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terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Uma segura renegociação

Discretamente, em privado, com as entidades certas, e não na praça pública, o Governo tem vindo a renegociar os termos do Memorando de Entendimento assinado com a Troyca. Depois de ter obtido um primeiro prolongamento do prazo de reembolso dos financiamentos obtidos ao abrigo do Memorando, acabou de obter agora uma posição de Bruxelas, em princípio favorável a uma nova extensão dos prazos de maturidade daqueles empréstimos. Não se trata de alargar o prazo de cumprimento do défice que, aliás, já levou alguns ajustamentos, mas apenas da possibilidade de alargamento do prazo dos reembolsos. O que é bom, já que dá maior flexibilidade na gestão da tesouraria do Estado, situação que favorecerá os diversos governos que estiverem em funções durante o período em questão.
Perante o facto, António José Seguro veio de imediato a terreiro clamar que tal se deveu a um fracasso do governo. E que o PS já há muito vinha reivindicando tal medida. Ora, quem, neste caso, afere o cumprimento dos objectivos calendarizados e estabelecidos para o período transcorrido é a Troyca, e foi por os considerar razoavelmente cumpridos é que acordou em ajustar outros objectivos a atingir no médio prazo. Foi um prémio por ter cumprido, e não, como Seguro tortuosamente diz, um efeito do fracasso. Claro que o Memorando, como qualquer Acordo ou Contrato para vigorar no médio prazo, pode, e deve, ser objecto de rectificações, quando tal se justifique e que, a fazerem-se, virão em benefício de todas as partes. Mas nenhum contrato, particular ou, sobretudo, de qualquer Estado, é renegociado na praça pública, mas discretamente, por aproximações sucessivas, sensibilizando gradualmente todos os escalões de decisão. Tendo sido o Governo socialista o promotor do acordo vertido no Memorando, seria desejável que o actual Governo associasse de alguma forma o Partido Socialista à sua renegociação, com a natural reserva que se impõe nestes casos. A teoria dos jogos de poder do governo, dos partidos da coligação e do PS levou a que tal não tivesse acontecido. Contudo, o país ganharia se essa coordenação de esforços e de vontades se tivesse dado.
Os partidos existem para os portugueses, não para os jogozinhos poder dos seus dirigentes. 
Nota: Uma coisa é cumprir o Memorando e os seus objectivos; outra coisa, o modo como estes se cumprem. Mas discordar do modo e até do tempo, e eu discordo de muita coisa, não pode impedir que se reconheça o resultado alcançado. Não o que cada um desejaria, mas o do Memorando assinado pelo governo socialista e co-assinado pelo PSD.

12 comentários:

Stoudemire disse...

Nova teoria: a dos objetivos: «razoavelmente cumpridos».

Deus me livro do Seguro fazer de Passos II, mas:

1) O homem reclamou o alargamento do prazo da diminuição do «deficit». O governo negou, mas aconteceu.

2) O homem barafustou com o prazo de pagamento dos juros. O governo que não, mas parece que vai acontecer.

Entretanto, cá dentro, a hecatombe vai ganhando forma: profes, médicos e forças de segurança que se preparem - eles vão pagar a redução do «deficit».

Luis Moreira disse...

Morrer e pagar o mais tarde possível, não é aí que Seguro pode ir buscar argumentos.Levar os credores a aceitarem melhores condições é que já não é para todos:http://bandalargablogue.blogs.sapo.pt/123041.html

Anónimo disse...

Perdeu-se notoriamente a noção do que é ser oposição num regime político democrático. Nos últimos tempos o comportamento dos lideres é simplesmente impedir que os partidos da maioria retirem vantagem dos resultados da governação. Isso aliás explica a falta de alternativa credível. Como a oposição espera que o governo caia de podre, rejubila com os fracassos e entristece-se, torna-se nervosa com os sucessos. Todavia, aos fracassos dos governos correspondem mais sacrificios para as pessoas; e aos sucessos, em especial nesta conjuntura, a esperança de que podemos aspirar a dias melhores. Quem não percebe isto deveria merecer o mais absoluto desdém do eleitorado.

Stoudemire disse...

ISTO, SIM, é que é política (ao nível do Toino Bel Air):

«Ministro japonês diz que idosos doentes devem “morrer rapidamente” para o bem da economia.»

NEM MAIS!

A minha mãe tem 83 anos, recebe pouco mais de 200 euros de reforma. O que anda o estafermo por cá a fazer? MORRA!

Tonibler disse...

Concordo que isto é produto da oposição. Não fossem as barreiras impostas pela presidência às melhorias no estado não seriam precisos ajustes na maturidade da divida. Esta é uma forma de ser eu a pagar à divida com os rendistas do estado a assistirem divertidos.

Bartolomeu disse...

Vamos lá ver se um destes dias a D. Troyca não se lembra de exigir ao nosso governo a edificação de uns quantos campos de concentração e que coloque lá dentro a tugalhada toda, de cabelo bem rapadinho, um fatinho listado com um número impresso e uma estrelinha vermelha na lapela...

jotaC disse...

Estou com o caro Drº Ferreira de Almeida.
De facto, o povo patrocinador está encostado à parede, o discurso da atual oposição não faz a diferença...

Pinho Cardão disse...

Caro Luís Moreira:

De facto, palavreado é coisa que abunda em muitos; acções é que é mais complicado.

Caro Ferreira de Almeida:

É mesmo isso. Gente ressabiada nunca consegue ver uma nesga de mérito na acções de outros e a única coisa que sabe fazer é atribuir-se a si mesmo os méritos das acçoes alheias.

Caro Bartolomeu:

Enigmáticas palavras as suas. Desta vez não consegui chegar lá...Paciência!...

Caro jotaC:

Bom era que o discurso e, sobretudo, as propostas oposicionistas, designadamente as do PS, fizessem a diferença para melhor; lamentavelmente, perdem-se na demagogia e assim, se diferença fazem, é para pior.
Lamentavelmente.

Bartolomeu disse...

Não tão enigmáticas como lhe parecem caro Dr. Pinho Cardão.
Basta que se recorde porque motivo estava o governo impedido de "ir aos mercados", porque está agora autorizado a ir, e o que representa, a montante e a jusante, "ir aos mercados" e ainda, qual serão os resultados práticos a curto prazo, deste "aliviar da trela".
Et pourtant...
http://www.youtube.com/watch?v=tew1r_OVzls
;)

Pinho Cardão disse...

Caro Bartolomeu:
Por que motivo Portugal estava impedido de ir aos mercados, já está completamente explicado. Há quem não acredite nas verdadeiras razões, e fale na grande especulação, no capital financeiro internacional, et, etc; estão no seu pleno direito. Errados, mas tendo todo o direito a persistir no erro. É uma opção pessoal.
Por que motivo está agora Portugal "autorizado" a ir, também está explicado.
As verdadeiras razões, dispenso-me de as referir, estão à vista.
Mas para os que defenderam que os culpados foram a tal grande especulação e o capital financeiro internacional, sou levado a presumir que agora pensam que a especulação ficou sem ânimo, e o capital financeiro internacional declinou todo o seu ímpeto especulativo.
Penso eu de que...

Bartolomeu disse...

Caro Dr. Pinho Cardão, "chapeau"!
Poucos são aqueles que, com arte, e sem recorrer à alquímia, conseguem converter em ouro, qualquer tampa de refrigerante barato.
A história conhece somente um nome, Midas. Mas esse foi rei, pelo que, não conta. Aos reis assistem-lhes qualidades que roçam as que ordináriamente atribuímos às divindades, por isso...
;)))

João Baptista Pico disse...

Olhe que não...olhe que não... para além da conjugação de certos factores que urgia saberaproveitar de imediato nesta conjuntura, como se depreende, haverá pelos mercados quem tenha já afiançado [ uma agência de rating, em concreto] que qualquer êxito na oferta de dívida de hoje não a faz alterar a classificação de LIXO!

Essa alteração só surgirá, caso o Tribunal Constitucional não venha a pronunciar-se pela inconstitucionalidade das medidas propostas pelo Governo no OE. A pressão externa a marcar a agenda.

Não há almoços grátis!