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terça-feira, 24 de julho de 2018

"A minha andorinha"...



Faz agora dois anos que vivi com uma andorinha. Não consigo esquecê-la. Tenho imensas saudades. Ensinou-me muitas coisas. Bela, doce e amiga. Uma andorinha dourada que a par de outros animais sabem dar vida à vida, mesmo que morram nas minhas mãos...

Cá em casa temos alguma experiência e vivência com diferentes espécies animais. Periodicamente cai uma sem sabermos como. Nem sempre as coisas acabam bem. Mesmo assim deixam marcas e saudades. Relativamente à passarada já andou por aqui, noutros tempos, uma pobre andorinha das chaminés. Não sobreviveu. Foi há muitos anos. Na altura não tive possibilidade de estudar e saber qual a melhor forma de a cuidar. Ainda por cima tive de me ausentar. Recordo também um pequeno pardal meio louco que um dia, em pleno voo, entrou pela janela do carro e marrou no vidro oposto. Uma chatice dos diabos. Ficou inconsciente durante longos minutos. Quando recuperou não “fazia coisa com coisa”. Deve ter feito “traumatismo craniano”! Foi o meu diagnóstico. Durante alguns dias alimentámo-lo à nossa “maneira”. Pão, arroz, massa cozida e água. Ao fim de alguns dias “teve alta a pedido”. Piou alto, e em bom som, e foi à vida. Não sei se ficou maluco, mas pardais malucos é a coisa mais natural do mundo.
A outra foi uma pobre pomba depauperada que não conseguia levantar voo. Estava tão fraca que se deixou apanhar sem dizer um pio. - Deve estar doente. Disse a minha mulher. – Pois está! Com o bico partido como é que o animal pode comer. Começou a ser alimentada com cuidado. Ao fim de pouco tempo tinha recuperado totalmente. A gratidão do animal foi interessante. Como “sabia” que nunca podia alimentar-se por si própria, seguia-nos como um verdadeiro cachorrinho. Em cima do ombro, voando em nosso redor ou batendo as asas de felicidade ia para toda a parte. Gostava imenso de ir às compras com a minha mulher. Andou assim durante algum tempo até que um dia desapareceu. Não foi como o “sacanita” do pardal, que se pirou assim que se sentiu bem, mas deve ter sido apanhada por alguém. Os animais quando se afeiçoam aos seres humanos não conseguem distinguir quem lhes faz bem ou mal. Acreditam em todos. Mal.
Mas houve mais. O “Chiquito” era um pequeno coelho branco que veio para casa em pequeno. Foi oferecido à minha filha mais velha. Habituou-se ao ambiente caseiro e dormia na adega. Quando o chamávamos, “Chiquito”, “Chiquito”, subia as escadas numa correria louca e nunca fez uma curva, era tudo em ângulo reto, o que o levava a derrapar. Um doido varrido. Entrava na sala e punha-se ao meu lado deitado, muito sossegado, a ver televisão. “Adorava” ver desenhos animados! Até que um dia a minha sogra não achou piada às carpetes roídas. Foi parar a uma coelheira numa fazenda de pessoas amigas e mais tarde aos estômagos de apreciadoras de carne de coelho. Curiosamente tinham como apelido “Coelho”! Confesso que não consigo comer carne de coelho. Nem pensar.
Agora apareceu-me esta andorinha. Nunca pensei que sobrevivesse. Já passaram dez dias. Está linda, jeitosa, mimada e não me larga um instante. Adora dormir no meu ombro. Pede-me comida e água. Durante estes dias já me ensinou muitas coisas. Tantas que gostaria de as descrever. Há cuidados, emoções, sentimentos e formas de ver a vida que nunca pensei que um frágil animal conseguisse despertar. Há horas que está, como dizem os galegos, no meu “ombreiro”. Dorme, chilreia, é feliz e está confiante.

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