Adquiri num leilão uma obra de Maurícia Máxima da Conceição Cardoso de Figueiredo, natural de Carragosela, Espariz, Tábua, “Leonor Telles ou O Feiticeiro de São João de Areias”. Um belo romance histórico onde, a par dos factos e acontecimentos históricos de Portugal da altura, devidamente descritos, se soma a lenda do anão Helbo. Helbo, o feiticeiro que vivia numa gruta, era procurado pelas suas capacidades divinatórias, um profundo conhecedor dos segredos humanos.
A mistura da história e da lenda cria uma atmosfera que apraz registar. A história é factual, mas o facto de transferir para Santa Comba Dão, Cancela, Guarita, Rojão Grande e, sobretudo, São João de Areias, a presença da rainha, do seu amante, Conde Andeiro, Mestre de Aviz e muitas outras personalidades, com as respetivas análises psicológicas e sociológicas, quais viagens ao fundo das suas almas e personalidade, transformam o livro num encanto único. Conhecer a riqueza espiritual e a profundidade dos sentimentos e emoções inerentes aos seres humanos, com os seus desejos, medos, ambições, amores, traições e atos de coragem, bravura e de nobreza enriquecem qualquer leitor.
A arqueologia lendária é tão importante como os factos e documentação histórica. Conhecer e acompanhar a narrativa de Maurícia de Figueiredo, escritora praticamente desconhecida, enriquece qualquer um que conheça estas paragens. Conheço-as bem. Adoro ser transportado nas ondas da realidade e da fantasia. Tão bela obra deveria ser conhecida, pelo menos das gentes da nossa terra, desde os mais novos até aos mais velhos, poços de sabedoria e fontes de lendas, que não podem e nem devem ser esquecidas. Quanto aos que ainda não nasceram - também devemos “recordá-los” -, deverão ter um dia acesso a esta e outras obras semelhantes, porque a personalidade e a dignidade de um ser constroem-se com estas leituras deliciosas.
Coloco aqui um desafio ao Senhor Presidente da Câmara Municipal de Santa Comba Dão, Presidentes das Juntas de Freguesia de São João de Areias, de Espariz e autoridades municipais de Tábua para procederem a uma edição “fac-símile” desta obra a fim de enriquecer a cultura e o património da região. Estou certo dos efeitos culturais e enriquecimento da alma de muitos, além de homenagear a escritora cujo centenário da morte se comemora em agosto de 2023.
Contar e absorver as lendas é uma forma superior de ver e sentir o mundo, e se tais ficarem registadas melhor ainda. Uma representação de Helbo enriqueceria a terra, ajudando a perpetuar a lenda...
“Helbo era horrivelmente feio. Não teria mais de oitenta centímetros. A cabeça descomunal firmava-se por um prodígio de equilíbrio sobre os tortos ombros. Boca contraída numa expressão de amargura, olhos pequenos que despendiam relâmpagos, cabelos semelhando espinhos, barba quase até à cintura … No entanto, toda a sua pessoa possuía um cunho nato de distinção e nobreza. Dir-se-ia um rei”.
1 comentário:
Boa tarde! Sou de São João de areias e queria muito encontrar esse livro mas não tenho conseguido... Sabe de mais algum exemplar?
Grato
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