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quarta-feira, 28 de junho de 2017

Mistérios da política do BCE...


1.     Curioso das políticas do BCE e suas razões, já aqui escrevi (em Janeiro último) sobre a intrigante combinação de uma política de compras maciças de dívida pública (chamada QE), que têm induzido forte redução dos respectivos custos (yields), e da insistência do BCE na necessidade de os governos da zona Euro promoverem reformas estruturais…

2.       …quando parece evidente, ao facilitar o endividamento dos Estados, que o BCE reduz, fortemente, o incentivo para a realização de reformas estruturais (cujos custos políticos são conhecidos).

3.      Outra política que me tem suscitado grandes dúvidas é a do proclamado apoio á economia - à actividade económica - através de uma política de juros muito baixos, supostamente facilitando o acesso dos agentes económicos ao crédito bancário.

4.      Pois bem, as estatísticas do BdeP mostram que, desde o final de 2012 até Abril do corrente ano, o saldo do crédito bancário às empresas não-financeiras (a chamada economia real) tem vindo sempre a cair, de € 105.361 milhões para € 74.715 milhões, ou seja “apenas” 29%...

5.      No mesmo período, o saldo do crédito bancário à compra de habitação por particulares, caiu sempre,de € 109.673 milhões para € 94.014 milhões, ou seja 14,3%.

6.     Ainda no mesmo período, apenas o crédito bancário ao consumo de particulares subiu, ligeiramente, de € 13.371 milhões para € 13.813 milhões, ou seja 3,3%.

7.     Será que esta evolução do crédito à economia serve para demonstrar a eficácia da política de incentivo do BCE à actividade económica? Se não serve, então que indicadores poderão servir?

8.     Bem sei que empresas como a EDP, REN e BRISA, com acesso directo ao mercado de capitais, têm beneficiado bastante da política do BCE, conseguindo colocar dívida no mercado a taxas (cupões) bastante baixas e a prazos confortáveis.

9.    Todavia, a esmagadora maioria das empresas – e obviamente os particulares – não têm acesso ao mercado de capitais e, para essas, os “benefícios” da política do BCE são ilustrados pelos dados supra, pontos 4 a 6.

10.   Mas quem sou eu para colocar em dúvida a bondade das políticas do BCE…que atrevimento!

2 comentários:

João Pires da Cruz disse...

Por acaso, gostava de perceber a influencia das exigências de capital e políticas de imparidades sobre este resultado. O preço do funding dificilmente serve, nesta fase, de incentivo ou castigo para o que quer que seja.

Tavares Moreira disse...

Caro Pires da Cruz,

Julgo que a sua questão deve ser lida com um grão de sal...
Na verdade, as políticas que refere têm concorrido para este "brilhante" resultado, na medida em que uma das formas mais acessíveis de melhoria dos rácios de capital, em tempo de mercados de capitais adversos (risco bancário muito elevado), consiste em reduzir os activos de risco, a começar no crédito ao sector produtivo.
Um mecanismo muito eficaz para estimular a actividade económica, como é bom de ver.