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segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Acertar o passo - I

Um partido com vocação de poder, regressado inesperadamente á oposição, demora a encontrar o rumo e a acertar o passo.
Só um cego intelectual é que teimará em negar que o PSD é no presente vítima da ousadia de Sócrates que, contrariando aqueles que o consideravam refém da velha esquerda republicana, não hesitou em empunhar algumas das bandeiras neo-liberais e a fundamentar nelas as reformas que dois anos de poder em permanente sobressalto, o PSD não logrou levar à prática. Estou aliás em crer que o PS vai mais longe pelo menos na reforma do modelo social do que alguma vez PSD e CDS coligados se atreveriam a ir, mesmo que lhes fosse consentido terminar a legislatura...
Quer se queira quer se não queira reconhecê-lo, Sócrates retira espaço de manobra ao PSD.
Daí a dificuldade de encontrar o registo certo de oposição ao governo que em muitos dominios governa como gostaria de governar o PSD.
Entendo por isso a vontade que levou à eleição de Luis Filipe Menezes (LFM) como lider e a sua consagração (mais hesitante) pelo Congresso do passado fim de semana.
LFM fez passar uma mensagem simples a um partido ávido dela: é suposto que a oposição seja alternativa. Seja o contraponto das políticas do governo.
E, na verdade, é nesta dialéctica que assenta o melhor do regime democrático.
No entanto, para bem de quem está na oposição e quer sair dela, importa que perceba que não basta apresentar propostas supostamente novas ou avançar com rupturas aqui e ali. É necessário que as elites, os líderes de opinião e sobretudo os cidadãos reconheçam credibilidade (essa palavra tão estafada, que todavia é plena de significado) no que, com carácter inovatório, se propõe.
Crédito, em política, tem pressupostas duas condições.
A primeira condição é a de que só se deve avançar com propostas que tenham sido previamente pensadas. Que hajam sido ponderadas nas suas virtudes mas também nos problemas que possam potenciar e na sua real exequibilidade. Estudadas nos seus efeitos.
A nova liderança faria bem em observar Sócrates e perceber que as maiores dificuldades vêm justamente das promessas eleitorais fruto de ideias mal engendradas e medidas sonoras mas irreais.
Depois, é essencial que não sejam proposições desgarradas de um projecto alternativo de sociedade. Começando por serem alternativa à organização asfixiante da sociedade política, do Estado.
As propostas para a reforma do Estado não podem aparecer como arremessos pontuais resultantes de um qualquer espírito santo de orelha do momento, ou da converseta ao jantar onde à sobremesa surge a medida que parece irresistível de tão simpática.
As ideias novas terão de ser parte de um quadro estruturado de mudança. Se o não forem, não se distinguirão da demagogia reinante e a resposta inteligente do Povo continuará a ser, como tem sido, "para pior já basta assim!".
E quem, nessas circunstâncias, se atreve a condenar a sabedoria do Povo?

2 comentários:

invisivel disse...

Excelente análise.

Todo o conteúdo do post é rico na análise real que faz da situação. No entanto, permita-me que realce a parte em que alerta para os pontos fracos de José Sócrates. É por aí mesmo que se deve avançar. Os ecos que chegam da pequeníssima contestação ao governo Sócrates parecem, realmente, ser só aqueles que se prendem com promessas não cumpridas. Os restantes ecos, não têm expressão: são pequenos desabafos que, pelos vistos, os portugueses na generalidade não estão, neste momento, a valorizar.
Importava que este post fosse dado a conhecer a quem neste momento tem responsabilidades de encetar a difícil oposição a Sócrates. Não vai ser nada fácil. Mas as ideias singelas, às vezes são as melhores!
Li algures que Napoleão costumava dizer aos seus generais: «A um longo e difícil relatório, prefiro um esquema simples.»

Suzana Toscano disse...

Excelente síntese, sem dúvida.