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terça-feira, 26 de março de 2013

A questão de Chipre e a "dislataria" nacional...

1. Aparte o erro inicial da proposta de penalização dos depósitos de saldo não superior a € 100.000, cobertos por um sistema de garantia oficial – mas em que as autoridades cipriotas, nomeadamente o seu Presidente, tiveram especiais responsabilidades, é bom não esquecer – a questão de Chipre dificilmente poderia ser tratada doutra forma daquela que acabou por ser acordada entre as autoridades nacionais e a tenebrosa Troika.
2. Com um sistema bancário sobredimensionado face à economia do País – os activos bancários representam cerca de 700% do PIB nacional enquanto na média da zona Euro serão cerca de metade desse valor e em Portugal andarão por 275% – funcionando como paraíso fiscal para milhares de cidadãos russos (incluindo muitas empresas) , gregos, ucranianos e outros, especialmente “endinheirados “, que lá depositavam os seus magros haveres, em depósitos cujos juros são tributados a 0% (enquanto nós cá suportamos a módica taxa de 28%)...
3. ...faria algum sentido impor aos cidadãos dos outros países do Euro, nós incluídos (no nosso caso usando a “imensa” folga de que ainda dispomos para suportar mais encargos e sacrifícios) os custos de uma operação de salvamento do sistema bancário cipriota, em especial dos dois maiores bancos (o Bank of Cyprus e o Laiki Bank), deixando intactos os interesses dos maiores depositantes, nomeadamente estrangeiros, que se aproveitaram deste paraíso fiscal?
4. Sabendo-se, ademais, que as dificuldades destes dois bancos, para além dos enormes prejuízos sofridos com o “hair-cut” da dívida grega acordado no final de 2011, resultaram de avultados créditos incobráveis concedidos a empresas russas (o Bank of Cyprus) e a empresas gregas (o Laiki)?...
5. Neste contexto, a solução de impor aos titulares de depósitos de saldo superior a € 100.000 (e na parte excedente a esse saldo) uma penalização de 30% - e que vai ser utilizada para o salvamento desses mesmos bancos, assegurando o cumprimento de todas as obrigações que assumiram - aparece como (re)solução óbvia...
6. ...tanto mais que o funding desses bancos era representado, em mais de 91%, por depósitos, ao contrário do que sucede com muitos outros bancos da zona Euro em que o recurso ao mercado de funding por grosso (incluindo BCE) e ao mercado de capitais têm muito maior expressão...
7. Mas por cá, como cumpre, os comentários em estilo de dislate agudo sucederam-se, desde o prenúncio do fim do Euro ao doloroso lamento pela imposição de sacrifícios aos "inocentes" cidadãos/depositantes russos, gregos, etc...
8. Nem repararam na absoluta indiferença das autoridades russas numa matéria que em princípio lhes dizia bastante respeito mas, para além de terem em vão tentado atirar as culpas para a União Europeia, se limitaram a receber o Ministro das Finanças de Chipre que lá foi pedir ajuda e a oferecer-lhe o bilhete de regresso a Nicósia de mãos completamente vazias...
9. Absolutamente incorrigíveis, estes “media” de uma forma geral, opinion-makers grudados ao politicamente correcto e políticos com eles conexoniados! Uma verdadeira “dislataria” nacional, em plena laboração!

32 comentários:

Paulo Pereira disse...

Muito bem !

É necessário por ordem de uma vez por todas na actividade bancária, e nada melhor que responsabilizar todos os credores para que sejam vigilantes.

Pedro disse...

Assim sem mais, lendo o seu post e respectiva explicação, até parece simples e obvio.

Ou seja perfeitamente logico, quando analisado assim, de forma simplista e isolada.

Mas como refere no seu post (vide "HairCut Grego"), a economia do Cipre, não está isolada. ao que me parece está até em vias de integração plena á UE.

Ora estando nós neste contexto, surge-me uma duvida que me inquieta:

- Então mas estando num processo de adesão á UE, não tem o Eurogrupo, avaliado e validade a economia do Chipre e a sua estrutura ?

- Não era suposto esta situação ser do conhecimento do Eurogrupo?

Se por um lado se aplicam planos de "emergencia", e posteriormente se fazem avaliações aos Bancos e afins...como podem continuar a surgir situação de "emergencia" que vão saltando que nem pipocas ?

Desta constatação, surge -me logo outra questão: Mas afinal qual a validade pratica dos analistas e economistas, que acabam sempre a fazer "planos de emergencia", quando após as primeira situações era expectavel que deliniassem planos que evitassem "emergencias" ?

...é que para o comum dos mortais, quase parece que andamos a "navegar á vista", em tempos de nevoeiro cerrado...e com comandantes de vistas curtas...

Jorge Lucio disse...

Caro Dr. Tavares Moreira,

Não me parece que o seu post discuta a questão fundamental, que não foi resolvida por, à ultima hora, se terem isentado da taxa os valores até 100.000€. O que foi posto em causa foi o activo mais precioso da banca: a Confiaça. As pessoas confiam o dinheiro aos bancos, porque pensam que não vão perder. Não vejo a diferença entre um aforrador com 97.000€ que nada vai pagar e outro com 150.000€ que, num fósforo, fica sem 15.000€. Provavelmente ambos trabalharam para estas economias, e não é algum "astrólogo" em Bruxelas ou no FMI que tem o direito de lhe tirar dinheiro.

Também me parece que a questão de Chipre ter sido utilizado como plataforma de entrada de dinheiro dos oligarcas tem "costas largas". A banca de Chipre foi utilizada para "legalizar" o dinheiro... mas não ficou lá pois não?! 7 vezes a economia de Chipre (que até face a Portugal é um "anão") não é assim tanto dinheiro... Já algum dos gurus tentou seguir o rasto da "massa" que por lá andou? Suíça, Alemanha?

E, finalmente: é verdade que em Portugal a imprensa não é particularmente criteriosa ou objectiva quando analisa estes assuntos. Mas por algum motivo, à parte o Governo da Sra Merkel, a medida anunciada criou tanto "barulho". E não foi só em Portugal, longe disso.

Tonibler disse...

Caro Tavares Moreira,

relativamente à destilaria, eu diria que a solução de Chipre é tudo aquilo que pediram. Em vez do estado andar a "salvar" bancos, "salvou a economia". Deviam estar a entrevistar o Boaventura para perceber o verdadeiro alcance da medida.

Relativamente à medida em si, dificilmente a história nos trará outra imbecilidade igual. A título de quê se rouba dinheiro aos depositantes? Para capitalizar os bancos. Porque é que os bancos têm um problema de capital? Porque as regras de basileia assim o indicam. Porque é que as regras de basileia existem? Para proteger os depositantes...

Já no caso português e espanhol isto tinha acontecido. Está a retirar-se dinheiro(dos depositantes, dos contribuintes, é igual é dinheiro que circula, é economia) para cumprir com uma lei que é estúpida logo à partida e que só serve para dar emprego a reguladores sem noções de finanças. Nunca ninguém soube porque razão o rácio de 8% apareceu, foi uma média!!! Ninguém sabe dizer se é pouco ou muito. Mas decidiu-se que se deveria subir por causa da crise (em vez de DESCER!!!!) e agora vai roubar-se o dinheiro aos depositantes em vez de mandar a porcaria da lei, que está errada do ponto de vista economico e financeiro, às urtigas!

Mais uma vez vendo pela positiva, não é possível a integração europeia com um BCE destes, pelo que é mais um a desaparecer a prazo....

Anónimo disse...

Caro Tavares Moreira, conquanto concorde com sua tese, concordo plenamente aliás, em termos teóricos, temo que adoptar essa doutrina seja precisamente o que levará a UE a desaparecer enquanto actor económico mundial. Daqui que a teoria tenha forçosamente que ser diferente da practica. A história da garantia de depósitos ser só até um dado valor e daí para cima os depositantes perderem o resto existe pelo mundo fora mas o que é facto é que pelo mundo fora tem-se evitado a falencia dos bancos. A Europa faze-lo, para mais dado o contexto global de desconfiança quanto à moeda única, não dá sinais nada auspiciosos quanto ao futuro. Não contribui para consolidar a imagem da UE enquanto bloco económico mas sim todo o contrário.

É por isto que embora ache a medida muito meritosa do ponto de vista moral tenho sérias duvidas que a sua aplicação alcance objectivos meritórios.

Jorge Lucio disse...

Caro Tonibler,

Não faço ideia se os 8% estão certos. É um número "mágico", e como tal, caiu do céu sem ecplicação.

Mas se calhar o pecado original não está aí. Quando se resolveu misturar a banca de investimento para profissionais, com a de retalho (para "domésticos") optou-se por um caminho que já tinha dado mau resultado. Não se deveria começar a correcção por aqui?

Anónimo disse...

Concordo plenamente com o que o comentador Jorge Lucio acaba de dizer. Esse é o erro original, ter-se misturado dinheiro que pode ser perdido com dinheiro para a vida das familias.

Tonibler disse...

Caro Jorge Lúcio,

Quando a banca de investimento se juntou com a de retalho? Precisamos de falar de dois momentos, o caso europeu e o caso americano. Deve saber que a banca de investimento juntou-se com a banca de retalho nos USA exactamente por causa do subprime, porque a banca de investimento era regulada pela SEC e não pelo FED. Curiosamente, desde essa fusão parecem ter desaparecido os problemas nos USA.

Na Europa essa fusão deu-se realmente antes, mas dominada pela banca de retalho. É ver os grandes bancos europeus e os bancos de investimento é que foram absorvidos pelos de retalho (é ver a UBS ou o Deutsche Morgan Grenfell).

Qualquer uma delas se deu depois da definição dos estúpidos 8% que são "mágicos" pela simples razão que qualquer valor serve... Agora, aquilo que diz é exactamente a razão pela qual ainda estamos na mesma crise financeira há 5 anos, porque toda a gente sabe o que os bancos devem ou não fazer. E como toda a gente sabe, os bancos fazem o que devem fazer, ganhar dinheiro com aquilo que os deixam fazer.

Agora, por hipótese, acrescenta-se mais a impossibilidade de os bancos fazerem "banca de investimento"(seja lá o que se entender com isto, depois explica-me). Portanto, os bancos vão fazer crédito e depósitos, é isso? E, de preferência crédito a clientes bons, sem risco, é isso? Como estados da OCDE, é isso? Como o estado português ou o grego.... Olha, faliu tudo!!!! E agora, a seguir, impede-se os bancos de dar crédito?

Os bancos devem ser livres de avaliar os seus próprios riscos e fazer com o dinheiro dos depositantes aquilo que bem entenderem. Estes, devem ter a informação do que estão a fazer e os reguladores existem para isso, para que os depositantes tenham a noção de onde estão a meter o dinheiro. Como vê, os bancos portugueses tinham ZERO daquilo que quer chamar de banca de investimento (imagino que esteja a falar de especulação em derivados e acções) embora tivesssem muito de outro tipo de banca de investimento ("project finance" e investimento em dívida pública) que, diziam os reguladores, tinha risco ZERO. E o resultado foi o que se viu, estavam TODOS errados.

A única protecção contra estarem TODOS errados é só uma é dar a possibilidade de alguns estarem certos.

Agora, para isso tanto valem os 8% como os 0.8% é igual, os dois valores impedem a alavancagem ad infinitum que é só para isso que serve.

Nuno Cruces disse...

A alternativa é os bancos falirem, o estado garantir os primeiros €100k de cada depositante, e tudo o resto ser usado para pagar dívidas.

Neste plano os accionistas perdem tudo, os obrigacionistas aparentemente também, os depositantes mantêm os €100k. Parte do restante é salvo, parte é perdido, parte é convertida em acções. Na prática, os bancos faliram, mais ou menos ordeiramente.

Mas alguns opinion makers conseguem dizer "os bancos que paguem a crise" e "deviam ter deixado o BPN falir" e criticar esta solução praticamente na mesma frase.

Os €80B da Troika são 40% do PIB de Portugal.
Os €10B da Troika são 200% do PIB de Chipre.

Qual é a alternativa? Mais dinheiro? Ignorar o problema?

Tavares Moreira disse...

Caro Paulo Pereira,

Foi difícil, mas finalmente parece que conseguimos estar de acordo nalguma coisa...
Mas será este acordo um mau prenúncio? Esperemos que não!

Caro Pedro,

Não posso deixar de dar alguma razão às reservas e ênfases que exprime no seu comentário...
Mas, tanto quanto sei, esta situação de Chipre já era do conhecimento e preocupava os responsáveis europeus e do FMI uqe, inclusivamente, terão tentado há algum tempo convencer o Governo russo a um take-over destes bancos, sem qq resultado...
Não deixo todavia de notar que a adesão de alguns destes países ao Euro - tal como foi evidente no caso da Grécia (pelo menos) em 2001e, de certo modo tb com a adesão de Portugal em 1999 - tem sido determinada por razões predominantemente políticas, esquecendo a satisfação de requisitos essenciais para uma participação bem sucedida na zona monetária...
E, depois, estas coisas vão acontecendo "para surpresa geral"...

Caro Jorge Lúcio,

É caso para lhe perguntar qual é o racional da existência de um sistema oficial de garantia de depósitos com um limite de € 100.000?
Significará que todos os depósitos, independentemente do seu montante, estão igualmente garantidos?
Quanto a reacções de imprensa não arregimentada ao politicamente correcto, sugiro-lhe, por exemplo, que leia o comentário inserto na página 8 da edição de hoje do F. Times "Europe gets real - not before time - the right plan for Cyprus after draedful unforced errors".

Caro Tonibler,

Coloco-lhe q mesma questão que ao Jorge Lúcio: qual o sentido de um sistema de garantia de depósitos com limite de € 100.000?
É só para fazer de conta, e que afinal todos os depósitos gozam de igual garantia?

Caro Zuricuer,

Mas esta solução destina-se, precisamente, a evitar a falência dos ditos bancos...nada tem a ver com o episódio Lehman Brothers por exemplo...

Jorge Lucio disse...

Caro Tonibler,

Eu quase que compro os seus argumentos.

Mas nesta história, desculpe a insistência, os bancos foram TODOS ao buraco, porque que nem um parou para pensar ou avaliar se essa dívida pública era de "risco zero" (nem as Moody's, já agora).

Mas quando a dívida começou a disparar no tempo do Sócrates, só os ouvi os bancos protestar mesmo no fim. E nos anos "heróicos" de 2005 a 2010?

E uma coisa é eu ser informado dos riscos quando coloco o meu dinheiro no banco; outra é o banco pegar no meu dinheiro (que estava a ser remunerado a quanto?!) e utilizá-lo como base para investimentos especulativos, ou deficientemente analisados. Não foi isso que me venderam... e não me parece adequado ser chamado a cobrir as burrices dos banqueiros.

Compro a sua teoria na "banca de retalho" para os BPN/BPP. Aí, terá razão, pois não (ou)vi os depositantes/investidores a chorar quando as rentabilidades eram superiores a 10%.

Quanto ao regulador... (inserir palavrão)

Tonibler disse...

Qual foi o investimento especulativo que o seu banco fez, Jorge Lúcio? Em dívida do estado português? Todos os investimentos são especulativos.

Caro Tavares Moreira,

Nenhum. Nada do que se passa na regulação bancária europeia (ou fora dos US para ser mais rigoroso) faz qualquer sentido. Por isso estamos na situação que estamos, não foi por vontade divina.


Jorge Lucio disse...

Caro Tavares Moreira,

Tenho para troca, retirado da CNN:

"Forgive me, I suppose I should be celebrating the Cyprus deal. But it's hard to be thrilled when all I see are crises avoided, not problems solved."; Richard Quest


Quanto ao limite garantido: os 100.000€ são um número "mágico", como o são os "8%" discutidos pelo Tonibler.

O meu ponto por isso não era sobre a racionalidade dos 100.000€, mas o que significa a destruição da confiança dos aforradores na banca. E aí será quase indiferente utilizar-se 50k, 100k, ou 500k como diferenciador.

Paulo Pereira disse...

Caros,

Os bancos são empresas especiais, como tal precisam de regulação especial, mas não ao ponto de permitir que a má gestão ou mesmo a aldrabice seja paga pelos contribuintes.

Quem quer ter mais de 100 mil euros aplicados que uso um fundo "market neutral " ou coisa que o valhe.

Eu por exemplo uso agora e depois de perder algum dinheiro, uma combinação de SPY, TLT, STOXX600, e LQD + IEO dado que considero o petroleo barato e o euro caro.

Quem quer ter poupanças tem de ter risco, não há almoços grátis, já dizia o Friedman ou outro liberal qualquer desses.

Jorge Lucio disse...

Tonibler,

Emprestar dinheiro para habitação a pessoas que não o podiam pagar?

Financiar PPPs/SCUTs?

É para isso que os bancos contratam "crânios", não é?

Carlos Sério disse...

De 200 a 2009 a economia cipriota teve um crescimento de 3,5%.
Impostos baixos e atracção do capital estrangeiro em que se baseava tal crescimento merecia então os elogios de todos os líderes europeus. A economia do Chipre obedecia assim à receita neoliberal (circulação livre e atracção de capitais e impostos baixos) e constituia um exemplo para a europa. Em 2007 entra para a União Europeia como membro de pleno direito.
Não se questionava então a alavancagem do seu sistema bancário ou sequer o “modelo” de desenvolvimento económico do país. Hoje, aqueles mesmos que teciam elogios ao desenvolvimento do país são os mesmos que atiram todo o ónus da desgraça sobre os cipriotas. Afirmam que o Chipre é um “paraíso fiscal”, mas não tiveram qualquer escrúpulo em 2007 convertê-lo em membro da UE (isto é em admitir um paraíso fiscal no seio da UE).
As contradições destes líderes europeus e as suas directivas demonstram bem a sua mediocridade e incompetência. Mesmo assim, ainda há muitas boas almas que lhe são fiéis por mais absurdas, incompetentes e ruinosas que se mostrem as suas políticas.

Carlos Sério disse...

De 200 a 2009 a economia cipriota teve um crescimento de 3,5% ao ano.

Tavares Moreira disse...

Caro Jorge Lúcio,

Não é difícil encontrar tiradas dessas que fez o favor de citar, em muita imprensa externa ou interna.
Mas eu quis referir não propriamente esse tipo de tiradas -que até podem ter real graça mas que abordam o tema de uma forma caricatural e "simplezinha" - mas antes uma apreciação crítica, com algum rigor e substância, da situação atípica que Chipre escolheu para o seu "milagre económico", como é o caso do editorial do F. Times que lhe indiquei.
É relativamente fácil seguir o rasto dos comentários politicamente correctos - tantos são e deixando marcas por todo o lado - mais difícil é assumir os graves erros cometidos e procurar soluções para evitar que se repitam.

Caro Tonibler,

Está convencido de que nos USA os titulares de depositos bancários são poupados quando se dá uma "quebra" de algum banco?
Como bem saberá, nos EUA, onde existem dezenas de milhares de bancos, com estatuto nacional ou estadual, as falências de banccos não são acontecimento inusitado...

Anónimo disse...

Meu caro Tavares Moreira, aprende-se muito com os seus posts e com a discussão que eles sempre suscitam.
A minha ignorância - nestas como em muitas outras matérias - dá-me para a ousadia de expressar um sentimento: estas questões não podem ser resolvidas procurando o seu racional. Seria assim se a economia reagisse a leis como as da física e não fosse influenciada por fatores que ordenam e desordenam o comportamento dos agentes económicos. Esses comprtamentos pouco têm que ver com a razão. Aqui pelo escritório amiude passam pessoas com curriculo feito, cuja história de vida os fazem insuspeitos de serem incapazes ou incompetentes. E no entanto colocam-se perantes o presente e o devir de forma que me deixa, por vezes, a pensar quão sensata é aquela pensionista que faz do colchão o seu banco...
Sem desmerecer do que o meu caro Tavares Moreira explicou, aí acima, num dos comentários, pôs-se o dedo na ferida: e a confiança dos agentes no sistema, em que pé fica se o fundamento das medidas for exatamente o que aqui o meu Ex.mo Amigo registou? Que efeito tem sobre a economia real dizer-se às pessoas, às famílias e às empresas que o seu aforro honesto não se distingue da lavagem de dinheiro sujo quando se trata de tomar medidas para resolver dificuldades? Quando alguém vem dizer que o remédio, daqui para a frente, vai ser o mesmo no caso dos sistemas bancários periclitantes?
Há um aspeto em que especialmente discordo - com a cordialidade de sempre - do que opina o meu Amigo. Defende que os media e os habituais comentadores, ao aligeirarem a análise, estão grudados no politicamente correto. Estão sim, mas por razão bem diferente. É que o que faz vender jornais ou garantir audiências é o quanto pior, melhor. Por isso é que as declarações insensatas do presidente do Eurogrupo (ou de alguns loquazes banqueiros nacionais) são um verdadeiro maná para os media, porque o que vende é o medo, a insegurança e a suprema inquietação. Porém, são estes sentimentos que não nos permitem sair do pântano em que a Europa se atolou.

Jorge Lucio disse...

Caro Dr. Tavares Moreira,

Faça-me a justiça de acreditar que não fui "pescar" um dos comentários ligeiros que aparecem em rodapé aos artigos, para contrapor ao que refere do FT. O articulista que cito é um dos principais jornalistas económicos da CNN, que não é seguramente um porta-voz do "socialismo internacional". o link:

http://edition.cnn.com/2013/03/25/business/opinion-quest-cyprus-bailout/index.html?hpt=hp_bn1


Quanto ao resto, permito-me subscrever o comentário do Dr. Ferreira de Almeida

Ilustre Mandatário do Réu disse...

Caro Tavares Moreira, Uma pequena dúvida: quid dos accionistas dos bancos em causa? Foi-lhes aplicada a mesma receita que para o SNS Reaal? Também concordo consigo que basta ler as entrelinhas do que se passou para ver que os líderes cipriotas são uma cambada de incompetentes...É quase certo que a ideia de taxar todos os depositantes saiu da sua cartola.

Quanto ao limite dos 100k€ e da falência do paraíso fiscal do Chipre -- talvez daí advenha algum investimento...

"Os ricos pagam a crise", não vi ainda os vermelhos exultarem com esta medida... até pagava (mas não mais que uns cêntimos) para ver o que esses patetas estão a dizer.

Cumprimentos, IMdR

Tonibler disse...

Caro Jorge Lúcio,

Em última análise, nenhum investimento é riskless, porque todos estamos ligados a menos de 7,8 nós da rede económica. Não se preocupe com o crédito a habitação porque os bancos não deram a quem não pudesse pagar.

Caro Tavares Moreira,

A regulação nos USA é feita pela protecção do sistema que, se os economistas lessem aquilo que escrevem, saberiam que não pode ser feita definindo regras individuais. Mas mesmo com as 180 falências anuais de bancos, ainda assim o sistema funciona com perdas mínimas para os seus depositantes porque os reguladores impõem aos membros do mercado o tomar das posições que, não estando sujeitos a regras ilógicas de capital o conseguem fazer.

Na Europa, que somos muito mais espertos, roubamos aos depositantes(ou aos contribuintes) para subir o capital dos bancos para cumprir uma regra que não funciona...

Suzana Toscano disse...

Quantos bancos é que podem prosperar e fazer a sua actividade com depósitos até 100 000 euros? Quantos? E quantos bancos europeus e americanos e chineses e, e,e e, vão manter as portas abertas se começarem a perguntar de onde vem o dinheiro e exigirem atestados de boa proveniência e bom destino? Quantos? Podemos sempre fechar algumas prósperas economias bancárias que preferem erigir a moral do dinheiro como bandeira, mas receio muito que os pequenos depositantes, honestos trabalhadores, fiquem sem ter muito onde pôr o seu aforro sem sem no colchâo. E além disso pensei eu (estúpida) que a Europa tinha andado a fazer testes de stress dificilimos por todo o sistema bancário, jurando juradinho que estava tudo são que nem um pêro. O que um pobre cidadão se pergunta é se é desta forma que se ditam as receitas que háo-de levar a uma Europa fantástica, federalista, com um sistema bancário escorreito e uns orçamentos direitinhos que nem um fuso, e as dívidas a 60%, é?

Tonibler disse...

Cara Suzana, os testes de stress eram uma completa parvoíce. Certamente ocuparam muita gente nos bancos centrais, no BCE, nas auditoras, etc...

Stunning inspiration disse...

Realmente pôr o dinheiro no colchão é extremamente perigoso.
O dinheiro deve pôr-se num cofre e jamais em euros, só dólares americanos ou ouro.É simples , não tem nada que saber .

Aliás, se tem negócio que vai prosperar e criar empregos na zona euro é a produção de cofres , pequenos, médios e grandes . Fechaduras , portas blindadas e sistemas de segurança diversos também é um negócio que vai prosperar.
Quanto aos bancos eu quero é que se ...

Paulo Pereira disse...

Caros,

Qualquer pessoa com mais de 100 mil euros pode aplicar fácilmente esse valor em investimentos financeiros mais seguros do que o risco de um banco isolado.

Porque é que os contribuintes mais pobres devem subsidiar os contribuintes mais ricos garantindo depositos acima de 100 mil euros ?

Que liberalismo é este que defendem ?

Quanto aos rácios de capital de 9% o Tonibler tem razão, são demasiado altos e desnecessários, porque em caso de insolvencia de um banco pode-se sempre recapitaliza-lo por dentro ou por fora.

Suzana Toscano disse...

Caro Paulo Pereira, o problema é a questão já se concentrar no tema "garantir depósitos" ou seja, o que deveria ser uma hipótese extrema e quase de catástrofe passou à 1ª linha da discussão. O problema é esse, estamos na situação de catástrofe do sistema bancário, ou não?

Tavares Moreira disse...

Caro Nuno Cruces,

Umas ligeiras correcções, se não me leva a mal: os € 80 mil milhões (do empréstimo) da Troika não são 40% do PIB nacional, mas sim 47%; os € 10 mil milhões da Troika para Chipre não são 200% do PIB local mas sim e apensas 60%...
Nestas coisas de números, convém estarmos mais ou menos alinhados, para evitarmos confabulações perigosas...

Caro Ferreira de Almeida,

A confiança nos depósitos bancários é certamente um tema que nos deve preocupar sobremaneira: trata-se da matéria-prima mais importante que os bancos utilizam para poderem operar como operam.
Perdida a confiança, acaba o negócio, muito simplesmente.
Mas isso é uma coisa, acerca da qual não poderemos deixar de estar em sintonia total, outra é saber para que serve e que sentido tem o sistema de garantia de depósitos. Trata-se de um seguro oficial - que aliás não é gratuito pois os bancos contribuem periòdicamente para um Fundo de Garantia que dá suporte a esse sistema - que cobre o risco de perda do capital dos depósitos até € 100.000 por banco/titular.
A existência deste sistema não significa, precisamente, que os depósitos até € 100.000 estão garantidos e que acima desse nível já não existe garantia?
Quando o meu ilustre amigo contrata uma apólice de seguro, com um determinado limite de risco para a seguradora, pode exigir-lhe, em caso de sinistro, o pagamento da perda ou dos danos, na parte que exceder o limite da apólice?
Eu tenho a noção de que as pessoas andam um pouco iludidas quanto a este tipo de assuntos: deveriam ter-se preocupado, sim, quando foi anunciado, há muitos anos, este sistema de garantia de depósitos. Que, aliás, inicialmente funcionava com um limite de apenas € 50.000, salvo erro.
Deveriam nessa altura ter exigido um seguro que cobrisse a totalidade dos valores depositados e não apenas até um determinado limite.
Passando a outro ponto, eu não subscrevo, de todo, a declaração inicial (entretanto corrigida) do nóvel Presidente do Eurogrupo, quando sugeriu a eventual generalização do tratamento dado a Chipre a outras situações de resgate de sistemas financeiros na zona Euro, pela simples mas fundamental razão de que a situação de Chipre tem tais especificidades que tornam essa generalização um disparate: Chipre é um caso muito especial, tão especial que não legitima generalizações.
Finalmente, quanto ao politicamente correcto, meu Caro, o meu horror, sincero e verdadeiro a esta cultura, advém do facto de ela ter sido responsável pela situação absolutamente desgraçada a que este País chegou.
E, se continuarmos a ser complacentes para com esse politicammente correcto, pode o meu Amigo estar certo de que nunca mais - mas nunca mais, mesmo - sairemos de tal situação; eventualmente, iremos cada vez mais fundo...
Já fui vítima, e de que maneira, desse meu combate sem tréguas ao politicamente correcto, mas mesmo assim não desisto.
Posso perder, admito mesmo como mais provável vir a perder, mas não desisto.

Cara Suzana,

A questão que me coloca deverá coloca-la a quem instituiu o sistema de garantia de depósitos limitado a € 100.000.
Até agora tem funcinado, veremos se continua funcionar; estou convencido de que sim, apesar das confusões que por aí vão...

Paulo Pereira disse...

cara Suzana Toscano,

Não temos nenhuma catastrofe bancária.

Temos é um movimento no sentido correcto de obrigar os mais ricos a gerirem melhor as suas poupanças.

E temos um movimento de obrigar os bancos a serem melhor geridos em vez de estarem encostados aos contribuintes, como uma gigantesca PPP.

Há que voltar à colocação de divida directamente no publico e obrigar os bancos a centrarem a sua actividade no crédito, pois é para isso que existem em primeiro lugar.

Tavares Moreira disse...

Ilustre Mandatário,

As minhas desculpas por não me ter ainda referido ao seu comentário.
Quanto aos accionistas do Laiki, receberão zero, ou seja o equivalente ao "fair value" das suas acções.
Quanto aos accionistas do Bank of Cyprus ainda não sei, mas o mais provável será que o mercado se encarregue de lhes retirar, automaticamente, o valor/preço que as suas acções detinham/a que eram transaccionadas, antes deste episódio.
Quanto à ausência de comentários dos "pêcêpistas" da nossa praça, não se surpreenda, eles ainda consideram os cidadãos da Rússia, mesmo os altamente endinheirados, como detentores de uma virtude herdada de seus ancestrais mais próximos...
E, como tal, insusceptíveis de qq crítica, muito menos de merecerem ser apelidados de ricos, com a inerente incumbência de pagar a crise (esta ou qq outra)...
A cartilha ainda tem muita força, meu Caro, e as actualizações levam tempo a concluir...

Ilustre Mandatário do Réu disse...

Caro Tavares Moreira,

Parece pois que o procedimento foi razoável. Esgotada a base accionista foram sobre os depósitos não protegidos. Porque haveria o contribuinte pagar?

De facto não me tinha ocorrido o detalhe da adoração vermelha-lusa dos indígenas dos sovietes.

Obrigado pela informação.

Cumprimentos, IMdR

Tavares Moreira disse...

Ilustre Mandatário,

Estamos identificados, assim. E a calma parece estar a voltar aos mercados mais afectados pelo episódio, desmentindo no essencial a agitação dos que "acordaram" agora para o problema da garantia de depósitos...Veremos...