Há muito que me indigno com a proliferação no espaço público, em especial em zonas pedonais, de tudo quanto atenta contra a liberdade de circulação na Cidade. E esse ´tudo´ é demais por manifesta negligência das autoridades e indiferença de uma opinião pública mais atenta a coisas de telenovela. Pensei por diversas vezes assumir o encargo de uma ação popular, particularmente em nome dos cidadãos com mobilidade reduzida, visando a condenação do município de Lisboa na retirada do que, autorizado ou não, condiciona irrazoavelmente a liberdade de circulação.
Constitui um escândalo a forma como se espalha a granel pela Cidade mobiliário urbano, sinais de trânsito, suportes de publicidade, balizadores, contentores, postes de iluminação, etc., etc. etc...
Sei bem que estas coisas são necessárias. Mas também sei que a necessidade de sinalizar, ou até de publicitar, não tem de ser feita restringindo a liberdade de circulação. E sei ainda que, na maior parte dos casos, não existe qualquer estudo que permita definir o suporte mais adequado ou o local mais conveniente. Ou se existem estudos com esse propósito, então é notória a incompetência de quem estuda ou executa.
Ao que parece, a Câmara de Lisboa iniciou um processo de "limpeza" destes obstáculos como se anuncia aqui. Saúdo e aplaudo esta ação como coisa boa que é. Mas espero que se vá além das proclamações e dos gestos simbólicos e se cumpram as intenções do plano de mobilidade da autarquia para o que é necessária uma verdadeira revolução que transforme o espaço público num território livre de condicionalismos à circulação franca. Essa revolução passa por rever os critérios de colocação daquilo que acima se mencionou, removendo o que entorpece a liberdade das pessoas como condição para a qualificação da sua vida nas deslocações para o trabalho, para a escola, no lazer. Mas devem também abranger-se os comportamentos dos próprios cidadãos que abusivamente se apropriam do que é de todos, ocupando passeios com esplanadas inadequadas ao espaço, executando e mantendo obras clandestinas em zonas públicas à custa da tolerância das fiscalizações, ou se servem dos espaços destinados aos peões para fuga à zonas de parqueamento tarifado. Só com este alcance o meu aplauso passará a ser total.
3 comentários:
É verdade, quando circulamos pela cidade tropeçamos com demasiada frequência nas aberrações que o caro Dr. José Mário enumera.
Mas não só. Encontramos também com frequência, em muitas cidades do país, zonas de lazer, envolvente e de acesso a monumentos onde se nota um desperdício imenso de recursos financeiros, em deterimento de espaços em que a utilização pública é permanente.
Tenho encontrado espaços jardinados com cursos de água artificiais, pontes pedonais, alamedas ornamentadas com materiais nobres e o centro das cidades com os passeios e as ruas em mau estado, e com uma limpeza deficiente.
Por exemplo; terminaram há poucos meses as obras de requalificação do parque da cidade de Torres Vedras. Naquele parque, foram criados vastos espaços relvados, foram construídas pontes e viadutos pedonais. Um deles com uma extensão apreciável, construído em betão - umaestrutura com capacidade (penso eu) para suportar a passagem de viaturas - possui de ambos os lados uma proteção constituída por pilares em aço inoxidável e entre esses pilares, placas em vidro de uma expessura com cerca de 3 cm. Este viaduto tem a forma de arco mas, por baixo dele, ligando os mesmos pontos exxiste um outro passeio, este na horizontal, cujo piso é em madeira. Quando visito aquele parque e olho para aquele conjunto questiono-me se o adjudicador daquela obra tem a noção de que o passeio horizontal era suficiente e que o aereo é puro desperdício de verbas que se aplicadas em outros locais da cidade a carecer de infraestruturas urgentes teriam um muito melhor aproveitamento. Mas, como dizia a minha sábia avó: Cada cabeça sua sentença!
Subscrevo integralmente.
Permito-me acrescentar que a limpeza a que se refere deveria abranger a retirada das estruturas onde colocam os outdoors durante as campanhas eleitorais.
Seria inconcebível num país de menos brandos costumes a permissão da colocação sem a exigência da sua retirada após o dia das eleições.
Do mesmo modo seria intolerável em países onde o sentido cívico lectivo é exigente a existência de escombros urbanos durante décadas sem que a ninguém
ocorresse, ou quisesse ocorrer, uma ideia para penalizar a expectância e dinamizar a revitalização dos tecidos urbanos rotos.
Escrevi hoje umas notas sobre este assunto aqui
http://aliastu.blogspot.pt/2016/03/senhor-presidente-da-camara-municipal.html
que enviei ao Presidente da Câmara Municipal de Cascais.
Não serve de nada?
Também estou convencido que não.
Mas desabafo ...
Considere sff "colectivo" e não lectivo
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