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quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Para quando o elixir da juventude?

No nosso dia a dia somos confrontados com várias situações perante as quais temos de tomar uma decisão. O pior é quando ficamos indecisos sem saber o que fazer. Neste caso, podemos vir a sofrer consequências nada agradáveis. Esta afirmação não é passível de contestação, penso eu, e poderá ter sido já vivida por qualquer um. Além do mais, apesar do acumular da experiência com a idade, também aumenta o número de situações com estas características, como é fácil de prever. Curiosamente, este fenómeno tem, também, um equivalente a nível molecular.
É fácil de compreender que à medida que envelhecemos corremos mais riscos de vir a sofrer doenças degenerativas, cancros e doenças cardiovasculares, entre outras. Quanto ao envelhecimento, os sinais são mais do que evidentes e constituem uma grande preocupação para muitos. A busca de elixires da juventude não é de hoje. Podíamos enumerar uma catrefada deles. No entanto, eles existem mesmo. O mais eficaz, pelo menos até ao momento, é o CR. Não tem nada a ver com o Cristiano Ronaldo, mas sim com Caloric Restriction (Restrição Calórica). Desde os anos trinta do século passado que já se sabia do efeito da restrição calórica no prolongamento da duração da vida. Nos ratos uma restrição de 30% de calorias acompanha-se de mais 30% de duração de vida. E não é só nos ratos, também ocorre noutras espécies. O pior é que os seres humanos não são muito adeptos em fazer restrição calórica. Era o que mais faltava. Mas, mesmo assim, não desistem em descobrir uma molécula ou substância que faça a mesma coisa que a restrição calórica sem se privarem de bons pratos. Um sonho. Comer que nem uns alarves e, ao mesmo tempo, viver mais anos e sem doenças. E não é que este sonho pode ser mesmo viável? Já existem dados de que uma substância, por exemplo, o resveratrol, tão propalado por esse mundo fora, comporta algumas das características próprias de um “elixir de juventude”. O vinho é uma das suas fontes, mas seria necessário beber algumas centenas de garrafas para obter o efeito, diariamente.
Mas, afinal, o que faz o resveratrol? Atua, estimulando a produção de sirtuína através de um gene, o SIRT1. Esta molécula é responsável pelas reparações a nível do DNA e faz, ao mesmo tempo, com que os diferentes genes entrem ou não em atividade, consoante as necessidades e ocasiões. Acontece que à medida que vamos envelhecendo, a sirtuína tem muito que fazer a este nível, não havendo em quantidade suficiente para modular a expressão dos genes. Como estes “não sabem” o que fazer, ficam ao deus-dará e, consequentemente, poderão enveredar por caminhos que levam ao cancro e a vários tipos de doenças, metabólicas e cardiovasculares.
A descoberta de uma substância que estimulasse o tal gene SIRT1, seria uma bênção, porque permitiria, ao mesmo tempo, fazer as reparações próprias do envelhecimento e permitir a expressão mais adequada e equilibrada dos diferentes genes, sem risco, ou muito pouco risco, de enveredarem por caminhos nada agradáveis.
Poderão afirmar que estas medidas não são naturais. E daí? Qual o problema? Não devemos o nosso bem-estar e vida a muitas conquistas? Se continuássemos a viver de acordo com o “natural”, onde estaria a maioria de nós? Do outro lado, claro está, e há muito tempo.
Atendendo ao crescente envelhecimento da espécie humana, e às inúmeras doenças associadas, não vai haver dinheiro que resista para fazer face a tamanha despesa. Cálculos já efetuados, permitem afirmar que uma redução de apenas 1% da mortalidade por cancro se acompanharia numa poupança na ordem dos 500 mil milhões de dólares!
Um dia destes ainda vamos acordar com a notícia da descoberta de uma substância capaz de mimetizar os efeitos da única, ou principal, técnica para prolongar a vida, a restrição calórica. Seria uma ótima notícia para todos e, sobretudo, para os alarves gastronómicos que andam por aí, incapazes de saciarem os seus apetites.
Depois é altura de encontrar um equivalente a nível social, que impeça certos lambões de comerem tudo, e de nos comerem com todo o descaramento. Mas não estou convicto desta última, ao contrário da primeira.

4 comentários:

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Caro Professor Massano Cardoso
Não se pode ter tudo. Se pensarmos bem, os abusos gastronómicos também são fonte de elevada despesa. A obesidade é em alguns países um grave problema de saúde pública.
Afinal, o que os homens querem é viver mais anos sem sacrifícios. Praticavam todos os abusos e os males resolviam-se com uma pastilhinha milagrosa e pronto!
Quando vejo certos excessos gastronómicos rematados com uma pastilha para aliviar a digestão fico sempre muito impressionada...

Catarina disse...

Diz bem, cara Margarida... “os homens...”... Sim, porque nós, mulheres, temos a propensão para sermos mais equilibradas na nossa alimentação. Se nos debruçarmos numa análise mais profunda... equilibradas em tudo... mas isso é outra estória! Já leu o livro “As mulheres francesas não engordam”? Vale a pena ler.
Mas é uma realidade que quase todos e todas anseiam por esse elixir da juventude! Essa juventude que inexoravelmente se nos vai escapando... Felizmente, a espiritual/emocional/mental vai levando o seu tempo! Valha-nos isso!
Até no peso/volume do corpo humano há enormes abismos... Grande percentagem dos americanos sofrem de obesidade e milhões de pessoas em certos países africanos sofrem de magreza! (talvez haja outro termo que seja o antónimo de “obesidade” – de momento não me recordo! : (
A nível mundial... é difícil chegar a um equilíbrio no que quer que seja!

just-in-time disse...

Qualquer grande almoço é sempre seguido da exigência (exasperada) de um adoçante para o café (q.e.d.)!!!
Querem melhor exemplo?

Suzana Toscano disse...

Ui, essa pastilhinha vai dar origem a muitas guerras ou ao agravar dos já desgraçados defices públicos, pelo menos na fase de transição em que ainda há obesos e a pastilha já foi decretada como obrigatória...devidamente subsidiada para evitar que os ricos fiquem cada vez mais jovens e os pobres cada vez mais velhos.Tudo se pode tornar uma fonte de felicidade ou uma fonte de desigualdade e a saúde é um sector onde isso é mais intolerável.