"Eu vejo isto: há 20 anos eu recrutava uma secretária com o 12º ano, neste momento tenho que recrutar uma licenciada, porque quem me aparece com o 12º ano, infelizmente, já não está ao nível das necessidades... Temos um país mais ignorante do que há 20 ou 30 anos e o potencial de enriquecimento foi enfraquecido".
Peter Villax, em entrevista ao jornal i de hoje, 2 de setembro.
Aliás, uma excelentíssima entrevista.
Peter Villax é um grande empresário, Vice-Presidente da Hovione e filho dos fundadores. A Hovione é uma empresa de princípios activos farmacêuticos, tem sede em Portugal, factura 100 milhões de euros e tem fábricas em Portugal, Irlanda, EUA e China. Sabe do que fala. Considera ainda que o Instituto superior Técnico é uma das melhores escolas de engenharia do mundo: eu sei, diz, porque temos na Hovione engenheiros das melhores escolas do mundo.
Fora do mundo industrial mais avançado, dos meios muito bem informados e das escolas de engenharia alguém conhece Peter Villax? Alguma televisão ou rádio se interessa pelo que pensa e diz? Ou pelos que, como ele, poderiam influenciar decisivamente a maneira de pensar e agir e a cultura instalada? Claro que não: o lugar é sempre dado aos papagaios. Os mesmos de sempre.
Peter Villax, em entrevista ao jornal i de hoje, 2 de setembro.
Aliás, uma excelentíssima entrevista.
Peter Villax é um grande empresário, Vice-Presidente da Hovione e filho dos fundadores. A Hovione é uma empresa de princípios activos farmacêuticos, tem sede em Portugal, factura 100 milhões de euros e tem fábricas em Portugal, Irlanda, EUA e China. Sabe do que fala. Considera ainda que o Instituto superior Técnico é uma das melhores escolas de engenharia do mundo: eu sei, diz, porque temos na Hovione engenheiros das melhores escolas do mundo.
Fora do mundo industrial mais avançado, dos meios muito bem informados e das escolas de engenharia alguém conhece Peter Villax? Alguma televisão ou rádio se interessa pelo que pensa e diz? Ou pelos que, como ele, poderiam influenciar decisivamente a maneira de pensar e agir e a cultura instalada? Claro que não: o lugar é sempre dado aos papagaios. Os mesmos de sempre.
10 comentários:
Não será tanto assim.
Se quisermos comparar um jovem com o Secundário, hoje e de há 30 anos, não haverá dúvidas.
Mas a verdade é que se encontra hoje, três vezes mais jovens com o 12º Ano do que há 30 anos, quando lá chegavam apenas, os jovens das elites nacionais.
Ou seja, menos do que aqueles, que agora, se licenciam.
E as necessidades, hoje, são outras...
Caro Gonçalo:
Relativamente ao seu comentário, gostaria de focar dois ou três pontos:
1. O essencial que queria transmitir é que há muita gente neste país, empresários e homens e mulheres de outras actividades, que mereciam ser ouvidos. Gente que investe, arrisca e cria riqueza e emprego. E cuja opinião ajudaria a alterar radicalmente a cultura instalada que tem permitido que os governos nos tenham conduzido a esta apagada e vil tristeza. Mais ainda, que tenha permitido que uma grande parte das pessoas ainda não tenha compreendido o buraco em que estamos metidos. E que, por isso, só pensam em o alargar e tornar mais fundo. Todos os dias estão nas televisões.
2.Não percebo por que razão apresenta o argumento de que agora há duas ou três vezes mais jovens com o 12º ano do que há anos atrás para justificar o motivo da sua má preparação. É que também há duas ou três vezes mais escolas e duas ou três vezes mais professores, com condições que não havia. Assim, o grau de preparação até devia ser maior. A razão é portanto, outra. Está no "experimentalismo" à solta do M.Educação, na falta de organização, no facilitismo, na política de deixar passar, por razões estatísticas, na abolição do conceito de reprovação, etc, etc., num nunca mais acabar de razões, algumas verdadeiros crimes só puníveis com prisão.
3. Diz que há 30 anos só chegavam às escolas apenas os jovens das elites nacionais. É um mito que a propaganda e a desinfizeram verdade. Falsa. Há trinta ou quarenta anos chegavam ao ensino secundário filhos de gente humilde, de pequenos comerciantes e agricultores, de funcionários públicos modestos, de assalariados e empregados que se sacrificavam para que os filhos pudesses estudar.E estes estudavam, até como forma de fugir à vida difícil dos pais. Claro que hoje o acesso é fácil. Ainda bem que o ensino se democratizou. Mas dizer que antes só as elites tinham acesso ao ensino é uma ofensa para milhares e milhares e milhares de portugueses que se sacrificaram para que os filhos pudessem estudar.
4. E então a sua conclusão de que as necessidades de hoje são outras, não a consigo perceber no contexto. Pois claro que são. São outras e mais exigentes. Por isso, a escola tem que acompanhar as exigência. Infelizmente, não tem.
Prepara de mal e pior.
Felizmente que vieram os rankings das escolas e os pais já começam a procurar as escolas melhores. Talvez comece por aí a alteração e a exigência.
Uma gralha poderia levar à não compreensão do primeiro e segundo período do ponto 3. Aqui vai a redacção correcta:
...3. "Dz que há 30 anos só chegavam às escolas apenas os jovens das elites nacionais. É um mito que a propaganda e a desinformação fizeram verdade".
Caro Pinho Cardão,
Concordo inteiramente consigo. São estas pessoas que devemos ouvir e não os habituais tudólogos.
Esta ideia de que hoje se imprimem mais certificados do que há 30 anos é de lamentar... e é de lamentar pelas razões apontadas por si. Enfim...
Dr.Pinho Cardão:
Li com toda a atenção não só o seu comentário inicial, mas sobretudo a resposta que se dignou transmitir ao sr.Gonçalo!
Esta sua resposta é um autêntico compêndio sobre o que tem acontecido no País do 25A!
Para além dos valores que se perderam,a quase todos os níveis,mas sobretudo morais,assistiu-se e há-de continuar a assistir-se por muitos anos,ao verdadeiro regabofe em que se transformou o ensino!
Eu próprio poderei ser incluido no número de alunos que não tinham grandes posses para me instruir,mas consegui-o com o sacrifício dos meus Pais mas também com aquela vontade indómita que me fazia ver que TINHA DE FAZER TUDO para ser alguém!E consegui-o!
Este facilitismo,estas reivindicações por vezes absurdas,esta falta de preparação a nível de docentes,enfim esta constante série de tropelias com que o ensino se vem degradando não sei se algum dia conseguirá ser revertido:vamos julgar que o prof.Nuno Crato as coisas vão entrar nos eixos!Se também ele falhar,então talvez seja melhor fechar as portas e deixar tudo entregue ao sr.Nogueira do PCP:ele,sim,um ilustre continuador do Arnaldo Matos,que tantos conhecimentos transmitiu à classe operária,que até conseguiu desaparecer sem deixar rasto nem saudade!
Por último,e quanto aos "sabichões"papagaios televisivos:essa gente,sábios de tantas áreas,são mais uma das pragas a abolir!Claro que só os vê e ouve quem quer,mas às vezes é difícil livrar-nos deles!E ainda são pagos para nos "chatear"!
Cumprimentos
Albérico Lopes
Queria dizer:"LIVRAR-MO-NOS"
Caro Fartinho da Silva:
Acontece que os chamados "grandes jornalistas" das rádios e televisões, os grandes entrevistadores são os mesmos de há muitos anos. Gera-se assim um tráfego de influências notório com os mesmos interlocutores. Aliás, é mais cómodo e frutuoso para os jornsalistas chamar quem já conhecem de há muito do que prepararem-se para novos intervenientes. Além do que, pensam, dá mais prestígio entrevistar um político do que um empresário. Este pode pôr a economia a funcionar e dar emprego, mas pode ser incómodo e subverter o jornalisticamente correcto.
Caro Albérico Lopes:
Obrigado pelo que referiu a propósito do post. E também por ter confirmado o seu conteúdo. De facto, há ideias feitas mercê da propaganda constante, e muitos nem se dão conta de questionar a argumentação utilizada. É um dos efeitos da propaganda: às tantas aceita-se passivamente e sem questionar o que é dito e o repetido torna-se verdade absoluta. E então no ensino este fenómeno é constante.
Primeiro, concordar que ninguém que trabalhe neste país é interessante para a política, a não ser que pague. Como o senhor em causa vende química e não precisa do estado para nada, passa a não ser interessante para a aristocracia nacional.
Segundo, defender um pouco o argumento do Gonçalo. Quem se dedique a tempo inteiro a recrutamento poderá explicar isto melhor que eu, mas aquilo que se pode dizer do IST é que a formação lá dada é igual a qualquer sítio do mundo, seja esse sítio no Massachussets, seja em Aveiro. Aquilo que difere o MIT, do IST, de Aveiro é que, à entrada, os do MIT já eram melhores que os do IST e estes que os de Aveiro. Em média, claro. A escola a este nível já tem um importância muito limitada na qualidade das pessoas enquanto profissionais. Da mesma forma, podemos questionar que qualidade profssiosinal de quem hoje fica no 12 ano, atendendo que toda a gente vai para a universidade.
Por outras palavras, a escola não altera a distribuição relativa das pessoas, apenas faz uma transalaçao para cima.
"deviam ser ouvidos"
Perfeitamente de acordo.
Ou "lidos", caso de um artigo na revista de hoje do DN.
Sobre a escola na Finlândia.
E não é que por lá, com o sucesso atingido, não há "sistema de avaliação" dos professores?
Haverá outras coisas, que por aqui rareiam.
Conheço Peter Villax e juro que continuo impressionado com a recepção positiva a esta entrevista pela blogosfera. Como conheço várias das pessoas que la´trabalham(ex-colegas de curso, ex-colaboradores,outros que conheci por cruzamento na vida profissional), não irei como é óbvio, colocar o dedo nas feridas da Hovione(que provavelmente deixaria alguns de vós de pé atrás em relação aos desgarrados elogios que por aqui surgem). Mas posso referir o seguinte:
-Peter Villax é inteligente o suficiente para numa entrevista deste tipo, deixar pequenas migalhas de elogio a certas entidades, com outros objectivos para além de saciar a mera curiosidade jornalística e o impacto no leitor; posso também referir que a escola de engenharia que Peter Villax prefere para os seus engenheiros não é aquela que ele menciona na entrevista, mas há outros interesses envolvidos e mais não irei referir aqui.
-A sua franqueza é obviamente necessária à nossa sociedade, mas tenham em atenção as suas referências à China e à India, bem mais importantes do que a conversa sobre as competências das secretarias actuais(que aliás, é uma queixa de quase todos os empresários que conheço)
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