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sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Sic transit gloria mundi

A vida às vezes é muito ingrata.
O americano James Watson, 79 anos, vencedor do Prêmio Nobel em Fisiologia e Medicina, em 1962, pela descoberta da estrutura do DNA, que levou à sequenciação do genoma humano, aposentou-se de chanceler de uma das principais instituições de pesquisa dos Estados Unidos, o Laboratório de Cold Spring Harbor, onde trabalhou mais de 40 anos
A sua saída de palco resultou do escândalo que provocaram as suas declarações a um jornal britânico onde, no âmbito de uma entrevista, disse que era pessimista em relação ao futuro de África porque “todas as nossas políticas sociais estão baseadas no facto de que a inteligência deles é a mesma que a nossa -- enquanto todos os testes dizem que isso não é verdade".
Esta lamentável história, e o seu epílogo, lembram-me um texto que li num livro (creio, sem certeza, que foi no “Livro do Riso e do Esquecimento”, de Milan Kundera) a propósito do efeito assassino da exposição da imagem, do modo como hoje é possível fixar, para sempre, um segundo desastrado, e fazê-lo apagar qualquer outro brilho que tenha existido.
Um notável cientista, coberto de glória mas já muito velho, deu uma última conferência. Estando no palco a falar, a incontinência urinária própria da idade atraiçoou-o e uma vergonhosa mancha escura começou a desenhar-se nas calças, a descer pelas pernas abaixo, distraindo a assistência e provocando risos. O fotógrafo não perdoou e, no dia seguinte, todos os jornais traziam o sábio com as calças urinadas. Só se falou disso, e uma vida inteira dedicada à ciência, centenas de livros publicados e milhões de homens que tinham beneficiado do seu trabalho e saber, passou para a posteridade pela mancha nas calças.
A vida, feita por nós todos, é muito ingrata. Sic transit gloria mundi, hoje, como sempre.

17 comentários:

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Suzana
Belísima reflexão sobre a vida!
A exposição da imagem é extremamente ingrata. A cegueira da ingratidão, cada vez com mais adeptos, é das coisas mais cruéis da vida.
Um pequeno deslize pode ser suficiente para se passar, pura e simplesmente, de bestial a besta! Somos autores e vítimas de nós próprios. Arrepiante injustiça!

Bartolomeu disse...

Verificamos cara Drª. Suzana que não só as pessoas de raça negra, possuem um Q.I. inferior, aquela gente que tanto se indignou e gerou o afastamento do nóbel James Watson, não lhe toma muito a dianteira, pelo contrário.
Sem que tenhamos feito testes, concluímos fácilmente que os Q.I. de cada um de nós variam de grau, algumas dessas variações, suspeito que com amplitudes bem acentuadas. Por exemplo, não tenho a menor dúvida que possuo um Q.I. muitíssimo inferior ao de Nelson Mandela, ou de Martin Luther King. Diz-se (não confirmei) que o inventor do belo semáforo era negro e que o verdadeiro pai da medicina, não foi Hipocrates, mas sim Imopet, um gênio negro que viveu dois mil anos antes do médico grego. Não ha como evitar as diferenças, que de tão naturais que são, se realçam ou esbatem naturalmente. O estranho é que pessoas com os 5 sentidos a funcionar não as consigam identificar, e quando alguem o conseguem fazer por elas, se escandalizem ao ponto de o considerarem um atentado à moral e aos direitos humanos, ou coisa que o valha. Atentado xenófobo, ou racista, é aquele que retira direitos humanos à pessoa de outra raça, o que no meu ponto de vista, não foi a intenção do cientista. Pelo contrário, ele apontou o dedo para a causa que origina um problema e estou mesmo convencido que a afirmação de James Watson se dirigia directamente aos governantes dos países africanos, que devido ao seu despotismo, ganância e megalomania, exploram o seu próprio povo reduzindo-o a uma miserável existência, enquanto eles se banham em riquezas.
Haverá contraste mais desumano?
Haverá dúvidas em relação à dimensão do Q.I. daquela gente?
Mas muito provávelmente, convém aos intelectualmente superiores ocidentais, crucificar James Watson.

invisivel disse...

Cara Drª Suzana Toscano:

O meu comentário vem já seguir...
«Sic transit gloria mundi» a uma sexta-feira é obra... Liguei para um lic. em direito (trabalha mesmo aqui ao lado,) e também ele não sabe latim! Bom , é natural, é da novíssima fornada, não precisou de aprender essas coisas!
Mas como sou bué curioso, e a bem do meu "crescimento", estou a endividar todos os esforços para "deglutir" tal título, para melhor construir o meu comentário!. Então até já!

:)))

invisivel disse...

PS
Onde digo endividar, digo que digo «envidar»

:)

Bartolomeu disse...

Caro Invisível, São Paulo, dirigindo-se aos Coríntios, disse-lhes... "se eu entender o que significam as palavras serei um bárbaro para aquele a quem falo e aquele que me fala será para mim um bárbaro.
Se oro numa língua que não entendo, meu coração ora, mas a minha inteligência não colhe fruto.
Não é que vossa acção não seja boa, mas os outros não se edificam com ela".
( Evangelho, S. Paulo, 1ª Epístula aos Coríntios, Cap. XIV, v. 11, 14 e 17 )
Logo... "A glória no mundo é transitória"
Sic...
;))))

Bartolomeu disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
invisivel disse...

Caro (prior!?)Bartolomeu...Aprecio a sua tão pronta disponibilidade ao partilhar desta forma desinteressada a sua sabedoria com esta pobre alminha que pelos vistos ainda está nas trevas. No entanto, devo confessar que os preliminares da explicação sobre o que significa o tal «Sic transit gloria mundi», me deixaram com outro problema : quem entendeu o discurso de Paulo?
Só me resta ir ao altar da «Senhora da Dúvida»!!!

Bartolomeu disse...

Boa opção caro Invisível! A penitência tem a propriedade lavar a alma e consta das escrituras o ensinamento que só os puros de alma e coração terão entrada no reino dos céus, portanto, caro invisível, resta-lhe ajoelhar... junto ao altar, pois como sabe... "A glória, no mundo, é passageira"

invisivel disse...

Caro Bartolomeu...há dias que não se deve estar ON!

antoniodasiscas disse...

Dra. Suzana Toscano
Raras vezes estou mais de acordo com o teor de textos que versam temas inressantes socialmente, como aquele abordado por si. N�o sei se ter� visto um c�lebre filme, suponho que de produ�o italiana, que se chamava Mundo C�o.
As hist�rias apresentadas, de arrepiar, assentam como uma luva,relativamente �queles que de uma forma vil e vergonhosa aproveitaram logo para tentar denegrir o cientista em causa, cuja envergadura � e ser� sempre imensa, dada a influ�ncia extremamente positiva que teve e ter� nas sociedades civilizadas. De resto, como n�o considero que o Professor Watson esteja " g�g�", muito gostava de saber a hist�ria desta "hist�ria" muito mal contada. � de rir!. Dos animais necr�fagos que por a� pululam, refiro-me em grande parte aos "distintos" jornalistas, ningu�m se lembrar� deles daqui a pouco tempo; fazem e far�o parte do lixo corrente.

Pinho Cardão disse...

Cara Suzana:
Já os latinos diziam que o homem é lobo do homem. E lanço mais uma acha para a fogueira.
Hoje, no Público, George Steiner, tido como um dos maiores pensadores contemporâneos, e que ontem pronunciou uma conferência na Gulbenkian, numa entrevista "lamentou que que James Watson tenha sido perseguido pelas suas opiniões, numa sociedade que afirma prezar a liberdade de expressão". E disse ainda: "Em Pisa, até lhe retiraram a medalha Galileu".

joshua disse...

É humano, Susana, e ninguém escapa ao mais impensável deslize, até porque nenhum saber, por mais insígne que seja, é imune a uma tacanhez bartolomeunesca, isto é, uma mediocridade ética, vingatividade e mau carácter. Há disso por demais, infelizmente.

Suzana Toscano disse...

Margarida, essa transição radical de que fala resulta da superficialidade com que se avalia tudo e todos, é a mania dos rótulos, a preguiça de pensar um pouco em vez de tirar logo conclusões, que é como quem diz, títulos bombásticos que aumentam as vendas. Que isso crie injustiças brutais e queime muita gente, interessa pouco. No caso concreto, as desastradas afirmações puxaram logo o rótulo racista, manda-se embora, tiram-se medalhas e títulos, fecha-se a porta na cara. Mas, certamente, não vão deixar de continuar a usar e a desenvolver todas as descobertas científicas do autor, não vão deitar fora a evolução científica e tecnológica de que o mundo todo pode beneficiar entretanto. Racista é o homem da entrevista, não o cientista a quem o mundo galardoou com o prémio Nobel e que trabalhou a vida inteira para obem da humanidade.
Caro Bartolomeu, é o problema das médias, quando se chega ao indivíduo as médias valem o que valem, por isso diz muito bem, racismo é discriminar em função dos grupos ou características de grupos, sem ver o indivíduo e aplicando médias sem apelo nem agravo. Racismo é cegueira, é preconceito, é atraso mental e desumanidade. Mas também é racismo ver racismo em tudo, usar o papão do racismo a torto e a direito é tornar-se por isso mesmo igual ao que se quer recusar.
Caro Invisível, o seu colega deve ser mesmo da nova geração, nós tínhamos latim no 6º e 7º anos e acho até que era disciplina nuclear, de que eu muito gostei, de resto. Diziam que era a matemática das letras, exige lógica na construção e organização do pensamento, além de ter que se saber gramática (na altura chamava-se gramática...)Mas esta era fácil, se o caro Invisível tivesse olhado bem a frase tinha decifrado, não tinha dado a oportunidade ao caro Bartolomeu de nos esmagar com a sua vasta sabedoria e capacidade de ilustrar o que escreve! Da próxima, lembro-me do latim á 4ª feira.
Caro Pinho Cardão, que pena tive de não ir à conferência, mas vi no jornal que G.S. declarou o ocidente decrépito, sem pensamento, sem arte, sem literatura, sem capacidade de inovar, agora é a vez da Índia, diz ele, a Europa “já foi”. Não gosto muito destas teses derrotistas, lembra-me o meu avô a dizer “o mundo caminha para um cataclismo”, não caminhou sempre? E afinal ainda cá está, e estará, mesmo que já não seja o que nós reconhecemos, com os nossos parâmetros.
Caro Antóniodasiscas, nao vi o filme, já ouvi falar, mas agora vou resolver essa lacuna, muito obrigada pela sugestão.
Caro Joshua, ninguém é perfeito, de facto, mas há uns mais perfeitos que outros, são os quenos habituámos a admirar e respeitar pelo muito mais que fizeram para além daquilo a que eram obrigados. Talvez por isso nos surpreenda quando os vemos imperfeitos, com deslizes que não gostaríamos de encontrar, mas devemos-lhes também uma segunda reflexão, o benefício da dúvida, ao menos, não podemos tratá-los como se fosse igual deitar para o lixo o que presta e o que não presta. Ao fazermos isso, ninuém sai a ganhar, perdem os que se ofenderam, porque ele não os ia atingir, e perdem os outros, os que estavam dispostos a fazer que não viam, porque a condenação não admite réplica. Ninguém sai a ganhar com estes extremismos, com estas hipersensibilidades, o mais certo, creio eu, é termos feito uma grande injustiça que não deixará de ser lembrada por todos os que, no futuro, ousarem ir além do que deve ser.

invisivel disse...

Cara Drª Suzana Toscano.
Posso ficar com a certeza que entendeu a minha intervenção como uma brincadeira de véspera de fim de semana? É que não me pordoava se, de algum modo, fui inconveniente!

Bartolomeu disse...

Idiossincrasia...
Caro Joshua, convidu-o a reflectir sobre o significado desta palavra.
Nada mais limitativo no ser humano que a falta de abertura de espírito, de ideias e de compreensão.
O seu comentário leva-me a inferir que considera a minha verborreia(Bartolomeunesca), uma doutrina, à qual só eu pertenço e da qual sou o sacerdote, o acólito... e o fervoroso devoto.
Idiossincrasia...
Diz-nos a nossa cara Suzana, de quem eu muito aprecio os textos, as ideias e a capacidade de comunicação, que se deverá SEMPRE "oferecer uma segunda oportunidade ou, benefício da dúvida. Não estou de acordo com este princípio. Não concordo com a sua opinião, pura e simplesmente, porque entendo que, para que pudesse estar de acordo, teria de ocupar uma posição superior aquela que o beneficiário do conceito ocupa e, isso, meu caro amigo, eu NÃO faço. A minha doutrina pessoal, baseia-se no princípio da igualdade e eu só evoluo se o Joshua, o Manuel, a Maria Rita, a Eleucádia da Silva e a restante humanidade evoluir comigo, e (ou) eu com eles.
O Zohar propõe que a alma humana possui três elementos, o nefesh, ruach, e neshamah. O nefesh é encontrado em todos os humanos e entra no corpo físico durante o nascimento. É a fonte da natureza fisica e psicológica do indivíduo. As próximas duas partes da alma não são implantadas durante o nascimento, mas são criadas lentamente com o passar do tempo; Seu desenvolvimento depende da ações e crenças do indivíduo. É dito que elas só existem por completo em pessoas espiritualmente despertas. Uma forma comum de explicar as três partes da alma é como mostrado a seguir:
• Nefesh - A parte inferior, ou animal, da alma. Está associada aos instintos e desejos corporais.
• Ruach - A alma mediana, o espírito. Ela contem as virtudes morais e a habilidade de distinguir o bem e o mal.
• Neshamah - A alma superior, ou super-alma. Essa separa o homem de todas as outras formas de vida. Está relacionada ao intelecto, e permite ao homem aproveitar e se beneficiar da pós-vida. Essa parte da alma é fornecida tanto para judeus quanto para não-judeus no nascimento. Ela permite ao indivíduo ter alguma conciência da existencia e presença de Deus.
Idiossincrasia... caro Joshua.

Suzana Toscano disse...

Caro invisível, até achei muita graça ao seu comentário...

invisivel disse...

Que alívio...