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quarta-feira, 28 de maio de 2008

10 anos de Euro - que futuro vamos escolher?

A propósito da passagem do 10º aniversário da criação da moeda única europeia, o conhecido articulista do Financial Times Martin Wolf apresenta hoje um breve mas muito interessante balanço da nova experiência monetária.
A primeira conclusão da sua análise é de que a zona Euro, constituindo um sucesso no plano da união monetária, de acordo com uma série de indicadores, do ponto de vista de uma união económica já o não é:
- O desempenho médio da zona durante este período, medido pelo crescimento do PIB, compara mal com o dos países que não quiseram aderir (Dinamarca, Suécia, Reino Unido) e também com o desempenho dos próprios países do Euro nos 10 anos antecedentes;
- A evolução da produtividade do trabalho tem sido insuficiente e o desemprego, embora um pouco mais baixo, continua muito elevado quando comparado a outras economias mais desenvolvidas.
Por outro lado, a zona Euro enfrenta neste momento enormes desafios.
Em primeiro lugar, acentuaram-se as divergências entre os países membros no tocante a níveis de inflação, custos unitários do trabalho e contas externas.
Em segundo lugar, a posição dos países chamados “periféricos”, em especial a Itália, Espanha, Portugal e Grécia, tornou-se mais vulnerável, enfrentando grandes dificuldades estruturais e cíclicas, alias estreitamente relacionadas.
A questão cíclica consiste em encontrar fontes alternativas de procura, agora que o boom do crédito está no fim e nada pode oferecer para estimular a economia.
Este problema é mais sensível em Espanha (e em Portugal, como bem sabemos).
Para ultrapassar este desafio é indispensável enormes melhorias na competitividade externa, esquecida por anos sucessivos de crescimento rápido do consumo interno estimulado pelo boom do crédito...que agora chegou ao fim e dele nada mais se pode esperar nos anos mais próximos.
A questão estrutural é bem mais complexa, implica ganhos de produtividade elevados para inverter o padrão de crescimento, em particular numa altura em que a valorização do Euro agudiza este problema.
Para ter algum sucesso, essa alteração de padrão de crescimento exigirá um esforço enorme de reformas, nomeadamente na redução da despesa pública improdutiva ou muito pouco produtiva.
No nosso caso o problema complica-se e muito com a ideia da promoção de grandes obras públicas nos próximos anos, consumindo recursos que não temos e agravando, em vez de favorecer, a evolução da competitividade externa.
Esse “programão” de obras públicas constitui, a meu ver, uma tentativa desesperada de prolongar um modelo de crescimento que não só produziu maus resultados como se mostra esgotado...iremos aguentar mais esse erro?
Com Martin Wolf, direi que é muito cedo para concluir quanto ao triunfo do Euro.
Esse triunfo só acontecerá se os problemas atrás identificados puderem ser resolvidos de forma eficaz, em tempo útil.
Mas esses problemas não são técnicos: exigem escolhas políticas muito difíceis, entre nós pavorosamente difíceis mesmo... Seremos capazes?
Que futuro vamos escolher?

17 comentários:

PA disse...

Então, mas diga-me, Dr. TM:

- O Programão de Obras Públicas não está já definido, decidido e aprovado ?

Se está, então o nosso futuro já está escolhido.

Ainda que mude de côr, o próximo executivo vai ter que cumprir, o Programão.

Não será ?
Pergunto porque estou sinceramente em dúvida.

Anónimo disse...

Muito pertinente a sua dúvida, Pezinhos N´Areia.
É que associados ao programão estão muitos recursos financeiros que nos vêm da UE, sendo a margem de mobilização para outros programas diminuta. Nessa medida, mesmo que exista uma vontade de mudar o padrão de desenvolvimento na próxima legislatura, seja por alteração política ou por alteração das políticas, não será fácil tomar a decisão de inverter as opções, correndo o risco de perder os últimos fundos comunitários.

Tavares Moreira disse...

Muito a propósito a sua questão, cara Pèzinhos, mesmo muito!
A única resposta que lhe posso dar consiste na percepção de que as decisões inerentes ao Programão foram tomadas de forma superiormente atabalhoada (vide a rocambolesca novela sobre a localização do aeroporto) e sem qualquer ponderação das suas (muito) nefastas consequências para o futuro desempenho da economia.
O Programão terá, se vier a ser implementado para mal de (quase) todos nós, um impacto devastador sobre o desempenho, já tão medíocre, da economia.
Os escassíssimos recursos que podemos ainda mobilizar serão dispenddos em projectos sem retorno, ou com retorno económico muito duvidoso e em qq caso só a muito longo prazo.
Impõe-se, nas próximas escolhas políticas que se aproximam, um debate fundamental sobre tema tão decisivo para o nosso futuro!

Tonibler disse...

O euro é um enorme triunfo. Isso é inquestionável. Agora, se Portugal consegue sobreviver, ou não, ao euro enquanto país independente, parece-me óbvio que não, pelo menos de forma pacífica.

O programão é apenas uma forma de venda do que resta, vão entrar uns dinheirinhos para estarmos distraídos em coisas sem valor nenhum da mesma forma que se manda dinheiro para a Madeira para andarem a fazer carnavais. Mas o país independente, isso foi-se.

Para aqueles mais patriotas, há sempre o recurso às armas...

Anónimo disse...

Tonibler, eu não sei se foi o país que se foi ou se é o Euro que se vai num futuro não particularmente longinquo. O futuro o dirá.

Tonibler disse...

Caro Zuricher,

Não tenho a menor dúvida que entre ser rico e espanhol e ser português e pobre, a escolha dos meus compatriotas será a primeira.

António de Almeida disse...

-Posso estar errado mas o Euro teve, tem, a meu ver uma enorme virtude, impossibilitar os governantes socialistas de desvalorizarem a moeda afundando ainda mais o país. Sendo eu um eurocéptico, apenas em matéria económica simpatizo com Bruxelas, tenho mais confiança no BCE do que no BdP, e não desdenharia a hipótese de ver um dia o ministério das finanças perder competências. Continuamos por cá demasiado amarrados a preconceitos e utopias.

André Tavares Moreira disse...

AS principais vantagens do euro foram circular com uma moeda única e a maior estabilidade das taxas de juro e inflação.

Por outro lado, os países com economias frágeis como é o caso de portugal, sofreram muito ao perderem esses mecanismos de abrandamento e de a aceleração.

Penso que o euro pode ser positivo para países com estruturas mais consolidadas.

Ruben Correia disse...

E que me dizem disto?

PA disse...

Tonibler !

Em Espanha também não está famoso...

Que pensa da Dinamarca, para um português se integrar ?

É pena ser frio, mas é um país que me anda a atrair muito.

Anthrax disse...

Permitam-me um desabafo... é impressionante a falta de capacidade de memória dos políticos no que toca à atenção aos sinais de alarme dados pela sociedade civil.

Na política, tanto nacional como internacional, há fenómenos cíclicos que são despoletados sempre que se verificam determinadas condições. Na origem da União Europeia esteve um mecanismo muito claro de contenção de dois Estados, mas atenção porque independentemente da evolução da organização e dos seus objectivos há coisas que nunca mudam e que de um momento para o outro podem pôr em causa algo que, à partida, até parecia sólido.

Nunca se esqueçam que às vezes há coisas que começam por motivos que parecem muito parvos. Por muita discussão que a ideia possa causar, o princípio dos ciclos de Kondratieff pode ser aplicado a outras coisas além da economia.

Rui Fonseca disse...

Caro Tavares Moreira,

O artigo de Martin Wolf e o seu suscitam muitas perspectivas de reflexão. Contenho-me em duas, de forma tão sucinta quanto possível:

- A perda de competitividade das exportações portuguesas causada pela valorização do euro;

- O euro é indispensável à União Europeia?

Quanto ao primeiro ponto, tem sido defendido por alguns (talvez muitos) que o euro é o grande responsável pela perda de competitividade das produções tradicionais portuguesas, nomeadamente as confecções e os têxteis.

Não pode negar-se que, até certo ponto, assim é. Mas é por demais evidente que seria preciso admitir uma desvalorização forte da nossa moeda de facturação para poder ajustar-se competitivamente do lado monetário à concorrência das economias chinesa e indiana, por exemplo.

E daqui passo ao segundo ponto.

Martin Wolf refere a Suécia, a Dinamarca, o Reino Unido que, aparentemente foram bem sucedidas por se manterem fora do sistema.
Ora, todos sabemos que as moedas desses países têm gravitado à volta do valor do euro. Nem poderia ser de outro modo. Uma desvalorização "competitiva" seria uma derrogação da eliminação das fronteiras alfandegárias entre os países membros.

Aliás, Martin Wolf poderia, mas não o fez, referir a Finlândia, um caso de sucesso dentro do euro.

Acredito muito convictamente que Portugal tem muito a ganhar com a sua condição de membro da UE e o facto de estar no euro obriga-nos
a um exercício exigente de adaptação que será muito demorado. Entretanto, como qualquer corpo desabituado de competição a alto nível, temos as nossas cãibras colectivas.

Não creio, portanto, que tenhamos alternativa senão realizar os ajustamentos necessários ao cumprimento das regras que nos garantem a permanência no sistema.

Ou melhor: alternativa temos, mas não é lá grande coisa. Tal e qual a vida para além do défice.

Pinho Cardão disse...

Com a qualidade da nossa governação, mal de nós se não estivessemos no euro.

Anónimo disse...

Isso sem dúvida, Pinho Cardão, sem qualquer dúvida. Mal desta terra quando o Euro desaparecer.

CCz disse...

Pornografia!
.
Pornografia pura e dura , essa coisa do programão no Diário Económico de hoje:
.
http://diarioeconomico.sapo.pt/edicion/diarioeconomico/edicion_impresa/empresas/pt/desarrollo/1129362.html

Tavares Moreira disse...

Tomem boa nota, caros Comentadores, para que depois não se diga que o 4R não avisou, não esteve atento, estava a dormir ou outras maldades parecidas.
O Programão de Obras Públicas (POP), se for para a frente no modelo mais ousado que os media (os mais servis em especial) têm vindo a pré anunciar como possível antídoto contra a crise, terá efeitos exactamente opostos.
Depois de uma ligeira reanimação da despesa - com forte impacto no endividamento do País visível na deterioração das contas com o exterior - funcionará como um travão, por muitos anos, ao crescimento da economia, agravando os conhecidos desequilíbrios, afectando negativamente a competitividade externa, aumentando sempre o desemprego, agravando as desigualdades sociais, etc, etc.
A economia portuguesa acabará por ser reconhecida como uma grande vítima do Euro, quando na verdade ela será vítima não do Euro mas de dirigentes que não estão à altura e da incapacidade dos Portugueses para os escolher.
Espero bem que este tema constitua ponto fundamental do próximo debate político, para ver se ainda vamos a tempo...embora seja céptico, confesso.
O 4R avisa...e quem te avisa teu amigo é...

marlene disse...

ola a todos muito bom dia, estive a ler os post´s e estao de facto muto bons, mas precisava de ajuda de um entendido na materia ou seja n me dirijo a ninguem em especial.
passa -se o seguinte eu estou a terminar um trabalho de fim de curso e faltame apenas um onto para da lo como concluido, acontece que eu nãp consigo, isto pk nao sei explicar quais foram as razoes para o euro vlorizar ou desvalorizar face ao dolar, e depois de analizar esse ponto referir quais as consequencias para o país se boas ou más ou até mxm as duas.sera que algueum me pode ajudar?era realmente mt importante tenho de entregar o trabalho dia 19 de janeiro.
obrigado a todos pela atenção.
boas festas.