Número total de visualizações de páginas

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Crise financeira: implicações mais sérias (II)

Admito que alguns leitores mais generosos como Pinho Cardão ainda se recordem do POST que aqui editei há precisamente uma semana com este mesmo título.
Pois bem, o FED baixou a sua taxa principal em 0,5%, a 18 do corrente, como nesse POST era previsto.
E agora o USD está em queda acentuada, um dos riscos assinalados nesse mesmo texto, à boleia de Martin Wolf colunista habitual do Financial Times: encontra-se ao nível mais baixo de sempre em relação ao Euro, valendo 1€ quase 1,41 USD a esta hora.
Tenho a percepção de que os mercados esperam novas descidas de taxas nos USA com o objectivo de manter a economia americana a flutuar, contrariando os efeitos recessivos da crise generalizada e profunda do mercado imobiliário.
Por isso a quebra acentuada do câmbio USD/€, uma vez que na Europa não existem (para já) quaisquer sinais de que o BCE possa seguir o FED: bem pelo contrário, o que o BCE ainda tem em agenda é uma possível subida das taxas em Outubro – hipótese inverosímil nas actuais circunstâncias.
Creio mesmo que o BCE terá de se preparar para uma inversão de marcha pois começam a multiplicar-se os indicadores de desaceleração da economia europeia e os próprios governos de alguns países já admitiram essa desaceleração em 2007 e em 2008 sobretudo (com excepção da “economia de aço” lusa, pois claro).
Curiosamente o Secretario Geral da OCDE acaba de declarar que uma eventual descida das taxas do BCE "iria na boa direcção"...Calculo a aflição que este statement estará causando em Frankfurt por esta hora...
Entretanto, a acentuada descida do USD pode suscitar problemas tais como a subida das taxas de longo prazo das dívidas americanas, que não dependem do FED, contrariando os efeitos pretendidos, por exemplo encarecendo os custos de investimento e exigindo retornos (TIR) mais elevados dos novos projectos.
Mas não só: uma quebra mais acentuada do USD reflectir-se-á num abrandamento das exportações da zona Euro, contribuindo para reduzir as perspectivas de crescimento dos países membros (sempre com a notável excepção acima referida)
Em suma, tal como terminei o POST de há uma semana, um tema apaixonante a justificar atenção permanente.

5 comentários:

Tonibler disse...

A economia portuguesa vai ser claramente favorecida por esta conjuntura uma vez que o combustível de avião e o alcatrão para pistas de aviação, ambos derivados do petróleo que é pago em USD, fica mais barato e o aeroporto da OTA, o verdadeiro garante do nosso bem-estar, vai ser ainda mais benéfico para todos nós. Ou pelo menos em alguns lares, poucos..

Tavares Moreira disse...

Lapidar comentário Tonibler, perfeitamente no seu estilo iconoclástico que muita falta faz!
O único problema, no modelo que sustenta e ao qual adiro sem dificuldade - é o presumível adiamento da cerimónia de lançamento da 1ªpedra/estaca de brita por causa da inexplicável teimosia de Gordon Brown (na esteira do seu inspirador Tony)em se deslocar a Portugal com receio da sombra do grande estadista africano sem cuja presença aquela cerimónia não pode ter lugar...

Pinho Cardão disse...

Pois é, caro TMoreira, tal como no comentário ao post anterior, cá estou de novo a pedir ao meu amigo o acompanhamento da situação, para boa ilustração do pessoal aqui do o 4R.
E agora com redobrado empenho e interesse, face à qualidade desta segunda análise!...

André Tavares Moreira disse...

Como já afirmei, uma descida para os 3,44% não seria mau de todo.
Quanto à prestação da economia Europia começa a ficar cada vez mais deficitárias, devido ao alto preço do euro e subsquente agravamento das condições de exportação.
Aproveito também para aconselhar a compra o livro "o Dever da Verdade" do prof. doutor medina carreira.

Suadações republicanas

Tavares Moreira disse...

Obrigado pela sugestão, caro André All-garvio.
Irei certamente adquirir o livro de Medina Carreira, uma das vozes mais lúcidas e independentes que ainda é possível ouvir (muito pouco, cada vez menos, infelizmente) entre nós.