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sábado, 26 de janeiro de 2013

Contra corrente

Não conheço pessoalmente o Engenheiro Paulo Júlio que ontem anunciou o abandono do governo, após a aceitação da demissão que apresentou ao senhor PM. Ao vivo, só o vi e ouvi uma vez, agarrado a um powerpoint com a ajuda do qual procurava explicar as virtudes da reforma autárquica que animou, que na realidade consubstancia, no meu modesto entender, um reordenamento do mapa administrativo das freguesias que não adianta nem atrasa relativamente ao que é essencial no plano da reforma administrativa de que o País necessita. 
Estou, pois, muito à vontade para, em contra corrente, louvar a atitude tomada pelo senhor Engenheiro Paulo Júlio ao pedir a demissão do cargo governamental que ocupava, após a acusação pelo Ministério Público, em processo crime, de ter favorecido ilegitimamente um seu familiar (creio que distante) num concurso para cargo de chefia na câmara municipal a que presidia. É a atitude que se espera de um político que tem plena consciência das suas especiais responsabilidades, e que, ao contrário de muitos outros, entende que perante uma acusação, mesmo que injusta, os governantes não podem deixar de extrair consequências. 
Consequências pessoais, mas também no plano institucional. E neste último plano o senhor Engenheiro Paulo Júlio fez o que é devido fazer-se nestas situações também para proteção do órgão que integra, ainda que esteja seguro da sua inocência.

Uma nota adicional. Como se vê, em Portugal é muito fácil a alguns poderes derrubar um político, desde que o alvo seja um homem sério e consciente das suas responsabilidades e sem compromissos com outras coisas que não a honra e a dignidade. Uma fragilidade da democracia? Não sei se é. O que eu sei, procurando não ser ingénuo, é que a democracia se tem de proteger contra os pelourinhos erguidos por um certo justicialismo que, para além da constância no discurso mediático, impera também no discurso político (vejam-se algumas das intervenções da atual ministra da justiça...), responsável pelo afastamento da vida pública de gente reconhecidamente válida.

4 comentários:

Bartolomeu disse...

É assim a vida, caro Dr. José Mário.
Já lá diz o ditado popular: Uns comem os figos, a outros rebenta-lhes a boca.
A chatice toda é que, apesar de toda a fragilidade deste governo e de por isso evitar e afastas todos os que de algum modo lhe possam causar incómodos, continua a haver por aí muita gente a comer figos d'embarda, sem que uma simples e discreta bolhinha lhes surja nas alarves beiçolas. alguns nem sequer se dão ao trabalho de disfarçar, comem os figos com a boca toda!
;)
Isto quando a matilha dos lobos anda a ser seguida pela matilha dos cães... todo o cuidado é pouco.
Deixe lá passar a onda, que vai ver, volta tudo ao normal, que é como quem diz, volta tudo ao "fartar vilanagem".
Et vive la Republique!!!

Escrivão disse...

1) Miguel Relvas, isto diz-te alguma coisa?

2) Um homem sério e consciente não deveria «ajudar» familiares, mesmo que distantes, com «ajudas» deste tipo.

3) Os louvores a este tipo de atitude só existem porque são raríssimos. Daí que se perca tempo a elogiar que alguém tenha feito o que deveria, só porque outros optam por prosseguir o seu caminho tortuoso.

4) Portanto, siga a carroça, que o homem vai ser considerado inocente e ainda regressará para um cargo mais importante.

Anónimo disse...

Caro Ferreira de Almeida, precisamente pelo que aponta no seu último parágrafo, a facilidade com que se atacam as pessoas sérias e cientes do seu dever a que acrescento a facilidade com que se atira lama para cima de qualquer um que se destaque sem ninguém ir preso ou, pelo menos, ser condenado a uma indemnização tal que ficaria arruinado para o resto da vida, precisamente por isto é que acho que em Portugal aceitar ir para a vida pública só mesmo para quem for mesmo muito idealista. A sociedade Portuguesa não merece gente de valor a governa-la. Quanto mais não seja porque a escorraça à primeira oportunidade. Aliás, aplaude muito facilmente os medíocres como foi plenissimamente demonstrado nas legislativas de 2009.

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

José Mário
Não conheço o ex-Secretário de Estado, pareceu-me esforçado no desempenho do cargo. Trata-se de uma pasta muito política, em que há muitos interesses em jogo, vários braços de ferro. Fez bem em colocar o lugar à disposição. Fez o que tinha a fazer, por isso a sua atitude é elogiada. Quanto ao sistema de justiça é lamentável o seu funcionamento…