1. Estamos quase a entrar em 2010 e vemo-nos positivamente sem instrumentos para perceber como irá comportar-se a economia no próximo ano, apesar dos esforços de um “vidente” que há dias nos quis confortar dizendo que “já eram visíveis sinais claros de retoma”...
2. Não temos orçamento para 2010, só daqui por algumas semanas na melhor das hipóteses.
3. Dispomos é certo das previsões de organismos internacionais, FMI e OCDE, mas estas sugerem uma quase estagnação da economia portuguesa em 2010 relativamente a 2009 o que é francamente insatisfatório – nada a ver com os “sinais claros de retoma” de que o tal “vidente” nos prometia há dias – se nos lembrarmos que em 2009 vamos ter uma quebra da ordem de 3% do PIB, prevista pelo 4R desde o início do 2º trimestre...
4. Um aspecto positivo é a quase certeza de não haver agravamentos de tributação, nomeadamente sobre o rendimento – por insuficiência de quórum na Assembleia da República para tal malvadez - que seriam um verdadeiro flagelo para uma economia profundamente depauperada por um Estado gastador e perdulário que se tem dedicado a aumentar o nível da despesa pública sem qualquer preocupação quanto aos efeitos de tal política.
5. A dívida pública vai conhecer mais um período de forte expansão, resultado do défice reconhecido e do défice não reconhecido (escola grega) - que, apesar de não reconhecido, não pode deixar de ser financiado – em resultado do que o rácio da dívida pública sobre o PIB deve ultrapassar 90%.
6. Talvez fosse interessante que, com a celebração do centenário da República, no próximo dia 10 de Outubro, a dívida pública chegasse a 100% do PIB, oferecendo motivo para uma dupla celebração...
7. Vamos por certo continuar a gastar muito mais do que produzimos, prolongando o enorme desequilíbrio da conta corrente com o exterior que arrastamos há anos e fazendo subir o endividamento externo e global de forma imparável, mas já sabemos que não temos de nos preocupar com isso tal como o Mississípi...
8. Indiferentes aos sinais da conjuntura e dos desequilíbrios fundamentais da economia, vamos continuar a “castigar” os adquirentes de certificados de aforro (cada vez menos, é certo), oferendo-lhes na data da subscrição taxas de remuneração que não chegam a 25% da remuneração que é paga aos investidores, na sua maioria externos, que adquirem dívida pública portuguesa ao prazo de 10 anos...
9. Vamos também continuar, garbosamente, a “investir” em grandes empreendimentos públicos, auto-estradas e mais auto-estradas, TGV, novo aeroporto (?), etc, indiferentes aos sinais dos mercados e tendo como fundamento combater a crise, embora esta seja a final a maior beneficiária deste trabalho...
10. Vamos ter pela frente, muito provavelmente, a discussão do projecto da Regionalização em que tantos depositam esperanças para ultrapassar os problemas estruturais da economia nacional e que poderá proporcionar útil contributo para aumentar ainda mais a despesa pública...embora a Regionalização garanta que a despesa será de melhor qualidade...
11. Vamos, enfim...continuar a navegar à vista, sem faróis, sem bússola e os outros instrumentos quase todos avariados. Mas quem sabe se, no meio deste quase deserto de perspectivas, a visita de Bento XVI nos pode trazer alguma dádiva não esperada...
25 comentários:
Bom Ano para si e para todos os que fazem o Quarta República.
Caro Tavares Moreira
Bom Ano para si.
2010 será o ano em que iremos passar a governar em regime de soberania limitada, porque condicionada pelos credores externos e os mercados internacionais.
A "conversa de rico" terminou, vamos passar ao "discurso do pobre".
espero que possamos crescer, seja com o Papa ou com qualquer outro acontecimento
Cumprimentos
joão
Caros Rui Fonseca e João,
Agradeço e retribuo, muito sinceramente, vossos simpáticos votos de Bom Ano.
Quanto ao resto, caro João, será preferível, quer-me parecer, acompanharmos diariamente o circo...para termos a noção do progresso para o "precipício" e prepararmos a tempo o momento do salto...
Caro Dr. Tavares Moreira, pessoalmente, entendo tambem, que um certo tipo de regionalização ou municipalização, coordenada por um governo simplificado, mantendo os principais ministérios e sem uma assembleia com assento para governo e oposição, com eleições anuais, conduziria garantidamente a nossa economia a uma situação de sustentabilidade.
Isto, é obviamente aquilo que eu penso, sem que possa apresentar aqui dados cientificos ou técnicos que possam provar a sua eficácia.
Acho até que a eficácia e o sucesso deste ou qualquer outro modelo de administração adoptado, depende de dois aspectos distintos e contrários: vontade colectiva, ou imposição ditatorial.
Contudo, e relativamente a este assunto, existe uma afirmação no décimo ponto do seu texto, o qual li integralmente e com a maior atenção, que me deixou intrigado e para a qual, lhe peço o favor de me esclarecer, caso não esteja a abusar da sua boa vontade e do seu tempo.
O caro Dr. Tavares Moreira, porque motivo afirma V. Exª que a discussão do projecto de regionalização, irá contribuir para o aumento da despesa pública?
Mais um excelente texto.
Um fantástico ano 2010 para o caro Tavares Moreira e para todos os restantes autores, comentadores e leitores deste magnífico espaço de liberdade e cidadania.
Da passagem rápida pelos jornais e blogs retive uma predição para 2010do João Miranda que acho elucidativa: «Medina Carreira começará cada vez mais a ser visto como um optimista inveterado».
No Jornal de Negócios, Camilo Lourenço, na sua crónica, diz a certa altura: «Gostava de desejar aos leitores um bom 2010, mas não vejo como…».
Os sinais não são animadores mas, de qualquer modo, permitam-me que deseje a toda a comunidade do 4R, o melhor 2010 que vos for possível.
A apelar à intervenção divina, meu caro Tavares Moreira?
Feliz Ano Novo, caro Tavares Moreira.
Caros Fartinho da Silva, Eduardo F, e Catarina,
Agradeço e retribuo muito gostosamente vossos amáveis votos para o ano que hoje se inicia.
Quanto a Medina Carreira, caro Eduardo F. tenho a noção de que se trata de um observador muito atento da realidade nacional, profundamente independente na expressão das suas opiniões - teria certamente ganho o prémio de Cidadão do ano em 2009...se tal prémio existisse e se fosse atribuído com base em escolha popular...
Caro Ferreira de Almeida,
Com certeza, começo a convencer-me que sem ajuda divina não vamos longe...e mesmo com ajuda divina...
Caro Bartolomeu,
A temática das implicações do projecto Regionalização sobre as finanças públicas levar-nos-ia muito longe, não cabendo no exíguo espaço destes comentários.
Mas sempre lhe direi, em jeito de aproximação muito geral e preliminar ao tema, que, tal como está concebida pelos políticos - e não sou capaz de imaginar outra Regionalização a não ser uma que seja concebida pelos nossos actuais políticos - ela implicará a criação de N (=5, 6 ou 7...) Regiões Político-Administrativas-
Essas Regiões terão direito a seus "mini"-parlamentos, orgãos executivos e a imensa parafernália de pessoal político e administrativo de que essas novas estruturas carecerão para se movimentarem...
Acrescerá naturalmente a isso toda a logística em instalações, equipamentos, bens de consumo corrente e serviços sem a qual essas mesmas estruturas não poderão funcionar e "afirmar-se"...
E não me parece que, para compensar a criação dessas novas realidades administrativas e burocráticas, o Estado Central ou Municipal estivessem dispostos a abdicar de seus poderes e meios...
Se tudo isto que eu antecipo for inexacto ou irrealista, desde já agradeço ao meu Caro Bartolomeu que me esclareça, se estiver com paciência para tal, claro está...
pode ser que eu esteja profundamente errado, mas é assim que vejo, muito em resumo, claro está, o alvorecer desse grandioso projecto...
Caro Dr. Tavares Moreira, qualquer pequena migalha de atenção que V. Exª decida conceder-me, representa para mim um soculento manjar que alimenta grandemente os meus conhecimentos. Retribuir-lhe essa atenção nunca poderia representar um contratempo mas sim, pelo contrário, uma enorme honra porque lê o que escrevo e considera as minhas opiniões.
Esclarecê-lo-ia com todo o gosto, caro Dr. Tavares Moreira, se conhecesse a existência de algum programa alternativo, visando o estabelecimento de um modelo diferente de governação.
Contudo, não rejeito a hipotese de que algumas "vontades" se conjuguem já, no sentido de reunir apoios e delinear estratégias que conduzam à formação dessa alternativa.
A situação da economia do país é insustentável, o Senhor Presidente da República, alerta agora na sua mensagem de ano novo, para o caminhar rápidamente para uma situação explusiva, apontando veementemente a necessidade de garantir o futuro.
O modelo actual de governação, não consegue encontrar no seu seio alternativa credível, capaz de motivar o interesse nacional de estabilidade parlamentar.
Relativamente ao que o caro Dr. Tavares Moreira aponta como capaz de inviabilizar "um" projecto de regionalização, porque sobrecarregaria mais ainda as finanças, não me parece que coubesse dentro de um projecto sério e determinado, pensado dentro de um espírito nacionalista, contrário ao actual espírito burocrático e partidarista.
O país tem de ser pensado de acordo com as suas potêncialidades nos diferentes sectores da economia, os modelos em uso nos paises estrangeiros, só nos podem servir para deles se poderem retirar ensinamentos que nos sirvam, que se adaptem à nossa realidade e não para serem seguidos "à risca", como se de uma cartilha se tratasse.
Mais uma vez lhe agradeço a atenção que se digna dispensar-me, caro Dr. Tavares Moreira.
Muito bem, caro Bartolomeu, comungamos pelo que vejo das mesmas dúvidas metafísicas em relação à Regionalização - embora no seu caso as dúvidas o levem a encarar o projecto com alguma boa-vontade e no meu caso com elevado pessimismo (porventura exagerado ou mesmo injustificado, mas confesso não ter encontrado até hoje argumentos para pensar doutro modo).
Mais uma vez, e dentro do espírito deste Post, o melhor será mesmo navegar à vista e ver no que param as modas...
Quanto à intervenção do PR, que por sinal não ouvi mas já ouvi alguns comentários, creio que se trata de uma importante embora difícil pedagogia no meio da trivial irresponsabilidade que nos comanda...
Um óptimo ano de 2010 para todos os que continuam a fazer deste blogue uma referência para quem preza a verdade, a lucidez e a coerência. Valores escassos neste primeira década do novo milénio.
Esperemos que nesta nova década em que entramos, as maiores preocupações sejam quem vai ser campeão no fim do ano!
Bom 2010 a todos!!!
Talvez não lhe chamasse dúvidas, caro Dr. Tavares Moreira. A metafísica, ou melhor, a ligação entre o que é físico e o que é espiritual, é algo que ecessitamos entender e praticar, tanto quanto possível.
É aliás aquilo que está implícito no sentido das palavras expressas pelo Senhor Presidente da República e é também, aquilo que instintivamente todos nós percebemos já que é preciso acontecer. Metafísica.
A experienciação daquilo que é inspirador e motivador, a experienciação daquilo que é o verdadeiro sentido da vida, o diálogo, a construção e a valorização do que é comum. A ponte entre a cultura, a ciência, a sociedade e o mundo.
Foram esses os "apelos" deixados pelo chefe da nação no seu discurso de ano novo.
E são sem sombra de dúvida estes aspectos que irão ditar a mudança e permitir atinjir a estabilidade, o progresso e a recuperação.
caros Tonibler e Ruben Correia,
Obrigadox2, retribuox2!
Quanto à metafísica que nos pode ajudar a entender a Regionalização, caro Bartolomeu, eu seria tentado, na falta de outros instrumentos de análise, a recorrer aos ensinamentos de Pascal e de Fermat que nos legaram abundante trabalho na pesquisa do provável desconhecido a partir de dados do presente, nomeadamente quanto à probabilidade de ganho ou de perda nos jogos de fortuna/azar..
E tenho a noção de que tanto Pascal como Fermat seriam capazes de avaliar a Regionalização como um daqueles jogos em que a perda será certa ou quase certa - à luz do que hoje se conhece sobre o tema, é evidente!
Compreendo que o recurso aos dois "matemáticos das probabilidades", seja uma brincadeira sua, caro Dr. Tavares Moreira, com muito sentido de humor, diga-se.
Nesta prespectiva, e numa tentativa de afinar pelo mesmo diapasão que como se sabe, é um instrumento que produz (se golpeado), a nota "la", resultado da vibração das duas hastes que o compõem, atrevo-me a recorrer à peça de Shakespear, Ricardo III.
No final da peça, decorre a batalha de Bosworth em 1485, e o rei agonizando, clama: "Um cavalo! Meu reino por um cavalo!".
Contráriamente ao que parece, Ricardo III (na peça de Shakespear), não está preocupado em fugir, mas sim, lembrou-se de como Dário conquistou o poder (fazendo o seu cavalo relinchar primeiro que o cavalo de Cambises).
E nesta tremenda balburdia em que nos é difícil vislumbrar espaço e vontade para a poesia do espiritual, porque o materialismo trava uma luta feroz na tentativa de conquistar todo o espaço só para si... não podemos socumbir e ceder à tentação de clamar, tal como Ricardo: «Meu reino por um cavalo!)
;)
Caro Bartolomeu,
Bela evocação histórica, essa da batalha de Bosworth que marcou o fim da dinastia dos Plantagenetas!
E que significou, pelo menos durante uns séculos, o triunfo do bem sobre o mal!
Será que a próxima batalha da Regionalização terá o mesmo significado histórico - o triunfo do bem, incarnado na salvífica Regionalização - sobre o "evil" do centralismo opressor?
Ou será uma daquelas batalhas em que todos vão perder, os de Lancaster e os de York?
Ora, caríssimo Dr. Tavares Moreira, sabe V. Exª. muitíssimo bem que o resultado de qualquer batalha, nunca é previsível, mesmo que à partida se verifique um significativo desequilíbrio de forças... aquilo que determina os vencedores é sim, a crença que as suas almas coloca na convicção com que defendem os seus ideais.
Como qualquer outra, esta é uma batalha que exige toda a determinação, convicção, respeito pelos adversários, honradez e humildade para ser ganha. Porque o seu resultado final tem de se traduzir em paz, harmonia, equilíbrio e cooperação.
;)
Mas que bela conclusão para este interessantíssimo diálogo de início de ano, caro Bartolomeu - os meus sinceros votos de um muito Bom Ano!
Faço meus, os seus votos, caro Dr. Tavares Moreira, extensivos a todos os que partilham de algum modo o "Quarta República"
Caro Tavares Moreira,
Acho de louvar o ponto 6., mas pergunto-me se nessa data já não terá a dívida pública ultrapassado 100% do PIB.
Quanto a Ota's e TGV's acho que o melhor mesmo é esperar que o Tribunal de Contas vá atrasando essas loucuras com o chumbo por vícios formais e afins.
Quanto à regionalização, e intrometendo-me na discussão entre si e Bartolomeu, comungo da sua opinião. Acho que poderia ser interessante se se conseguisse "desmantelar" e desburocratizar a Administração Central, o que não me parece de todo crível, visto que os que lá estão não aceitariam perder o lugar para outros...
Caro André, perdoe-me a falta de entendimento quanto ao final do seu comentário. Diz o meu amigo que corrobora uma opinião, deduzo que se refira à opinião do caro Dr. T M. Contudo, "acha" que seria interessante desmantelar"-se" a Administração Central e, consequentemente transformar o Parlamentar, em regime Presidencial...
Pois... talvez seja esse o caminho mais promissor para a nossa democracia, dado o estado em que a nossa justiça e o nosso Parlamento se encontram. E porque não reeditar as cortes à boa maneira de El-Rei Dom Dinis "o Lavrador"?!
Segundo nos reza a história, este foi o período mais profícuo de toda a monarquia e com um bocadinho de jeito, de toda a república...
;)
Caro Bartolomeu,
Eu refiro-me ao desmantelar do centralismo administrativo, não político, nem executivo. Referia-me ao facto de quem está nas direcções gerais em lisboa, perder o lugar, para as "futuras" direcções gerais das respectivas regiões.
Agora se se passar para a regionalização, julgo que faria sentido uma alteração do nosso modelo político que considero desactualizado. É um modelo que saíu numa altura de muita turbulência política e daí a necessidade de garantia política, duma interdependencia de poderes entre Gov e PR. Acho que faria sentido uma forma de governo à Americana, ou seja, o Presidente tem certas competências e outras carecem de aprovação por parte do Senado, julgo. Parece-me um sistema mais eficaz. Acho que era importante, acima de tudo, uma reforma política. Convém relembrar que tal só teria interesse, se se trocasse os actuais figurinos.
Caro Bartolomeu,
Eu refiro-me ao desmantelar do centralismo administrativo, não político, nem executivo. Referia-me ao facto de quem está nas direcções gerais em lisboa, perder o lugar, para as "futuras" direcções gerais das respectivas regiões.
Agora se se passar para a regionalização, julgo que faria sentido uma alteração do nosso modelo político que considero desactualizado. É um modelo que saíu numa altura de muita turbulência política e daí a necessidade de garantia política, duma interdependencia de poderes entre Gov e PR. Acho que faria sentido uma forma de governo à Americana, ou seja, o Presidente tem certas competências e outras carecem de aprovação por parte do Senado, julgo. Parece-me um sistema mais eficaz. Acho que era importante, acima de tudo, uma reforma política. Convém relembrar que tal só teria interesse, se se trocasse os actuais figurinos.
Caro André, considero que está a ser benevolente, ao separar poder administrativo, de poder político. Por essa ordem de ideias, vamos ter de admitir que os job's e os boys, nunca passaram de uma grande inventona.
Quanto à desactualização do nosso modelo político... bom, eu chamar-lhe-ia antes... oportunismo. Um oportunismo sempre assegurado pela doce maneira "portuga" de dividir porque... olhe, porque nunca se sabe o dia de amanhã e... porque o seguro morreu de velho... e porque não vá o diabo tecê-las... e porque se amanhã não chover, vai estar um dia lindo, e porque se a minha avó não tivesse falecido, ainda hoje seria viva, e mais um carradão de outras idiossincrasias que mais que nos esfarrapemos, nunca as iremos entender.
;)
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