- Embora quase totalmente
desligado dos temas referentes à campanha eleitoral que nos entra pela
casa dentro, em enxurradas, nos canais de TV, um houve, despoletado nos
últimos dias, que despertou a minha atenção: as supostas divergências entre
a então Secretária de Estado do Tesouro (SET, hoje Ministra das Finanças) e os gestores
da Parvalorem quanto à expressão mais adequada do montante das imparidades
a reconhecer numa carteira de créditos em incumprimento (Non Performing Loans
ou NPL’s como agora se usa dizer): se € 575 milhões ou € 425 milhões.
- Comecei por achar curiosíssima
a forma como a notícia apareceu, pela mão caridosa da Antena 1: alguém,
por trás dos bastidores, bem escondido, lançando um “Very light” sobre a
campanha; e também achei muito curiosa, mas neste caso pelo extremo grau
de ridículo, a forma como a notícia animou a mesma campanha.
- O episódio teria
ocorrido em 2012, numa reunião entre a SET e o CA da Parvalorem; este último,
herdeiro de uma famosa carteira de NPL’s dos 2 BPN’S (o de antes e o de
depois da nacionalização), entenderia ser adequado o reconhecimento, desde logo,
de € 575 milhões de perdas nessa carteira, como imparidades.
- A SET, segundo o relato
divulgado, entendeu, e esse entendimento teria prevalecido, que seriam
suficientes € 425 milhões, o que evitaria acrescentar, nesse ano, mais € 150
milhões ao défice público, ou seja qq coisa como 0,09% do PIB.
- Limitando-se o meu
conhecimento do tema ao que foi esta semana divulgado, considero
perfeitamente natural que a SET tenha colocado os gestores da Parvalorem
perante este cenário: a vossa função é recuperar esses créditos na máxima
medida do possível, desenvolvam os vossos melhores esforços para que o
montante de perdas não exceda € 425 milhões.
- E até se poderia
colocar aqui uma razão de “moral hazard”: quanto mais elevadas fossem as
imparidades reconhecidas, menor seria o incentivo para recuperar aqueles
créditos - já que aquele montante se considerava perdido, valeria a pena um
esforço especial para o reduzir? (com o devido respeito pelo
profissionalismo dos gestores da Parvalorem, é simplesmente uma questão da
natureza humana…).
- E até pode, por esta
altura, estar a suceder uma coisa curiosa: com as melhorias registadas no
mercado imobiliário em 2014 e no corrente ano, tendo uma boa parte dos NPL’s
em causa ligação a esse mercado, não é de excluir que mesmo os € 425 milhões
de imparidades venham a revelar-se, no final, excessivos…
- …ao fazer esta última observação
limito-me a especular, pois não tenho qq informação sobre o andamento da
recuperação daqueles créditos…mas tenho informação de que estão a ser
recuperados outros créditos, relacionados com o mercado imobiliário, que há
3 ou 4 anos seria impensável recuperar.
- Em conclusão,
transformar este assunto em tema central de campanha eleitoral é revelador
do grau de indigência ou insanidade que pode atingir a classe política
por estas alturas…
- Este episódio parece ter
todas as características do lançamento de um “Very light” na campanha,
segundo a definição de “Very light” do dicionário Oxford: “A bright coloured light that is fired
from a gun as a signal from a ship that it needs help”…
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quinta-feira, 1 de outubro de 2015
PARVALOREM: um "Very light" na campanha?
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6 comentários:
Li algures, mas não sei confirmar, que o jornalista que fez a notícia é um antigo assessor para a comunicação do grupo parlamentar do BE. É uma questão lateral, mas não deixa de ser uma curiosidades curiosa.
Caro Henrique Pereira dos Santos,
Confesso-lhe que desconheço esse apontamento, mas, a confirmar-se, só reforçará a índole caritativa da obra noticiosa da Antena 1 bem como a tese do "Very light"...
O que li foi isto, mas não fui verificar e acho que é preciso cuidado com este tipo de informação: "Frederico Pinheiro, jornalista da Antena 1, "dispara" hoje contra Mª Luis Albuquerque, sobre umas alegadas instruções para ocultar prejuízos do BPN.
Até aqui, tudo mais ou menos, trata-se de uma acusação que pode (e deve) ser investigada. Apure-se, portanto, a verdade.
A coisa ganha contornos mais "estranhos", quando "reparamos" no seguinte (notícia na ESQUERDA,NET + cessação de funções de assessor parlamentar do Grupo Parlamentar do Bloco de Esquerda)...E não é que o Frederico Pinheiro é o MESMO e foi assessor parlamentar do Grupo Parlamentar do Bloco de Esquerda!!!!
http://www.esquerda.net/do…/o-esc%C3%A2ndalo-dos-swaps/29234"
Sim, a notícia foi escrita por um jornalista ligado à cúpula do Bloco e referia uma administradora da Parvalorem como dando uma resposta claramente truncada e uma "fonte" que transformava a resposta da administradora em "martelada nas contas". Maravilhosa, no entanto, a resposta do MF: as impedirdes não entram na contabilidade pública pelo que são irrelevantes para o défice :)
Caro Henriques Pereira dos Santos,
Descoberto, por suposto, o inspirado autor da caridosa notícia, nem todo o enigma fica decifrado: falta ainda descobrir o fornecedor da matéria prima...está na hora de convocar Hercule Poirot!"
Caro Pires da Cruz,
Confesso que não estive atento às explicações das Finanças que, pelo que refere, não terão sido as mais brilhantes...um "Very light" actua sempre de surpresa, deixa o alvo perturbado! O objectivo terá sido cumprido, pois, aguarda-se que o autor da notícia seja condecorado pelo próximo PR!
Caro Tavares Moreira,
Porquê a preocupação? Não passa de um very light.
O importante é as políticas do PS + PSD + cds nos trouxeram cornucópias de riqueza e abundância para todos. Basta olhar à nossa volta.
Cumprimentos e a continuação de posts tão lúcidos...
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