo que vemos, antes vemos o mundo como o descrevemos”.
E como bem nos bastam as contrariedades reais, mais vale não piorarmos as coisas deformando tudo o que não é assim tão mau, seguindo o conselho de Marcel Proust, citado no mesmo artigo “A verdadeira viagem de descoberta não consiste em procurar novas paisagens mas em olhar com outros olhos”.