Foram hoje divulgados os primeiros dados da balança de pagamentos com o exterior para o 1º semestre de 2007.
Por eles se constata que o défice da rubrica de Rendimentos continua a progredir muito rapidamente, fixando-se em quase € 3,5 mil milhões no final de Junho, ou seja:
- Mais 27,9% do que em igual período de 2006;
- Equivalente a 90% do défice total apurado em 2005 nessa rubrica;
- Quase 120% do défice total apurado em 2004.
Por causa dessa evolução, o défice global da balança corrente baixa apenas 10% em relação ao verificado no 1º semestre de 2006, num ano em que as exportações de bens e de serviços, apesar de algum abrandamento no 2º trimestre, têm tido um comportamento muito favorável e em que as restrições internas contiveram o crescimento das importações.
Este défice dos rendimentos é, neste momento e em m/ opinião, o problema mais sério que a economia portuguesa enfrenta e para o qual não se vê fácil solução – se é que existe alguma.
Com efeito, este défice é resultante, quase exclusivamente, do pagamento de juros ao exterior, por força do enorme, mas ainda crescente e imparável endividamento externo da economia – de todos os sectores, Famílias, Empresas e Estado.
Este défice deverá atingir no final do ano um valor superior a € 7 mil milhões, quase 4,5% do PIB.
O BP no boletim económico do Verão apresentou uma previsão de subida deste défice para 5,2% do PIB em 2008 – porventura com algum optimismo.
Por força desta situação, vamos ter de conviver com um défice externo global da ordem de 8%(ou mais) do PIB por tempo indeterminado? Como vai ser isso possível?
A única hipótese de termos algum alívio no defice desta rubrica será uma descida acentuada dos juros – mas uma descida acentuada dos juros só será viável em ambiente de crise económica europeia e aí lá se vai o crescimento das exportações de bens e de serviços...
Estamos “trapped” como dizem os ingleses.
O mais curioso é que fomos nós próprios (alguns de nós, é evidente – e dos mais admirados pelos “media”, sem surpresa) que montamos a ratoeira em que caímos...
Miguel Frasquilho escreveu em 7 e 21 do corrente um artigo (em 2 partes) no Jornal de Negócios, muito bem elaborado, a propósito da discrepância entre PIB e PNB que se tem verificado em Portugal exactamente por força deste enorme e crescente défice dos rendimentos.
O PNB, que reflecte melhor o bem-estar dos residentes em Portugal, não só é inferior ao PIB como cresce menos que o PIB.
Permito-me recomendar a leitura desse texto, para quem quiser ficar mais elucidado acerca deste tema.