Número total de visualizações de páginas

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

PIB em 2010: 0,7% que vamos "pagar com língua de palmo"...

1.Assistimos ontem a mais uma manifestação de auto-elogio dos nossos estimados dirigentes governativos, com destaque para o PM – como não podia deixar de ser – neste caso motivada pela divulgação da mais recente estimativa da variação do PIB em 2010, um crescimento homólogo de 1,4%.
2.O dobro do “estimado” (não seria “estimado” mas sim previsto, mas isso até se desculpa...) pelo Governo - proclamou orgulhosamente S. Exa., lembrando que a “estimativa” do Governo apontava para 0,7% e o resultado final acabou por ser bem mais gordo!...
3.O mais elementar bom senso teria recomendado que sobre o comportamento do PIB em 2010 o Governo tivesse adoptado uma posição muito cautelosa, não embandeirando em arco como fez, pois a interpretação deste comportamento do PIB tem muito – mas mesmo muito – que se lhe diga, justificando tudo menos conclusões ROSA...
4.Com efeito, a variação de 1,4% do PIB em 2010 ficou a dever-se a um contributo praticamente igual das despesas de consumo público e privado e das exportações (líquidas), sendo de registar a persistência de um contributo negativo do investimento...vide o recente “Boletim Económico de Inverno” do BdeP.
5.Se o contributo das exportações é de saudar (e saudações não têm faltado, como sabemos), já o mesmo não se pode dizer (i) dos consumos público (sobretudo) e privado, dada a sua insustentabilidade e o agravamento do insuportável endividamento do País que arrastam, e (ii) da quebra do investimento que se reflecte numa contínua degradação do crescimento potencial da economia...
6.Teria sido bem melhor, muitíssimo melhor, um crescimento de apenas 0,7%, com o contributo positivo das exportações e sem a expansão das despesas de consumo, uma vez que estas originaram mais um JUMBO défice com o exterior, da ordem de 10% do PIB, a avaliar pelas estatísticas preliminares do comércio externo divulgadas na semana passada pelo INE.
7.Assim sendo, os 0,7% “a mais” de PIB em 2010 terão que ser pagos, em 2011 e seguintes com sangue suor e lágrimas, como se está verificando e continuaremos a verificar pelos meses adiante...
8.Neste cenário, o PM vangloriar-se do número “mágico” de 1,4% da variação do PIB em 2010 só pode ser tomado à conta de mais uma manifestação da doentia obsessão pelo marketing político e nada tem a ver, como parece óbvio, com os interesses do País...
9.Para ser mais exacto, até terá a ver com os interesses do País, mas infelizmente pela negativa...

13 comentários:

Adriano Volframista disse...

Caro Tavares Moreira
Nestes últrimos dias, com tanta notícia sobre a economia nacional, tenho-me deparado a recordar uma estória antiga lida nos meus livros de infância. Rezava, mais ou menos, assim:
Os índios norte americanos quando começava a escassear a água, iniciavam os rituais para "chamar" a chuva. Lá vinham os shamans e os seus acólitos invocar os deuses, o povo, comanado pelo chefe da tribo e os anciãos, dançava e cantava em redor da fogueira, ou ajoelhava-se para rezar aos espíritos da terra.
Às vezes resultava, às vezes não. Entre cada encantamento, a água ia sendo consumida, claro que impunham restrições mas, assim que a chuva chegava, voltavam os velhos hábitos.
Às vezes a chuva não vinha e as tribos morriam ou tinham que imigrar, ficando mais pobres e mais indefesas.
Porque será que o seu post me fez recordar este episódio?
Deve ser a nostalgia...
Sobre o seu post não podia estar mais completamente de acordo.
Cumprimentos
joão

Manuel Brás disse...

... até ao último tostão!

É difícil de acreditar
nessas magias descaradas,
ficará muito para contar
destas contas tão mascaradas.

Tantas razões mal maquilhadas
que agora intentam vender
com essas contas farfalhadas
tão difíceis de compreender.

Carlos Sério disse...

Caro Tavares Moreira,
gostaria de conhecer a sua opinião sobre uma questão que me parece estranha e que o amigo Pinho Cardão já deu umas achegas ainda que não conclusivas.
A questão é esta:

O IGCP colocou um anuncio que reza assim:
"O IGCP irá realizar um leilão de recompra da OT 3.20% Abril 2011 e OT 5.15% Junho 2011 no próximo dia 16 de Fevereiro pelas 9:30 horas, com um montante a determinar em função das condições de mercado.
O saldo vivo destas Obrigações do Tesouro é de EUR 4,532 mil milhões e EUR 4,958 mil milhões respectivamente".

Ora acontece, digo eu, que as necessidades de financiamento do Estado para 2011 são de 20 mil milhões de euros, o que significa o Estado ter que vender dívida pública para conseguir dinheiro para esta recompra. Só que os juros são diferentes. Recompra a juros de 3,20% e 5,15%, para vender a juros acima de 6,5%, na melhor das hipóteses. De juros a 5,15% pagará juros a no mínimo de 6,5%. Em 4 meses, de Fevereiro a Junho, com uma diferença de juros sempre acima de 1,35% e sobre um montante de 4,958 mil milhões de euros é muito dinheiro. Se adicionarmos igualmente os juros de dois meses, Fevereiro a Abril, da recompra das OT num montante de 4,532 mil milhões de euros, o somatório do prejuízo desta operação deverá ser superior a 30 milhões de euros se o montante for esgotado.
Será que o IGCP se propõe perder 30 milhões de euros apenas para tentar “convencer” os mercados da “boa saúde” das finanças portuguesas?
Será possível? Ou existe algum erro neste raciocínio?.
Obrigado

Tavares Moreira disse...

Caro João,

A torrente de notícias relativas à economia nacional e a associação de ideias a que essa torrente o conduziu, explica-se provavelmente pela tentativa dos incumbentes em convencer os incautos cidadãos de que vai mesmo "chover" PIB, embora a aridez económica,parente em 1º grau da asfixia financeira, seja o cenário mais do que provável - probabilíssimo, mesmo!

Caro CS,

Se não se importa vamos aguardar até amanhã pelo resultado das ditas recompras - que ou me engano muito ou vão ficar reduzidasa umas comprazitas muito magras - se algumas acontecerem...
Não se esqueça de que o IGCP -ou quem nele superintende - têm feito opções muito interessantes como a de reduzir os Certificados de Aforro emitidos, trocando-os por dívida titulada, muitíssimo mais onerosa e colocada no exterior...
Aguardemos então, prometo voltar ao assunto no âmbito deste mesmo Post.

Caboclo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Caboclo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Adriano Volframista disse...

Caro Tavares Moreira
Desculpe, esqueçeu-se da estabilidade e da consolidação; vai "chover" PIB e "trovejar" ESTABILIDADE e "relampejar" CONSOLIDAÇÃO.
Cumprimentos
joão

Tavares Moreira disse...

Caro Manuel Brás,

A sua poesia de protesto e de intervenção social não pode deixar de marcar presença na manifestação do próximo dia 12 de Março, em Lisboa, que deverá juntar centenas de milhar de pessoas em protesto algo funéreo contra a miserável situação em que se encontra o País, conduzido por políticos sem visão enm conhecimento, que têm praticado atrocidades no governo da colectividade!
Teríamos assim a música dos Deolinda e a poesia de Manuel Brás a marcar esse momento alto de manifestação do inconformismo dos cidadãos, que querem dizer - Basta!

Caro CS,

Está a ver, eu não lhe disse que o melhor era esperar para ver?
De um total de dívida de mais de € 10 mil milhões, recompraram a mísera quantia de € 215 milhões, cerca de 2% do total!!!!
Ou seja, fica tudo na mesma para os vencimentos de Fevereiro e de Junho, não há qualquer alívio no serviço da dívida em questão!
Em suma: "Parturiunt montes, nascitur ridiculus mus", segundo o velho brocardo latino - a montanah pariu um rato, diz-se em português!
Tanto anuncio, tanto anuncio, para isto...melhor seria que se tivessem mantido calados - mas como sabe, se há coisa que esta gente não consegue é, como se diz em calão, "tirar a boca do trombone"!
Mas os mercados não deixam de olhar para isto e de valorar negativamente este tipo de inciativas...

Caro João,

Tem toda a razão: trovejar "estabilidade" e relampejar "consolidação"...a brincar que o diga são mesmo expressões apropriadas, pois estamos a falar de fogachos, muitos fogachos e muito escassas realizações consistentes!
E agora, como sabe, está na moda queixarem-se da Alemanha, que não cumpre a sua obrigação, assegurando o cumprimento das nossas dívidas!...
Eu não me tinha apercebido, nunca me tinham informado, que a Alemanha afinal teria avalizado a dívida emitida por Portugal - era do seu conhecimento?...
Estou deveras surpreendido!

Carlos Sério disse...

Sem dúvida TM,
obrigado

Caboclo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Tavares Moreira disse...

Caro CS,

Muito bem, disponha sempre...nomeadamente quando houver (se houver...) novo anuncio de recompra antecipada de dívida pública!

Caro Caboclo,

Creio estar já demonstrado que em matéria de grandes opções de estratégia política não pode haver discussão entre nós - eu sou um miserável aprendiz, o Senhor é um estratega com uma visão global!
Estamos em planos muito desiguais, assim não vale...

Caboclo disse...

Caro Tavares ..precisa ser assim tão cínico de forma tão óbvia ?Que baixaria..
Afinal a 4 Republica defende o País ou o Psd ?
Porque os sábios e equilibrados decisores da acção politica acham que socrates vai de facto fazer o que tem de ser feito ? Se ele não vai fazer nunca ? Se ele não conhece o caminho das pedras ?

Porqu~e o medo de eleições já ?

Será que os sábios e equilibrados decisores do Psd também não sabem o que fazer ?
É que no mínimo é estranho ..que o país se afunde a velocidade vertiginosa e o Psd continue adiando a tomada do leme !!
Sabe que mais ? o Psd gosta é de tango...é o que parece..triste!!
Afinal quem tinha razão era António Balbino Caldeira quando torceu o nariz a Passos Coelho .
Na hora da verdade o socrates tira da cartola uns quantos cargos pobretas para o pessoal do Psd e lá está ele a amansar como agora ..pena não é ?
É assim o tango da alta política.

Outro assunto ...para quando um debate neste blog sobre ambiente e o enquadramento da tourada numa politica coerente ?
Não me diga que vc tem simpatia por essa verruga nacional . Eu sempre tenho alguma esperança no pessoal do Psd .

Tavares Moreira disse...

Caro Caboclo,

Já cá faltava o "argumento" do cinismo, agora acompanhado de "Dª baixaria"...
Confesso-lhe que me satura esse tipo de "argumentação", invariavelmente utilizada à míngua de outros recursos!
Onde estão o cinismo e a baixaria?
Em confessar que não tenho jeito - usando a expressão forte de miserável aprendiz - para a discussão política pura e dura?
Isso já é cinismo e baixaria?
Francamente, o Senhor é mesmo aquilo que se chama em gíria um "vidrinho", não aceita, fica todo ofendido com qualquer comentário que saia 1 cmt do politicamente correcto...e ao mesmo tempo afirma-se feroz adversário do politicamente correcto...como entender?