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sexta-feira, 21 de março de 2014

Deslumbramento, esperança e poesia...

A propósito de uma conferência sobre tão importante assunto (Quarto da República)...

Presumo que ninguém contestará a afirmação de que as grandes descobertas do homem nasceram ou tiveram impacto na área da saúde. De facto a história da medicina é extraordinariamente sedutora e continua a maravilhar-nos cada dia que passa. Deslumbramento é a palavra que melhor identifica estes fenómenos. A esperança num futuro menos sofredor vive no sonho à espera de ser libertada.
A par do "deslumbramento" e da "esperança" inerentes à medicina poderia incluir um terceiro elemento de forma a criar uma tríade que traduza o pensamento e desenhe uma das mais belas realidades dos nossos dias, "poesia". "Deslumbramento", "esperança" e "poesia" estão personificados num dos mais belos episódios da medicina, a procriação medicamente assistida. O deslumbramento ressalta aos nossos olhos. Retirar ao divino a prerrogativa sobre quem pode ser pai ou mãe era algo impensável ainda há poucos anos. Hoje, o homem consegue corrigir o que poderia designar "erros da natureza", se bem que, em termos práticos e reais, não sejamos mais do que a expressão de inúmeros erros acumulados ao longo da existência. Os erros da evolução são fonte da vida e moldadores da nossa biologia, enquanto a infertilidade é filha dos erros de uma imaginária ou hipotética "criação". A procriação medicamente assistida é um deslumbramento.
O futuro da humanidade mergulha incessantemente na eterna esperança de melhores dias. A procriação medicamente assistida configura a libertação da esperança ao propiciar que as pessoas que sofram de infertilidade possam satisfazer um dos mais poderosos desejos, perpetuar a vida. A procriação medicamente assistida é sinónimo de esperança.
Em terceiro lugar citei a poesia. Aqui tenho de contar uma pequena história. Nada melhor do que uma história para compreendermos a essência da vida e a beleza da alma.
Robert Edwards pode ser considerado como o pai da procriação medicamente assistida. A sua vida encanta qualquer um e as suas experiências são um marco de excelência. A par com Patrick Steptoe, falecido em 1988, conseguiu aquilo que era impensável até então, a fertilização in vitro de óvulos humanos. Em 2010 foi-lhe atribuído o prémio Nobel da Medicina. Na reunião após a atribuição do merecido prémio o Conselho Nacional de Procriação Medicamente Assistida não deixou passar em falso tão merecida distinção. A certa altura, depois de termos abordado o peso dos obstáculos científicos, culturais e éticos que Edwards sofreu, que não foram nada pequenos, e todas as inquietações e oposições de caráter confessional, não foi difícil expressar as maravilhas que permitem caracterizar esta técnica. Um colega meu do Conselho, visivelmente emocionado, traduziu como sendo “talvez a mais poética da medicina moderna”. Eu ouvi, não esqueci e em pensamento fui mais longe: “É a mais poética de todas”.
A procriação medicamente assistida encerra em si o deslumbramento a esperança e a poesia da vida. Nada, a meu ver, consegue ultrapassá-la. (...)

9 comentários:

Floribundus disse...

os custos nesta área vão tornar-se insuportável a nível social

Suzana Toscano disse...

Concordo, para quem recorre com sucesso à procriação medicamente assistida deve ser parecido com um milagre. Conheço de perto um caso desses, só visto.

Diogo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Diogo disse...

«A procriação medicamente assistida encerra em si o deslumbramento a esperança e a poesia da vida. Nada, a meu ver, consegue ultrapassá-la. (...)»


Talvez se consiga, Dr. Massano:

A imortalidade será uma realidade daqui a 20 anos?

Publicado em 18/2/2013 por Cláudia Azevedo


Há quem faça operações plásticas, quem tome antioxidantes e quem diminua a ingestão de calorias com o fito de rejuvenescer ou viver mais anos. Mas há quem vá ainda mais longe.

Aubrey de Grey está tão confiante que diz que a primeira pessoa a viver mais de 1.000 anos, provavelmente, já terá nascido.

Este cientista e biogerontologista inglês, ligado, durante muito tempo, à Universidade de Cambridge, fundador dos Simposia SENS (Strategies for Engineered Negligible Senescence) e da Fundação Methuselah (Matusalém é um personagem bíblico que terá vivido cerca de 1.000 anos), propõe uma série de terapias para prevenir o aparecimento de doenças malignas e reparar os danos celulares e moleculares provocados pelo envelhecimento.

Considerando o envelhecimento como uma doença com tratamento e não como um processo natural, Aubrey de Grey sugere que as pessoas, atingindo uma determinada idade, sejam submetidas à inactivação completa da telomerase. Como muitos cancros possuem telomerase activa, a sua inactivação permitiria prevenir os cancros.

No entanto, essa inactivação iria impedir que as células estaminais se dividissem. Para evitar essa perda irreversível, o cientista propõe a administração regular de células estaminais como forma de tratamento. A solução, na sua opinião, iria promover um equilíbrio entre a telomerase e as células estaminais.

Já o cientista Ray Kurzweil acredita que a imortalidade será uma realidade daqui a 20 anos, graças ao conhecimento dos genes e à tecnologia informática, que permitirá ao ser humano reprogramar o seu organismo. O norte-americano crê mesmo que a nanotecnologia nos permitirá viver para sempre.

Massano Cardoso disse...

O
Homem sempre sonhou com a imortalidade. Após ter tomado consciência da sua existência, facto que originou a percepção da sua mortalidade e fragilidade e que lhe concedeu o estatuto de Homo Sapiens, começou a procurar a forma de prolongar a vida. Revoltado contra a morte anunciada, angustiado pela sua pequenez, cria os deuses, na perspectiva de um dia ser como eles.

Ao longo da história da humanidade, o homem manteve uma esperança de vida muito curta. Foi somente a partir do século XX, eu a esperança de vida começou a aumentar de uma forma substancial. No início do século XX, oscilava ao redor dos 40 anos, contra os 20-25 anos de toda a história prévia. No entanto, num século, a esperança de vida quase que duplicou ( no mundo ocidental). E agora? Podemos viver mais’ com saúde? Sem saúde? É cedrto que a maioria da patolgia aumenta à medida que envelhecemos. Doenças cardiovasculares, cancro, doenças degenerativas osteomusculares e demência caracterizam a patolgia deste grupo etário.

As novas tecnologias revestem-se de um particular interesse, na medida que podem aumentar a duração da vida, talvez mesmo indefinidamente…

Perspectivam-se três cenários. Iremos praticamente a continuar na mesma, beneficiando de mais alguns alguns anos de vida, graças à genética, medicina preventiva e intervenção médica secundária.

A segunda possibilidade é aumentar de uma forma significativa a nossa existência, mas sem evitar um dos aspectos mais dramáticos da nossa existência: a demência.

A terceira possibilidade é a reparação das lesões cancerosas, das artérias e dos neurónios. Ou seja, a possibilidade de uma efectiva “mortalidade”.

No momento presente observamos uma “epidemia” de demência nos grupos etários avançados. Tributo do prolongamento da existência, sem o concurso da “prevenção” adequada.

Estamos perante um fenómeno comum a que podemos chamar o “fenómeno” de Tito. O fenómeno Tito está presente nas nossas sociedades. É com tristeza, que vemos algumas individualidades da sociedade actual, a serem obrigados a mostrarem esta faceta. Aurora (Eos), deusa do alvorecer é mais caridosa do que a sociedade ou certas instituições.

O novelista Ian McDonall na sua novela “ The Days of Solomon Gursk”, revela em termos de ficção científica a aolicação das novas tecnologias com o objectivo de eliminar todas as doenças emanter uma performance invejável. Deste modo os “gurskys” seriam imortais, vivendo para além do próprio Universo.

Gompertz enunciou no século XIX uma fórmula que permite verificar que a mortalidade aumenta exponencialmente com a idade. De acordo com esta fórmula é possível calcular o tempo de duplicação da mortalidade para cada espécie. Cada uma das espécies tem o seu próprio tempo de duplicação de mortalidade. No caso dos seres humanos, a mortalidade duplica cada oito anos.

Massano Cardoso disse...

Se os homens passassem a ser “gurskys” a evolução das taxas de mortalidade não seriam exponenciais.
















Os “gurskys” também morrem, não de doença, mas de acidente, suicídio e homicídio. Quaisquer destas causas não respeita a lei de Gompertz.

A esperança de vida seria substituída por semi-vida (de forma idêntica às substâncias radioactivas). Não havendo um limite de vida para os “gurskys”, calcula-se que a semi-vida seria da ordem dos 500 anos, partindo do pressuposto que a taxa de mortalidade por acidentes se mantenha constante.

No momento actual a taxa de mortalidade aumenta exponencialment devido aos erros acumulados nos nossos organismos. Cancro e doenças cardiovasculares ilustram bem este fenómeno.

A maior parte das pessoas que morrem de doenças cardiovasculares tem mais de 65 anos. Se fosse possível reduzir em 50% a mortaliade por estas afecções estaríamos a contribuir com alguns (poucos) anos para o aumento da esperança de vida. Só a opção de Gursky é que permitiria aumentar a duração de vida dos seres humanos. Com base nas análises da curva exponencial de mortalidade é possível calcular o limite superior de sobrevivência. Actualmente nos países desenvolvidos o limite superior (calculado) é de 103 anos para os homens e cerca de 109 anos para as mulheres, cifras que se aproximam dos casos relatados de pessoas que chegam a “atingi” os 120 anos.

Se fosse possível aplicar a tecnologia genética para resolver muitas situações, verifacaríamos que o limite superior seria cerca de 115 anos. Neste cálculo estariam excluídos as infecções, cancro, anomalias congénitas, doenças relacionadas com a gravidez, doenças endócrinas, hematológicas e dermatológicas. Ou seja: a tecnologia genética aumentaria em mais nove anos o limite actual. Mas se conseguissímos um cenário mais optimista – aumentar a “melhoria” tecnológica por um factor de – a duração máxima de vida passaria para os 135 anos. e, no caso extremo, de um aumento de dez vezes, passaríamos a ter um limite superior de 180 anos. ou seja, se a actual taxa de mortalidade fosse reduzida dez vezes menos, passaríamos a alcançar “quase” o dobro do limite actual de sobrevivência.

A “opção Tito” existe naquela região bem definida da análise das duas curvas. A intervenção médica não aumentará esta área na expectative de que as futuras tecnologias não irão tornar-nos em seres gurskianos, continuaremos a sofrer dos erros acumulados ao longo da vida, logo a curva de mortalidade continuará a ser uma curva exponencial e não viveremos muito tempo com sinais de debilidade.

Afinal a “opção Tito” (vida imortal com demência eterna) não ocorrerá mesmo com o advento de uma tecnologia avançada de luta contra o envelhecimento.




Diogo disse...

Dr. Massano,

Eu sou da opinião que somos apenas máquinas biológicas. E que, com o avanço exponencial da tecnologia, estas máquinas biológicas poderão ser totalmente manipuladas. Do que resultará o fim da doença, do envelhecimento e da morte.

Todo o ser humano terá também backups da sua estrutura física, mental e de memória. Assim, em caso de acidente, todo o indivíduo será de imediato reconstruído com um corpo (e uma mente) completamente igual ao original.

Ou seja, dentro de poucos anos seremos deuses.

Abraço

Massano Cardoso disse...

Queremos ser deuses, mas nunca conseguiremos, porque a doença é a outra face da vida. Sem ela nunca existiríamos, logo se ela desparecer, também nós desapareceremos. Tão simples como isso, o que esteve na origem e na evolução da vida são os mesmos mecanismos que estão na gênese da doença, doença e vida, doença e saúde são as duas faces da mesma moeda. Sendo assim...

Diogo disse...

http://www.cienciahoje.pt/index.php?oid=40528&op=all



Medusa biologicamente imortal

Turritopsis nutricula consegue rejuvenescer-se em ciclos aparentemente infinitos

2010-03-10

A Turritopsis nutricula
A maior parte das medusas normalmente morre após o estágio reprodutivo, mas a Turritopsis nutricula reverte para um estágio sexualmente imaturo depois de atingir a idade adulta e é capaz de rejuvenescer-se.

A criatura de quatro a cinco milímetros é tecnicamente conhecida como um hidrozoário e é o único animal conhecido com capacidade de reverter ao seu estado pólipo juvenil. Teoricamente, este ciclo pode repetir-se indefinidamente, tornando-a potencialmente imortal.
Encontrada nas águas quentes de climas tropicais, acredita-se que a Turritopsis possa estar espalhada pelo mundo. Embora solitárias, estas medusas são criaturas predadoras e assexuadas a partir do estado maduro.

Pode ser elixir da juventude
Esta medusa e a reversão do seu processo de envelhecimento é agora foco de pesquisa de biólogos marinhos e geneticistas, de modo a tentar perceber o processo de transformação de um tipo de células noutro.

Há também muitos interessados em saber como é que se processa este ciclo, talvez na tentativa de encontrar um elixir da juventude. A mudança de procedimento das células é normalmente observada em casos de regeneração de órgão. Contudo, isto parece ocorrer no ciclo normal de vida e em todo o organismo da Turritopsis.