Chuva
Saboreando um café no resto de uma manhã …
Andava com saudades da chuva. Tenho olhado incessantemente para o céu à procura de nuvens cinzentas, negras e pesadas capazes de refrescar a vida sedenta de água. Nada. Em troca recebo o azul do céu que tanto adoro, mas que agora causa-me ansiedade e até medo. Esta noite acordei com um cantar de alegria. A chuva caía doce e alegremente. É tão belo ouvir esta música. Acalma e transmite a esperança de melhores dias. Seduz e faz esquecer a dor de quem já não a consegue ouvir. A morte pode ser esquecida com o brilho e a alegria de quem pode dar vida, a água.
Espera
A falta de rotinas num local novo causa-me sempre ansiedade e até alguma frustração. Cada sítio tem as suas regras e usam-nas como se tivéssemos de as conhecer. Mas isso é o menos, o pior é a falta de cuidado e sobranceria como sou tratado.
Gosto de ser acarinhado com um sorriso, uma atenção. Nada de complicado. O distanciamento é uma realidade, não falo do imposto recentemente, mas do devido a falta de empatia. Nada de surpreendente, claro, mas que me incomoda, lá isso é verdade. No entanto, faço por ultrapassar estas situações, passando a ir várias vezes ao mesmo local. Ao fim de algum tempo acabo por ser reconhecido. Depois é tudo muito simples, aproxima-se um sorriso e ouço um dialogar doce…
Para que isto possa acontecer tenho que esperar. Demora, mas vale a pena.
Vícios
Não posso dizer que tenha vícios. Se os tiver não dou conta. Gosto de usufruir o prazer de pequenas coisas. Uma delas tem a ver com os alimentos do espírito. Já analisei e dissertei bastante sobre este assunto. Fui um fumador inveterado durante muitos anos. Fui o que se pode dizer um perfeito louco. Incorrigível? Não! Testei as minhas forças e fiquei a saber que era forte. Deixei de fumar cigarros às 23:55 horas do último dia de 1983. Foi terrível? Ui, se foi! Mas consegui. Desde esse dia guardo com certa voluptuosidade o meu último maço de cigarros. Acompanha-me religiosamente. Por vezes este episódio tem servido de argumentação contra os que se opõem aos meus conselhos. Sorrio quando dizem, “O senhor doutor nunca fumou. Se tivesse fumado não falaria dessa maneira. É a altura de me encostar à cadeira. Suspiro, sorrio e conto a minha história. Fui um verdadeiro Tom Mix. Andava com dois maços de cigarros, um em cada bolso. Chegava a pagar a contrabandistas para me trazerem o reles tabaco espanhol, o “Fortuna”. Horrível? Sim. Era a única possibilidade de contrariar os grevistas da Tabaqueira no pós vinte e cinco de abril. No entanto, anos depois, passei a “saborear”, muito ocasionalmente, um charuto. Nada de mais e nem de menos. Recordo-me de um colega norte-americano que passou pelo mesmo e me disse um dia, “Salvador. Eu fumo dois charutos por ano em ocasiões especiais. Considero este como um deles. Importas-te que fume um?” Ainda por cima depois de termos feito conferências em que o tabaco foi a nosso “vítima”. Sorri e perguntei-lhe, “Tens um para mim?”. “Tenho pois!”. A partir daí, de quando em vez, ataco um bom cubano. Cuba também tem coisas boas, apesar de Fidel ter acabado um dia por dizer que oferecia com muito gosto charutos aos seus inimigos. Foi na altura em que ficou doente.
Sabe bem. Os alimentos do espírito são saudáveis quando usados com parcimónia. A alma tem desses desejos.
Seleciono os melhores entre os melhores a ponto de quando entro na loja, a menina, sem perguntar o que pretendo, vai buscar logo duas embalagens do dito. Sempre com um belo sorriso. Também alimenta.
Vícios? Sei lá se são ou não…
2 comentários:
Espero animar...
O milenar anti-ciclone [zona de elevada pressão atmosférica] dos Açores determina o tempo na Europa. Volta e meia muda o seu centro uns bons quilómetros para Norte ou para Sul. Indo para Norte faz com que não chova na Ibéria e que chova a cântaros no RU, Irlanda e em França. O oposto sucede quando se desloca para Sul.
A corrente do golfo foi responsável pela "volta dos Açores" na nossa história de navegantes. Há um ramo que se dirige para Portugal favorecendo as naus no seu regresso.
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Agora o tabaco...
Nos meus 12 anos "fumei" uns 4-5 cigarros roubados a meu Pai. Não gostei do sabor e fiquei por ali. Após o glorioso 25 comecei a fumar cigarros "cravados". Toda a gente da equipa fumava. Conheci todas as marcas de tabaco existentes na altura. Quando percebi que andava a comprar SG Gigante, percebi que estava a ser "apanhado". Levei uns 2-3 anos até deixar de fumar. Não tenho saudades, não me incomoda o fumo do vizinho. Safei-me após uns 8 anos de tabaco.
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