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sábado, 1 de dezembro de 2007

”Fenómeno Clever Hans”…


Uma notícia sobre o I Simpósio Ibérico sobre Hipnose Experimental, realizado em Coimbra, descreve uma entrevista efectuada a um especialista norte-americano, Irving Kirchs, da Universidade de Connecticut. Segundo este investigador “a diferença entre os efeitos de um antidepressivo e o efeito placebo é tão pequena que não chega a ter significado clínico”! É certo que o placebo é o “medicamento” mais poderoso que existe, mas daí a chegar àquela conclusão é de desconfiar, até, porque chega a salientar a existência de muitas alternativas à terapia medicamentosa como “o exercício físico, a psicoterapia ou a erva de São João” (vulgo hipericão). Parece-me que quer “vender” a hipnose. Que o faça, mas não à custa de afirmações que ponham em causa o efeito dos antidepressivos. O próprio organizador do simpósio é autor de um livro denominado “A depressão não é uma doença”. Se estiver a referir-se ao famoso “touch of depression”, aceito. Mas as depressões graves existem, e são cada vez mais frequentes e invalidantes, com todas as repercussões pessoais, familiares e sociais.
Esta notícia pode ter impacto em muitas pessoas influenciando-as ao ponto de poderem deixar as suas terapêuticas.
Este comportamento e observações fez-me recordar o célebre cavalo “Clever Hans”.

Como os efeitos esperados de um investigador, pode influenciar os resultados mesmo nos estudos duplamente cegos.

No princípio do século XX, um cavalo tornou-se famoso, devido ao facto de “saber” contar e “efectuar” as diferentes operações académicas. Foi motivo de vários espectáculos e espantou todos quantos assistiam a este fabuloso espectáculo. No entanto, este notável cavalo só podia efectuar as suas façanhas apenas em frente do seu treinador, um professor reformado. Mas, afinal, qual a explicação para tão interessante fenómeno? Ninguém conseguia ver nada! Como é que o treinador transmitia os dados ao cavalo? Ninguém foi capaz de detectar as instruções. Tratava-se de um precioso exercício de ilusionismo. O que é certo é que o treinador conseguia enviar para o cavalo de uma forma subliminar as soluções. E a seguir a pata do animal dava o resultado!
Um placebo pode aumentar e diminuir a dor? Pode. Se for efectuado um estudo duplamente cego, utilizando uma substância capaz de aumentar as endorfinas cerebrais e um placebo e se os doentes forem instruídos no sentido de se sujeitarem a um estudo com o objectivo de diminuir as dores, verificaremos que ambos os produtos terão um efeito esperado. Mas se os doentes forem instruídos no sentido de se sujeitarem a um estudo duplamente cego, com o objectivo de estudar as consequências de aumento da dor (agora no sentido oposto ao anterior) iremos verificar aumento das dores nos dois grupos, o sujeito à droga activa e ao placebo. Este conceito ilustra o efeito do fenómeno Clever Hans. Fenómeno muito pouco estudado nos estudos duplamente cegos. Um placebo pode em certas circunstâncias aumentar ou diminuir a dor, dependendo das expectativas do investigador. Skrabanek cita este exemplo, focando as experiências de Gracely e os seus estudos na dor após extracção dentária.
Sendo assim, torna-se imperioso controlar este aspecto, de forma a não falsear ou desvirtuar as consequências de uma experiência. Ainda de acordo com a análise daquele autor, é possível quantificar efeitos positivos muito importantes em situações de aplicação de medicamentos activos e placebo, mesmo em situações graves, como é o caso do enfarte do miocárdio. Os resultados obtidos são praticamente idênticos em médicos e nos doentes! E porquê? Porque se transmite a informação de que a administração dos produtos tem como objectivo melhorar a qualidade de vida. E os resultados são por vezes muito semelhantes quer no grupo do placebo, quer no grupo do fármaco activo. Claro que em situações em que o “outcome” não depende da subjectividade do investigado, as diferenças são mais acentuadas. No entanto, não podemos esquecer que muitos dos “outcomes” em investigação clínica baseiam-se em informações de carácter subjectivo, o que é perfeitamente normal, já que uma das principais expectativas por parte dos doentes é sentirem-se melhores e, quanto a este último aspecto, não vejo alternativas superiores para a medição do que uma apreciação pessoal, não obstante a realidade poder ser substancialmente diferente e até eventualmente muito grave. De qualquer modo temos de estar atentos a estes aspectos mesmo que sejam subliminares, já que poderemos receber informações ou soluções apontadas pelos responsáveis pelo projecto.
Não somos cavalos bem treinados, mas somos muito sensíveis a diferentes tipos de informação, os quais se não forem estudados convenientemente irão irremediavelmente influenciar os resultados no final da investigação, com todas as consequências daí resultantes, o que é manifestamente óbvio.
A explicação para o fenómeno foi dada por um psicologista de Berlim, o qual provou que o cavalo não dava uma resposta certa se estivesse sozinho. O cavalo conseguia detectar movimentos mínimos ou a “tensão” das pessoas quando se aproximava do resultado correcto.

Clever Hans era um cavalo árabe oriundo da Rússia. Wilhelm von Ossten comprou-o em 1900. Von Osten era um professor reformado que acreditava na inteligência dos animais. Passou longos períodos a treinar o seu cavalo, a fim de provar a sua tese. De todos os animais que tentou treinar, só Hans é que “revelava” inclinações para a matemática!
Von Hosten ensinou o cavalo a contar até nove. Perante um quadro, tapava com a pata os resultados referentes a diferentes cálculos, inclusive raízes quadradas. Os observadores não conseguiam detectar nenhum truque. Eminentes matemáticos chegaram à conclusão de que o cavalo tinha uma capacidade matemática de um estudante de 14 anos!

4 comentários:

Bartolomeu disse...

Com o Hans-the-horse, nas finanças iríamos ter finalmente, os valores do PIB e da inflacção certinhos ao cêntimo.
Ai não que não, mas... em vez do Hans, colocaram lá o Mr. Head "the horse who talk's a looooooot, and say nothing..."
Do you like my english?

Suzana Toscano disse...

DE facto, caro Prof. Massano, o jogo de propagandas que há hoje à volta dos medicamentos é suficiente para baralhar qualquer um e a questão é sempre a mesma, claro, fazer comprar isto em vez daquilo ou abrir espaço a novos mercados, pondo em causa as atuais respostas. Lembro-me d eum post seu em que rweferia os exageros que houve com as depressões, tudo era depressão, a doença da moda (e acho que ainda não passou de moda)o consumo de medicamentos aumentou exponencialmente, a charlatanice à mistyura com os casos graves. A propaganda neste temas chega a ser odiosa, o que faz bem, o que faz mal, o que deve ou não deve tomar. Já não consigo comprar um pacote de leite normal, tem sempre lá um comentariozinho qualquer que o torna específico para um segmento de "potenciais doentes". A cabeça das pessoas e o seu modo de funcionar continua um mistério a explorar...comercialmente também.

Bartolomeu disse...

Vá por mim cara Drª Suzana... a solução para o bem-estar humano, é o regresso ao que é original. Os vegetais saídos directamente da horta, os frutos criados na árvore, as galinhas, os ovos, os coelhos, etc. alimentados naturalmente e em liberdade, o leite da vaca, a água da nascente, tudo natural, sem recurso aos pesticidas, fungicidas, ou qualquer adubo químico.
Depois do corpo bem alimentado, ha que dar ao espírito aquilo de que ele necessita... espaço, sol, convívio com a natureza e com quem partilhamos esta terra. Nada melhor para o espírito que o convívio franco, aberto e num plano de pura troca de experiências. Antes de o fazermos desta forma, por vezes temos a sensação que conversar é uma pura perca de tempo, conversar sobre tudo e sobre nada, uma conversa despretenciosa, geralmente conduz sempre e sem que se dê por isso, a um local recôndito dentro de nós, e muitas vezes acaba por produzir o efeito de "exorcisar" algumas dúvidas, por vezes medos.
Afinal, encontramos tudo na natureza para nos sentirmos bem, por vezes, basta que nos disponhamos a abrir-nos para receber a energia de que necessitamos e que é grátis, porque faz parte do universo.
Tenha um dia excelente cara Drª. Suzana!!!
;))))

Suzana Toscano disse...

Também para si, caro Bartolomeu, um excelente dia! E desculpem as gralhas do meu comentário, tenho que mudar a luz da secretária porque estou a ficar pitosga...