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sexta-feira, 5 de julho de 2013

"Na cabeça de um átomo"...


Se olharmos para o passado é fácil de concluir que a velocidade de informação era tão baixa que nalguns casos nem tinha qualquer hipótese de ser transmitida. Sociedades diferentes viviam no mesmo planeta sem saberem umas das outras, logo não podiam comunicar. Na altura o mundo era enorme, de uma vastidão difícil de compreender. Quando começámos a perceber que vivíamos no mesmo planeta a primeira preocupação foi comunicar, comunicação feita através dos negócios e, posteriormente, também, à custa da fé e da espada. As notícias quando chegavam faziam lembrar a luz das estrelas que vimos numa bela noite, elas estão à frente dos nossos olhos mas não são mais do que imagens de um passado, porque a realidade dos acontecimentos nesse momento é impossível de conhecer. Mesmo assim, o homem conseguiu reduzir o tamanho do mundo. Depois, a velocidade de comunicação e de informação aceleraram, mas, mesmo assim, continuávamos a assistir a acontecimentos que já tinham ocorrido desconhecendo perfeitamente o que estaria a acontecer num presente qualquer. Esse desconhecimento poderia ser angustiante mas também tranquilizador, havia como que uma bolha, uma couraça, que protegia a intimidade de cada um. O mundo continuava a ser uma coisa imensa. Os séculos começaram a acelerar e as carroças até deviam "voar" sob o chicote nervoso dos condutores. À medida que aumentava a velocidade diminuía o tamanho do mundo e aumentava a preocupação e interação entre os seres humanos que, ciosos do valor da informação, procuravam, no mais curto espaço de tempo, tê-la à mão para poderem tomar as suas decisões. O mundo diminuía de tamanho e as pessoas começavam a encostar-se umas às outras. Depois, graças ao engenho das telecomunicações, e à rapidez dos transportes, o raio do planeta terra encurtou-se, e muito. Planeta mais pequeno, planeta com mais gente, e, naturalmente, o risco de atropelarmo-nos, uns aos outros, tornou-se uma realidade. 
A falta de espaço, não digo espaço geográfico, mas o espaço da vivência, é muito perigoso e até fonte de conflitos e de intervenções quase que instantâneas, por vezes emocionais em que a violência e os erros de decisão são uma realidade. Toda a gente está ao alcance de um clic. Uma opinião emitida neste preciso instante pode influenciar o comportamento de muitas pessoas a milhares de quilómetros de distância. Pode-se falar sobre tudo e sobre todos. Pode-se interagir em qualquer momento. Pode-se emitir opiniões. Pode-se influenciar o comportamento dos outros. Pode-se violar a intimidade de qualquer um. Enfim, há um comportamento novo, motivado pela velocidade da comunicação e facilidade de interação, cujas vantagens são mais do que evidentes, e defendidas em todas as áreas, mas há graves inconvenientes: perda da liberdade individual, isolamento, perda do direito à privacidade e à criação de um espaço próprio, vitais para um adequado equilíbrio mental e social, entre outros aspetos, naturalmente. O mundo encolheu demasiado. Se continuar neste ritmo, e vai, não tenho dúvida, qualquer dia transforma-se na dimensão da cabeça de um átomo com uma superpopulação que não consegue respirar, pensar, inovar, criar e amar, tendo obviamente necessidade de dar cabo uns dos outros e arranjar maneira de travar, de filtrar e impedir que a velocidade em viajar e comunicar os leve à loucura e a outras coisas tristes. Afinal de contas, deem a volta que quiserem o ser humano não está preparado e nem tem mecanismos de adaptação a ambientes deste género. Quer espaço, muito espaço, seja o que entendermos por espaço...

4 comentários:

Suzana Toscano disse...

Excelente!

Diogo disse...

Antes do surgimento das grandes cidades, o mundo era assim: sabia-se tudo de todos. Mas, ao contrário da pequena aldeia, onde era possível processar essa informação, na «grande aldeia» tal não é possível nem interessante: que me importa a mim que uma chinesa tenha enganado o marido? Com a explosão da informação só quero filtros que a reduzam à minha capacidade de compreensão.

Unknown disse...

Parabéns pelo seu post.

Pessoalmente, vejo como uma das maiores ameaças à estabilidade das sociedades modernas, a circunstância de os agentes da comunicação social (redacções, jornalistas, comentadores, editores, etc.) não entenderem, ou não assumirem, a enorme responsabilidade que a sua profissão encerra.
Nos tempos que correm, o bom jornalismo é um dos bens mais valiosos para o regular funcionamento de uma sociedade democrática, o mau, uma das maiores ameaças. Foi uma das razões pelas quais foi criado este blog:
http://jornalismoassim.blogspot.pt/2012/11/editorial.html

MariaCalado disse...

quando andava na faculdade fiz um trabalho interessante sobre espaço vital. Descobrimos que quanto mais nórdicos são mais espaço vital precisam. Não é por acaso que os paises mais populosos ficam em locais mais quentes.e quanto maior a instrução mais espaço vital necessitam.