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quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Eleições Autárquicas de 2013: Factos & Reflexões

Agora que a poeira começa a assentar relativamente às eleições autárquicas de domingo passado, pareceu-me ser apropriado fazer a análise dos resultados e dos aspectos que entendo como mais relevantes nesta matéria.
Resumidamente, para não ser muito maçador, eis as 10 ideias que, penso, marcaram este último acto eleitoral:
O PS foi a força política mais votada, teve o maior número de câmaras municipais, juntas de freguesia, e mandatos para todos os órgãos autárquicos – e, como tal, venceu as eleições. Indiscutível.
Contudo, não existem, em meu entender, razões para grandes euforias por parte dos socialistas. Porquê? Simples: o PS perdeu em número de votantes e em percentagem face a 2009: menos cerca de 275 mil votos (quem diria?...) e 36.2% contra 37.7%.
Individualmente considerado, o PSD, principal partido da coligação governamental, teve, sem dúvida, um mau resultado. Perdeu em número de votos, de câmaras, de juntas de freguesia, e de mandatos, face a 2009. Perdeu a presidência da Associação Municipal de Municípios.
Contudo, se somarmos aos votos do PSD, do CDS e de todas as coligações em que ambos tenham participado (com outras forças políticas), e apesar da queda de mais de 575 mil votos face a 2009, chegamos a 34.8% – contra 41.8% em 2009 e... contra (lembra-se, caro leitor?...) 36.2% do PS agora: menos de 100 mil votos... Numa altura em que os efeitos da austeridade tendem a castigar quem governa e em que a segunda semana de campanha foi marcada por muito ruído à volta de um evidentemente-indesejável-segundo-resgate a Portugal (e por uma total ausência de cobertura mediática das diversas campanhas locais – que contribuiu para tornar a campanha ainda mais nacional), não consigo ver neste resultado nenhum desastre ou nenhuma hecatombe...
... que aconteceu, aí sim, na Madeira (e que, a meu ver, tinha sido totalmente evitável).
De qualquer modo, mesmo sem hecatombe, a coligação perdeu (e, dentro dela, o PSD perdeu bem mais do que o CDS) – tal como perdeu o BE, que apesar de ter integrado a vitoriosa coligação anti-PSD no Funchal, se evaporou do mapa autárquico, perdendo a única câmara municipal que detinha (Salvaterra de Magos) e, face a 2009, quase 30% dos cerca de 167 mil votantes de então.
Outros vencedores destas eleições foram, à sua escala, a CDU (mais 13 mil votos do que em 2009, mais câmaras, mais juntas e mais mandatos em geral), bem como os movimentos de cidadãos independentes (uns mais independente do que outros, como bem se sabe...), com quase mais 120 mil votos do que em 2009, os votos brancos e nulos, que mais do que dobraram face a 2009), e a abstenção, que subiu 6.4 pontos percentuais – o que se reflectiu numa redução de cerca de 540 mil votantes face ao sucedido há 4 anos.
Penso que, descontando a (meritória) subida da CDU, é impossível que os factos relatados no ponto anterior não deixem de merecer uma leitura atenta do nosso sistema político – e, em especial dos partidos.
Foi este, para mim, o facto mais relevante destas eleições autárquicas. Um número crescente (muito crescente) de cidadãos mostrou-se muito descontente com a forma tradicional de fazer política e com a postura a que estamos habituados por parte dos partidos políticos. Por exemplo, uma força política não tem que estar sempre em desacordo só porque está na Oposição... Ou por que é que, no momento em que atravessamos, que continua a ser de emergência financeira, económica e social, foram tão parcos os esforços de concertação e aproximação entre os Partidos da Coligação e o principal Partido da Oposição (todos subscritores do Memorando assinado com a Troika)... Afinal, é ou não do nosso interesse colectivo ultrapassarmos o mais rapidamente possível esta situação?!...
Como é evidente, a democracia assenta nos partidos e no sistema partidário – mas não me recordo de a estes ter sido feito um aviso tão claro e mostrado um cartão tão próximo do vermelho por parte da população como nestas eleições. Que ele sirva para a indispensável reflexão que os actores políticos (em que, evidentemente, me incluo) têm que fazer, é o que desejo. Todos em Portugal iremos ganhar com isso.

11 comentários:

Anónimo disse...

Concordo com a análise, Miguel, embora entenda que a extrapolação de resultados não serve para medir as inclinações atuais do eleitorado relativamente aos partidos.
Só um reparo que creio que faz diferença. Diferentemente do que escreve, a democracia não assenta nos partidos. Assenta também nos partidos, e, para além deles, noutras formas de representação política, de que os independentes não são expressão impura como agora se pretende fazer crer.
Uma nota mais. Se há casos em que os independentes polarizam a rejeição dos partidos, é preciso não esquecer que muitos dos que se candidataram com esse estatuto às eleições fizeram-no por razões estritamente locais, nelas esgotando a sua razão de existir.

Unknown disse...

Concordo com a sua reflexão. Mas também temos de refletir nos erros do PSD em Sintra e Gaia e outros concelhos. Pois o PSD tem de dar liberdade ás bases e não serem as distritais a impor os seus candidatos e muito menos a nacional.

Bartolomeu disse...

Agora que a poeira começa a assentar e o nosso Presidente foi à Suécia vender sapatos e tintol, ficaram os portugueses a saber que são masoquistas.
Este diagnóstico advém do facto de os portugueses, por mais que o seu governo lhes corte nos ordenados, nas pensões, nos subsídios, que lhes retire regalias sociais e lhes aumente os impostos, as taxas da saúde e a dívida externa; não acreditam naquilo que os seus credores lhes dizem: Yess You Can!!! Masoquistas do camando!!!

Hugo disse...

Totalmente de acordo. Apenas um apêndice, relativa a analogia entre a actual governação e a perda de votos do PSD. Um exemplo, foi o que se passou no Porto. Eu, e muitos outros, votantes PSD, e que, embora com algumas falhas, até estão de acordo com a maior parte das reformas feitas pelo governo em funções, não votaram PSD no Porto, pois não entraram na demagogia despesista do candidato Menezes, que contraria tudo o que foi feito no Porto (recuperação das contas da câmara) bem como, pelo actual governo. Portanto, ainda assim, muitos não votaram PSD pelo facto dos seus candidatos não merecerem confiança, e não, pelo facto de serem do principal partido do governo.

Miguel Frasquilho disse...

É verdade, sim, o resultado obtido pelas forças apoiantes do Governo, com o PSD à cabeça, também ocorreu por culpa própria - e não apenas na Madeira. Mas creio que neste texto, e como se percebe, indivizualizar seria tornar a prosa ainda mais longa...
José Mário, claro qu há mais na democracia para além dos Partidos - mas este parecem estar a esforçar-se para serem remetidos a um papel, digamos, menos principal do que até aqui têm tido... É contra isso que, à minha maneira e à minha dimensão, tenho tentado (e vou continuar a tentar) lutar...
Finalmente, como tamhém refiro no texto, houve independentes bastante mais indepententes do que outros nestas eleições... :-)

Carlos Sério disse...

Concluindo – Uma brutal e humilhante derrota de Passos Coelho e companhia, uma vitória moderada do PS, uma vitória do PCP e uma meia vitória/meia derrota do CDS, mas sobretudo uma grande vitória dos portugueses que se manifestaram inequivocamente contra esta austeridade, contra este “ir além da Troika” "custe o que custar" imposto por Passos Coelho e seus muchachos.

Tonibler disse...

Estad eleicoes tiveram o mesmo derrotado de sempre... Eu!

Tonibler disse...

Estad eleicoes tiveram o mesmo derrotado de sempre... Eu!

Ruy Arriaga disse...

Eu acrescentaria ainda que o surgimento dos independentes resulta clara e inequivocamente de erros de avaliação dos potenciais candidatos às autarquias. Os partidos devem escutar a vontade das populações e não irem contra elas. Sintra é bem ilustrativo. Os sintrenses não queriam o PS. O PSD não soube avaliar situação, o méritos dos potenciais candidatos e acabou escolhendo "amigos" em vez de autarcas com provas dadas. No Porto e Gaia foi similar. As qualificações dos candidatos também contam na analise que os eleitores fazem, até porque a oposição porá em evidencia essas fraquezas que são impossíveis de esconder como alguns pensam ser possível. Muitas vezes aguarda-se a eleição para bombardear então o alvo a abater. Como disse JL Arnault o PSD esqueceu o papel fundamental da Direcção Nacional. Se tivesse cumprido o seu papel não teria havido um desaire tão grande. As grandes autarquias não teriam sido perdidas!

alberico.lopes disse...

Ruy Arriaga:se me permite,subscrevo totalmente o seu comentário!

Ana Santos Bravo disse...

Concordo com Ruy Arriaga.
Houve erros desastrosos na estrategia do PSD e injustiça para com os independentes que, como Marco Almeida, levaram muitos anos a trabalhar pelo seu conselho e a acumular(ou manter) um capital político para o PSD. A subsequente "purga" é vergonhosa, não admite as culpas - é pura vingança