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domingo, 7 de março de 2010

Será o PEC nosso salvador?

1. Tudo muito bonito, quase diria belo:
- Reunião extraordinária do C. Ministros…
- Reunião em fim-de-semana…
- Foco de todas as atenções mediáticas…
- Com reptos vigorosos dirigidos às oposições (PSD em especial) , para que não deixem de venerar e, como lhes cumpre por missão patriótica, apoiar este celebrado PEC…
2. Não poderia ter corrido melhor, convenhamos, a encenação do nascimento do PEC 2010-2013, com todos os requisitos para ser anunciado como o documento nosso salvador…
3.Se a encenação bastasse, estaríamos a esta hora festejando, justamente, um acontecimento que vai marcar, depois de tantas hesitações e insucessos, a criação das condições não só para a tão desejada consolidação das finanças públicas, mas também e principalmente para a recuperação da tão atormentada economia portuguesa.
4. A economia portuguesa, que tem sido perseguida por várias pragas, a saber (i) um endividamento elevadíssimo e em crescimento imparável, (ii) uma taxa de crescimento ínfima, (iii) uma perda acelerada da produtividade devida, segundo muitos, a causas ocultas, (iv) um desequilíbrio das contas com o exterior que, segundo os mais entendidos é questão menor mas que agora parece afligir cada vez mais outros entendidos e (v) um nível de desemprego historicamente elevado…encontraria neste PEC, como que por encanto, o elixir do regresso à vida e à prosperidade para se desendividar, crescer, prosperar, esquecendo os tempos difíceis por que tem passado…
5. Será ser que vai mesmo assim? Era tão bom que assim fosse…
6 Temos, porém, de “cair na real” e perceber que, por ora, estamos ainda e apenas na fase da encenação, arte em que este pessoal dirigente tem mostrado possuir talentos e recursos inesgotáveis…mas não muito mais do que isso, para mal dos nossos pecados…
7. Esta encenação de um ataque como nunca se viu aos problemas económicos e financeiros do País, com a generalidade dos media embaraçados como lhes compete, traz-me à memória as grandiosas celebrações que acompanharam a nossa entrada no Euro, há quase 11 anos…
8. Então, ainda mais do que agora devo admitir, assistimos a promessas de um futuro radioso para Portugal e os portugueses, estávamos entre os grandes da Europa (a Grécia tinha-se atrasado, curiosamente), aguardava-nos um longo período de grande prosperidade, apresentavam-se cenários de crescimento imparável, prometiam-nos níveis de bem-estar como não tínhamos ainda conhecido, dispunhamos finalmente de uma moeda forte para gastar generosamente, etc, etc…
9. O que se passou depois não preciso de contar, pois está à vista de todos…Rezemos ou torçamos, como preferirem, para que não venha a ser assim com este PEC anunciado como nosso salvador…

5 comentários:

André disse...

Caro Tavares Moreira,

Este PEC está fragilizado pela a actual conjuntura política e pela falta de credibilidade de quem o elabora. Até hoje, não vimos ninguém a apresentar umas guidelines, ou umas ideias base deste PEC. O mais provável, deve ser que subam os impostos e congelem algumas grandes empreitadas, mas ainda assim, acho que teremos de esperar que a situação fique mais negra para se curar os problemas do país.

A ver vamos...

Manuel Brás disse...

... E pode ser que, simultaneamente, apareça o D. Sebastião.

São tempos desenganados
por mil e uma ilusões
com valores enfunados
de desprezíveis infusões.

Tantos sacrifícios passados,
vazios e enganadores,
deixando sinais destroçados
de governos esbanjadores.

A aritmética recordada
destaca o endividamento
da economia malfadada
após anos de definhamento.

A página tem de ser virada
nas orientações orçamentais,
pois a população saturada
não pretende políticas brutais.

Tonibler disse...

Se, e só se, o governo conseguir a improvável proeza de conseguir congelar de facto os custos de pessoal, sem com isso privatizar o exército ou vender os hospitais a uma fundação do ministério do ambiente, como é característica de finanças à la Teixeira dos Santos, então o PEC terá alguma utilidade. Senão, se ficarmos pelas finanças à la TS, que imprimam a coisa em papel macio que não largue tinta.

Adriano Volframista disse...

Caro Tavares Moreira

Estou como, quase, sempre, de acordo.
Apenas um ou dois apontamentos

a) A ópera bufa instalou-se em Portugal, em versão revisteira.
O novo acto chama-se PEC; pretende-se que seja não apenas um documento de estratégia, mas O documento que encerra a chave da nossa salvação;
b) Querer "aprovar" o PEC em Assembleia é um embuste, uma mistificação e um acto da mais pura má fé política. O PEC não tem qualquer valor legal no nosso ordenamento jurídico, na melhor das hipoteses equivale a uma declaração de Conselho de Ministros; Nesse sentido, a votação na AR tem o mesmo valor que um voto de pesar...
c) No quadro da União o PEC é uma declaração de intenções emitido por um governo de um país membro e, como sucede com todos os outros PEC, apenas vincula esse governo a cumprir o proposto...
d) O instrumento adequado para verter as propostas estratégicas sejam elas económicas ou financeiras é o OGE, ora esse está quase a ser votado. Pedir à oposição para, nesta altura, votar o PEC é como pedir a uma grávida de nove meses para fazer, pela primeira vez, o teste da rubéloa...

Cumprimentos
joão

Tavares Moreira disse...

Exacto, caro André, exacto...o PEC constitui, essencialmente, uma peça de teatro político, tanto quanto se percebe - a ver vamos no que vão acaba as "boas" intenções embrulhadas nesta peça...

Caro M. Brás,

A verdade em forma poética é algo que faz falta a este Blog...e o meu amigo providencia, de forma sempre oportuna!

Caro Tonibler,

Admito que tenha alguma razão, mas confesso-lhe que não distingo nesta iniciativa outra dimensão
que não seja a política, segundo os ventos dominantes de momento...
Qualquer dia os ventos mudam e lá se vai o PEC pela ribeira abaixo, levado por outra moda qualquer...

Caro João,

Percebo seu raciocínio, que está em linha com a interpretação essencialmente cénica da apresentação deste PEC...
Fica muito bem, é muito europeu - para os esfrangalhados da Europa, claro - apresentar um PEC com uma vistosa encadernação, de preferência tendo uma boa parte da classe política em postura de aplauso nem que seja mais ou menos resignado ou envergonhado...
Só falta mesmo a FOTO de grupo, com ares muito carregados...
Depois, quando as coisas apertarem se verá...