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domingo, 10 de janeiro de 2010

Vagueando pela Provença III-Avinhão


Avignon, ou Avinhão, é uma bela cidade da Provença, a menos de 100 quilómetros a noroeste de Marselha. Por detrás das belas muralhas que a rodeiam em toda a sua extensão, encontramos uma cidade moderna e viva num espaço medieval de ruas, prédios e palácios extraordinariamente bem conservados. É em Avinhão que se realiza anualmente o célebre Festival, repositório de teatro e artes performativas, e da cidade tomou nome o célebre quadro de Picasso, Les Demoiselles d'Avignon.
Mas Avinhão é sobretudo marcada historicamente por ter sido a Sede da Igreja Católica no século XIV, nos 68 anos que mediaram entre 1309 e 1377, e em que sete Papas aí residiram.
No início do séc XIV, o Rei de França, Filipe, o Belo, opunha-se vigorosamente ao Papa de Roma, pelo facto de este não lhe permitir a cobrança de impostos sobre os bens e dignitários da Igreja francesa. Falecido o Papa, o Rei moveu todas as suas influências e poder para eleger um Papa francês que lhe servisse de aliado. Conseguiu assim eleger Papa um Cardeal de Bordéus, Bertrand de Got, que tomou o nome de Clemente V e em 1309 se mudou para Avinhão. O último Papa que aí sediou foi Gregório XI. O retorno do Papado a Roma não foi pacífico. Desinteligências várias e profundas no seio da Igreja Católica, que eram também o eco das rivalidades políticas entre Estados ou mesmo Príncipes e, porventura, Cardeais pouco atentos à voz do Espírito Santo ou interpretando essa inspiração de forma errónea, levaram, nessa época, à eleição de onze “ anti-papas” até 1444, dos quais 4 mantiveram a Sede em Avinhão. Em 1415, chegou mesmo a haver 3 papas, o “verdadeiro” em Roma e dois "anti-papas", um em Pisa e outro em Avinhão.
De notável é que a permanência dos Papas em Avinhão se traduziu num valor que persiste até aos nossos dias, pela monumentalidade que trouxe para a cidade e pelo turismo que envolve. O Palácio dos Papas é um edifício-fortaleza grandioso, que se impõe pela sua magnificência exterior. Magnificência que espelha bem o poder dos seus antigos residentes. Pena é que os episódios da Revolução Francesa tenham levado à quase completa destruição do seu interior, que se apresenta despido, à excepção de algum mobiliário, frescos ou pinturas de tecto. Uma das alas do Palácio foi adaptada para Centro de Convenções e Sede do Festival de Avinhão.
O Rio Ródano, que corre largo e manso aos pés de Avinhão, contrasta pela serenidade com o bulício de uma cidade que combina como nenhuma a tradição com a modernidade.

3 comentários:

Bartolomeu disse...

«...encontramos uma cidade moderna e viva num espaço medieval de ruas, prédios e palácios extraordinariamente bem conservados...»
Recentemente, assisti na televisão a um programa que mostrava a forma simples mas eficaz como os habitantes de um aldeia espanhola "La Alberca" viviam. Aqueles espanhois, simplesmente conservaram e restauraram o que a sua aldeia possui de característico, pitoresco e tradicional e aliaram a tudo isso a simpatia e a arte de receber quem os visita. O ex-libris da aldeia é um porco, um enorme porco que passeia livremente pelas ruas, detendo-se mais frequentemente na pequena praça central, para deleite dos turistas que se sentam nas esplanada dos cafés e restaurantes. Estou só à espera que este "calorzinho glacial" abrande e as estradas fiquem transitáveis para lá dar um "saltinho" e poder apreciar aquele exemplo.
E depois, reconfirmar aquilo que já sei, mas que gosto (tambem eu masoquista)de reconfirmar até À exaustão: temos tudo aquilo que os "outros" têm, falta-nos o amor por aquilo que é nosso, falta-nos a vontade de fazer e não ficar à espera que alguem faça por nós e falta-nos a capacidade de reivindicar e exigir aquilo que tivemos a coragem de conquistar.

Eduardo Freitas disse...

Extraordinária cidade, Avinhão. Da última vez que lá estive, após uma tremenda orage durante a noite, seguiu-se um espectacular dia de Verão que proporcionou um passeio inesquecível e uma memorável refeição perto do Palácio dos Papas. Creio ter ouvido na televisão que esteve (ou está) coberta de neve. Tenho pena de não ter lá estado agora.

Suzana Toscano disse...

Belo post, um guia turístico e histórico a convidar a uma visita, como resulta sempre do esmero do Pinho Cardão a partilhar connosco as suas viagens. Não conheço Avinhão mas gosto imenso d eviajar em França de automóvel, a visitar cidades e aldeias e em todas se sente esse cuidado na conservação e valorização dos centros históricos, a mais pequena aldeia tem encanto e os seus habitantes têm orgulho nisso. É frequente haver festivais de flores, com todas as aldeias a concorrer nos enfeites das fachadas e na decoração dos canteiros. Uma maravilha. Por cá já vamos tendo alguns progressos, mas ainda nos falta caminho para recuperar tudo o que temos.