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sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Previsão económica e Aposta não são a mesma coisa

Ouvi ontem uma declaração do novo Chanceler do Tesouro britânico, Alistair Darling, em pleno debate na Câmara dos Comuns, admitindo uma revisão em baixa, de 0,5 pontos, da última previsão de crescimento do PIB do Governo britânico para 2008.
Notei a forma tranquila e sensata dessa declaração: face a uma alteração mais desfavorável do cenário internacional e tendo em conta as novas previsões do FMI, o Governo achava prudente baixar a previsão de crescimento.
Apreciei essa declaração pela forma e também por ter sido produzida numa altura em que as sondagens são pouco favoráveis ao Labour, colocando-o bem abaixo dos Tories de David Cameron.
Chama-se a isto fazer política com seriedade e com sentido de responsabilidade, pensei com os meus “botões”.
E também com os meus “botões” não deixei de reflectir no contraste desta forma de fazer política com o que tem sido a postura dos responsáveis políticos em Portugal.
Em Portugal insiste-se em dizer que a economia vai crescer em 2008 mais do que a zona Euro, contrariando, de forma um tanto enigmática as previsões do FMI que apontam para Portugal uma taxa alguns pontos (0,3) abaixo da zona Euro: 1,8% contra 2,1%.
É claro que já admitiram um ligeiro recuo na previsão, que chegou a ser de 2,4% e agora está em 2,2%.
Mas, mesmo assim, não seria mais sensato e até mais conveniente para o Governo baixar um pouco as expectativas e poder mais tarde apresentar um resultado mais favorável?
Nas condições actuais, o Governo corre o risco, a pouco e pouco, ao longo de 2008, de baixar as suas previsões, sujeitando-se às habituais críticas de que promete muito e cumpre pouco.
Isto parece-me tanto mais razoável quanto é certo que o ritmo de crescimento em 2008, qualquer que ele seja, ficará a dever muito pouco à acção do Governo: se a economia crescer menos do que o "previsto" não será demérito deste Governo, são as circunstâncias externas que o determinam
Ao insistir numa meta porventura irrealizável, o Governo parece querer inculcar que ela depende, muito, da sua vontade, sujeitando-se obviamente a ser avaliado por isso.
É a diferença entre Previsão e Aposta: no Reino Unido faz-se previsão de crescimento; Portugal faz-se aposta no crescimento.
O mais curioso neste contexto é o facto de um dos mais atrevidos apostadores ser o próprio BdeP: como os tempos mudam! Porque será?

16 comentários:

André Tavares Moreira disse...

As ultimas atitudes do BP são, no mínimo, tristes. E reafirmo, é triste quando um Banco Central anda a reboque de previsões governamentais. É sabido que a promiscuidade política entre o Cozinheiro Chefe e o PM é grande, no entanto, um pouco mais de descernimento não ficaria mal a ambos.
É no minimo leviano lançar previsões optimistas numa altura em que as implicações da crise financeira não foram totalmente apreciadas no abrandamento económico. É cómica a disparidade de posições entre Constâncio e Alistair Darling.
O marketing politico não precisava desta jogada. Agora o Tratado de Lisboa vai dar muito que falar e veio em boa hora pa distrair do OE.

A 4Républica, no sentido lato do termo, fica à espera que um dia as contas apareçam tal e qual como deve ser. Sérias!

Saudações Republicanas

Tonibler disse...

Caro Tavares Moreira,

Os ingleses é que estão completamente errados. Senão vejamos, há provas de que o crescimento vai ser 1,8% como o FMI afirma? Não há! Eles têm a certeza absoluta que vão ser 1,8% de crescimento? Não têm!
Então o número do Ministro das Finanças, sendo incerto como odo FMI, é melhor que o número do FMI porque assim permite ao governo, no favorecimento do interesse público, aprofundar a intervenção do estado no crescimento económico que há muito está estrangulado à entrada do avião sem que, com isso, orçamente logo à partida um defice maior que aquele que pode. Os ingleses, burros, vão continuar a cavar o fosso em que se meteram.

O Banco de Portugal assume, também, uma atitude inteligente. Que iam falhar redondamente na previsão, isso parece não levantar dúvidas a ninguém. A questão que se coloca é se vão falhar com o governo contente ou com o governo descontente. Como lá para Novembro vão fazer uma previsão mais rigorosa sem ninguém se lembrar desta, o custo de ter um governo feliz é perto de zero.

Em resumo, para que é que interessa a previsão do FMI a quem não sabe o que fazer com ela?

Carlos Monteiro disse...

Caro Tavares Moreira,

Seria uma gesto sensato e um sinal de seriedade se o Governo fizesse isso, como diz. Agora não estou a ver a oposição a concordar e a referir que "sim senhor, o governo finalmente foi sensato e sério".

O meu caro está?...

Tavares Moreira disse...

Caro André,

Meu Amigo está cheio de energia! Pudera, com a sua juventude, irrequietismo intelectual, boa informação e o FCP a ganhar os jogos todos que outra coisa se poderia esperar?
Comentários sempre acutilantes e certeiros...

Caro Tonibler,

O Senhor é na verdade um espírito muito criativo...brilhantemente criativo, devo acrescentar! Agora essa do BP apresentar nos próximos 30 dias uma previsão desligada da Aposta é que não me convence, meu Caro.
Vamos continuar com a Aposta até que já não aguentam mais...e aí começa a Oposição aos gritos.

Caro C. Monteiro,

Como bem sabe, nada tenho a ver com a Oposição, estou totalmente desligado, por opção, da actividade político-partidária. Não posso, por isso, falar por essa Oposição.
Mas a questão não é essa meu Caro nem o papel da Oposição é reverenciar o Governo,sejamos claros!
A questão é que desta forma, como procurei demonstrar, é o próprio Governo que "se põe a jeito" para depois "levar pancada"...
Do que pode estar certo é de que uma eventual postura mais séria do Governo português - agora inviável admito - quanto a esta matéria, teria da minha parte reacção idêntica à que exprimi neste Post quanto ao Governo britânico.

Pinho Cardão disse...

Caro Tavares Moreira:
Começo por referir que o CMonteiro tem razão com o que diz da Oposição. Se o governo apontasse 1,8%, como prevê o FMI, a oposição falaria de falta de ambição; se o governo aponta 2,2%, a Oposição refere falta de realismo.Aliás, o meu amigo TMoreira recorda que, na anterior legislatura, o PS fazia bem pior. O PSD nessa matéria é um aprendiz. De qualquer forma, o caso só denota demagogia e falta de ética, mesmo da republicana. Governos e Oposições não são geralmente sérios nestas discussões e o resultado é a constante perda de prestígio dos políticos, que não sabem dar-se ao respeito,falando a verdade.
Ainda no que respeita ao crescimento do PIB, ele não poderia ser menor, face ao valor que o governo estabeleceu para o défice. As coisas estão trocadas, mas é assim: o governo estabelece o défice, calcula o aumento da despesa pública e da receita e depois é que chega aos valores do PIB que academicamente suportam o défice.
Se esse valor é 2,2% é simplesmente porque tem que ser!...
Se não for, a previsão continua certa, a realidade é que é torta!...

Tavares Moreira disse...

Pinho Cardão,

Totalmente de acordo quanto aos seus 3 últimos §§.
Não quanto ao primeiro.
É que a Oposição não teria quaisquer argumentos se o Governo adoptasse previsão idêntica à que é apontada pelo FMI...
Repare que nem a própria Oposição britânica, nesta altura cheia de força, questionou o Governo pela correcção feita...
Em qq caso eu entendo que não é esse tipo de reacção da Oposição que deve condicionar a sensatez das escolhas do Governo: é o Governo que tem a primazia de saber escolher com responsabilidade e seriedade.
Reapare que nas nossas posturas na AR, em 2002-2004, nunca mas nunca nos desviamos um centímetro sequer do que consideravamos a justeza das posições neste capítulo, não obstante a rematada e doentia demagogia do PS e a escassa sensibilidade de importantes sectores dentro da maioria da altura.

Carlos Monteiro disse...

Caro Dr. Tavares Moreira,

A intervenção do Dr. Pinho Cardão foi, como é hábito, mais profunda que a minha, e é nas palavras dele que me revejo quando abordei o assunto daquela forma. Eu não me referia a "esta" oposição, referia-me à oposição em abstracto tal como nos últimos 5 ou 6 anos a conhecemos.

Duvido que um governo que proceda como refere sobreviva em Portugal, e esse parece ser um facto irreversível. Infelizmente...

Num momento em que é moda dar como exemplo o sucesso dos países nórdicos, seria conveniente referir que esse sucesso muito deve a verdadeiros pactos de regime em relação a matérias fundamentais. Isso implica ficar "calado", e fazendo-o, provavelmente ficar de fora do poder por algum tempo.

Estarão os principais partidos dispostos a isso? O PSD (grande parte do PSD pelo menos), pelo líder que escolheu recentemente já mostrou que está disposto a quase tudo. Os outros do Governo? Fazem o que podem em sentido inverso!

Quanto a seriedade de ambos, a atitude parece ser o "depois logo se vê". E assim vamos andando...

Resumindo, temo que o meu caro esteja a ser um pouco "idealista" demais, se me não me leva a mal. Pessoalmente, acho bem!

Tavares Moreira disse...

Meu Caro C. Monteiro, não me parece, salvo melhor, que exista qq idealismo na m/ formulação.
Repare que a sugestão que faço até é de algum resguardo para o Governo...
Ao apostar, como sublinhei, é o Governo que toma a iniciativa de criar as condições que mais tarde se poderão voltar contra ele!
Eu sugiro apenas que o Governo não siga uma via de risco desnecessário...até por que o facto de a "previsão" ou "aposta" ser maior ou menor nada adianta quanto ao resultado final, só vai é contribuir mais ou menos para alimentar a querela política/politiqueira...
Quer mais seriedade ainda ou acha isto seriedade a mais?

Tonibler disse...

Caro Tavares Moreira,

A previsão do Banco de Portugal para o crescimento de 2008 que vais ser mais rigorosa será a de Novembro de 2008.

Camarada Monteiro,

Ter um governo que não assume um valor porque a oposição fala ou assume outro porque a oposição não fala é igual.
O governo tem um número para considerar, deve considerar aquele que serve o interesse nacional de acordo com a política sufragada. Para isto não é preciso pacto de regime nenhum.

Carlos Monteiro disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Carlos Monteiro disse...

Não é demais, claro que nunca é. Mas em política parece ser um defeito nos dias que correm. Mas talvez seja eu a ser pessimista e o que o meu caro diz possa realmente ter lugar e, melhor, colher frutos. Mas fica-me a ideia que é uma grande "abébia".

Camarada Toni,

Há números que não dependem da acção do governo, mas da conjuntura. Reconhecê-lo oficialmente, com seriedade, tal como o Dr. Tavares Moreira diz, sem que a oposição faça disso cavalo de batalha seria um "pacto". De regime ou não. Isto não existe aqui, mas pelos vistos existe em Inglaterra.

Fica já ali em cima a duas horas de viagem...

Rui Fonseca disse...

Caro Tavares Moreira,

Segundo julgo saber a questão que levanta neste seu "post" foi também colocada por jornalistas estrangeiros presentes na apresentação do Ministro das Finanças. Segundo li (Expresso- Nicolau Santos), o Ministro terá respondido que o FMI tem vindo a apresentar projecções sempre abaixo das apresentadas pelo governo português mas...acertando menos.

Nicolau Santos, comentando a resposta do Ministro dá razão ao Ministro. Eu não tenho dados para avaliar. Limito-me a comentar aqui aquilo que li.

Tonibler disse...

Camarada Monteiro,

É esse o meu ponto. Um governo que precisa de um pacto para assumir tal número se calhar não deveria ser governo. Para isso existem, em muitos países, estruturas técnicas independentes, como bancos centrais, que Portugal não tem. Ah, é verdade! Portugal tem, não tem?

Tavares Moreira disse...

Caro Rui Fonseca,

Sabe como Bagão Felix apelida, publicamente, N Santos? O "perguntista do regime". Sem mais comentários.

João Melo disse...

o "Perguntista do regime" é verdade. :D lol ....mas dr tavares moreira olhe q ele é comendador

Tavares Moreira disse...

Caro Menino Mau,

Diga-me se conhece alguém que não seja Comendador em Portugal?!
Até eu meu Caro, até eu, e com uma distinção honorífica bastante acima da de Comendador!
Um "perguntista do regime", na curiosa apelidação de B. Félix, não podia deixar de ter esse reconhecimento pelos altos serviços (perguntas) prestados ao regime...