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terça-feira, 4 de setembro de 2007

Andamos, realmente, a brincar com o fogo...

O Parque Natural da Arrábida constitui um excepcional património natural, pela sua riqueza em fauna e em vegetação. A Serra da Arrábida é uma extraordinária componente natural de grande valor paisagístico, encenando panorâmicas de grande beleza natural e de secular humanização. É um local simplesmente maravilhoso!
Foi hoje notícia que o sistema de vigilância do Parque Natural da Arrábida, criado em 2003 para prevenir os incêndios e garantir a manutenção da área protegida, está desactivado desde Maio devido a avaria em nove das dez câmaras de vídeo. Sim, o sistema tem estado avariado, justamente, no período do ano em que o risco de incêndio é mais elevado.
Este sistema de vigilância custou aos cofres do Estado, isto é, aos contribuintes, 900.000 €; um investimento justificado pela importância de que se reveste o sistema na conservação e protecção da reserva natural que é o Parque Natural da Arrábida.
Como é que se pode admitir que o sistema esteja completamente inoperacional? Porque é que as avarias não foram reparadas? Como é que se entende que o Ministério do Ambiente necessite de quatro meses para fazer um levantamento das necessidades de reparação e dos correspondentes custos? Ou será que não há orçamento para realizar uma despesa que ronda, segundo a notícia, 40.000 €? Ou será que não há responsáveis?
O Ministério do Ambiente vem agora explicar, depois de questionado sobre esta confrangedora situação, que “já estão previstas medidas a ser implementadas de imediato, como a reparação do equipamento e a avaliação da situação em conjunto com as várias entidades envolvidas”. Afinal, ainda há mais avaliações para fazer!?
Tivemos sorte este ano com o Parque Natural da Arrábida que foi poupado a novos incêndios. Mas não foi obra do sistema de vigilância! Mas se tivesse acontecido, quem seria responsabilizado? Andamos, realmente, a brincar com o fogo...

10 comentários:

antoniodasiscas disse...

Cara Margarida
É só desgraças. Neste caso até tivemos uma sorte danada por não se ter que gerir posteriormente,a irresponsabilidade intolerável de quem liderou esta situação, ao ponto de nos expor, dadas as ímpares características da Arrábida, a um desastre irreparável ; pelos vistos não bastou aquele verificado há uns anos atrás ; o São Pedro lá se condoeu e resolveu por-nos a mão por baixo. Só que ele deve fatalmente estar fartinho de aturar as nossas imcompetências e as nossas incapacidades bem patentes. Mas o pior ainda da história, é agora o facto, nada vi a este respeito no comunicado do ministério do ambiente, de não se ter sequer feito uma referência em ordem a se apurar a quem atribuir a responsabilidade de mais este excelente acto de gestão pública, que é evidente, vai ficar apenas no mapa das nossas recordações tristes, onde por falarmos em fogos, se integra admiravelmente a gestão dos "aviões salvadores". Defendam-se os funcionários do Estado quando tal for pertinente e justo, mas castiguem-se quando por incúria e desleixo, põem em perigo o património nacional e os objectivos básicos do país.

Unknown disse...

Responsáveis há-de haver, com certeza, mais que não seja em termos formais. O problema é q esses responsáveis, provavelmente, entendem que o trabalho -de prevenir atempadamente a reparação do sistema de vídeo-vigilância da Arrábida-, é um trabalho anónimo, sem valor.
Agora, a hipótese da serra virar em cenário dantesco, e nesse cenário dar no prime time das tvs palpites , isso sim é trabalho!

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Caro antoniodasiscas
Qualquer dia S. Pedro zanga-se a sério. Nem Santo Antoninho nos vai valer!
Quantos casos deste género não estarão por aí em cima das mesas da burocracia da administração pública?
E quanto ao apuramento de responsabilidades estamos conversados. A culpa neste País já se habitou a morrer solteira!

Tonibler disse...

Estamos a ser injustos com os serviços. Sabe-se que há dez câmaras, 9 estão avariadas, mas ainda não se fez a análise de quantas estão a funcionar....

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Caro invisivel
É claro que há responsáveis mas como sempre dá jeito apontar o dedo ao Estado. E pronto, é o suficiente. A culpa é de todos e não é de ninguém. É uma lógica que tem prejudicado muitíssimo a imagem do Estado. Não é por acaso que depois aparecem os rótulos de incúria e de desleixo.
No caso dos incêndios que têm martirizado as nossas florestas, ainda não nos convencemos que temos que efectivamente pôr "trancas à porta"...Parece que a dose ainda não foi suficiente!?

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Caro Tonibler
Trata-se de uma avaliação muito complexa. Há pelo menos seis verificações a fazer e com um grau de dificuldade que não é desprezível:
1+9=10
9+1=10
1=10-9
9=10-1
10=10
9=9
Temos que ter paciência...

Anónimo disse...

Margarida, o caso que refere é exemplo de incompetência pura. Não sei se dos Serviços porque não estou certo que não tenham feito tudo ao seu alcance para resolver o problema. Mas seguramente das tutelas que deixam os parques e reservas da nossa rede nacional de áreas protegidas ao mais completo abandono.
A Arrábida é um bom exemplo da ausência de política activa de conservação da natureza, mesmo aquela que é mais facil de estruturar porque efectivada num território protegido e dedicado à protecção de valores naturais já identificados e caracterizados em função da sua relevância.
Não é um mal recente. Tempos houve, não muito longinquos, em que a direcção deste mesmo Parque Natural não tinha recursos para cumprir as suas próprias decisões de demolição das construções clandestinas - algumas de gente ilustre que se foi ao longo do tempo convencendo da sua imunidade - apesar de essas decisões terem sido confirmadas pelos tribunais.
O ambiente, muito em especial a protecção da biodiversidade, são, hoje em dia os parentes pobres das políticas, apesar do discurso político poder dar a ilusão do contrário.
A triste realidade é que o ambiente só adquire relevo quando é invocado para obstar a que se faça, a que se realize, para limitar e condicionar. Acções positivas, essas, são consideradas uma deseconomia e nos tempos que correm o Estado não pode cometer esses "desperdícios"~que são luxos de países ricos...
Neste quadro assumido sem qualquer problema por um governo onde deliberadamente se pretendeu que não existisse politicamente um ministro do ambiente (o Primeiro-Ministro sabe por experiência própria como seria penoso ter um ministro do ambiente politicamente vivo...), só aos incautos ou distraídos espanta este caso das câmaras de vigilância, virtuais como tudo neste domínio da protecção ambiental.
Quando acontecer a tragédia, lá lamentaremos todos a ausência de medidas. E então sim, tudo de candeia em punho à procura do responsável, normalmente o antigo director do Parque que se esqueceu de levar à proposta de orçamento a verba para a manutenção. Sem que seja sindicável a razão porque se "esqueceu" porque os "cortes" orçamentais são cegos e dirigidos a funcionários que têm de se fazer "surdos" à vontade tutelar...
Invocar-se-á então o velho brocardo que nos diz que Santa Bárbara só é lembrada com o ribombar dos trovões. Até os sentirmos, de facto ninguém se lembra da santa.
Se se quisesse ir mais longe na constatação do estado lamentável a que se chegou nestes domínios, bastaria olhar para a situação das casas da natureza e outras instalações a cargo do agora rebaptizado ICNB.
Enfim, um caldo de incompetência, desleixo mas sobretudo desconsideração POLITICA por valores que, estou convencido, nada dizem a quem com eles enche a boca nas intervenções públicas. Ou documentos estratégicos que, como se vê pela prática, são importantíssimos como por exemplo, a recentemente aprovada Estratégia Nacional para o Desenvolvimento Sustentável ou o PNPOT - Programa Nacional de Política de Ordenamento do Território.
Poderia existir em Portugal uma lógica saudável de contrapoder que alertasse para a inconsequência do programa político do poder instalado. A começar pela Oposição. Essa Oposição mais entretida com a qualidade do ambiente doméstico, que vai literalmente assobiando para os passarinhos. Como é próprio, tratando-se de conservação da natureza...

Virus disse...

Mas estão-se todos a queixar do quê?

Acabámos de passar o mês de Agosto!!!... Mas alguém trabalha em Agosto??? E dos que ficam a trabalhar alguém TRABALHA a sério, ou apenas "trabalham" a sério?

Como eu costumo dizer quem quer ter dois meses de férias por ano (a generalidade das pessoas, note-se) fica a "trabalhar" em Agosto e tira um mês de férias noutra altura do ano.

Aquilo que toda a gente chama de "silly season" eu chamo mais de HUP (Highly Unproductive Season)! O Highly é porque os restantes meses do ano só os classifico como Unproductive Season!

É que não se consegue fazer nada em Agosto, excepto ir tratar de assuntos que impliquem em época normal ir fazer filas para a Segurança Social, para as Finanças ou para qualquer outro serviço do Estado (e é só porque os obrigam a estar abertos, caso contrário também fechavam).

Virus disse...

Senão vejamos, só por curiosidade, quem (fora eu, que não tirei) aqui não tirou sequer um dia de férias em Agosto?

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

José Mário
É verdade, vai uma grande distância entre o discurso político, carregado de valores que fazem a apologia do ambiente, e a concretização de políticas activas de defesa e protecção do ambiente. Julgo que todos estaremos de acordo que o que se tem feito em matéria do ordenamento do território, que não sei se bem mas que me habituei a incluir na área do ambiente, é uma verdadeiro atentado.
Nunca deixo de dar o exemplo chocante do que se passa com a zona de praias, já lá vão pelo menos três décadas, que confina com o amontoado urbanístico que é a vila (já será cidade?) da Costa da Caparica. É o desordenamento do território, é a devastação da paisagem, é a degradação das praias, é o abandono das falésias e por aí fora. Como é que é possível?
Não me recordo que perante tragédias ambientais – quem não se recorda do incêndio que o ano passado lavrou no Parque Natural Peneda Gerês – tenham sido apuradas oficilmente as causas e apontados os responsáveis, para já não questionar se houve consequências?
O que podemos constatar é realmente um grande défice de cultura de defesa do ambiente e de sensibilidade para preservar e valorizar a natureza. É um mal que está generalizado.

Caro Virus
O Ministério do Ambiente está em "silly season" desde Maio! Só Agosto é pouco!
Já há muitas empresas que estão a encerrar as portas nos meses de Julho/Agosto. Há menos movimento e não compensa que fiquem alguns a "trabalhar". É uma solução. Mas não para os serviços públicos. Se não, lá se vai o mês em que quem não "trabalha" e não vai de férias não pode tratar das burocracias sem "os nervos à flor da pele"!