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domingo, 3 de julho de 2011

Cinco dias na Toscana





Ir conhecer um pouco da lindissima região da Toscana estava há muito nos nossos planos. Já tínhamos estado em Florença há uns anos e por isso desta vez escolhemos um ponto estratégico de onde pudessemos fazer uns passeios alargados pelas pequenas vilas e cidades que se espalham pelos campos férteis em vinhas, oliveiras, girassóis, e se escondem também entre o arvoredo denso em cada dobra das colinas. Voámos até Bolonha, onde passeámos um pouco pelas ruas debruadas de arcadas, com os prédios pintados de cores fortes, laranja escuro e amarelo torrado, mas o calor era tanto que a praça central e a Duomo pareciam petrificadas no tempo. Seguimos viagem para o nosso encantador hotel no meio do campo, no centro do território em tempos habitado pelos etruscos, a poucos quilómetros de San Gimignano. Como todos os locais e residências naquela zona, o acesso faz-se por uma longa alameda ladeada de ciprestes, árvore que dizem ter sido trazida para aquelas paragens pelos etruscos e que pontilham a paisagem serena com a sua altura imponente e aguçada, e a cor verde escura, que se destaca em contraste com as pedras claras e os amarelos dos campos primorasamente lavrados.
É difícil dizer o que deve ser visitado, porque em cada curva da estrada surge uma aldeia, uma vila com a sua torre medieval ou um ponto da paisagem que nos impede de prosseguir sem parar para ver. Perto da nossa localidade ficava o magnifico Colle di Valle d’Elsa, uma vila que, vista de fora, parece um forte, de muralhas inteiras e imponentes, sem deixar perceber o pequeno tesouro que encerra. Datada do séc. XI, ali se registaram grandes lutas de poder entre os guelfos e os gibelinos, numa versão medieval da sempre ambicionada construção de uma Europa unificada sob um mesmo poder. Sob a protecção de Florença, a cidade cresceu e tornou-se um importante centro industrial sobretudo pela produção de cristais. De ruas tortuosas e estreitas, a pequena cidade tem vários níveis distintos, uma espécie de três andares que um elevador ajuda a percorrer, descendo e subindo ao longo de uma profunda cisterna, no fundo da qual as portas se abrem para um longo túnel cuja construção é atribuida aos etruscos. Há inúmeras lojas de cristais e podem visitar-se as oficinas de cristalaria, onde o vidro é soprado e os artistas fazem autênticas obras de arte.
San Gimignano é o ex libris daquela região e Património Mundial. Alcandorada no topo de um colina, toda muralhada, distingue-se ao longe pelas suas ainda intactas 14 torres, a maior com perto de 50 m de altura, e deve a sua importância ao facto de ficar na rota dos peregrinos franciscanos. Aí habitavam os grandes senhores medievais, que marcavam o seu poder com a altura das torres que possuiam, ao ponto de se dizer que a cidade terá tido mais de 70 torres. A Colegiatta, a igreja principal, de uma sóbria austeridade exterior, deslumbra os visitantes porque o seu interior é integralmente coberto de frescos magníficos, inteiramente recuperados, e inclui a lindissima capela de Santa Fina, cujos retábulos, pintados por Ghirlandaio, contam a história da vida da Santa e dão imagens bem realistas da vida da época. San Gimignano foi vencida pela Peste Negra, no séc.XIV, e permaneceu quase abandonada muitos séculos.
Mas podia também falar-vos de Volterra e do belissimo Museu Etrusco, ou do Vale de Chianti e das vinhas alinhadas a perder de vista, e de mil e um tesouros, pinturas, frescos, esculturas, arquitectura, mas também dos vinhos, do azeite e da excelente gastronomia da região. E, claro, de Siena, Pisa, Lucca, com a sua elegantes “villas” de fim de século e mesmo Livorno, o enorme porto que cede algum espaço às praias estreitas, ao longo das quais se alinham pequenos palacetes tranquilos no meio do arvoredo.
Foram cinco dias fantásticos, um pouco quentes, é certo, a exigir treino nas caminhadas e gosto pela História, canseiras logo esquecidas ao fim do dia, com a neblina fresca do entardecer a descer para os vales até pousar, suavemente, dando à paisagem o tom irreal tão bem captado nos quadros dos pintores do renascimento.
Boas férias aos 4republicanos!

5 comentários:

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Suzana
Gostei imenso de ler o seu "diário" da Toscana. Foi de novo recordar os dois passeios que fiz, há já algum tempo, à Toscana passando pelos mesmos sítios que a Suzana desfrutou. Também gostei muito dos campos a perder de vista, com as suas quintas de charme, que oferecem o descanso merecido a quem passeia por aquelas paragens e gosta de um final de tarde no conforto das vistas, do silêncio, do pôr-do-sol, com uma limonada ou um vinho bem gelado da região.
São de facto dias fantásticos!

Suzana Toscano disse...

É lindissimo, de facto, e é muito interessante ver desfilar a História perante os nossos olhos, povos que desapareceram, arrogâncias desfeitas, construções então inexpugnáveis que ruiram muitas delas por razões que não entraram nos seus cálculos de segurança. A sempre eterna construção de uma Europa unificada e os desequilíbrios de poder que deitaram tudo por terra. O mito de Sísifo, não será?

Anónimo disse...

Fiquei com apetite...

Suzana Toscano disse...

Caro Zé Mário, é só pedir o roteiro, ainda está fresquinho, tenho muito gosto em partilhá-lo!Mas é melhor esperar pelo princípio do Outono, dizem que ainda é mais bonito e sempre está mais fresquinho.

Pinho Cardão disse...

Cara Suzana:
Essa parte da Itália é lindíssima e, então, para quem gosta de história, constitui um mergulho que permite melhor compreender muita da realidade actual. Muitos erros se cometem, porque não se conhece a história.
Andei também por lá o ano passado. San Gemignano é verdadeiramente impressionante. http://quartarepublica.blogspot.com/2010/05/bella-italia-iii.html