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sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Até que a voz me doa!...

Em artigo hoje no Público, o Prof. Campos e Cunha faz-se eco de um estudo recente (tem uma semana...) de um macroeconomista, Prof. Rogoff, que abrangeu 44 países, num período de 200 anos, em que demonstrava que as economias mais endividadas, em termos de dívida pública, eram as que menos cresciam. Também tinha estudado o caso português, nos últimos 150 anos: quando o nível de dívida pública estava abaixo dos 30%, a economia tinha um crescimento médio de 4,8%; quando se situava entre os 30% e os 60%, a economia crescia 2,5%; e quando o nível de dívida pública estava entre os 60% e os 90%, a economia crescia 1,4% ao ano. Não foi estudado o efeito do crescimento com dívida pública superior a 90% do PIB, porque tal nunca aconteceu. Estamos agora a caminho!... Ressalvando alguma imprecisão estatística para os períodos mais recuados, a conclusão não poderia ser outra.
Como é óbvio e neste Blog não nos cansamos de referir, mais endividamento significa mais impostos, agora e no futuro. Mais endividamento significa maiores custos financeiros, agora e no futuro, por força da deterioração de risco do país.
Mais impostos e maiores custos coarctam o investimento e a vontade de investir. Sem investimento, não há crescimento, ponto final.
Ao nosso nível, temos vindo persistentemente a chamar a atenção para esta realidade. Mesmo não sendo um macroeconomista, e talvez por isso, estudei o comportamento da evolução da Despesa pública e do PIB nos 27 países da EU, conclusões que constam do post sobre o mito da despesa pública como dinamizadora da economia. Sinteticamente, as conclusões eram as seguintes:
-Ao menor peso de despesa pública correspondeu o maior crescimento do PIB
-Ao maior peso de despesa pública, correspondeu o menor crescimento do PIB
-Ao peso intermédio da despesa pública, correspondeu um crescimento intermédio do PIB.
-Mas, mesmo que não se concorde com estas conclusões, uma, a mais minimalista, é inegável: a de que a despesa pública não foi factor de crescimento nos países da UE27.
É de saudar os economistas que já vão acordando e deixaram de sonhar que a realidade de hoje reproduz a realidade de Keynes, em que o peso da Despesa Pública não atingia sequer os 10% do PIB e a carga fiscal não tinha qualquer comparação com a de agora.
E alguns até se apresentam como campeões da descoberta. Não faz mal. Tirando a presunção de uns e o oportunismo de outros, vieram ter ao caminho certo.

3 comentários:

Tonibler disse...

Aquilo que mais me espanta nos economistas é o completo alheamento da realidade que sempre mostram, como se vivessem encharcados de LSD. O Keynesianismo(se é que isto é um "ismo") teve um relativo sucesso numa circunstância muito específica da história da humanidade, numa região relativamente limitada, há décadas. Depois disso, a mesma experiência repetiu-se dezenas de vezes, noutras circunstâncias, noutras geografias, noutros instantes da história, com registado fracasso. Mas, curiosamente, continuam a analisar aquela experiência bem sucedida, limpando-a de todas as circunstâncias envolventes e a fazer grandes considerações que não ficavam nada mal com o sotaque "espanholado" do palhaço rico. Os fracassos, que não têm direito a "ismo", aparentemente não acrescentam qualquer conhecimento. Parecem geocentristas, continuamente a apresentarem as mesmas "provas" de que o Sol anda à volta da Terra.

E os opositores caiem nos mesmos erros. A análise do prof Campos e Cunha, (que não conheço, pode ter todos os méritos) com o gráfico com o eixo dos xx's na horizontal não diz a mesma coisa que com o eixo dos yy's na horizontal. Nesse caso mostra que as economias que menos cresciam eram as que mais contraíam dívida, que nesse caso até é favorável aos Keynesianistas. É o que dá ignorar a mecânica microscópica e olhar para os índices macroeconómicos como variáveis aleatórias puras.

Se a dívida contraída nos permite criar um valor potencial que vá compensar os juros futuros, então bom. Senão, mau. Há coisas precisas para criar esse valor potencial que nos estão a sair muito caras?(educação, saúde, etc...) então têm que sair mais baratas. Não entendo porque é que se insiste em ignorar esta mecânica simples com "ismos", nem porque é que é preciso estudos.

Tavares Moreira disse...

Votos para que essa voz inconformada nunca doa nem se canse!
Quanto ao fundo da questão, é preciso ter presente que os actuais responsáveis pela política económica - bem como uma boa maioria dos que foram responsáveis nas últimas décadas - são pessoas sem qualquer experiência na gestão de recursos, que nunca tiveram que obter resultados gerindo recursos escassos...
Para estas pessoas, deve fazer-lhes muita confusão, por exemplo, que se coloque a questão do retorno dos fundos públicos dispendidos nos chamados "investimentos"...
Para eles, basta fazer a despesa e quanta mais melhor...é mais dinheiro que se injecta na economia, esta tem que ser dinamizada a bem ou a mal...
A questão do retorno é uma esquisitice de uns obcecados economicistas...
Está aqui, Pinho Cardão uma (não a única é certo) explicação para esta bizarra visão do País e das prioridades de política em que continuamos mergulhados,sem fim à vista...

Pinho Cardão disse...

Caro Tonibler:
A questão está mesmo no seu último parágrafo (e, já agora, juntava-lhe não só os juros, mas,no mínimo, também o reembolso do capital...). E também acredito que essa "mecânica" lhes escape na totalidade...

Caro Tavares Moreira:

É verdade, caro TMoreira que essa mecânica, para usar a expressão tonibleriana, essa mecânica do retorno lhes escapa totalmente. Aliás, nem sabem, nem sonham o que seja a gestão dos recursos. Sabem apenas gastá-los. E são Ministros e Secretários de Estado!...
Claro, muitos deles sem qualquer trajecto profissional.