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terça-feira, 9 de março de 2010

Prontras e Crós


As coisas que se aprende a ver o Prós e Contras. Não digo que se aprenda política, ou que se perceba melhor o estado do país, não, o que se aprende é a incrível elasticidade do nosso idioma, a volatilidade dos conceitos e a versatilidade com que a mesma palavra adquire sentidos diversos consoante quem fala se dirige à ala dos prós ou à ala dos Contra.
Hoje aprendemos, por exemplo, que a palavra impostos não é o que parece, não senhor. Se ouvirmos um Ministro afirmar, preto no branco, que o PEC não prevê aumento de impostos, temos que arrebitar a orelha para esperar a frase seguinte, uma vez que essa frase linear, por si só, não quer dizer coisa nenhuma. Não-aumentar-impostos tornou-se uma espécie de verbo transitório, que exige um complemento qualquer que esclareça o seu real significado, no caso de hoje - ontem era diferente e amanhã poderá mudar de novo – significa que sim, que se aumenta a taxa máxima para 45%, porque não-há-aumento-de-impostos-mas-há-uma-excepção. Daqui em diante teremos que perguntar com quantas excepções se completa a frase inicial.
Peguemos agora na expressão “uma excepção”, uma vez que dantes queria dizer que não haveria outras mas apenas essa. Hoje, aprendemos que só há uma excepção mas que as mais valias bolsistas passarão a pagar imposto de 20%. Não havendo aumento de impostos, embora haja uma excepção que não invalida que não haja aumento de impostos, o facto de haver mais outro aumento de impostos também não invalida que só haja uma excepção. Simples.
Mas fiquei também confusa com outra expressão, “benefícios fiscais”, que antigamente, há dois dias, queria dizer que havia pessoas beneficiadas porque iriam ver reduzidos os impostos através desses benefícios. Hoje, aprendemos com um deputado presente no programa que vão reduzir-se os benefícios fiscais mas que “isso não tem nada que ver com aumentos de impostos”. Pois não, como é que alguém pode ter pensado semelhante coisa? Quando se dá um benefício fiscal e depois se tira, em que é que a conta a pagar ao fisco aumenta? Pois, mas não é aumento de impostos, é outra coisa qualquer mas a imaginação falhou e ainda não se criou o neologismo que a qualifique.
Vamos lá fazer mais um progresso linguístico. Os grandes investimentos foram adiados por dois anos, anunciou o lado dos Prós. O lado dos Contras, sempre na picardia, lembrou que há poucos meses tinha sido peremptoriamente rejeitada a ideia de suspensão desses investimentos e que afinal agora aí estão eles adiados por dois anos. Erro, o lado do Prós explicou impaciente que “é muito diferente adiar ou suspender”, o que se fez agora é só adiar, isso de suspender é que nunca na vida.
Foi mais ou menos por esta altura que desliguei a televisão.

11 comentários:

Catarina disse...

Bem… eu comento apenas na fotografia!
Depois de ter lido o post, achei que a escolha dessa fotografia foi uma escolha de alta criatividade! Estou impressionada, cara Suzana! Não sei quanto tempo demorou a encontrá-la, mas que foi bem escolhida, ah isso foi! : )

Anónimo disse...

Uma imagem diz mais do que mil palavras.
As palavras poderão ser- incoerência, ineficácia, contradição, indiferencia

Eu também desliguei a televisão a meio, mais por desinteresse.

Anónimo disse...

Obrigado, Suzana. Também eu tinha ficado confuso. Afinal o PEC é para manter tudo como estava. Não aumentam impostos nem se adiam investimentos públicos. Entendido.
(Problema é o meu "bolso falante" que é surdo para com as retóricas e constantemente me diz sentir a mãozinha o Estado)

LWOOD disse...

Afinal não sou o único a achar que estes senhores que foram ao prós e contras, quiseram fazer de quem os estava a ver, autênticos burros.

É necessário haver mais como nós, sem medo de criticar quem tem de ser criticado.

Parabéns.

Suzana Toscano disse...

Foi fácil, Catarina, creio que pesquisei imagens para "enorme confusão", mas também podia ter tentado com qualquer uma das que o caro Agitador aqui sugere.
Caro Ferreira d'Almeida, suspeito que esse bolso seja do lado dos Contra, cheio de má vontade.
Caro LWOOD, é realmente muito irritante quando querem fazer de nós burros sem qualquer subtileza, já nem se dão à maçada de disfarçar.

Pinho Cardão disse...

Caro Ferreira de Almeida:
Fala em bolso? E falante?
Elimine-o rapidamente. Afinal, para que quer o bolso?

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Suzana
Não vi o programa até ao fim. Nem valeria a pena porque foi mais do mesmo. Os temas até podem ser variados e em função das circunstâncias e dos momentos revelarem-se oportunos e interessantes, mas o problema é que as pessoas acabam num jogo de pingue-pongue de ataques e justificações para esconder mentiras e inventar verdades que impede uma exposição clara dos assuntos e um debate elevado.
O programa “Prós e Contras” já teve melhores dias, agora a sensação que tenho é que está em plano inclinado e percebe-se porquê. Um programa sem telespectadores para que é que serve?

Tavares Moreira disse...

Cara Susana,

Admiro muito a sua paciência, creia, quando diz "foi por esta altura que resolvi desligar a televisão".
Paciência e resistência...

Suzana Toscano disse...

Que quer, caro Tavares Moreira, é mais por teimosia, custa-me a crer no que vejo e oiço e depois fico a teimar que não é possível...

Francisco Velez Roxo disse...

Cara Susana
O Programa vai certamente mudar de "nome" e ou de "noma": nem é um programa de prós e contras,nem a apresentadora está já à altura de algo que tinha bons objectivos e até teve bons momentos.
Donde,previsão à la PEC, poderemos talvez vir a ter um programa de titulo "visto e ouvido em silencio" (e aí a imagem das setas estará mesmo a calhar como logo do programa) e a apresentadora poderá ser, quem sabe, a MMGuedes em versão "foram cravos foram rosas".
Neste quadro penso que estaríamos mais à vontade para gravar o programa e só visionar se a música de acompanhamento fosse do canal Mezzo.
Carlos Pinto Coelho Acontecia.O Pós e Contras Afunda-se.E nós adormecemos sobressaltados quando só desligamos a televisão a meio.
FVRoxo

Suzana Toscano disse...

Caro Velez Roxo, se víssemos até ao fim é que não adormecíamos mesmo!