Número total de visualizações de páginas

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Começa a ser tempo de acabar com os excessos de ingenuidade

A ler, no Jornal de Negócios, de Pedro Santos Guerreiro:

"(...)
Portugal foi um indómito louco, atirou-se para um precipício, agarrou-se à corda que lhe atiraram. Está a trepar com todas as forças, lúcido e humilde como só alguém que se arruína fica lúcido e humilde. Veio a Moody's, cuspiu para o chão e disse: subir a corda é difícil - e portanto cortou a corda.
Tudo isto não é por causa de Portugal, é por causa da guerra entre os EUA e a Europa, é por causa dos lucros dos accionistas privados e nunca escrutinados das "rating". Há duas semanas, um monumental artigo da jornalista Cristina Ferreira no "Público" descreveu a corrosão. Outra jornalista, Myret Zaki, escreveu o notável livro "La fin du Dollar" que documenta o "sistema" de que se alimentam estas agências e da guerra dólar/euro que subjaz.
Ontem, Angela Merkel criticou o poderio das agências e prometeu-lhes guerra. Não foi preciso 24 horas para a resposta: o aviso da Standard & Poors de que a renovação das dívidas à Grécia será considerado "default" selectivo; a descida de "rating" da Moody's para Portugal.
(...)".

14 comentários:

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Quem paga os ratings? Enquanto forem os emitentes temos instalado um potencial conflito de interesses.

Pinho Cardão disse...

Caro Ferreira de Almeida:
Creio que são análises que olham para os efeitos e explicam mal as causas. Claro que a alteração da notação da Moody`s não tem qualquer justificação neste momento. O que não significa que estivessem correctas as boas notações que ainda não há muito tempo, durante o consulado de Sócrates, dava à dívida portuguesa, que por via disso beneficiava de spreads com um diferencial mínimo em relação à dívida alemã, que servia e serve de padrão. No entanto, o crescimento da dívida já impunha ratings inferiores. Acontece é que as instituições europeias e reguladores europeus deram largas às agências, ao consagrarem oficialmente os ratings das empresas americanas como forma de aferir o grau de risco e a a solvabilidade dos países. Daí, o Banco Central Europeu e, por arrasto, os Bancos em geral, terem no rating o padrão do risco. Aliás, as garantias dadas ao BCE por empréstimos ao sistema financeiro são avaliadas em função do grau de risco dessas agências.
No fundo, o que a Agências fazem é recomendações, mas recomendações que as instituições europeias acolhem nos seus regulamentos como letra de lei. Por isso, os empréstimos do BCE a bancos portugueses vão-se tornando mais difíceis, por força da contaminação das garantias pelo risco da República.
De qualquer forma, parece-me precipitado e gratuito dizer que se trata de um ataque maciço e coordenado ao euro ou a alguns países. Essa é a teoria dos que vêem na "especulação financeira" ou no poder do capitalismo financeiro a explicação de todos os males. Não é assim.
Tal não invalida o gesto gratuito, execrável e prepotente da Moody`s, aliás a agência que notava a República com o grau mais elevado das agências americanas.

Anónimo disse...

Meu caro Pinho Cardão, ouvi pessoas entendidas nestas coisas. Li atentatentamente como sempre faço, as notas e comentários do meu Exmo Amigo. Não me tornei entendido, mas julgo ter aprendido algumas coisas. Há contudo uma vantagem em não ser entendido. É que se vai atendendo mais aos efeitos e menos às causas e à mecânica. Estou habituado a lidar com outras "causas", coevas de interesses e procuro raciocinar muito pragmaticamente no sentido de descobrir o que sustenta o interesse quando um fenómeno chama a atenção geral. E este desperta-a.
Pois bem, julgo ter entendido por que existem e para que servem as agencias de rating. Percebo a legitimidade e a utilidade do que fazem e a razão pura da sua existência. Mas há algumas coisas que já aqui anotei para as quais não encontro resposta. Nem satisfatória, nem insatisfatória, simplesmente ninguém dá resposta. Primo: não são estas as mesmas agências que estimularam o mercado a encharcar-se de produtos financeiros tóxicos? Se sim, merecem a credibilidade que lhes vejo dar? Se não, que diacho explica a tolerância?
Dando de barato que não senhor, elas não desempenharam qualquer papel iníquo na crise financeira internacional, e que o mainstream mais um vez esconde a verdadeira realidade, aí vai a segunda, para a qual não vejo respostas: exercendo as agências uma actividade remunerada que condiciona as empresas mas também as soberanias - como se vê todos os dias - como explicar que não exista um modelo de regulação definido regional ou universalmente para que todos possamos afastar algumas das desconfianças? Não me venham dizer que á escala global é impensável a regulação. Ela existe no comércio mundial através das decisões tomadas no seio da OMC e não só. E existe também no sector financeiro, tendo-se conseguido impor a revisão de Basileia para reforço da confiança pública do sistema bancário.
O meu Ex.mo Amigo tem para esta omissão alguma explicação?

Pinho Cardão disse...

Começando pelo fim, caro Ferreira de Almeida, pela explicação para a omissão :
Pois não tenho. Repare que eu até disse que, e cito, "acontece é que as instituições europeias e reguladores europeus deram largas às agências, ao consagrarem oficialmente os ratings das empresas americanas como forma de aferir o grau de risco e a a solvabilidade dos países. Daí, o Banco Central Europeu e, por arrasto, os Bancos em geral, terem no rating o padrão do risco. No fundo, o que a Agências fazem é recomendações, mas recomendações que as instituições europeias acolhem nos seus regulamentos como letra de lei".
Quanto ao primeiro ponto, se não são estas as mesmas agências que estimularam o mercado a encharcar-se de produtos financeiros tóxicos? E, se sim, merecem a credibilidade que lhes vejo dar? Se não, que diacho explica a tolerância?
Não creio que as agências tenham estimulado. Não se aperceberam é da substância subjacente (ou da falta dela...) de muitos dos novos produtos financeiros, como aconteceu com auditores, consultores, revisores de contas, etc. Todos descansavam uns nos outros. Sem prejuízo de má fé num ou noutro caso, o erro baseou-se em repetir procedimentos burocráticos, sem atender a novas situações e à sofisticação dos produtos.
Claro que no mercado sempre houve movimentos especulativos. Já os houve contra e a favor da libra, contra e a favor do dólar, contra e a favor do yen, ou do marco alemão. Esses movimentos nunca foram atribuídos às Agências de rating. Aliás, as mesmas que durante anos e anos deram excelentes notações a Potugal. Esse foi certamente um erro, pois permitiu uma situação para a qual muitos, e também aqui no 4R, alertávamos. Não era já uma questão financeira, mas de física. Outro erro é a notação que agora vieram dar. E de tal monta que, como muito bem diz o nosso co-autor Brandão de Brito, pode ser o começo de uma vida nova. Penso que sim.

Anthrax disse...

Tenho só uma perguntinha para colocar: São estas aquelas empresas que foram proíbidas, pelo governo norte-americano, de incluir os EUA nos seus ratings?

Tonibler disse...

Eu tenho outra pergunta: Foram as agências de rating que disseram aos ministros das finanças para andarem um mês inteiro a dizerem que não pagam as dívidas dos Gregos? Então, porque é que eles vão achar que com Portugal vai ser diferente?

Tonibler disse...

Cara Margarida,

Não há qualquer conflito de interesse quando descem a notação 4 níveis a quem lhes paga...

Pinho Cardão disse...

Cara Anthrax:
As Agências só fazem o rating de quem o encomenda e paga. Tanto a Moody`s como a Ficht fazem o rating dos EUA e uma delas até ameaçou o mês passado baixar o rating da dívida americana para o agora patamar português!...Aí, até ficávamos bem acompanhados. Tenho também a ideia que a S&P também faz o rating americano.
Claro que os EUA podem proibir a publicação. Simplesmente para os EUA o ónus da proibição ainda é negligenciável; para Portugal, seria pior a emenda do que o soneto...

Caro Tonibler:
O meu amigo faz gala em fazer perguntas altamente inconvenientes e provocatórias...estou a referir-me à primeira!

Cara Margarida:
Também não me parece que haja conflito de interesses. Manda fazer o rating quem tem interesse que ele se faça. Se não tem interesse, não o manda fazer. E pode acabar, se deixar de lhe interessar. O que acontece, como a minha amiga sabe melhor do que ninguém, é que sem rating não há empréstimo...
Embora com ele, também possa não haver!...
Estamos mesmo tramados.

António Transtagano disse...

Basta de retórica contra as agências de rating! Isso não nos dá um único emprego!

Caboclo disse...

Que bom ..acabando os empréstimos acaba o aumento da divida ..

Vivamos com o pêlo do cão ..isso é que é sustentabilidade ..

Agora sempre a pedir dinheiro emprestado ...chega !! ganhem vergonha ..

Anthrax disse...

Muito obrigada Dr. PC. :) e nota de rodapé: Eu só perguntei porque - efectivamente - não sabia, tinha ouvido umas coisas, mas não tinha percebido. Por isso resolvi perguntar.

Para todos os efeitos, eu não vou mudar de opinião relativamente às agências de rating. Na minha óptica são agentes manipuladores a soldo de quem paga mais. Não tenho nada contra, da mesma forma que não tenho nada contra o lobbying, mas acho que padecem de falta de isenção e imparcialidade, logo a credibilidade é posta em causa.

Se eu aqui no tasco, fizesse uma avaliação com base em suspeitas ao invés de ter por base a informação objectiva que tenho disponível, estava lixada e ainda era capaz de ser linchada. Isto não quer dizer que as suspeitas não existam, podem existir e podem ser legítimas, mas aí aconselha-se a monitorização da situação e isto não interfere nos resultados da avaliação. E não interfere porquê? Porque se nos pedirem explicações, nós não conseguimos fazer prova das suspeitas e isso pode valer-nos um belo processo em tribunal.

Por outro lado, eu também sou da opinião de que já chega de pedir dinheiro emprestado. Se o discurso para dentro é o de que temos de aprender a viver com o que temos e dentro das nossas possibilidades, o discurso para fora terá de ser o mesmo.

Anónimo disse...

https://www.youtube.com/watch?v=DYXYBj1K9C4&feature=player_embedded

Pelos vistos há mais a julgar que a ingenuidade tem limites.

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Caro Dr. Pinho Cardão
Estamos tramados, sim, se a Europa não reagir.
Quando as notações de rating não obedecem a critérios técnicos, há conflitos de interesses. Manda fazer o rating quem tem interesse, é verdade. E que interesses são estes, neste momento que Portugal e a Europa atravessam?

Anthrax disse...

E quem fala assim... não tem problemas no motor de arranque!

Eu sei que sou uma naba em termos de economia e de finanças, mas em termos de Relações Internacionais já não é bem assim e aqui há umas semanas atrás - quando discutíamos a Grécia - eu chamei a atenção para o facto de estarem a fazer as perguntas erradas e que isto era uma questão geopolítica e geoestratégica. Mas qual Ícaro com as suas asitas de cera! Estava tudo a olhar para o próprio úmbigo!

Estão a ver... anda sempre tudo alienado do que são as relações internacionais, porque é sempre uma cena que se passa lá fora (tipo as eleições para os euro-deputados) e que não tem efeito na vida quotidiana, excepto quando aparecem para nos dar uma dentada no traseiro.

De qualquer forma e como diz o moço da SIC, nós pusemo-nos a jeito.