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sexta-feira, 28 de março de 2014

Taxa de juro (yield) da dívida pública a 10 anos abaixo de 4%...4 anos depois!

1. Foram precisos 4 anos – 4 longos anos de trabalhos forçados, de Março de 2010 a Março de 2014 – para a taxa de juro implícita na cotação da dívida pública (yield), ao prazo de 10 anos, voltar abaixo de 4%...

2. ...quantas canseiras, quantos sacrifícios, quantos ajustamentos, por vezes brutais, tiveram as Famílias e Empresas necessidade de realizar, ao longo deste período, para sanar os desequilíbrios que uma política económica - que chegou a atingir patamares de perfeita insanidade na recta final para o colapso financeiro - permitiu acumular e arrastar irresponsavelmente!

3. Só o Estado (conjunto das Administrações e Empresariais do Estado), na sua altaneira poltrona, permanece quase intacto, embora ironicamente apareça agora como principal beneficiário daquele trabalho quase heróico de ajustamento que Famílias e Empresas se viram forçadas a fazer para sobreviver...

4. ...Estado cuja Reforma permanece tranquilamente depositada em congelador, aguardando que alguma “alma caridosa” a retire desse lugar e a transfira para o “micro-ondas”, para ganhar temperatura e pôr-se finalmente em movimento...

5. E ainda há quem, neste paradoxal “environment” , em que aos outros agentes económicos foram e continuam a ser impostos todos os sacrifícios e obrigações de ajustamento – dos quais o Estado retira o principal benefício quase sem custo – entenda que a “solução” para os problemas do excesso de Estado seja, sem mais, a reestruturação da dívida pública...esquecendo a Reforma...

6. ...”solução” que nos iria de novo lançar na turbulência financeira, obrigando a repetir, com acrescidos sacrifícios o penoso exercício do ajustamento (sempre à custa dos mesmos, nem vale a pena lembrar...)! É de pasmar, ó gentes!

32 comentários:

Pinho Cardão disse...

Não é de pasmar, creio. O monstro continua com todos os seus tentáculos, que vão arranjando sempre novos prosélitos a favor da sua causa.
A cultura existente é a que continua a ver no Estado a resolução de todos os problemas. É assim uma espécie de complexo de Estocolmo, em que o sequestrado se apega ao sequestrador e até lhe sagradece a protecção.

Bartolomeu disse...

Assinalo com imensa satisfação, o reaparecimento do estimado Dr. Tavares Moreira, neste espaço franco, onde os impostos não se aplicam sobre as opiniões que cada um debita.
;)
Refere o meu estimado Amigo no ponto 1 deste texto, que a baixa da taxa de juros da dívida pública se fica a dever aos sacrifícios brutais das famílias e empresas para sanar os desequilíbrios da política económica seguida por este governo. Não poderia estar mais de acordo com essa opinião. Contudo, está V. Exª (e eu a concordar) que estão somente a ser tidas em conta, as famílias e empresas que apesar dos esforços, sobreviveram. Mas sabemos que a parte mais trágica desta "batalha" são os que tombaram na lama e que hoje se acham sem emprego, sem casa, sem meios de subsistência, são as pequenas e médias empresas que faliram e algumas, com grande mágoa, viram-se forçadas a enviar para o desemprego, pessoas com mais de 50 anos, muitos dos quais ajudaram a erguer essas empresas com esforço, dedicação e muitas vezes, com prejuízo das suas vidas familiares.
O ponto 3 deste texto, leva-me a admira-lo ainda mais, caro Dr. Tavares Moreira, a admirar o seu sentido de coerência e de solidariedade. É bem verdade que tivemos a pouca sorte de eleger um governo incapaz de reformar aquilo que sempre foi urgente reformar e reestruturar, os "elefantes sagrados" sorvedouros insaciáveis da receita pública, destruidores de um estado social que deveria empregar os impostos que cobra aos cidadãos, para lhes garantir saúde, educação, segurança. Assim, sim, teríamos um governo digno, merecedor do voto que o elegeu, cumpridor do juramento na posse e na campanha eleitoral.
Parabéns, por este belíssimo pedaço de verdade, caro Dr. Tavares Moreira.

T disse...

A verdade é que para se reformar os Estado era preciso reformar o país, as corporações, os partidos, as pessoas, tudo o que não está para mudanças. Toda a gente quer, mas ninguém quer que lhe toque, mal por mal aumentem os impostos - pensam para consigo. Veja-se o tumulto que se cria sempre que se fala nesta ou naquela medida. Graças a "isto" hoje somos cidadãos indignados com tudo, mas não sabemos de nada, mas não há nada que escape a esta. Graças a este "não me toques que eu sou essencial e insubstituível" as vacas sagradas imperam. De alguém que conheci e que fora nomeado para administrador de uma empresa publica, e cujo objectivo era por a dita a dar lucro, diz que desde os trabalhadores, clientes e todos os que esta tocava o ameaçaram, bloquearam, tentaram fazer de tudo para que o insucesso fosse um sucesso. Imagino como serão nas outras. Não estamos aptos à reforma, estamos mal mas confortáveis.

Bartolomeu disse...

O grande problema - partindo do principio que os eleitos para governar, assumem plenamente essa responsabilidade, imbuídos de um espírito integral incorrupto e fortemente alicerçado num desígnio patriótico e social; é que, ninguém conhece todas as variantes de todas as questões sobre as quais deverão decidir.
Um bocado mal comparado, é como se eu pegasse numa cana de pesca e me posicionasse num local onde já se encontrava um naipe de "pescadores encartados". O que aconteceria?!
Antes de lançar o anzol teria o tipo do lado a dizer.me que não estava a utilizar o isco coreto, depois teria um outro a dizer-me que a minha cana não se adequava ao local onde me encontrava e ainda um outro a dizer-me que o anzol era demasiadamente pequeno, ou grande e mais um a garantir-me que o carreto não era adequado à cana que estava a utilizar. Ora... eu, que até me considero um gajo pacífico e de branda índole, o mais certo era manda-los todos "apanhar onde as galinhas levam". Era certinho e direitinho...

João Pires da Cruz disse...

A notícia de que as OT's da Reino Espanha deram mais de 5% no ano passado podem estar a favorecer a procura de dívida nos mercados secundários o que mostra algum brilhantismo do lado das instituições europeias no seu todo, conseguirem inverter a coisa de tal forma que o velho lixo é hoje muito apetecível.

Agora, não entendo porque é que isso é boa notícia para nós cidadãos pagantes. Para quem vive do estado, certamente. Mais sobra para subir salários, contar anedotas sobre pensões, fazer bancos de fomento, etc. Agora ter a empregada a chegar a casa a dizer que agora é mais fácil comprar a fiado em meu nome...

alberico.lopes disse...

Excelente análise,Dr.Tavares Moreira!

Carlos Sério disse...

O ratting da república portuguesa continua o mesmo de há um ano atrás nas principais empresas de ratting. A dívida pública que era de 93,5% do PIB em 2010 é hoje de 129,4%. O PIB que era 172.860 milhões de euros em 2010 foi em 2013 de 163.454, isto é a nossa economia produz menos, muito menos que em 2010. A Taxa de desemprego que era em 2010 de 10,8% é hoje de 16,0%. Assistimos à sangria dos nossos jovens quadros que fogem em massa. Depois temos as medidas recessivas impostas pelo governo, aumento colossal de impostos e cortes nos salários e pensões. A total ineficácia do governo na reestruturação da Administração Pública, com a eliminação de todos os órgãos paralelos e parasitários, empresas municipais, agências, Institutos, comissões, etc, etc.

Não é possível tão pouco, como faz o autor do Post, atribuir ao sacrifício das famílias a evolução da descida dos juros. Pelos dados anteriormente apontados o que se verifica é que todos eles foram desperdiçados e inúteis. Estamos mais pobres, mais endividados, com maior desemprego, com os índices de pobreza maiores e com uma emigração de quadros em massa.

Perante este quadro miserável a nossa dívida pública nos “mercados” desce abaixo dos 4% a dez anos. Não são portanto condições objectivas que fazem descer a nossa dívida. São questões subjectivas associadas ao esforço da Troika, do BCE, em tentar demonstrar que o empobrecimento português foi um êxito. Por outro lado estamos em período eleitoral e há todos os motivos e mais alguns para a Troika dar uma mãozinha ao governo. Não há quaisquer outras razões para justificar a descida da dívida.

Por outro lado os “mercados” não estarão muito nervosos no momento e parecem mostrar-se obedientes à Troika porque sabem que ela age a seu favor. Mas será certo que um qualquer futuro novo governo terá sempre a chantagem dos “mercados” com os juros da dívida a subirem sempre que esse governo adoptar medidas do seu desagrado, como seja o reforço do estado social. Portugal está na mão dos “mercados”, isto é dos bancos, companhias seguradoras e outras instituições financeiras, isto é, Portugal está nas mãos dos donos dos bancos, dos gestores e donos das grandes empresas, ou melhor ainda, Portugal está nas mãos de uma classe que detém o poder económico e financeiro e cada vez mais ávida de maiores ganâncias.

opjj disse...

Quando se produz tão pouco, não será 4% em tanto milhão, uns bons milhões que saiem? POR MIM 2% seria mais razoável.
Recordo o que expressei aqui sobre carros. Portugal foi aquele que mais carros novos importou.
No entanto num mês comprei batatas espanholas e depois francesas.Contradições!
Oxalá isto tome caminho!
Cumps.

Pedro Almeida disse...

O Dr. Tavares Moreira mais uma vez mostra o seu rigor e lucidez de análise! É preciso olharmos a vários anos ou, até mesmo, a várias décadas alguns indicadores fundamentais. A verdade é que se viveu durante muito tempo na ilusão e isso tinha de ter, mais dia ou menos dia, consequências! A economia foi baseada no endividamento e nos bens não transacionáveis. Veja-se, por exemplo, a que ponto chegou a dívida externa! Foi alimentado o consumo e o endividamento das famílias, sem que existisse, digamos assim, uma correspondência cabal do lado da oferta. O resultado foi uma economia baseada na importação. Outro indicador é o endividamento das famílias que veio sempre em crescendo. Por outro lado, não se reduziu substancialmente a dívida pública e a despesa pública. Não se fez (e continua por fazer uma verdadeira reforma do Estado). Este deixou de pagar a vários credores, como aconteceu, por exemplo, na saúde! A dívida deixada na saúde foi na ordem dos quase três mil milhões de euros! Fornecedores de material hospitalar ameaçaram cortar os fornecimentos porque o Estado simplesmente não lhes pagava! Uma parte importante da dívida pública pública estava fora do chamado perímetro da dívida. Um expediente para se disfarçar a verdadeira dimensão dela! Claro que a dívida aumentou já com este Governo. Na verdade, uma parte dela passou a ser devidamente contabilizada. Deixou de estar "debaixo do tapete"! Já ninguém tinha confiança em Portugal! Esta é a pesada fatura do socialismo! Olhem, outro assunto: as pensões! O sistema tem sido essencialmente de repartição e não de capitalização. Isso associado à questão demográfica, terá um profundo impacto nas novas gerações se nada de definitivo for feito. Não bastam medidas temporárias! O PS com profunda demagogia vem criticar as alterações que estão sendo feitas, mas sabendo que das duas uma, quando for Governo: ou que terá de fazer mudanças substanciais e penosas ou então empurrar o problema para a frente. Mas o problema assemelha-se a uma "bomba-relógio"!

Pedro Almeida disse...

Produzir e poupar. Eis um belíssimo artigo de José António Saraiva. Aqui vai o link:

http://sol.sapo.pt/inicio/Opiniao/interior.aspx?content_id=42534&opiniao=Pol%EDtica%20a%20S%E9rio

Pedro Almeida disse...

Produzir e poupar. Eis um belíssimo artigo de José António Saraiva. Aqui vai o link:

http://sol.sapo.pt/inicio/Opiniao/interior.aspx?content_id=42534&opiniao=Pol%EDtica%20a%20S%E9rio

Pedro Sérgio disse...

Subscrevo as palavras deste artigo. Mas esta situação já arrasta-se a mais de 20 anos, principalmente pelos governos Socialistas.

Unknown disse...


Pode ser que esteja enganado, mas os Funcionários Públicos, e os pensionistas correspondentes, tem sido os mais prejudicados de todos.

Quanto às empresas, do que se queixam mais, é de não haver compradores. Há quem relacione isto com o Fraco Poder de Compra, mas os que fazem esta relação são os NÃO neo-liberais.

Os não neo-liberais, teimam em aumentar o Ordenado Mínimo, por exemplo, como fez Keynes em plena Grande Depressão, e com sucesso.

Antes dele, eram só crises nos EUA, como a de 1921 e todas as outras para trás.

Nuno Cruces disse...

Está rendondamente enganado.

Mais prejudicados que os FP, foram certamente todos aqueles que primeiro estiveram meio ano, um ano ou dois anos com 1, 2 ou 6 meses de ordenados em atraso. Aqueles que passados esses anos desistiram e despediram-se, ou foram despedidos, e ainda hoje têm ordenados em atraso. Aqueles que viram a sua empresa reduzida a metade ou um quarto, ou falir.

Desses, os que no desemprego não arranjaram alterativas, e no desemprego vão ficar mesmo depois do subsídio acabar. Os que de subsídio de desemprego recebem menos do que um FP com os mesmos descontos na mobilidade especial receberia. Os que para não ficarem no desemprego aceitaram cortes nos ordenados muito superiores aos da FP.

O país está na situação em que está porque estávamos à beira de faltar dinheiro para pagar ordenados e pensões, fez-se um acordo à pressa com quem emprestasse o carcanhol. Dessa forma no Estado nunca faltou o dinheiro para pagar os ditos. Mas faltou por exemplo dinheiro para pagar a fornecedores da área da saúde (entre outras) que com facturas em atraso de um ano, não pagaram os ordenados aos seus (mas pagaram sempre os seus impostos, que as dívidas ao estado vêm primeiro!)

Talvez devesse mesmo ter faltado dinheiro para pagar ordenados e pensões no Estado.

Tavares Moreira disse...

Caro Pinho Cardão,

O ilustre Bloguista é bem capaz de ter razão: o dito Monstro tem aliados fieis, de uma fidelidade quase canina, que são como uma apólice de seguro de vida que lhe vai prolongando a existência, quase incólume...

Caro Bartolomeu,

Embora discordando de alguns pressupostos do seu pensamento político-económico - demasiadamente admirador das funções do Estado, para o meu gosto - não posso deixar de enaltecer, sempre, a sua absoluta integridade e rigorosa honestidade intelectual!

Caro Nuno Cruces,

Confesso não entender: começa por dizer que estou redondamente enganado. E até poderia ter toda a razão, eu não tenho a pretensão de que nunca me engano.
Simplesmente, ao ler o desenvolvimento do seu raciocínio, concluo que estamos muit(íssm)o próximos em termos de apreciação do tema em análise...
Onde está, assim, o engano?

Caro Pedro de Almeida,

Registo, com apreço, a proximidade de opiniões!
E agradeço a chamada de atenção para o artigo de J. A. Saraiva, um dos mais lúcidos (na minha opinião) comentadores políticos da nossa praça.

Caro João Pires da Cruz,

O benefício não é exclusivo do Estado, embora este seja, como referi explicitamente, o mais beneficiado com a queda dos juros.
Repare por exemplo no facto de, na penúltima semana, a Brisa ter sido capaz de colocar uma emissão de obrigações, de € 500 milhões, ao prazo de 7 anos, taxa de cupão de 3,875%.
Não é isto um importante benefício?

Caro Albérico,

Recordo que estou a dever-lhe uma resposta, sobre outra matéria, espero não demorar muito a dar-lha!

João Pires da Cruz disse...

É, certamente, caro Tavares Moreira. Mas a Brisa deve ter emitido o dobro do que precisava. Para aproveitar o buraco...

Bartolomeu disse...

Permita-me caro Dr. Tavares Moreira, que faça um pequeno reparo ao seu comentário; eu não me considero «admirador das funções do estado» mas sim, crítico, de uma certa subjetividade.
Entendo que o estado (governo e seus órgãos), uma
vez que legislam, cobram impostos e administram a sua receita, têm como obrigação primeira, usa-la no benefício e dignificação das estruturas sociais.
De outro modo, nada fará sentido numa sociedade que pretende ver-se servida pelos superiores ideais da Democracia.
Dizia Foucault:
"O objetivo principal não é descobrir, mas refutar o que somos. Não é libertar o indivíduo do Estado e de suas instituições, mas libertar-nos, a nós, do Estado e do tipo de individualização que vai ligada a ele. É preciso promover novas formas de subjetividade..."

Nuno Cruces disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Nuno Cruces disse...

Caro Tavares Moreira,

O meu comentário era em resposta directa ao comentário supra que começa: "Pode ser que esteja enganado, mas os Funcionários Públicos, e os pensionistas correspondentes, tem sido os mais prejudicados de todos." Peço desculpa pela confusão.

Que os FP têm sido o foco de muitas medidas de austeridade do governo, acho que todos sabemos. Aquilo que parece que escapa à compreenção de muitos na FP, é que os restantes trabalhadores também foram o foco de inúmeras medidas de austeridade por parte dos seus patrões. Não renovações de contratos, cortes de suplementos, subsídios pagos em espécie, reduções nas horas extraordinárias, alterações de horários, cortes nos seguros de saúde, etc. Já para não falar nos atrasos de pagamentos, nos layoffs, nos despedimentos, nas falências.

E nem todas as empresas podem decretar um enorme aumento de preços para compensar a impossibilidade de cortar nas despesas com pessoal.

Carlos Sério disse...

O comentário do Pedro Almeida suscita-me algumas observações.
Este governo e os seus apoiantes, esforçam-se por apresentar a governação anterior do PS como responsável pela situação actual de desgraça em que nos encontramos. Fui crítico de Sócrates, cometeu muitos erros, mas não é correcto nem historicamente verdadeiro, atribuir-lhe as culpas do fracasso do “ajustamento”, do empobrecimento que o país atravessa. Essa responsabilidade são da exclusiva responsabilidade do governo actual, de Passos Coelho e Portas que, justiça lhe seja feita, nunca esconderam os seus reais objectivos de empobrecer à força o país, “ custe o que custar”, com a aplicação do dobro da austeridade inicialmente prevista no orçamento.
E para que a verdade seja reposta repare-se nestes 8 apontamentos retirados de um estudo da autoria de Pedro Lourtie:
1.Crescimento da Produtividade
Na segunda metade da última década, a produtividade laboral recuperava terreno em relação aos níveis da UE – algo que não sucedera em pelo menos dez anos. O indicador de produtividade laboral por pessoa empregada, em padrão de poder de compra, em relação a uma média de 100 da UE a 27 países registou um aumento de 72,6 em 2005 para 77,2 em 2010, enquanto na década anterior tinha diminuído ligeiramente de 71,6 em 1995 para 69,6 em 2004. A mesma tendência está também patente na produtividade laboral em termos do indicador de horas de trabalho, no qual se registou uma subida de 62,7 em 2005 para 65,2 em 2010 (62,3 em 1995 e 60,2 em 2004). A produtividade laboral real por pessoa empregada, um indicador mais fiável para comparações internacionais de produtividade, também confirma esta tendência. Na segunda metade da década de 2000, e pela primeira vez em mais de uma década, a produtividade em Portugal estava uma vez mais a crescer acima da média da UE.
2. Reforma da Segurança Social
A reforma da Segurança Social abrangeu três pilares: (i) harmonizou a idade de reforma aos 65 anos (anteriormente de 60 anos para os funcionários públicos) e eliminou regimes especiais; (ii) introduziu um factor de sustentabilidade que tem em consideração o aumento da esperança média de vida na determinação do valor das pensões, resultando na prática num aumento anual automático da idade de reforma para os trabalhadores que queiram ter acesso à totalidade da pensão; e (iii) introduziu novas regras para a actualização das pensões, indexando-as à inflação (apenas para as pensões mais baixas) e à taxa de crescimento real do PIB.
Em 2009, a Comissão Europeia considerou que Portugal foi um dos países da UE a implementar reformas substanciais nas pensões, com efeitos importantes na sustentabilidade orçamental a longo prazo25
3. Exportações
Os dados relativos às exportações na segunda metade da última década revelam, de facto, que a economia entrou num período de recuperação da competitividade. No período 2006-2010, e pela primeira vez em dez anos, as exportações cresceram acima da média da UE a 15 países, recuperando uma tendência que se perdera desde a segunda metade dos anos 1990.
O rácio das exportações em relação ao PIB aumentou de forma continuada, de 27,8 por cento em 2005 para 32,4 por cento em 2008 – a proporção mais elevada de sempre na economia portuguesa.
Os défices comerciais de bens e serviços, excluindo os produtos energéticos, foram reduzidos para metade entre 2000 e 2010, o que corresponde a uma melhoria de cerca de quatro pontos percentuais do PIB.

Carlos Sério disse...

4. Função Pública
A função pública em Portugal aumentou de forma continuada desde os anos 1970 e tornou-se sobredimensionada em relação ao rendimento do País e aos níveis médios europeus. Em especial através de restrições mais apertadas à contratação, a partir de 2005 verificou-se pela primeira vez uma inversão desta tendência de crescimento. Em 2010, o número de funcionários públicos tinha diminuído para valores do final da década de 1990, com os números totais a descerem cerca de dez por cento, de quase 750 mil em 2005 para menos de 670 mil em 2010.
5. Educação e Investigação
As reformas recentes na educação têm permitido alcançar resultados visíveis e importantes. A percentagem de jovens que abandonaram a escolarização tem vindo a diminuir de forma sustentada e acelerada desde 2002, aproximando-se da média da UE. Nesse ano, 45 por cento da população entre os 18 e os 24 anos tinha, no máximo, o terceiro ciclo do ensino básico e não recebia qualquer educação ou formação, enquanto a média da UE equivalente era de 17 por cento. Em 2010, os valores eram 28,7 por cento e 14,1 por cento, relativos, respectivamente, a Portugal e à média da EU.
Portugal foi também o país da OCDE que mais progressos realizou nas três áreas dos testes do Programa Internacional de Avaliação de Alunos de 2009 (leitura, matemática e ciências), com os alunos portugueses a alcançarem pela primeira vez o grupo médio dos países da OCDE, juntamente com o Reino Unido, a Dinamarca, a Suécia, a Alemanha, a França, a Irlanda e a Hungria11. Para além disso, a obtenção de qualificações de nível superior mais do que duplicou, de 11,3 por cento em 2000 para 23,5 por cento em 201012.
No que diz respeito à investigação e desenvolvimento, o investimento aumentou de forma acentuada de 0,53 por cento do PIB em 1995 para 1,66 por cento em 2009, com os últimos anos a registarem uma aproximação acelerada aos valores médios da UE a 27 países (que evoluíram de 1,8 por cento em 1995 a 2,01 por cento em 2009).
6. Dependência Energética
Em terceiro lugar, a redução da dependência energética tem sido também uma área crucial para Portugal. A importação de energia contribui neste momento para quase metade do défice da balança comercial. A recente aposta nas energias renováveis é, pois, uma contribuição importante para a correcção dos desequilíbrios externos do País. A electricidade gerada a partir de fontes renováveis constituiu em 2010 50,2 por cento do total de produção eléctrica acrescido de importações líquidas, um crescimento em relação aos 33,9 por cento de 2003
7. Redução da Burocracia
Portugal subiu da 48.ª para a 7.ª posição na hierarquização de disponibilidade online de serviços e, segundo dados da Comissão Europeia, tornou-se em 2009 o líder europeu em termos de disponibilidade e sofisticação de serviços públicos online, um salto em relação à 16.ª posição de 2004.
8. Mercado do trabalho
Portugal começou a mudar a sua legislação laboral no sentido do aumento da flexibilidade, revertendo desta forma a tendência que se verificara nos trinta anos anteriores. O Código do Trabalho sofreu alterações em 2003 e, mais substancialmente, em 2009, com o maior aumento de flexibilidade entre os países da OCDE de acordo com os indicadores desta organização.

Carlos Sério disse...

Erro:com a aplicação do dobro da austeridade inicialmente prevista no memorando e não no "orçamento".

João Pires da Cruz disse...

Impressionante. Três comentários de mera treta...

Carlos Sério disse...

Pedro Lourtie

Diplomata de carreira e economista de formação. Licenciou-se em Economia pelo iseg, e completou o mestrado em Estudos Económicos Europeus no Colégio da Europa, em Bruges, onde foi assistente de investigação. Na carreira diplomática desde 1995, serviu na Direcção de Serviços das Organizações Políticas Multilaterais do Ministério dos Negócios Estrangeiros (1995) e foi assessor do secretário de Estado dos Assuntos Europeus (1995-1999). Desempenhou funções na Representação Permanente de Portugal junto da UE (1999-2004) e na Delegação da Comissão Europeia em Washington DC (2004-2005). Foi adjunto diplomático do primeiro-ministro (2005-2006), chefe de gabinete do primeiro-ministro (2006-2009) e secretário de Estado dos Assuntos Europeus no XVIII Governo Constitucional (2009-2011). Nessa qualidade, presidiu à Comissão Nacional dos Direitos Humanos (2010-2011).

Carlos Sério disse...

Quer um conselho meu caro João Pires da Cruz: Dedique-se à Física e deixe a "paixão das finanças".

Tavares Moreira disse...

Caro João Pires da Cruz,

Como já deve ter percebido, em 2009 e 2010 só aconteceram coisas boas em Portugal, algumas delas dignas mesmo da maior admiração...
Fica por explicar, parece mesmo constituir enigma indecifrável, a a derrocada financeira que sofremos na bela Primavera de 2011!
A mais plausível explicação poderá residir em tal derrocada ter sido obra de espíritos malignos, alavancados pela inveja internacional de tão admiráveis feitos da política económica e energética em Portugal...
Estará de acordo?

João Pires da Cruz disse...

Caro Sério, parece-me óbvio que esse conselho se deveria aplicar a si porque, não me leve a mal, a sua percepção dos mecanismos da economia é uma lástima. Fazia-lhe bem entender como funciona o mundo antes de debitar opiniões dos outros que já eram erradas quando foram ditas pelos seus autores originais.

Caro Tavares Moreira, toda a gente sabe que fomos vítimas das agencias de rating. Estava tudo a correr tão bem. A nossa autonomia energética com os moinhos dinamarqueses, as nossas exportações a crescerem a metade do ritmo das importações, a criação intensiva de empresas públicas para parquear dívida fora do perímetro de consolidação, tudo a correr tão bem que não se entende como é que aquele sujeito de Massamá conseguiu dar cabo de tudo tão depressa.

Carlos Sério disse...


(cont.)
9. Taxa de Risco de Pobreza (dados INE)
A taxa de risco de pobreza era em 2005 de 19% caindo para 18% em 2010 e subindo para 18,7% em 2012.
A taxa de risco de pobreza para as famílias com crianças dependentes subiu para 22,2%, contra os 20,5% de 2011.
Ainda entre os casos que envolvem menores, o INE indica que as crianças com menos de 18 anos representam a maior fatia, quando se fala da taxa de risco de pobreza segundo o sexo e o grupo etário (24,4%). Segue-se a população residente em Portugal com idades entre os 18 e 64 anos (18,4%) e os idosos (14,7%). Quando comparados com 2011, estes valores revelam aumentos nos dois primeiros grupos (21,7% e 16,9% respectivamente).
Os dados revelam o agravamento da falta de recursos da população em risco de pobreza. Em 2011, a taxa de intensidade da pobreza foi de 24,1%, menos 3,3 pontos percentuais do que os 27,3% de 2012.
Quanto aos indicadores de privação material, o INE avança já com dados de 2013. No ano passado, 25,5% dos residentes em Portugal viviam em privação material, mais 3,7 pontos percentuais do que em 2012 (21,8%), enquanto 10,9% da população estava em privação material severa.
Os dados mostram que os números do rendimento disponível sobem em Portugal até 2010, mas a média começa a cair em 2011. O estudo estima que a queda no rendimento médio das famílias seja de 6,5%.


alberico.lopes disse...

Caro Dr.Tavares Moreira,
Ficar-lhe-ei muito grato!
Cumprimentos!

Tavares Moreira disse...

Caro João Pires da Cruz,

Confesso-lhe que ao ler certos textos, do tipo ensaios/monólogos intermináveis, "papa-açorda" de qualidade duvidosa, começo a sentir-me invadido por uma mórbida privação intelectual...

João Pires da Cruz disse...

:) Também deve haver um número qualquer para privação intelectual. Aposto que está completamente de rastos por causa da política de austeridade!

Diogo disse...

«...”solução” que nos iria de novo lançar na turbulência financeira, obrigando a repetir, com acrescidos sacrifícios o penoso exercício do ajustamento»


Quando o roubo descomunal passa por economia e o genocídio por finança:

Correio da Manhã - Bancos vão buscar crédito ao BCE a 1% e investem em dívida pública a taxas superiores (que vão de 5% a 12%). Em 2010, já ganharam mais de 150 milhões de euros. De Janeiro a Setembro, aplicações subiram 7,8 mil milhões.

Correio da Manhã - 28.11.2010

http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/exclusivo-cm/divida-da-milhoes-de-lucro-a-banca

O investimento na dívida pública portuguesa está a revelar-se um excelente negócio para a Banca nacional. Com os juros da dívida da República em alta desde o início do ano, até atingirem 6,8% no leilão de Obrigações do Tesouro neste mês, o aumento das aplicações em 7,8 mil milhões de euros, entre Janeiro e Setembro de 2010, já garantiu à Banca muitos milhões de euros.

Se fizermos as contas ao dinheiro aplicado neste ano, e se contarmos com uma margem mínima de dois pontos percentuais, o lucro ultrapassa os 150 milhões de euros, mas na realidade os ganhos ainda serão superiores. O BCE [Banco Central Europeu] empresta dinheiro à Banca portuguesa a 1%, contra garantias, e a Banca investe em dívida com juros a 6%", explica Mira Amaral, ex-ministro de Cavaco Silva e actual líder do BIC [Banco Internacional de Crédito].

Os últimos dados do Banco de Portugal revelam que, em Setembro de 2010, os bancos nacionais tinham investidos em dívida pública portuguesa 17,9 mil milhões de euros, um aumento de 53% em relação aos 9,5 mil milhões de euros registados em igual mês do ano passado.

Desde a entrada em vigor da moeda única, a 1 de Janeiro de 1999, que a Banca portuguesa não tinha tamanha exposição à dívida pública. Para Luís Nazaré, ex-líder dos CTT, esta realidade "revela mais sensibilidade da Banca nacional para assegurar a dívida pública portuguesa, mas é também uma excelente aplicação, porque vai buscar o dinheiro a 1% ao BCE e investe-o a 5% na dívida".

E mais estas palavras admiráveis:
Mira Amaral alerta que "isto não é sustentável", porque "o BCE está a ajudar, através dos bancos comerciais, os governos".