Realizou-se este fim-de-semana a Campanha de Natal do Banco Alimentar, uma iniciativa a que os portugueses já se habituaram e que todos os anos os une em volta de uma causa solidária da maior importância.
A generosidade alcançada na Campanha envolveu catorze Bancos Alimentares numa operação logística de grande dimensão e complexidade e num gesto de solidariedade de grande significado. Os números são dignos de registo: 1.950 toneladas de alimentos - mais 19% que em 2007 - arrecadadas com o envolvimento de 20.000 voluntários e muitas dezenas de milhares de doadores dispersos de norte a sul do País.
Ao stock de alimentos agora constituído juntam-se os excedentes que diariamente os Bancos Alimentares recebem da indústria agro-alimentar, agricultores, cadeias de distribuição e operadores de mercados abastecedores, num total anual de cerca de 20.000 toneladas. Estes alimentos beneficiam cerca de 245.000 pessoas, através de 1.618 IPSS, garantindo desta forma que os alimentos, na maior parte dos casos através da confecção e do fornecimento de refeições, chega às pessoas efectivamente carenciadas.
Os resultados desta Campanha obrigam-nos a uma reflexão mais profunda, num misto de boas e más notícias.
Primeiro as boas notícias: os portugueses estão mais solidários, mais generosos, porque sentem mais de perto a crise e as dificuldades económicas com que se debatem muitas famílias e acreditam no Banco Alimentar enquanto instituição da sociedade civil que se apresenta com uma marca de segurança, credibilidade e profissionalismo que garante que as ajudas recolhidas chegam a quem realmente delas necessita. A solidariedade e a sociedade civil estão mais fortes.
Depois as más notícias: a pobreza está instalada em Portugal, milhares de famílias - 2,5% da população - estão dependentes das ajudas provenientes dos Bancos Alimentares para sobreviver e satisfazer uma necessidade básica da existência. Esta realidade é o resultado do fenómeno do empobrecimento, que não podemos escamotear, que tem expressão num vasto universo de carências básicas por resolver.
A generosidade alcançada na Campanha envolveu catorze Bancos Alimentares numa operação logística de grande dimensão e complexidade e num gesto de solidariedade de grande significado. Os números são dignos de registo: 1.950 toneladas de alimentos - mais 19% que em 2007 - arrecadadas com o envolvimento de 20.000 voluntários e muitas dezenas de milhares de doadores dispersos de norte a sul do País.
Ao stock de alimentos agora constituído juntam-se os excedentes que diariamente os Bancos Alimentares recebem da indústria agro-alimentar, agricultores, cadeias de distribuição e operadores de mercados abastecedores, num total anual de cerca de 20.000 toneladas. Estes alimentos beneficiam cerca de 245.000 pessoas, através de 1.618 IPSS, garantindo desta forma que os alimentos, na maior parte dos casos através da confecção e do fornecimento de refeições, chega às pessoas efectivamente carenciadas.
Os resultados desta Campanha obrigam-nos a uma reflexão mais profunda, num misto de boas e más notícias.
Primeiro as boas notícias: os portugueses estão mais solidários, mais generosos, porque sentem mais de perto a crise e as dificuldades económicas com que se debatem muitas famílias e acreditam no Banco Alimentar enquanto instituição da sociedade civil que se apresenta com uma marca de segurança, credibilidade e profissionalismo que garante que as ajudas recolhidas chegam a quem realmente delas necessita. A solidariedade e a sociedade civil estão mais fortes.
Depois as más notícias: a pobreza está instalada em Portugal, milhares de famílias - 2,5% da população - estão dependentes das ajudas provenientes dos Bancos Alimentares para sobreviver e satisfazer uma necessidade básica da existência. Esta realidade é o resultado do fenómeno do empobrecimento, que não podemos escamotear, que tem expressão num vasto universo de carências básicas por resolver.
3 comentários:
"Primeiro as boas notícias: os portugueses estão mais solidários, mais generosos, porque sentem mais de perto a crise e as dificuldades económicas com que se debatem muitas famílias e acreditam no Banco Alimentar"
Cara Margarida, é importante que se reflicta sobre esta questão, tão importante como solidarizarmo-nos com a campanha do Banco Alimentar. O aumento percentual verificado este ano, fruto da solideriedade social, seria uma excelente notícia se paralelamente não tivesse sido acompanhada do aumento da pobreza no nosso país.
Quer isto dizer que o problema da pobreza, ao invés do desejado, não está a ser debelado, pelo contrário. A sociedade civil compreende a necessidade de contribuir para minorar o sofrimento de quem não tem já o necessário alimento, mas fácilmente precebe que este problema que tende a crescer, necessita de medidas mais profundas e eficazes. Todos percebemos que os tempos não são de abundância e que provávelmente, num futuro próximo, não se verificarão quaisquer melhorias. Se tentarmos estabelecer esta ante-visão num quadro de análise realista, fácilmente teremos perante nós uma aguarela de cores muito sombrias e esbatidas, de profunda desgraça social. Ninguem deseja poisar a vista sobre uma "obra de arte" semelhante e, aquilo que nos ocorre de imediato, é pedir ao "grande pintor" que se inspire e transforme a tela, que avive as cores e que coloque a um cantinho, um sol, que substitua as nuvens negras por um céu azul e o negro da terra, por um prado verdejante.
Mas pedir não basta, tal como dar não é suficiente. Aliás, nesta e noutras campanhas, nem sequer estamos a dar nada, aquilo que estamos a fazer, não passa de uma triste e frágil tentativa de enganar o futuro, de nos enganarmos a nós mesmo. Quando estamos a colocar no saquinho do supermercado, um pacotinho de arroz, outro de massa, mais um de açucar, uma latinha de salsichas, um pacote de bolachas, etc. estamos a dizer a nós próprios entre-dentes "isto está uma miséria completa, cada vez ha mais gente com fome, doente, sem dinheiro para nada... mas, eu ainda posso comprar estas coisas, portanto não estou no mesmo barco... ufahh". A verdade é que estamos sim, aliás já nem sequer estamos no mesmo barco, mas sim numa frágil jangada em que os troncos que a compõem começam a soltar-se uns dos outros, porque as cordas que os prendem começam a apodrecer por completo. Salva-nos um resto de solideriedade humana, que apesar de tudo nos compele a dar, porem, através desses elos de ligação que são as 20.000 pessoas voluntárias.
Será que iremos ser eternamente um país adiado, será que a subsistência da pessoa humana no nosso país irá estar eternamente dependente da solideriedade social?
Caro Bartolomeu
A discussão da pobreza é incómoda, havendo mesmo quem pense, como já ouvi, que não é falando da pobreza que se resolve o problema. Extraordinário!
A solidariedade é um valor que está a crescer entre nós. A ajuda do Banco Alimentar é muito conhecida e a dimensão das suas campanhas dão-lhe grande visibilidade. Mas há muitas outras iniciativas meritórias, extremamente importantes, de cidadãos anónimos, nos mais diversos domínios, tendo como causa minorar carências e dificuldades económicas e intervir na resolução problemas derivados de novos riscos sociais.
As campanhas do Banco Alimentar por serem mais visíveis mostram bem, para quem não queira ver ou o queira negar, que a pobreza é um grave problema em Portugal.
Um País em que o fosso dos rendimentos entre ricos e pobres tem vindo a aumentar, com milhares de idosos pensionistas que não auferem se quer o salário mínimo nacional, com elevadas taxas de desemprego e níveis perigosos de insucesso escolar, apenas para dar um exemplo, está a aprofundar a pobreza.
As perspectivas de curto e médio prazos não são animadoras. Sem uma economia capaz de produzir riqueza não será possível combater a pobreza. A solidariedade é uma ajuda mas nunca será uma solução.
Tem muita razão, Caro Bartolomeu, são necessárias "medidas mais profundas e eficazes".
As pessoas percebem as mensagens simples: dê, porque outros precisam. Mas essa simplicidade tem que trazer ímplicita a msagem da confiança: entregue-nos, que lá faremos chegar a quem precisa. São estas duas mensagens o segredo do Banco Alimentar. Felizmente ã este banco não chegaram nem a crise de liquidez nem a crise de confiança. Segredos do sucesso. Merecido, a bem de quem precisa e de quem pode dar.
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