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quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Da geração sanduíche à geração solitária?

Ficámos a saber que no primeiro semestre deste ano nasceram menos 4000 crianças em Portugal do que no mesmo período de 2012, segundo dados do INE ou seja, não chegaram aos 40 000, confirmando-se o declínio da natalidade a um ritmo de cerca de 10 000 nascimentos por ano nos últimos anos. Li hoje no Diário de Notícias (pág. 14) que no último ano e meio saíram do país 4800 enfermeiros, 1500 médicos, 1123 engenheiros, só para referir algumas classes profissionais de jovens que procuram realizar as suas vidas fora de fronteiras.
Assiste-se, ao mesmo tempo, a um crismado "cisma grisalho", os velhos são um peso, não estamos para lhes pagar as pensões, não temos como os sustentar se lhas tirarmos, também li já não sei onde que na Alemanha, por exemplo, "exportam" os idosos para países onde os cuidados de saúde e lares são bem mais baratos, e aí os deixam, longe da família e do seu lugar.
A minha geração definiu-se muitas vezes como a "geração sanduíche", fomos surpreendidos - felizmente! - com a longevidade dos nossos pais, prestar-lhes todos os cuidados era obrigação e devoção, tivemos filhos num tempo em que as mulheres entraram em massa no mercado de trabalho, não se falava ainda em conciliação, qual quê, suportámos até muitas críticas por não sabermos pôr de lado a "ambição" e deixar os filhos nas amas e nas escolas até tão tarde. Não houve heroísmo nenhum, apanhámos esta transição e acumulámos tudo, foi o que foi, não havia teorias sobre o direito a vermo-nos livres de encargos. Embora já reduzindo muito o número de filhos em relação à geração dos nossos pais, casámos muito jovens e começámos a trabalhar muito cedo, no que houvesse, daí as longas carreiras contributivas...
Hoje, a nova geração não tem tempo, nem dinheiro, nem condições para ter filhos e não tem obrigação, nem dinheiro, nem condições para tomar conta dos seus pais.
Será que passamos da geração sanduíche para a geração solitária?

9 comentários:

umquarentao disse...

O Direito à Monoparentalidade em sociedades T. M.

Já há vários anos [apesar de ser alvo de censura... e apesar de ser 'ridicularizado'...] que venho divulgando uma importante mensagem... que vai provocar UMA MUDANÇA ESTRUTURAL HISTÓRICA DA SOCIEDADE... uma autêntica revolução na sociedade:
- o Direito à Monoparentalidade em sociedades Tradicionalmente Monogâmicas.
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Resumindo o assunto:
--> Já tenho dito isto muitas vezes:
i) tal como acontece com muitos outros animais mamíferos, duma maneira geral, as fêmeas humanas são 'particularmente sensíveis' para com os machos mais fortes...
ii) nas Sociedades Tradicionalmente Poligâmicas apenas os machos mais fortes é que possuem filhos;
iii) no entanto, para conseguirem sobreviver, muitas sociedades tiveram necessidade de mobilizar/motivar os machos mais fracos no sentido de eles se interessarem pela preservação da sua Identidade... de facto, analisando o Tabú-Sexo (nas Sociedades Tradicionalmente Monogâmicas) chegamos à conclusão de que o verdadeiro objectivo do Tabú-Sexo era proceder à integração social dos machos sexualmente mais fracos; ver o blog «Origem do Tabu Sexo» (http://tabusexo.blogspot.com/).
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P.S.1.
É errado estar a dizer (como já alguém disse) «a Europa precisa de crianças, não de homossexuais!»... isto é, ou seja... a Europa precisa de pessoas (homossexuais e heterossexuais) com disponibilidade para criar crianças!!!
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É UMA MUDANÇA ESTRUTURAL HISTÓRICA DA SOCIEDADE: os homens poderão vir a ter filhos... sem repressão dos Direitos das mulheres... leia-se: O ACESSO A 'BARRIGAS DE ALUGUER'...
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Nota: Embora a monoparentalidade possa trazer alguns problemas… será sempre uma MENSAGEM DE GRANDE IMPACTO SOCIALIZADOR que se pode dirigir às crianças/jovens: «o Direito à monoparentalidade permitirá a muitos de vós ter acesso a um Direito - o de ter filhos -… Direito esse ao qual muitos de vós… dificilmente teria acesso, caso não existisse o Direito à monoparentalidade».
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P.S.2.
Com o declínio do Tabú-Sexo (como seria de esperar) a percentagem de machos sem filhos aumentou imenso nas sociedades tradicionalmente monogâmicas.
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Mais, por um lado, muitas mulheres vão à procura de machos de maior competência sexual, nomeadamente, machos oriundos de sociedades tradicionalmente Poligâmicas [nestas sociedades apenas os machos mais fortes é que possuem filhos, logo, seleccionam e apuram a qualidade dos machos]... por outro lado, muitos machos das sociedades tradicionalmente Monogâmicas vão à procura de fêmeas Economicamente Fragilizadas [mais 'dóceis'] oriundas de outras sociedades...
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P.S.3.
Anda por aí muita conversa abandalhada: pessoal que não se preocupa com a construção duma sociedade sustentável (média de 2.1 filhos por mulher)... critica a repressão dos Direitos das mulheres… todavia, em simultâneo, para cúmulo, defende que... se deve aproveitar a 'boa produção' demográfica proveniente de determinados países [nota: 'boa produção' essa... que foi proporcionada precisamente pela repressão dos Direitos das mulheres - ex: islâmicos]… para resolver o deficit demográfico na Europa!?!?!

Anónimo disse...

Cara Suzana, sei que o que vou escrever é extremamente polémico mas é uma questão que deixo para reflexão. A minha posição quanto ao tema está implícita na própria pergunta, evidentemente.

Não será esta desestruturação social efeito da emancipação das mulheres, da sua entrada no mercado de trabalho, desatendendo desta forma o cuidado do lar e da familia? Não será tudo isto efeito da perda do cimento familiar, tarefa ancestralmente desempenhada pela senhora da casa?

Bartolomeu disse...

Peço desculpa por me intormeter, caro Zuricher; o amigo remete a gense do problema para a questão da emancipação da mulher e a sua entrada em força no mercado de trabalho. A mulher entrou no mercado de trabalho, por diversos motivos; porque passou a ter acesso em igualdade de direitos com o homem, ao ensino superior e porque o mercado de trabalho cresceu e passou a haver necessidade de mais gente qualificada mas, na verdade, o decréscimo da natalidade é um fenómeno posterior, muito mais recente que a emancipação feminina e tem como causa a degradação progressiva das condições para constituir uma família. Faz confusão a muitas pessoas, o facto de ha 60 anos, os casais com menos possibilidades económicas, formarem prole de mais de um elemento. A questão é que, entre a geração de 40 e a actual em idade de procriar, o nível de vida e a perspectiva de estabilidade melhorou mas não prosperou, tão pouco ganhou sustentabilidade, começando depois a ruir. Por esse facto, as gerações imediatamente a seguir, com o apoio dos pais, ainda constituiram família, são hoje a grande fatia dos divorciados quarentões e dos resistentes com 30/35 anos de casamento. Quando falamos hoje com pessoas de 60, 70 e 80 anos, elas espantam-se por os casais novos não quererem ter filhos e alegam: no meu tempo não havia nada, os ordenados eram pequenos, em casa só o homem trabalhava, a comida era muito bem aproveitada, assim como as roupas e calçado, não havia dinheiro para extravagâncias e no entanto os filhos vinham, criavam-se e dáva-se-lhes educação. A diferença entre a realidade destas pessoas e os casais de hoje, é que eles viam o futuro ao fundo, mas promissor e as gerações de hoje, no lugar do futuro vêem uma núvem negra, envolta de raios e curiscos.

Luis Moreira disse...

Sim, trocamos o ser pelo ter. Eu aprendi cedo.

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Suzana
São muitos factores que contribuem para a quebra da natalidade. Mas é a primeira vez que iremos acabar o ano com menos de 80.000 nascimentos. A situação em Portugal agravou-se muitíssimo devido à crise, o desemprego jovem é muito elevado e não permite que os jovens possam ter projectos de vida normais. A sua partida para o estrangeiro à procura, justamente, de vidas normais vai ajudar ao afundamento da natalidade. Estamos a ficar velhos muito depressa, com a agravante de que não vamos ter - ao contrário do que se passa com a geração dos nossos avós e pais - quem trate de nós.
Há estudos que mostram que as famílias portuguesas gostariam de ter mais filhos, os problemas económicos aparecem como a principal razão para não os ter.
Em Portugal nada fizemos para melhorar condições favoráveis à natalidade. Não tentámos e por isso não podemos dizer se estaríamos ou não melhor.

Gonçalo disse...

Há que fazer qualquer coisa...
Esta situação é a mais grave com a qual o Governo não parece querer ou saber lidar.
http://notaslivres.blogspot.pt/2013/09/crime-de-lesa-patria.html

Suzana Toscano disse...

Caro Zuricher, em parte o caro Bartolomeu já adiantou a resposta à sua questão, mas ainda assim gostaria de dizer que há imensos países onde as mulheres participam plenamente no mercado de trabalho e, no entanto, não há esta diminuição de natalidade, embora tenha havido um aumento da idade em que as mulheres têm o 1º filho. Não creio que alguma vez tenha sido valorizado socialmente o papel das mulheres na manutenção do núcleo familiar, ao menos ao ponto de hoje o podermos olhar como aqui sugere, nunca tiveram especial protecção por isso, ficavam na dependência financeira dos maridos e dos filhos, com tudo o que significa a palavra "dependência". Ainda hoje mesmo, com o modo como estão a ser tratadas as pensões de sobrevivência, se constata que o papel das mulheres na família é totalmente desprezado, desconsiderando-se linearmente o facto de serem elas quem renunciou ao desenvolvimento profissional,quem começou mais tarde a trabalhar ou quem teve menos tempo para se dedicar à profissão. O "regresso" ao lar irá sem dúvida vir a ser invocado em crise de desemprego agravado pela diminuição de natalidade,mas será tarde, as mulheres jovens já nem percebem essa linguagem e além disso é praticamente impossível manter uma família numerosa só com um salário, para mais totalmente precário como mostra a evolução das relações de trabalho. Ter famílias grandes nas actuais circunstâncias é renunciar a perspectivas de vida, é aceitar que os filhos vivam pior, muito pior, do que os pais, é sair voluntariamente das vicissitudes que obrigam a andar com a casa às costas à procura de oportunidades ou seja, é ficar preso à pobreza das perspectivas nacionais. Não há um pingo de discurso em que a família ocupe um lugar, seja sob que perspectiva olhar, choraminga-se com as estatísticas, é certo, mas a última coisa que pode ocorrer é que a solução seja o "regresso ao lar", se há coisa em que os jovens evoluiram é que nem eles nem elas se sentem na obrigação de ter filhos, bem pelo contrário, acham que "não têm o direito" de os sujeitar ao imprevisto total.Em Portugal, a família é valorizada individualmente, sem dúvida nenhuma, mas apenas isso ou seja, não existe como elemento a considerar no ordenamento social, ou só muito marginalmente o é.

Anónimo disse...

Cara Suzana, caro Bartolomeu, obrigado aos dois pelos dados que me deram.

Algo porém devo dizer. Cara Suzana, muito embora no meu íntimo assaque à emancipação feminina muita da turbulencia verificada nas familias e nas relações familiares (e no seu post original falava do cuidado dos mais velhos) também sei que não podemos voltar atrás e voltar a fazer das mulheres, fadas do lar. Sei que isso não é viavel. Sei perfeitamente que voltar a ter as mulheres na dependencia dos maridos é uma ideia absurda nos tempos que correm e no estágio social em que estamos. Talvez, mesmo, seja um problema sem solução. Ou eu pelo menos não a tenho. É um daqueles casos em que o que gostaríamos que fosse colide com a realidade e não há nada a fazer. Será a familia desestruturada a familia do futuro? Talvez...

E, note, Suzana, compreendo plenamente que as mulheres priorizem as suas carreiras, a sua independencia, uma série de coisas. Eu também optei por não constituir familia ainda que por motivos totalmente diversos. Mas também sei que se começasse a haver muitos a fazer o mesmo que eu a sociedade entraria em colapso.

Suzana Toscano disse...

Caro Zuricher, também não imagino como evoluiremos, as famílias terão capacidade para se organizar nestes ou noutros moldes, quem sabe se o regresso à prosperidade não levará os jovens a voltar a querer famílias grandes considerando o papel do que fique mais dedicado ao acompanhamento dos filhos? As mudanças foram tão grandes e tão súbitas, o espaço de uma geração, que não pode ser este o ponto de equilíbrio, ele voltará certamente, é a lei das coisas. Obrigada também pelo seu interesse e participação!