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segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Por quem os sinos já não dobram

Em pequeno, as alegrias e as tristezas coletivas eram assinaladas pelo dobrar dos sinos das igrejas. O dia festivo, a chamada para o culto ou a partida de alguém mereciam aquele sinal que desde cedo aprendíamos a reconhecer nas suas variantes sonoras. Muitas vezes, como no tempo das novenas, sabíamos que a Primavera ía alta e que o Verão não tardaria. Outras, associavamos a réplica a odores fortes, como na Páscoa. Hoje, porém, nas cidades já raramente se ouvem. E na maioria dos sítios não se resistiu às vantagens da eletrónica que permite dar a aparência de que alguém se continua a preocupar com as horas dos outros, com as convocatórias, com as celebrações. Os automatismos e a tecnologia não disfarçam, contudo, o artificialismo do som por mais metálico que possa parecer. Nem a sensação de que o tempo se esvai e a paisagem, que também é feita de sons, se modificou profundamente. Noutras paragens já se negoceiam os períodos em que se podem ouvir, obrigações impostas pela necessidade de não poluir. Estranha sensação esta, a de ter de encarar um sino como uma fonte de poluição. Chegará o dia em que se regulamentará por decreto por quem os sinos podem dobrar?

3 comentários:

Tonibler disse...

Veja lá, caro JMFA, que países existem em que o governo do estado laico vai negociar feriados com a igreja católica! Ele há com cada coisa...

Bartolomeu disse...

Só ha muito pouco tempo notei, a ausência de pombos no espaço, em frente ao Mosteiro dos Jerónimos.
Achei que essa asência poderia estar relacionada com as dificuldades orçamentais da Câmara, que a alimentação dos animais tivesse sido cortada e os mesmos se "tivessem feito à vida".
Mas não. Notei depois que foi instalado um sistem eléctrico em toda a frontaria principal do Mosteiro, que emite um som de faísca eléctrica com uma determinada frequÊncia e, que tem por finalidade, afastar as aves.
Desde criança que me habituei a ver em parques, em largos, em frente a igrejas, etc. bandos de pombos. Faziam parte, digamos, do cenário e, interagiam com os passeantes. Lembro-me de em criança pedir sempre aos meus pais, quando nas tardes domingueiras calhava a ser a baixa de Lisboa, o cenário dos passeios familiares, para levar pão, que depois me deliciava a partir em pequenos pedaços e a entregar aos pombos que não faziam a mínima cerimónia de poisarem em cima de mim. A primeira vez que visitei o país do lado, verifiquei que os pombos eram também os inquilinos das igrejas, praças, etc.
Mas recordo-me também, com total clareza, de quando passava férias de verão na aldeia, na casa da minha avó. Aí, o sino dava as badaladas em sintonia com as horas e as meias-hora e no final da tarde, tocava uma melodia designada por avés-Maria.
A mim, tanto os pombos, como o soar do sino, transmitiam-me uma sensação imensa de bem-estar e de conforto.

Rui Fonseca disse...

Curiosamente, pensava colocar no meu bloco de notas um apontamento acerca das igrejas de Adliswil onde me encontro por razões familiares.

Há duas igrejas em Adliswil, praticamente frente a frente uma da outra, com cerca de um quilómetro de distância a separá-las, cada uma a meio das encostas do vale. Uma Evangélica Reformada, outra Católica. Ambas tocam os sinos prolongadamente, mas não em simultâneo. Não penso que tenha havido acordo, nem isso é importante.
O que me parece importante é o delicioso badalar dos sinos no vale em que Adliswil nasceu e cresceu.

Em Nova Petrópolis não deve existir o sossego que habita aqui, nem respeito mútuo. Coitados deles.