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quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Não há paciência...

É indiscutível que há falta de médicos. Estamos a braços com um problema muito grave que não se vai resolver de um momento para o outro. Não é novo. A verdade é que governos sucessivos não foram capazes de criar condições para obviar à situação a que se chegou. Não tinha que ser assim. É a falta de organização e planeamento a que já estamos habituados. Se há coisa que o tempo permite, é que com tempo se tomem decisões, se planeie o futuro.
Hoje no Parlamento, o Bastonário da Ordem dos Médicos recordou que no passado alertou para a “falta gritante” de médicos e avisou que o aumento de vagas nos cursos de medicina pode conduzir ao excesso de médicos, ao desemprego destes profissionais. A "falta gritante" desapareceu. Francamente, não há paciência!
É por estas e por outras que estamos na situação em que estamos, com serviços públicos essenciais sem capacidade de resposta adequada às necessidades, na saúde, na educação ou na justiça.
Não há paciência, mas é triste...

8 comentários:

(c) P.A.S. Pedro Almeida Sande disse...

Os sucessivos bastonários fazem parte daqueles que pensam antes em si e depois no país.

Lapidar foi a forma como os estudantes Portugueses na república Dominicana, voluntários no Haiti, se referiram à elite dos médicos Portugueses!

Mas as corporações não se ficam por aqui. Conseguiram fazer passar na AR diplomas que vão permitir isto:
IND - INSTITUTO DO DESPORTO, CRIA NOVOS DESEMPREGADOS
O governo de Sócrates, hipocritamente, com a nova legislação corporativa sobre a orientação desportiva, que não contempla direitos adquiridos, prepara-se para criar mais uns milhares de desempregados.
Desempregados que não terão direito a subsídios e que serão afastados das suas actividades de há dezenas de anos. Se se percebe a necessidade de rever formações para a prática de profissões, o bom senso aconselha a que a legislação só se aplique a novos treinadores e formadores. Quem esteja desempregado ou trabalhasse por conta própria actualmente ficará também aparente e definitivamente fora do mercado de trabalho. Numa altura em que se fala de reconhecimento de competências, pessoas com dezenas de anos de profissão são mortas "vivas."
Os 100€ para a passagem dos novos certificados, anteriormente passados gratuitamente pelas federações, demonstra também a hipocrisia do governo e a sua responsabilidade no agravar da crise. Esperemos que o governo esteja preparado para abrir mais mão de mais rendimentos sociais de inserção ou preparar-se para revoltas populares.

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Caro (c) maioria silenciosa: P.A.S.
Também vi uma reportagem que envolvia dois estudantes portugueses que pediram suspensão temporária de frequência das aulas do curso de medicina que estão a fazer na República Dominicana para irem como voluntários ajudar os haitianos.
A estes estudantes de medicina juntam-se centenas de outros que têm de "emigrar" porque Portugal não lhes dá a oportunidade de se formarem no seu país. Com a falta de médicos que temos, não se compreende como deixamos ir os nossos jovens para fora. A juntar à falta de médicos, a juventude também faz muita falta. É confrangedor!

just-in-time disse...

1977, ME, discutia-se a introdução do numerus clausus...
Convem lembrar que a necessidade de nc não era uma resultante directa do 25.4; mais do que isso, a passagem do ensino obrigatório de 4 para 6 anos em 1965, associado ao grande crescimento económico dos 60´, tinha provocado uma avalanche que iria chegar à Universidade em 74, não fosse o serviço cívico e o 12º ano.
Algumas forças vivas queriam fechar as Faculdades de Medicina por 2 ou 3 anos; foi difícil resistir e evitar a definição de um contingente pequeno.
Paralelamente, uma missão da OMS visita Portugal e deixa 2 recados:
- não desprezar a iniciativa privada que porá os seus filhos a estudar no estrangeiro,
- selecções por notas, para um número exíguo de vagas, ainda por cima com garantia de emprego no fim do curso, não selecciona vocações médicas, mas...
Tudo isto se confirmou, mas o que fica por entender é porque 33 anos depois o assunto continua por resolver!
Mas, nesta matéria, não me atrevo a competir com o Prof. Massano Cardoso ;)

SLGS disse...

Tudo assim acontece, por que os Governos são fracos e se deixam subordinar aos interesses corporativos e elitistas de certas classes profissionais que não têm pejo de se servir disso para manter o seu elevado "status". Nesta crise do Haiti, não vimos só os estudantes portugueses na República Dominicana, mas também e felizmente, médicos Cubanos e outros (incluindo um português) a falar despojadamente do seu trabalho e da necesidade do executar.
Mas deixemos isto e voltemos ao corporativismo português: que "força" tem um Minist
ério da Educaçâo, que permite que se criem Cursos ao belo prazer das Universidades e Politécnicos, sem qualquer reconhecimento e saída profissional,ùnicamente levados pelo interesse imediato deles próprios (instituições) justificarem a sua existência, apresentando frequências que, em condições normais, nunca teriam ?
Quem são as Ordens, para impôr aos Estado os seus interesses? Só se pode ser Engº. se a ordem der o seu consentimento. Para que serviu o curso? Onde está a dignidade da Universidade e da sua tutela? O mesmo é válido para os Médicos, Psicólogos, etc.No caso dos médicos as coisas atingem foros muito mais graves. Só se podem formar nas quantidades que a Ordem quer. E os interesses do Estado? Porque razão não pode haver médicos sem emprego garantido no fim do curso, se pode haver Enfermeiros, Engºs,Juristas, Pedreiros, Sapateiros, Carpinteiros, etc?...Há uma razão muito válida, para eles, é continuar a manter o seu elitismo que, nestes novos médicos (que só foram para a profissão por interesses materiais e vaidade)se traduz numa arrogância e desumanidade tais que se reflecte no desgraçado do utente que lhe cai na alçada. Peço aqui perdão às honrosas excepções que felizmente também há.
O arrazoado vai longo e é tempo de acabar. Deixo o meu lamento por continuarmos a ver que nada se resolve, que não há uma política de gestão das nossas necessidades profissionais séria e devidamente TUTELADA, que tudo continua ao "Deus dará" subordinado aos interesses privados de caciques esfaimados.

Fartinho da Silva disse...

Nesta matéria, estou em completo desacordo com o autor e os comentadores!

Defendi, defendo e defenderei as ordens profissionais! São essenciais para garantir um nível mínimo de qualidade dos profissionais. Entristece-me bastante a confusão que alguns comentadores fazem entre lobbies e corporações e entre sindicatos e ordens profissionais. Entristece-me ainda mais quando se afirma que a culpa da falta de médicos no sector público da saúde se deve à OM! O problema foi outro, o problema é financeiro. É uma questão de prioridades. O Estado preferiu e continua a preferir gastar o dinheiro do contribuinte em obras faraónicas, empresas semi-públicas, institutos, autoestradas, estádios de futebol, rendimentos mínimos garantidos, magalhães, etc., etc. com o único objectivo de vencer eleições...! Há falta de médicos? Quanto custam formar um médico? E quanto custa 1 km de autoestrada para garantir uns votos? Escusado será dizer qual a opção do político de trazer por casa.

Apesar da crise que vivemos, espero que consigamos manter a cabeça fria para evitar erros ainda maiores do que todos aqueles que já cometemos neste país!

O problema é Portugal é "apenas" um - o regime político! Enquanto não mudarmos os partidos por dentro e não mudarmos o sistema eleitoral continuaremos a caminhar alegremente para o abismo tal como aconteceu nos anos 20 do século passado.

Suzana Toscano disse...

Há dias falei com uma pessoa conhecedora deste tema e que referiu que, em termos per capita o número de médicos em Portugal é em linha com o dos países da Europa. Mas que o problema essenciale stá na definição de acto médico, que entre nós os enfermeiros têm um conteúdo funcional muito pobre - uma das razões pelas quais se sentem muito mais realizados noutros países - enquanto os médicos são "desperdiçados" em trabalho que não exigia essa qualificação.

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Caro just-in-time
Não tinha presente os recados da OMS. Pelos vistos as quotas para o ingresso nos cursos de medicina não foram adequadamente fixadas, pois caso contrário não teríamos falta médicos. Não acredito que os milhares de estudantes que não conseguiram entrar ao longo de todos estes anos, apesar das médias elevadamente absurdas obtidas nas provas de ingresso, não reunissem condições. Muitos deles, mais recentemente, estão a fazer os seus cursos em universidades no estrangeiro, que ao que consta são muito exigentes.

Caro SLGS
O Estado tem funções regulatórias importantes nesta matéria que deveriam ser subordinadas ao interesse público. A fixação de números clausus é um dos instrumentos importantes para adequar a formação de profissionais às necessidades em domínios em que a oferta de cursos é pública. Esta questão em nada, julgo eu, prejudica o nível de qualificações que deve ser exigido aos estudantes à entrada e à saída.
No meio deste desajustamento do nível de resposta do SNS às necessidades, não podemos esquecer que temos muitos médicos dedicados e empenhados, com amor a sua profissão.

Caro Fartinho da Silva
Não tenho nada contra as ordens profissionais e acho indispensável que se garantam elevados níveis de qualificações aos profissionais, aspecto que não é necessariamente um exclusivo das ordens. Mas o reconhecimento da sua importância não se pode confundir com o exercício de pressões para proteger e acautelar os seus interesses.
É claro que se o Estado não investiu na formação de médicos para investir em estádios de futebol fez muito mal. Só é pena que as ordens profissionais não assumam abertamente as suas responsabilidades, alertando o poder político e a opinião pública para o perigo dessas opções quando estão em causa questões tão importantes como aquelas que estamos aqui a analisar.
Caro Fartinho da Silva precisamos de investir mais na educação básica. Um povo educado sabe melhor utilizar os seus recursos e não se deixa iludir. Lá vamos nós, invariavelmente, acabar (ou começar!) na educação.

Suzana
Também li, há uns tempos atrás, que temos um per/capita alinhado com a Europa.
Mas a verdade é que há falta de médicos. Se o problema é a definição de "acto médico", assunto que não conheço, porque não é alterada? O que é que está a impedir esta mudança?
Não sendo revista a definição, parece então que são necessários mais médicos. Não fazer nada, é que não é solução.

Suzana Toscano disse...

Ao que também me disseram não é fácil porque os médicos serão muito ciosos do conteúdo funcional que hoje lhes é atribuído e não aceitam que os enfermeiros assumam mais responsabilidades e autonomia. Conto como me disseram, não faço ideia se há razão nisto ou não mas não me parece mal visto este argumento o que se ouve muitas vezes é os enfermeiros a exigir equiparação de carreiras por ser hoje exigida uma qualificação ao nível da licenciatura o que deveria implicar precisamente mais capacidade para praticar actos qualificados e terem mais autonomia.