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sexta-feira, 9 de maio de 2008

Doença Crónica. Um atributo da vida.

O homem aspirou desde sempre à imortalidade e à saúde total. Não conseguiu nem uma nem outra. E, muito provavelmente, nunca irá conseguir, porque a doença, segundo George Rosen, “é mais antiga que o homem, é tão antiga como a vida, porque é um atributo da própria vida”.
Tudo leva a pensar que uma das razões que está na base das doenças foi permitir o aparecimento da vida. Os programas das células primitivas tinham que aceitar a degenerescência das mesmas a fim de possibilitar a sua sobrevivência. Podemos especular que a degenerescência maligna teve a sua quota parte no sucesso do projecto de vida. Quem diria que o cancro, responsável por tantas mortes e sofrimento, estaria na base da nossa própria existência? Além do mais, é impossível dissociar a saúde da doença, porque ambas são as faces da mesma moeda.
As grandes conquistas que se verificaram no último século e meio foram determinantes para um aumento substancial da esperança de vida que, neste momento, no mundo ocidental, anda pelos 80 anos, contrastando com o que se verificava no início do século XX quando rondava os 40. É certo que ainda estamos longe da duração máxima de vida que, na nossa espécie, deverá andar pelos 120 anos.
É do conhecimento geral que à medida que envelhecemos o risco de adoecer e de morrer aumenta, não de um forma linear, mas de acordo com uma regra exponencial muito bem ilustrada na famosa lei de Gompertz, que nos permite calcular que por cada oito anos de vida o risco de morrer duplica. Se começarmos a fazer as contas a partir dos 10/11 anos, idade em que se “não morre”, é fácil de concluir que aos 18 anos duplica a taxa, aos 26 quadruplica, aos 34 anos octuplica, aos 42 anos a taxa de mortalidade é dezasseis vezes superior, aos 50 anos é trinta e duas vezes mais, aos 56 anos sessenta quatro vezes. O melhor é não continuar...
Se admitirmos que as doenças, na sua grande maioria crónicas, seguem também esta lei, então é fácil de concluir que começam a ser muito prevalentes por dois grandes motivos; vive-se não só cada vez mais como o número de pessoas de idade aumenta de forma assustadora. Sendo assim, compreende-se que as prevalências dos diferentes tipos de doenças atinjam cifras preocupantes. Claro que a par daquelas duas grandes razões, poderíamos enunciar muitas mais, nomeadamente as desigualdades socioeconómicas e certos estilos de vida e comportamentos adoptados pelas populações.
Vários estudos realizados em Portugal apontam, inequivocamente, para prevalências elevadas de doenças reumatismais, doenças cardiovasculares e outras doenças degenerativas, as quais são fontes de perturbações para os portadores, constituindo um enorme peso para a comunidade e famílias.
O controlo e o combate das doenças crónicas exigem: medidas políticas, medidas socioeconómicas, “definição” de doença crónica, cuidados a ter com a “Mongering Disease”, capacitação dos doentes (associações a defender os seus interesses), boa cobertura médica, terapêuticas eficazes e aumento da adesão à terapêutica. As consequências de uma ausência e/ou deficiente controlo e combate das doenças crónicas são muito preocupantes, sobretudo para um país como o nosso, onde a par de pobres recursos se adiciona um nível cultural muito baixo fruto de um atraso crónico que só por si constitui a pior das doenças crónicas.
O panorama das doenças cardiovasculares e dos principais factores de risco e a sua evolução em Portugal são paradigmáticos do muito que há a fazer para que as pessoas possam não só viver mais, mas, sobretudo, com mais saúde, contribuindo para o fenómeno da “contracção da doença e do sofrimento”, de modo a que ocorra nos últimos períodos da nossa existência, de preferência no último mês ou semana! Um bom desejo, face à impossibilidade em evitar a doença...

1 comentário:

Bartolomeu disse...

Extrai-se naturalmente do exposto, uma constatação, tão incontornável, quanto a realidade... o já tão reclamado direito à eutanásia, revela-se insuficiente perante a dimensão da massa humana mundial, versus os recursos naturais do planeta. Se este raciocínio não estiver errado, torna-se necessário e urgente, "tabelar" o limite de duração do ser humano...
Como?
Ah sim? O Caro Professor declara-me errado e em sua opinião, deve escolher precisamente o rumo inverso, até porque os horizontes das descobertas ciêntíficas e sobretudo as genéticas estão ainda no início de serem descobertos...
Muito bem caro professor, esperemos então pelos resultados dessa super povoação mantida "artificialmente" pelas engenharias laboratoriais e vamos ver se esse processo vai encontrar compatibilidade na sustentabilidade da terra e dos seus processos evolutivos, naturais.
;)))