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sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Milagre e mistério da criação do emprego...

Há já alguns meses que se vinha a avolumar o mistério  das números do emprego divulgado pelo Instituto Nacional de Estatística. A dúvida instalou-se por não se compreender como é que o mercado de trabalho estava a criar emprego a um ritmo superior ao ritmo do crescimento económico. O INE apontava para um crescimento homólogo do emprego de 6% do trabalho por conta de outrem no 3º trimestre deste ano. 
O Banco de Portugal  resolveu ontem o mistério numa análise publicada no Boletim Económico de Dezembro de 2014: págs. 26 a 28. Nesta análise é confirmada a recuperação do emprego privado por conta de outrem ao longo de 2014, mas de forma mais moderada: 2,5%. A diferença é justificada pela alteração metodológica utilizada no inquérito ao emprego realizado pelo INE. Esta alteração foi publicitada pelo INE no final do ano passado, mas nunca foi quantificada ao longo deste ano. Uma informação que se veio agora a revelar fundamental.
O Banco de Portugal vai mais longe. Conclui que se à taxa de 2,5% forem descontados os estágios profissionais promovidos pelo governo, a taxa de crescimento do emprego privado cai para 1,6%, um valor bem mais condizente com o ritmo do crescimento económico registado ao longo do ano (0,9%). Ou seja, um terço do emprego está a ser criado com políticas activas de emprego financiadas com dinheiros públicos. A outra face do fenómeno é a correspondente redução da taxa do desemprego. 
A grande dúvida é saber o que acontecerá ao emprego quando terminarem os estágios profissionais promovidos pelo governo. A taxa de empregabilidade estará dependente da evolução da economia. Uma incógnita. 

3 comentários:

João Pires da Cruz disse...

Essa conclusão do Banco de Portugal não me parece fazer sentido, cara Margarida.
A utilização dos dados do IEFP para estatísticas paralelas de emprego é feita há décadas com resultados francamente maus, por isso o INE faz o estudo que faz com base em amostragem. Não se entende a recuperação desta metodologia de utilização dos dados do IEFP. O que é dito da diferença de amostragem também não me parece fazer sentido uma vez que aquilo que se baseia nos censos penso ser as dimensões de análise, não a amostragem em si mesma que é de uma dimensão considerável. Ou seja, ou estou muito enganado, ou aquilo que é contestável são as taxas que se obtêm por drill down das dimensões, não a taxa global.
Quanto aos estágios, a conclusão parece-me abusiva. Os autores do estudo poderiam ter visitado pelo menos uma das empresas onde esses estágio se passam para averiguar da resiliência dos postos de trabalho. Até porque o programa já dura há bem mais de um ano e os primeiros estagiários já terminaram os seus estágios. Francamente, a grande dúvida ainda pode existir no estudo do BoP mas duvido que ainda exista no IEFP. Aqueles que eu fui orientador, só um não ficou por opção própria.

Por outras razões que se prendem com a correlação que as estatísticas do emprego têm com outros fenómenos no sector financeiro, aprendi a ver quais eram as variáveis macroeconómicas fiáveis e aquelas que não valem nada. As estatísticas do emprego do INE são das poucas que efectivamente indicam alguma coisa.

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Caro João Pires da Cruz
Não é a primeira vez que há alterações metodológicas na elaboração da estatística. Lembro-me da alteração que o INE adoptou no cálculo da taxa de desemprego e que causou também várias perturbações até terminar o período de transição. A alteração metodológica introduzida no Inquérito ao Emprego causou enviesamentos na taxa do emprego como o próprio INE reconheceu mas não quantificou. Estes efeitos irão manter-se durante 2015.
Quanto aos estágios profissionais, o BdP estudou o seu efeito na evolução do emprego. Com efeito, o número de estagiários apresenta uma evolução crescente, com particular incidência a partir do último trimestre de 2013. Neste caso não se trata de uma amostragem. O IEFP tem um registo dos estágios profissionais em cada momento em vigor.
Têm razão de ser duas dúvidas: os estágios serão convertidos em emprego e qual seria o comportamento das empresas caso estas políticas públicas de estágios não estivessem disponíveis?
O estudo do BdP é interessante e útil porque fornece um novo indicador.

Carlos Sério disse...

Atenção, cara Margarida Correia de Aguiar,
Eles acreditam que existe crescimento sustentável e é difícil estabelecer com eles uma discussão racional, crentes em seus dogmas neoliberais.

Como poderia crescer o emprego nos valores apresentados, quando no BE do BP de 20.11.2014 se verifica
(taxa de variação em cadeia - tvh - em percentagem)
4ºT/2012……………….1ºT/2013……………2ºT/2013
PIB…………………1,6………………………….1,0…………………….0,9
Exportações……8,8………………………….3,1…………………….2,3
Índice de produção industrial (IPI) Total excluindo construção- tvh
Dez 2013…………..Ago2014………Set 2014
4,7…………………2,2…………….. -1,0