Não é preciso estar à espera do Estado para haver mudanças de comportamentos. À lei o que é da lei, sim. Mas há mais vida para além dela. A responsabilidade social é uma dessas vidas. Muitas vezes aquém do que desejaríamos. A responsabilidade social faz-se dando voluntariamente para além da lei, para lá do estritamente obrigatório. Tem esta marca distintiva.
As boas práticas devem ser divulgadas, como esta que é notícia. Notícia pelas boas razões. A natalidade é um assunto que interessa à sociedade, já se percebeu que o Estado, no caso de Portugal, não deu nem dá a devida atenção a um assunto que é crítico para o futuro do país.
Estamos em declínio acentuado desde 1982, último ano em que se verificou uma renovação de gerações. Aqueles que argumentam com a crise para explicar as baixas taxas de fecundidade têm memória curtinha. Com efeito a natalidade está em crise há mais de 30 anos. A crise agravou o declínio, mas não colocou o tema nas prioridades. Deu-lhe alguma visibilidade.
A decisão de ter filhos tem que ver com múltiplos factores que não compete ao Estado regular, mas compete-lhe regular um conjunto de condições que ajudem as famílias a decidir por ter filhos. A ausência de sociedade civil é muito evidente em relação a este tema. É por isso que práticas de responsabilidade como a da empresa Critical Software são sempre festejadas, sabem a pouco mas sempre é alguma coisa, valem pelo exemplo e no caso concreto para satisfação dos seus trabalhadores.
10 comentários:
Se me permite, cara Drª Margarida, proponho um outro título para o post: "Natalidade, um tema que não se esgota ao falar..."
A meu ver, não obstante concordar com tudo o que expõe, os motivos que ditam o declíneo acentuado da natalidade, têm sofrido ao logo dos últimos anos metamorfoses significativas e profundas. Temo que nestes tempos que vivemos seja cada vez mais difícil, que a crisálida venha a dar lugar ao surgimento uma borboleta de belas e coloridas asas.
Como muito bem diz: "A decisão de ter filhos tem que ver com múltiplos factores que não compete ao Estado regular, mas compete-lhe regular um conjunto de condições que ajudem as famílias a decidir por ter filhos. "
Mas estas condições estão, do meu ponto de vista, hoje ultrapassadas.
A oportunidade dessas condições que devia o estado ter regulado, passou já. Os casais jovens adquiriram uma dinâmica que já raramente comporta o projecto da natalidade. A precariedade de empregos e de relações afectivas, ditam, a par de formas de vida cada vez mais, itinerante, não são compatíveis com as condições necessárias para criar um filho.
Tenho esperança que após umas quantas rotações e translações, a vida na Terra readquira o seu natural rítmo e aquilo que sempre foi desde os primeiros tempos, volte a ser.
Caro Bartolomeu
Não deixo de lhe dar razão. Na verdade parece que as pessoas deixaram de ter tempo para ter filhos e para pensar em ter filhos. Outros aspectos da vida pessoal e da vida colectiva consomem mais tempo ou não possibilitam que aquele tempo tenha o seu lugar. Mas também é verdade que em países bem mais desenvolvidos que o nosso as pessoas têm esse tempo para pensar e ter filhos. Os outros aspectos estão melhor resolvidos, talvez.
Estão, é verdade, cara Drª. Margarida.
Mas é verdade também, que nesses países mais desenvolvidos, os cidadãos não precisam reivindicar (leia-se, negociar) condições para poderem ter os filhos que desejam.
As condições existem porque essas sociedades se organizaram de uma forma mais responsável e de acordo com sólidos princípios de cidadania que óbviamente, resultam em estabilidade e segurança.
E foi isso ou, o pouco d'isso que existia no nosso país, que deixámos se degradasse. Hoje, possuimos a consciência de que este cenário tem de mudar urgentemente mas, são ténues os sinais de que irá mudar efectivamente. Em minha opinião, apesar de tudo, passa também um pouco pela necessidade de reencontrar "valores" que aos poucos se foram esbatendo ou perdendo. E isto, a tomada de consciência desta necessidade, desta obrigação, depende de um processo que terá de se desenrolar naturalmente.
Os suecos conseguiram inverter a situação. Lembro-me perfeitamente de, quando comecei a frequentá-los, há uns 30 anos, eles tinham deixado de repor as gerações. Umas décadas mais tarde, viam-se frequentemente casais com 3 filhos muito pequenos, e os meus amigos explicaram-me que isso tinha a ver com uma série de medias que tornavam mais vantajoso ter os filhos uns a seguir aos outros.
E não, não é verdade que "nesses países mais desenvolvidos, os cidadãos não precisam reivindicar (leia-se, negociar) condições para poderem ter os filhos que desejam". Se há país onde se "negoceia" é na Suécia. A sociedade organiz-se de forma responsável e de acordo com sólidos princípios de cidadania porque os cidadãos assim o exigem.
Desculpem, mas gostava de repetir um post anterior:
"A eliminação do coeficiente familiar e a sua "substituição" pelo aumento do abono de família engrossam o problema, em virtude dessa medida favorecer em geral quem não tem filhos.
O problema demográfico parece não preocupar efectivamente a esquerda, e com toda a certeza a extrema esquerda, como o bloco, que é "feito" de gente ainda sem qualquer sensibilidade para o assunto. Aliás, tudo o que sai da cartilha do bloco e do pcp não lhes interessa."
Cara Isabel,
Num país como o do exemplo que conhece, existem, como muito bem refere, uma bem estruturada organização social fundamentada numa forte consciência de cidadania. Por isso, os suecos reivindicam em consciência e não de uma forma desestruturada, como por cá.
Em Portugal, os cidadãos e os governantes não têm a consciência plena dos seus deveres e dos seus direitos, são as associações (pseudo-defensoras dos direitos dos cidadãos) que ciclicamente "levantam a lebre" fazem o "alarido" e ganham uns lugares que lhes garantem alguma notoriedade. Depois, volta tudo ao mesmo.
Portanto, estamos a falar, a cima de tudo, de cultura cívica (ou da sua falta) a todos os níveis.
Mas a precaridade laboral nos países nórdicos é bem maior do que em Portugal, como é que a culpa em Portugal é da precaridade laboral? Devem é de aumentar os impostos sucessórios para aumentar a natalidade.
Creio existir uma diferença abissal entre a precariedade laboral nos países económicamente fortes e Portugal, caro Luis Barreiro.
É que lá, existe oferta de trabalho e as pessoas mudam num sistema quase de rotatividade e por diferentes motivos. Por cá, a precariedade laboral, traduz-se em desemprego, com fracas perspectivas de essa situação se vir a inverter.
Então, esta condição, limita enormemente uma família jovem, que pense não ter filhos se a garantia de emprego for nula.
A medida que julgo mais rápida alteração teria na natalidade, seria o não aumento dos custos de creches, para os casais que já tenham um filho; seria o estado a suportar os custos de infantários após o primeiro filho, garantindo ao casal que podia ter mais filhos sem ficar atafegado com despesas de creches.
Caro Antonio Cristóvão
De acordo.
Com efeito, uma política de natalidade terá que estar, a meu ver, muito virada para questões que se prendem com a repartição do tempo entre a família e o trabalho, com o acesso facilitado aos infantários e às escolas e aos cuidados de saúde (custos, localização, horários, fiscalidade, etc.) e com o acesso a novas formas de trabalho (organização, flexibilização de horários, etc.).
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