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quarta-feira, 26 de outubro de 2022

Um almoço vulgar…

Gozo alguns minutos da minha existência numa esplanada no alvor do outono. Não sinto frio, não sinto calor, sinto apenas saudade de um tempo que nunca existiu. Vivo mergulhado numa atmosfera simples. Consigo recordar imensas coisas ao mesmo tempo. O anoitecer prematuro, a música tranquilizadora de Glenn Miller, os sonhos de uma criança, os ruídos do sótão, temerosos ou tenebrosos, já não me recordo bem, os lençóis a cheirar a sabão azul, o medo da noite, a esperança do renascer de um novo dia, as orações a um anjo da guarda desconhecido e malandro, como é típico dos anjos, o medo da minha mãe poder descobrir o maço de cigarros, “Sagres”, escondido no armário do meu quarto. Ui! É melhor não avançar mais. São tantas as lembranças que acabam por causar ansiedade num tempo que não era meu, e nem sabia o que me iria acontecer. Mal sabia o que me estava guardado. 

Soube-me bem os filetes panados, embora tivesse de descartar as saborosas capas. Valeu-me o adocicado e saboroso vinho branco e os sorrisos delicados do pessoal.

Um almoço simples e banal para quem é banal e simples, eu.

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